quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Questões acerca do Pelagianismo. Parte II: A teologia da alma perfeita!



A alma humana! Para os Católicos tende ao pecado desde o nascimento, e para os pelagianos pura desde o nascimento e pode assim permanecer durante toda a vida do fiel pelagiano! Imagem. Getty Imagens.

Pelágio era um homem que se aborrecia com os escritos dos bispos católicos que ensinavam o nascimento em pecado e a necessidade do batismo para arrependimento e salvação. Entrou em choque com bispos por várias vezes, como Paulino de Nola, numa discussão subsequente a uma leitura das ternas passagens do Livro X, das Confissões de Agostinho de Hipona;

“Ordenai o que quiserdes, doai o que ordenardes.”

 Essa frase parecia toldar, por intermédio de atos pessoais de favoritismo, a majestade incorruptível de Deus como Legislador. O sentimento de que a onda da opinião pública estava-se voltando rapidamente contra ele, em favor de uma tolerância do pecado como “extremamente humano”, arrancou-lhe um panfleto enraivecido e sem meias palavras, Sobre a natureza. Tempos, depois esse mesmo texto foi usado como uma valiosíssima prova em sua argumentação contra Pelágio, pelos bispos católicos.

Em 412 d.C, o britânico Pelágio tornou a partir, desta vez para a Terra Santa; ficaria conhecido apenas por seus livros: Sobre a Natureza, e, Carta, que evidentemente os impressionou. Trata-se de uma intrigante imagem dupla: em uma ele era o teólogo otimista de Sobre a natureza; para outros, era o asceta ardoroso que escrevera uma admoestação para as famílias.

Mas foi Celéstio quem provocou a crise na África, não Pelágio. Tão logo chegou a Cartago, ele interveio confiantemente nos debates em curso, que pareciam tocar no mistério perene da origem da alma, e passou aos problemas afins da solidariedade da raça humana no pecado de Adão, pois, por exemplo, como poderia a alma “nova em folha” de um indivíduo ser considerada culpada do ato distante de uma outra pessoa? Essas discussões tocaram na necessidade do batismo infantil. E foi aí que os argumentos pelagianos depararam com seu primeiro obstáculo sério.

Os bispos que haviam passado anos defendendo a necessidade absoluta e a singularidade do batismo conferido por eles na Igreja Católica, e que, na biblioteca dos bispos de Cartago, podiam consultar uma carta de São Cipriano que insistia no batismo dos bebês recém-nascidos, não estavam dispostos a tolerar tais especulações.

Celéstio foi denunciado quando se candidatou ao sacerdócio. As seis proposições condenadas que ele se recusou a retirar viriam a constituir, ao lado de Sobre a Natureza, de Pelágio, a base da argumentação católica contra Pelágio. Para a Igreja, esses eram os capitula capitalia, pois tais proposições bastariam para “enforcar” Pelágio, caso se admitisse que o radicalismo de Celéstio, o discípulo, era apenas a extensão lógica das opiniões secretas de seu mestre.

Para os bispos católicos da África o Pelagianismo sempre foi um conjunto de ideias, de disputationes, “argumentos”. Mas, em Roma no entanto, tais ideias haviam desencadeado um “movimento”. Pelágio tinha um corpo de adeptos tenazes e bem situados. Estes se certificavam de que suas cartas circulassem com surpreendente rapidez e de que ele se mostrasse decidido a buscar um lugar para suas ideias dentro da Igreja Católica. Suprimiam-no de entusiastas que compunham “células” pelagianas em locais tão distantes quanto a Sicília, a Grã-Bretanha e Rodes. Hoje podemos apreciar as motivações desses homens e, portanto, podemos avaliar o papel desempenhado pelo pelagianismo numa das crises mais dramáticas da Igreja Cristã no Ocidente.