Eric Hobsbawm. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.
Maior
historiador esquerdista de língua inglesa, Eric Hobsbawm, faleceu em 1 de outubro de 2012,
aos 95 anos. Marxista irredutível, Hobsbawm chegou a defender o
indefensável: numa entrevista que chocou leitores, críticos e colegas:
“Alegou que o assassinato de
milhões orquestrados por Stalin na União Soviética teria valido a pena se dele
tivesse resultado uma ‘genuína sociedade comunista’”.
Eric Hobsbawn
Hobsbawm foi
de fato um historiador talentoso. Nunca fez doutrinação rasteira em suas obras.
Mas o talento de historiador, é forçoso dizer, ficará para sempre manchado pela cegueira com que ele se agarrou a
uma posição ideológica insustentável.
Essa posição
lança sombras sobre uma de suas obras mais famosas, A
Era dos Extremos, livro de 1994 que, depois da trilogia sobre o
século XIX composta pelos livros A
Era das Revoluções,A
Era do Capital e A
Era dos Impérios, lançados entre 1962 e 1987, se dedica a
investigar a história do século XX – quando Hitler matou milhões em seus campos de concentração e
os regimes comunistas empreenderam os seus próprios extermínios. Hobsbawm se
abstém de condenar os crimes soviéticos, embora o faça, com toda a ênfase, com
relação aos nazistas.
Outro eminente historiador de origem britânica, Tony Judt (1948-2010), professor de história da New York University que fez uma longa resenha do livro de memórias de Hobsbawm, Tempos Interessantes, advertia já em 2008 que o colega ficaria marcado por sua posição política.
“Ele pagará um preço: ser
lembrado não como ‘o’ historiador, mas como o historiador
comunista”
Tony
Judt .The New York Times.
Em texto
publicado pela revista The New Criterion,
o escritor David Pryce-Jones também apontou o prejuízo da ligação de Hobsbawm
com o pensamento marxista.
“A devoção ao comunismo
destruiu o historiador como um pensador ou um intérprete de fatos.”
David
Pryce Jones, The New Criterion
O entusiasmo com a revolução bolchevique, aliás, não foi a única fonte de tropeços morais para Hobsbawm. A conflituosa relação com as raízes judaicas – seu sobrenome deriva de Hobsbaum, modificado por um erro de grafia – o levou a apoiar o nacionalismo palestino e, ao mesmo tempo, a negar igual tratamento a Israel.
Biografia – A história pessoal de Hobsbawm ajuda a entender sua adesão ao marxismo. Nascido no ano da Revolução Russa, 1917, em Alexandria, no Egito, ele se mudou na infância para Viena, terra natal materna, onde perdeu ainda adolescente tanto a mãe quanto o pai, um fracassado negociante inglês que permitiu a ele ter desde cedo o passaporte britânico. Criado por parentes em Berlim na época em que Hitler ascendia ao poder, ele viu no comunismo uma contrapartida ao nazismo.
Eric Hobsbawn. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.
Da Alemanha, Hobsbawm seguiu para a Inglaterra. Durante a guerra, serviu numa unidade de sapadores quase que inteiramente formada por soldados de origem operária - e daí viria, mais que a simpatia, uma espécie de identificação com aquela que, segundo Marx, era a classe revolucionária. Ele estudou em Cambridge, e se filiou ao Partido Comunista, ao qual se aferraria por anos.
Nem mesmo após a denúncia
das atrocidades stalinistas feita por Nikita Khrushchov em 1956, quando
diversos intelectuais romperam com o comunismo, ele deixou o partido.
Hobsbawm só desistiu de defender com
unhas e dentes o sistema após a queda do Muro de Berlim, em 1989.
“Eu não queria romper com a
tradição que era a minha vida e com o que eu pensava quando me envolvi com ela.
Ainda acho que era uma grande causa, a causa da emancipação da humanidade.
Talvez nós tenhamos ido pelo caminho errado, talvez tenhamos montado o cavalo
errado, mas você tem de permanecer na corrida, caso contrário, a vida não vale
a pena ser vivida”.
Eric
Hobsbawn, The New York Times, 2003.
disse ele ao The New York Times,
em 2003, em uma das poucas
declarações em que admitia as falhas do comunismo – porém, sem dar o
braço verdadeiramente a torcer.
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