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terça-feira, 15 de junho de 2021

Uma história de vitória


  A história de um dos maiores estadistas que o mundo já conheceu!

                A. L. era um jovem simples, filho de lavradores. Não teve privilégios sociais, raramente ganhava presentes. Mas tinha uma característica dos vencedores: reclamava pouco. Nada melhor para fracassar na vida do que reclamar muito. Não sobra energia para criar oportunidades. Desde a juventude A. L. conheceu as dificuldades da existência. Perdeu a mãe aos 9 anos. Nosso jovem poderia ser controlado pela perda, mas sobreviveu. Havia algo nele digno de elogiar: sua capacidade enorme de viajar. Viajava muito — pelo mundo dos livros. Assim, construiu secretamente um tesouro enterrado no seu intelecto. Era comum por fora, mas um sonhador por dentro. Certa vez ele resolveu montar um negócio. Sonhava em ganhar dinheiro, ter prestígio social e uma vida tranquila. Sentiu-se inspirado e destemido. Nos sonhos tudo parece fácil, não há acidentes. Mas todo sonho traz pesadelos. O resultado do negócio? FALÊNCIA. O jovem enfrentou o drama da derrota muito cedo. Alguns, ante um fracasso, bloqueiam a inteligência. Eles registram o fracasso intensamente nos solos do inconsciente, através do registro automático da memória (fenômeno RAM).

                O mecanismo é o seguinte: o fracasso é lido continuamente, gerando reações emocionais dolorosas e Ideias negativas que obstruem a liberdade de pensar, de fazer novos planos, de acreditar no próprio potencial. A derrota não superada esmaga os sonhos e dilacera a coragem, aprendendo a não ser controlado pelos fracassos. Você já enfrentou a dor de uma derrota? A. L. viveu-a e ficou abalado, mas não se submeteu ao controle dela. Assumiu-a, enfrentou-a, levantou a cabeça e voltou a sonhar, Saltou do mundo dos negócios para o mundo da política. Candidatou-se a um cargo. Sentia que poderia ser um grande homem. O resultado das urnas? FOI DERROTADO! “Não é possível!”, exclamava. “O que fiz de errado?” Muitas perguntas, muitas respostas, mas nenhuma apaziguava a sua emoção. À razão tenta se preparar para as derrotas, mas a emoção nunca se submete a elas.  Um mecanismo súbito de ansiedade desenhava-se em sua mente. Apesar de desanimado, A. L. não se deixou vencer. Todos os sonhadores são inimigos da rotina. Quando eles pensam em desistir de tudo, os sonhos surgem no teatro da mente e voltam a instigá-los. Assim ocorreu com nosso jovem. Ele retornou ao mundo dos negócios, dessa vez apostou que ia dar certo. Tomou certas precauções. Conversou mais, refletiu mais. Fez uma pequena análise dos erros que deveria evitar e de quanto ganharia. Foi tomado por intensa euforia. A emoção é bela e crédula, bastam alguns respingos de esperança para que o humor se restabeleça e a garra retorne. Nunca devemos retirar a esperança de um ser humano, mesmo de um paciente portador de câncer em fase terminal. À esperança é o fôlego da vida, o nutriente essencial da emoção.

                A. L. acreditava na vida. Então, depois de despender energia para organizar sua pequena empresa e trabalhar muito, FALIU NOVAMENTE. Os pensamentos derrotistas de A. L. não apenas alimentavam sua insegurança, seu sentimento de incapacidade e ansiedade, como, pior, eram acumulados como entulho no delicado solo de sua memória. Os que não sabem cuidar desse solo não veem dias felizes. O fenômeno RAM registrou sua falência de maneira privilegiada. Por isso, A. L. não gostava de tocar no assunto, pois, quando falava nisso, o gatilho da memória abria imediatamente as janelas que libertavam a tristeza. Muitas vezes não gostamos de tocar em nossas feridas. Elas não são sanadas, apenas escondidas. Mas A. L. não as escondeu. Procurou superá-las resgatando sua vocação política. Candidatou-se novamente. Depois de muita labuta, enfim veio a bonança. Conseguiu ser eleito deputado. Parecia que os ventos mudavam. Sua emoção encontrou à primavera. 

Golpes inevitáveis

Mas a alegria de A. L. logo se dissipou no calor das suas perdas. No ano seguinte sofreu uma perda irreparável. Sua noiva morreu. Sua mãe havia morrido cedo, e agora nunca mais veria o rosto da mulher que amava.  A perda roubou-lhe não apenas a alegria, mas produziu algumas janelas killers na sua memória. Killer quer dizer “assassino”. Janelas killers são zonas de conflitos intensos cravadas no inconsciente que bloqueiam o prazer e a inteligência. Quando entramos nessas janelas, reagimos como animais, sem pensar. Elas são construídas por meio de perdas dramáticas, frustrações intensas, angústias indecifráveis que não são superadas. Quando uma pessoa possui síndrome do pânico, ao entrar em sua janela killer, ela tem a sensação súbita de que vai morrer ou desmaiar, mesmo estando na plenitude da saúde.  Quando crianças fazem birra e adolescentes entram em crise diante de um não, estão sob o controle dessas janelas. Todas as vezes que perdemos o controle de nossas reações somos vítimas dessas janelas. Quando A. L. entrava nas janelas que aprisionavam sua inteligência, ele produzia uma avalanche de ideias negativas que financiavam sua angústia. O resultado? No ano seguinte teve uma crise depressiva. Alguns, por perdas menores, se deprimem por anos. A. L. estava deprimido, mas se distinguia da maioria das pessoas. Sabia que tinha dois caminhos a seguir. Ou suas perdas o construíam ou o destruíam.

Que escolha você faria? É fácil dizer que seria a primeira, mas frequentemente escolhemos a segunda opção às perdas nos destroem e nos abatem. A. L. treinou sua emoção e escolheu a primeira alternativa. Em vez de se colocar como vítima do mundo, resgatou a liderança do “eu”. Saiu da própria miséria. Agradeceu a Deus pela vida e pelas perdas. Fez delas uma oportunidade para compreender as limitações da existência e crescer. 

Todos nós construímos cárceres usando como grades invisíveis a cobrança excessiva, a autopunição, o desespero. Muitos pensam que seu cárcere é um chefe insensato, um concurso competitivo, as doenças físicas, as crises financeiras. Mas nossos reais cárceres estão alojados na psique. Se formos livres por dentro, nada nos aprisionará por fora. 

Ergueu-se das cinzas

A. L., aos poucos, voltou a ter encanto pela existência. Desejou ser útil à sua sociedade, porque não via outro sentido para a vida. Sob a chama desse ímpeto, candidatou-se a deputado federal. Preparou-se para uma grande vitória. Então, veio o resultado. FOI DERROTADO. Sentia-se sufocado. Olhava para os lados, achando que as pessoas comentavam seu fracasso. Cuidado! Se você depender muito dos outros para executar seus sonhos, corre o risco de ser um frustrado na vida. Os jovens precisam estar alertas. Eles são exigentes para consumir, mas não sabem construir seu futuro, são frágeis e dependentes.  Alguns achavam que o sonho de A. L. era mero entusiasmo. Mas ele se reergueu. Seus sonhos eram sólidos demais para fazê-lo ficar submerso nos escombros dos seus fracassos. Alguns anos depois o sonho de ser um grande político renasceu. Candidatou-se mais uma vez, fez uma campanha com segurança e ousadia. Gastou saliva e sola dos sapatos como ninguém. Estava animadíssimo. Após uma extenuante campanha, veio o resultado. PERDEU DE NOVO. Foi um desastre emocional. Ao vê-lo, as pessoas meneavam a cabeça. Os mais próximos diziam: “Pare de sofrer! Faça outra coisa!” Muitos jamais entrariam numa outra disputa. Mas quem controla o sonho de um idealista?

A. L. teve de enfrentar a humilhação das derrotas, os deboches dos amigos, o sentimento de incapacidade. Tudo isso feriu sua psique, mas educou a emoção para suportar crises e perdas.  Nosso sonhador emergiu do caos. Ninguém acreditava, mas A. L. decidiu enfrentar mais uma campanha para o Congresso. Nunca se viu tanta garra. Às injustiças sociais e a discordância das desigualdades humanas geravam nele uma fonte inexplicável de energia para correr riscos. Agora havia mais fé e mais experiência. Corrigiu os erros de outras campanhas e tornou-se mais sociável. Finalmente, veio o resultado. PERDEU MAIS UMA VEZ. Nos dias que se seguiram, A. L. afundou no pântano do seu pessimismo. Não se concentrava no mundo concreto. Havia momentos em que queria fugir do mundo. Entretanto, quem pode fugir de si mesmo?  Havia amargado diversas derrotas eleitorais, falências e perdas. Sua coleção de fracassos era mais do que suficiente para fazê-lo vítima do medo. Por muito menos, pessoas ilustres escondem a cabeça debaixo do travesseiro. Todos entenderiam se ele desistisse das suas metas. Era o mais recomendável. Vencer parecia um fenômeno inalcançável. Entretanto, quando todos esperavam que ele não se erguesse mais, A. L. se levantou das cinzas. Não era propenso a aceitar ideias sem passá-las pelo filtro da sua crítica.

Ele apareceu na roda dos políticos e, para espanto da platéia, se candidatou para o Senado. Às derrotas, em vez de destruir sua autoestima, realçavam seu projeto.  A campanha foi diferente. Sua voz estava vibrante. Deixou de ser refém de algo que facilmente nos aprisiona: nosso passado. Acreditou que romperia a corrente de fracassos e que o sucesso beijaria os solos da sua história.  Mas não queria o sucesso pelo sucesso. Não era um político dominado pela coroa da vaidade. Os que amam a vaidade são indignos da vitória. Os que amam o poder são indignos dele. Ter sucesso para estar acima dos outros é mais insano do que as alucinações de um psicótico.  A. L. tinha uma ambição legítima. Ele queria o sucesso para ajudar o ser humano. Queria fazer justiça para os que viviam no vale das misérias físicas e emocionais. Sonhava com o dia em que todos fossem tratados com dignidade na sua sociedade. Após extenuante campanha, em que expôs inflamado suas ideias, aguardou impacientemente o resultado. Não podia perder dessa vez. Então, veio o resultado. PERDEU OUTRA VEZ. 

Uma coragem incomum

Não dava para exigir grandes atitudes de um colecionador de perdas. As opiniões se dividiam em relação a ele. Algumas pessoas supersticiosas acreditavam que ele estava programado para ser um derrotado. Outras, fatalistas, acreditavam que seus fracassos eram decorrentes de seu destino previamente traçado. Para elas, uns nasceram para o sucesso, outros, para o fracasso. Todas concordavam que ele deveria se conformar com seus fracassos, mudar de cidade, de país, de emprego. O conformismo, em psicologia, chama-se psicoadaptação. O fenômeno da psicoadaptação é a incapacidade da emoção humana de reagir com a mesma intensidade  diante da exposição ao mesmo estímulo. Quando nos expomos repetidamente a estímulos que nos excitam negativa ou positivamente, com o tempo perdemos a intensidade da reação emocional: nos psicoadaptamos a eles. No aspecto positivo, a psicoadaptação gera uma revolução criativa. Estimula-nos a procurar o novo, amar o desconhecido. Ela é um dos grandes fenômenos psicológicos inconscientes responsáveis pelas mudanças nos movimentos literários, na pintura, na arquitetura e até na ciência. Todavia, quando a psicoadaptação é exagerada, ela gera insatisfação crônica e consumismo. Nada agrada por muito tempo. Às conquistas geram um prazer rápido e fugaz. Aqui está uma das maiores armadilhas da emoção. Por isso, não é saudável que os pais deem muitos presentes para os filhos. Eles se psicoadaptam ao excesso de brinquedos. O resultado é maléfico! Consomem cada vez mais coisas, mas obtêm cada vez menos prazer. A. L. tinha tudo para se psicoadaptar aos seus fracassos. Poderia se colocar como um supersticioso, achar que era um desafortunado, sem sorte. Mas ele considerava que a verdadeira sorte não é gratuita, mas a que se constrói com labuta.

Ele estava ferido, mas não vencido. Estava abatido, mas não destruído. Estava mutilado, mas almejava correr a maratona. Sua coragem era quase surreal, beirava o inacreditável, mas trazia-lhe saúde psíquica. Suas flagrantes derrotas, em vez de se tornarem um pesadelo, tornaram-se um romance pela vida. Ás suas crises de ansiedade tornaram-se como ondas que se debruçavam sobre a praia da sua história e produziam marcas de maturidade. Tornou-se um ser humano de raríssimo valor. Encontrou grandeza na sua pequenez, você tem encontrado grandeza na sua pequenez? 

Alguns amigos recomendavam que ele se aquietasse, tivesse pena de si, não corresse mais riscos. “Tudo tem limite”, diziam. Mas ele tinha algumas das cinco características dos grandes gênios:

1. Era persistente na busca de seus interesses;

2. Animava-se diante dos desafios;

3. Tinha facilidade para propor ideias;

4. Tinha enorme capacidade de influenciar pessoas;

5. Não dependia do retorno dos outros para seguir seu caminho.

A. L. entrou numa nova campanha: a vice-presidência da República. Já que não estava na linha de frente, estaria mais protegido, faria uma campanha mais segura, menos tensa. Mas teria que propor seu nome na convenção.  No dia da votação, sua ansiedade aumentou. Começaram a contar os votos da convenção. Não demorou muito para sair o resultado. RECEBEU UMA FLAGRANTE DERROTA. Muitos pensaram que ele contagiaria com seu derrotismo o candidato à presidência. À verdade a respeito daquele homem era que ele se tornara um dos maiores colecionadores de fracassos da história. Raramente alguém tentara tanto e perdera tanto.  Os amigos se afastaram. Às pessoas não esperavam mais nada dele. As janelas killers produziam o cárcere da emoção. Sua autoestima estava quase zerada, seu encanto pela vida, combalido. O pessimismo o envolveu. Começou a crer que uns nasceram para a vitória e, outros, para o fracasso, uns, para o palco e, outros, para a platéia. O que você faria depois de tantos fracassos? O que você faria se fosse abandonado pelas pessoas mais próximas? Que atitude tomaria se fosse despedido do emprego em que colocou todo o seu futuro? Que reações teria se atravessasse uma crise financeira tão grave que não tivesse nem dinheiro para pagar o aluguel da casa? Qual seria sua postura se fosse criticado publicamente e as pessoas ao seu redor desacreditassem completamente de você?

Muitos simplesmente desistiriam dos seus sonhos. Um escultor de ideias, um artista da vida A. L. tornou-se o “Senhor Fracasso”. À maioria das pessoas acreditava que ele não apareceria mais em público, muito menos na roda de políticos e partidários.  De repente, ele entrou na sede do partido. As pessoas avistaram-no, mas não acreditaram no que viram. Esfregaram os olhos para enxergar melhor.  Para surpresa de todos, ele iria candidatar-se novamente para o Senado. Apesar do péssimo currículo das suas derrotas, nosso sonhador fez uma campanha primorosa para o Senado, estava determinado a vencer. Para A. L., cada disputa era um momento mágico, estar na disputa era mais importante do que o pódio, os que valorizam o pódio mais do que a disputa não são dignos de subir nele.  Finalmente chegou o dia da votação. Aguardou com expectativa incomum o resultado das urnas. Dessa vez tinha de ser diferente. FOI NOVAMENTE DERROTADO, as lágrimas deixaram o anonimato e escorreram pelas vielas do seu rosto. Escondia a face, mas chorou muito. Era um ser humano apaixonado pela sua sociedade, mas não tinha uma oportunidade de ajudá-la.  Parecia que dessa vez A. L. se entregaria, chegara ao limite. Faria qualquer coisa, menos se candidatar a qualquer cargo — nem para o clube dos fracassados. Seria controlado pelo fantasma do medo e pelo monstro da derrota. 

Grande lição

                As pessoas superficiais veem os resultados positivos como parâmetros do sucesso, enquanto a psicologia avalia o sucesso usando como critérios motivação, a criatividade a resistência intelectual. Diferentemente da maioria das pessoas, ele lutou pelos seus sonhos até a última gota de energia. Nesse aspecto, A. L. foi vitorioso. Schopenhauer afirmava que jamais deveríamos fundamentar nossa felicidade pela cabeça dos outros. A. L. seguiu esse princípio, pois se gravitasse em torno da opinião dos que o cercavam estaria condenado ao ostracismo, ao completo isolamento social. Diante do tumulto social, ele entrou no único lugar protegido do mundo: dentro de seu próprio ser. Lá ele se calou e fez a oração dos sábios: o silêncio. Nos momentos mais tensos da sua vida, em vez de reagir, procure a voz do silêncio. Qualquer ser humano que não ouve essa voz obstrui sua inteligência, tem atitudes absurdas, fere quem mais merece seu carinho. Devemos gravar isto: nos primeiros trinta segundos de tensão cometemos os maiores erros de nossas vidas. Nos focos de tensão bloqueamos a memória e reagimos sem pensar, por instinto. Nesse caso, o homo bios (animal) prevalece sobre o homo sapiens (pensante). Ninguém imaginava que A. L. novamente apareceria em cena. À última derrota parecia ter sepultado seus sonhos. Entretanto, quando todos pensaram que ele tivesse sido derrotado por suas decepções, ele surgiu novamente no meio político e se candidatou ao cargo mais alto da política.

Para Dostoiévski, “dar o primeiro passo, proferir um nova palavra é o que as pessoas mais temem”. A. L. deu mais um grande passo, tomou mais uma nova atitude, e ao vencer seus temores, deixou os outros temerosos. À reação de A. L. fez com que o medo da derrota se dissipasse da sua psique e passasse a ser um problema dos outros. Quando usamos as palavras para compreender as raízes do medo e enfrentar seus tentáculos, o medo é reeditado, pois novas experiências são acrescentadas às janelas da memória, onde ele se encontra. O medo se torna nutriente da coragem. Candidatar-se à presidência do seu país parecia loucura, e não sonho. Mas, quando nos deixamos conduzir pelos sonhos, podemos reescrever nossa história e construir janelas inconscientes que arejam nossa emoção. À alma de A. L. era controlada por seus sonhos. Ele estava desacreditado. Mas A. L. se levantou do caos. Estava decidido, queria mais uma chance. Parecia incansável. Sua persistência deixava os resistentes confusos, e com seus sonhos ele contagiava seus parceiros.

Terminada a eleição, começou a apuração. A. L. estava muito ansioso. Ele sabia que não podia ouvir a voz do seu corpo comandada pelo cérebro. Tinha de ouvir a voz da sua inteligência, custasse o que custasse. Para muitos, ele estava prestes mais uma vez a acrescentar um fracasso ao seu extenso currículo. Finalmente chegou o resultado: ELEITO O 16º PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.

A. L. não apenas foi eleito como se tornou um dos políticos mais importantes da História moderna. Seu nome? ABRAHAM LINCOLN. Foi o presidente que emancipou os escravos do seu país, foi um dos grandes poetas da democracia moderna e dos direitos humanos.  Abraham Lincoln foi um dos maiores sonhadores de todos os tempos. Teve todos os motivos para abandonar seus sonhos, mas, apesar de todas as crises e das incontáveis frustrações, jamais desistiu deles.  “O homem que se vinga quando vence não é digno da sua vitória”, pensava o afiado escritor Voltaire. Abraham Lincoln venceu, mas não se vingou dos que a ele se opunham. Ele apenas zombou do próprio medo, transformou a insegurança em ousadia, a humilhação em lágrimas, que lapidaram sua personalidade, as lágrimas em gemas preciosas no território da emoção. 

Sonhos que nunca morrem

Em 1842, Abraham Lincoln se casou com Mary Todd, uma mulher inteligente, ambiciosa e de princípios sólidos, que influenciou muito sua vida e o apoiou nos momentos difíceis. Em 14 de abril de 1865, no início do seu segundo  mandato, uma tragédia aconteceu. Lincoln estava no Teatro Ford, em Washington. Tranquilo velejava pelas águas da emoção enquanto assistia ao espetáculo. Não imaginava que nunca mais veria as cortinas de um teatro se abrirem, pois fecharia os olhos para o espetáculo da vida. Um ex-ator, que era um escravista radical, caminhou se sutilmente até onde estava o presidente e o atingiu com um tiro de pistola na nuca. Uma bala penetrou-lhe o corpo, destruiu-lhe a medula, rompeu suas artérias. No outro dia ele morreria pela manhã, antes de o orvalho da primavera se despedir ao calor do sol. Morreu um sonhador, mas não seus sonhos. Seus sonhos se tornaram sementes nos solos de milhões de  negros e de brancos que o amavam, influenciando todo o mundo ocidental.

Abraham Lincoln fez a diferença no mundo. Nunca desistiu dos seus sonhos porque viveu um dos diamantes da psicologia: o destino não está programado nem é inevitável. O destino é uma questão de escolha. 

Abraham Lincoln e a sociedade moderna

A história da vida desse mestre pode colocar combustível na mente de todas as pessoas que sonham. O consumismo, a competição social, a paranóia da estética, a crise do diálogo têm sufocado a vida de milhões de jovens e adultos em todos os países do mundo. À sociedade moderna tornou-se psicótica, uma fábrica de loucura. Infelizmente, do jeito que as coisas caminham, investir na indústria de antidepressivos e tranquilizantes parece ser a melhor opção no século XXI. Se você acorda cansado, tem dores de cabeça, está ansioso, sofre por antecipação, sente dores musculares, não se concentra, tem déficit de memória ou outros sintomas, saiba que você é normal, pois nos dias de hoje raramente alguém não está estressado. Raramente alguém não possui algum transtorno psíquico ou sintomas psicossomáticos.  Os adultos estão se tornando máquinas de trabalhar, e as crianças, máquinas de consumir. Estamos perdendo a singeleza, a ingenuidade e a leveza do ser. À educação, embora esteja numa crise sem precedente, é a nossa grande esperança.

Abraham Lincoln queria libertar os escravos porque encontrou a liberdade em seu interior. Ele desenvolveu saúde psíquica e expandiu a sabedoria nos acidentes da vida e nos campos das derrotas. Quem valoriza as dificuldades e os fracassos numa sociedade que apregoa a paranóia do sucesso? Precisamos sonhar o sonho de liberdade de Abraham Lincoln. Ele enfrentou o mundo por causa dos seus sonhos. Desenvolveu amplas áreas da inteligência multifocal — pensar antes de reagir, expor e não impor suas ideias colocar-se no lugar dos outros, ter espírito empreendedor, ser um construtor de oportunidades, ter ousadia para reeditar seus conflitos. Por tudo isso, ele se tornou autor da sua própria história

Você quer saber mais?

CURY, Augusto. Nunca desista de seus sonhos. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

A História dos zoológicos humanos



Zoológico humano de senegaleses na Bélgica.

Autora: Isabel Cristina S. Pedroso, estudante e colaboradora do Construindo História Hoje.

Os zoológicos humanos surgiram em 1874, ano o qual o mundo vivia o Neocolonialismo. Neste ano um vendedor de animais selvagens chamado Karl Hagenbeck, resolveu apresentar à visitantes, nativos de Samoa e da Lapônia. Diante do sucesso que obteve com essa exibição e outras, resolveu em 1876 encaminhar seu ajudante ao Sudão egípcio, com o objeto de trazer novos animais para sua atração. Esse novo modelo de negócio se estendeu por variados países, como Alemanha, Inglaterra, Noruega, França e entre outros. Assim, com essa popularidade uma exibição qualquer recebia em torno de 300 mil espectadores, e era perceptível que para a população ocidental os nativos eram inferiores e selvagens. Esses visitantes arremessavam alimentos e itens sem valor, sem contar que falavam sobre suas fisionomias, o comparando-os com primatas. As exposições tinha como objetivo saciar o sadismo europeu que se consideravam superiores a outros povos, e estavam cada vez mais espalhando pelo mundo, uma imagem de inferioridade dos nativos. Com essa errônea animalização de outro ser, é absurdo perceber o quanto jornalistas,
políticos ou até cientistas não se comoveram com a atual situação dos nativos, em relação às precárias condições sanitárias e moradia.

Até mesmo publicações científicas apresentam o povo nativo como uma conquista colonial e um povo medíocre, por exemplo a obra do Conde de Gobineau concretiza a desigualdade racial, onde aponta diferenças da inteligência, força física e beleza das formas, criando as noções de “raças superiores” e “raças inferiores”. O médico Samuel George Morton afirmava que os crânios possuem diferentes tamanhos, e quanto maior forem, maior o cérebro e a inteligência contida. Assim, Samuel, abordava que os crânios de europeus e americanos eram significamente maiores do que os de africanos, mongóis, tasmanianos e entre outros. Com isso, eram considerados raças inferiores podendo serem escravizados e torturados, Samuel e diversos outros médicos realizavam o racismo científico, trazendo abordagens para os povos negros serem considerados "estranhos" e inferiores.

O desenvolvimento científico na análise da espécie humana, fez com que fosse visto a espécie humana como um todo, e diferentes etnias dentro da mesma, e junto com a criação de universidades e colégios, auxiliou com que muitas pessoas possuíssem consciência sobre isso. Hoje em dia não temos mais situações como ao zoológico humano, mas pessoas negras ainda enfrentam diferentes problemas na sociedade, como falta de empregabilidade, olhares de julgamentos, falas desnecessárias sobre o cabelo ou cor de pele, e entre outras. Atos como esses de 1874 jamais serão aceitos e cometidos novamente, já que hoje em dia possuímos leis sobre os direitos humanos, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, criada após a Segunda Guerra Mundial em resposta às atrocidades cometidas com os Judeus.

Isabel Cristina S. Pedroso

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

O pesadelo de Speer, Hitler cultuando a morte.



O relato que segue foi feito por Albert Speer (1905-1981), o Arquiteto Chefe e Ministro do Armamento do Terceiro Reich e principalmente amigo de Hitler durante o auge do partido e a guerra.  Speer ficou 20 anos preso em Spandau prisão aliada em Berlim, e durante o tempo em que esteve preso pode refletir quem realmente foi Hitler seu partido e suas próprias ações como subordinado do Führer.

Na noite de 13 de setembro de 1962 em Spandau,  Albert Speer teve um pesadelo com Hitler ao qual ele relata:

Pouco antes de Hitler aparecer para uma visita de inspeção, eu mesmo, apesar da dignidade de meu cargo de Ministro de Armamentos, passo a mão numa vassoura e pessoalmente ajudo a varrer a sujeira de uma fábrica. E ao mesmo tempo encontro-me num automóvel, tentando em vão vestir uma jaqueta que tirara para varrer a fábrica. Em vez de entrar na manga, minha mão sempre acaba enfiada num bolso. O carro chega e para numa praça enorme, com prédios do governo por todo lado. Num canto já um monumento honrando os mortos. Hitler via até lá e coloca uma coroa de flores. Entramos no saguão de mármore de um dos prédios. Hitler indaga de um assistente: “Onde estão as coroas de flores?” E o assistente se torna, aborrecido, para um oficial e o censura: “Você sabe muito bem que em qualquer lugar que ele vai hoje em dia, sempre quer colocar coroas de flores.” O uniforme deste oficial é muito leve e de um tipo de couro quase branco. Por cima do terno ele veste um guarda-pó enfeitado com lacinhos e bordados, mais parecendo a sobrepeliz de um coroinha ajudando missa. A coroa de flores chega. Hitler se dirige ao lado direito do prédio, onde há mais coroas. O Führer se ajoelha e começa uma canção melancólica, parecida com um canto gregoriano, e na qual ele repete sem parar “Jesus, Maria”. A sala é comprida alta e de mármore; nas paredes há muitas placas em memória de vários mortos. Cada vez mais depressa, Hitler via colocando uma coroa de flores depois da outra. Seus assistentes quase que tropeçam uns nos outros para lhe entregar todas as coroas que ele quer. E sua canção triste se torna cada vez mais monótona, enquanto as coroas de flores que vai colocando parecem nunca se acabar. Um oficial se atreve a sorrir e é severamente censurado por seus companheiros.

A interpretação do sonho de Speer

            O pesadelo de Speer foi interpretado no livro de Erich Fromm, “The Anatomy of Human Destructiveness – New York: Holt, Rinehard and Winston, 1973, pg. 334.

            Esse sonho é interessante por muitas razões. É um desses sonhos no qual o sonhador se concentra mais numa outra pessoa do que em seus próprios sentimentos e desejos. E no sonho o sonhador às vezes tem uma ideia mais exata dessa outra pessoa do que quando está acordado. Nesse caso, Speer expressa claramente, num estilo à la Chaplin, sua opinião sobre o caráter necrófilo de Hitler. Ele o vê como um homem que se dedica exclusivamente a homenagear a morte. Suas ações são, porém, bem peculiares, totalmente mecânicas e despidas de quaisquer sentimentos. O ato de colocar uma coroa de flores se torna um ritual organizado, mas tão organizado a ponto de ser absurdo. Entretanto, esse mesmo Hitler, tendo retornado às crenças religiosa de sua infância, mergulha completamente na entonação de canções melancólicas. O sonho termina dando ênfase à monotonia e ao modo totalmente mecanizado do ritual da dor.

            No inicio do sonho, o sonhador imagina uma situação tira da realidade da época em que era ainda era um Ministro de Estado e um homem muito ativo e cheio de energia. Talvez a sujeira que varre seja simbólica da sujeira que foi o regime nazista. O fato de que não consegue enfiar os braços nas mangas da jaqueta é muito provavelmente uma expressão simbólica de seu desejo de não mais participar desse sistema político. E isto informa a transição para a parte central do sonho, a mais importante, na qual ele reconhece que tudo o que resta são os mortos e um Hitler necrófilo, mecânico e enfadonho.

            Speer ficou conhecido como o “bom nazista” por ter admitido todas as culpas e crimes cometidos, e isso lhe custou 20 anos de prisão por ser Ministro Armamento e fazer uso de mão de obra escrava, sendo acusado de crimes contra a humanidade. Em seu pesadelo, chamo assim, pois não vejo nada parecido com um sonho em algo tão bizarro, ele demonstra como um dos homens mais próximos de Hitler realmente o via em seu subconsciente, um necrófilo, assassino que cultuava a dor e à morte.

Você quer saber mais?

SPEER, Albert. Spandau: o diário secreto. Rio de Janeiro: Arte Nova, 1977.




quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Uma análise psicológica da mente de Adolf Hitler. Parte V.



Chegamos a quinta e última parte de nossa análise da mente de Adolf Hitler, espero que o trabalho possa ter sido de ajuda aos amigos curiosos e pesquisadores da história. Apenas arranhamos a superfície de uma infindável pesquisa, mas mesmo assim fico feliz em saber que posso ter acrescentado uma parte em futuras pesquisas de meus pares.

Propaganda

O rádio foi um meio de comunicação usado em grande escala pelos nazistas para difundirem suas ideias e espalharem a propaganda de que Hitler era o salvador da nação alemã e da “raça ariana”. O rádio por transmitir apenas sons, liberta o imaginário do ouvinte, transformando-o num condutor das imagens que “vestem” os sons. Instigando-o a ser um engenheiro de ideias e não um repetidor delas. Goebbels, o “gênio” do marketing político, tinha um plano. Tal plano previa a utilização mais mapla possível do rádio, uma massificação “que nossos adversários não têm sabido explorar...”, escrevia o chefe da Propaganda. Ele queria que Hitler fizesse seus discursos em todas as cidades dotadas de emissoras de rádio para atingir o maior número possível de alemães. Mas os discursos deveriam romper o cárcere do tecnicismo político e ganhar ares de um artista plástico.
São de Goebbels estas palavras:

“Nós transmitiremos as mensagens radiofônicas para o meio do povo e daremos assim ao ouvinte uma imagem plástica do que acontece durante nossas manifestações. Eu mesmo farei uma introdução para cada discurso do Führer, na qual tentarei transmitir aos ouvintes o fascínio e o clima geral de nossas manifestações coletivas.”

            Albert Speer, o arquiteto e amigo de Hitler, confirma em suas memórias:

“Por meio de recursos técnicos como o rádio e o megafone 80 milhões de pessoas foram privadas da sua liberdade de opinião. Por conseguinte, foi possível submetê-las à vontade de um único homem.”

            Uns tem habilidade para adestrar animais, outros, mentes humanas, Adolf Hitler tinha habilidade para adestrar homens que antes eram mentes independentes.

Características do marketing político e dos discursos eletrizantes de Hitler, que alicerçava seu magnetismo social:

1) Tonalidade imponente e teatral a voz.
2) Utilização de frases de efeito.
3) Supervalorização da crise social.
4) Propaganda contínua da ameaça comunista, o que causava pânico nos empresários e causava uma adesão histérica ao Führer.
5) Lembrança constante  da humilhação sofrida na Primeira Guerra Mundial.
6) Excitação até o ódio aos inimigos da Alemanha, em especial marxistas e judeus.
7) Promoção exaustiva da raça ariana e da autoestima do povo alemão.
8) Exaltação do nacionalismo e de sua postura como o alemão dos alemães.
9) Utilização exagerada das suas origens humildes.
10) Verborreia – necessidade neurótica de falar, expressa por monólogos intermináveis.

            Antes de devorar os judeus, Hitler canibalizou a emoção dos alemães.

            O ponto alto das exibições do regime eram as Honras Fúnebres, quando Hitler atravessava fileiras gigantescas de milhares de soldados rigorosamente organizados. A portentosa homenagem aos que tombaram excitava o cérebro de quem os comtempla, gerando uma comoção fortíssima, provocando o instinto de lutar. A debilitada Alemanha despertava para o seu gigantismo. Os shows militares tornaram-se grandes peças de marketing. Feitos ao ar livre, em horários tais que combinavam um jogo de luz e sombra, objetivavam dar contornos messiânicos à imagem do Führer.

            O melhor desempenho de Hitler era como ator, pois, como ser humano, era ególatra, radical, instável, parcial, agressivo, explosivo, exclusivista, amante de bajuladores, avesso a críticas e ao diálogo. Queria inscrever seu nome no concerto das nações e gravar com chamas seu nome na história.

O homem do fogo

            Segundo Albert Speer, amigo e arquiteto pessoal de Hitler, o fogo era o elemento adequado para o Führer, ele apreciava seu aspecto destruidor. Dizer que ele incendiou o mundo e fez o continente sentir o poder do fogo e da espada talvez seja uma figura forte demais. Mas no sentido mais literal do termo, o fogo sempre o afetou profundamente. Speer relata que Hitler mandava passa na Chancelaria filmes mostrando Londres me chamas, o incêndios gigantesco que consumia Varsóvia, comboios explodindo, e o seu verdadeiro êxtase ao assistir tais cenas. Jamais o vi tão excitado como na ocasião em que, já no fim da guerra e quase num delírio, ele pintou verbalmente para si mesmo e para nós o quadro de Nova Iorque em chamas. Descreveu os arranha-céus se transformando em tochas monumentais, tombando uns sobre os outros, e as chamas gigantescas a iluminar o céu escuro.

            Em breve trarei aos amigos do Construindo História Hoje um trabalho voltando para as informações que Albert Speer nos passa em suas memórias sobre Adolf Hitler, Speer foi arquiteto no Terceiro Reich e ministro do armamento durante da guerra.

Você quer saber mais?

CURY, Augusto. O colecionador de lágrimas. São Paulo: Editora Planeta, 2012.

SPEER, Albert. Spandau: o diário secreto. Rio de Janeiro: Arte Nova, 1977.









domingo, 29 de setembro de 2019

Introdução ao incompreendido filme Equilibrium.



Um pouco extremo, mas talvez algo semelhante funcionasse!
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Nos primeiros anos do século 21 uma terceira guerra mundial explodiu. Aqueles de nós que sobreviveram sabiam  que a humanidade nunca poderia sobreviver a uma quarta, que nossa própria natureza volátil não poderia mais ser arriscada.
Então nós criamos uma nova arma da lei, os Sacerdotes de Grammaton, com uma única só tarefa de encontrar e erradicar a verdadeira fonte da desumanidade do Homem. Sua habilidade de sentir.
Libria, eu te parabenizo. Finalmente a paz reina no coração dos homens. Finalmente, guerra é só uma palavra que está se distanciando da nossa compreensão. Finalmente nós Somos totais.
Librianos, há uma doença no coração do homem.
O sintoma é o ódio.
O sintoma  é a raiva.
O sintoma é a fúria.
O sintoma é a guerra.
A doença é a emoção humana.
Mas, Libria... Eu te parabenizo. A partir de agora há uma cura para essa doença.
Ao custo das altas vertigens da emoção humana, nós anulamos suas leis abissais.
E vocês como uma sociedade tem recebido essa cura.
Agora vocês estão em paz consigo, e a humanidade é uma.
A Guerra se foi. Ódio, uma memória. Nós somos sua consciência agora. E é essa consciência que nos guia para taxa EC-10 de conteúdo emocional. Todas essas coisas que poderiam tentar-nos a sentir novamente e destruí-las.
Librianos, vocês ganharam. De encontro a todas as probabilidades e suas próprias naturezas, vocês todos sobreviveram.

sábado, 21 de setembro de 2019

Uma análise psicológica da mente de Adolf Hitler. Parte IV.



Saudações mentes ávidas do amanhã, dando continuidade hoje ao nosso estudo da mente de uns dos maiores carrascos da humanidade, um homem que traiu tudo que significa ser humano, pois mesmo que se humanidade significasse um principio filosófico ao qual nós Homo sapiens sapiens nos apegamos ao longo de milhares de anos para nos tornarmos uma espécie melhor, Hitler seria o perfeito estereotipo de traidor desse princípios.
Göring, comandante-chefe Luftwaffe era o perfeito estereótipo dos pensamentos de Hitler, os opositores não eram portadores de ideias divergentes, as mas inimigos a serem abatidos. Vejam o que ele teve a coragem  de dizer pouco mais de um mês após Hitler assumir o poder:
“Toda bala que sair agora do cano de um revólver é um projétil meu. Se chamam isso de assassinato, então sou eu que assassino; eu ordenei tudo e assumo a responsabilidade”.
            A pergunta que fica é: pessoas como Göring corromperão seus princípios humanos devido ao contato com a mente perniciosa de Hitler ou a mesma simplesmente trazia a tona o que há de pior dentro de cada pessoa? Deixo essa pergunta para os amigos da história responderem!
            Toda pessoa ou regime autoritário precisa ter ou inventar inimigos para continuar exercendo seu autoritarismo. Ainda que tenha havido fatores sociais estressantes, parece que foi menos a sociedade caótica do pós-Primeira-Guerra que criou o monstro Hitler e mais o monstro Hitler que moldou a sociedade para ser destrutiva. Ele aflorou e cultivou os instintos agressivos que estão em qualquer ser humano, raça ou cultura. São deles as palavras escritas em Mein Kampf: “ Na guerra eterna, a humanidade se torna grande, na paz eterna, a humanidade se arruína”.
            Hitler nunca foi patriota, nunca serviu a Alemanha, mas as suas próprias ambições, era um mestre da manipulação da emoção, provavelmente seduziria qualquer povo que não abordasse suas mensagens quando elas ainda estivessem no nascedouro.

            Seduzidos

            Muitos religiosos, pessoas do mais alto nível e com as melhores intenções humanitárias apoiaram Hitler naqueles áridos tempos. Se nós tivéssemos vivido na Alemanha nazista e dispuséssemos de informações reduzidas sobre as atrocidades que Hitler cometia, resistiríamos ao poder de sua influência? Os líderes religiosos viam nele o homem que salvou e manteria à salvo, o mundo livre do perigo comunista.
            Não somente os religiosos, mas o povo em geral eram seduzidos por suas palavras e sua falsa libertação dos males do mundo. Sua popularidade só cresceu desde 1933 com sua entrada na Chancelaria, até 1934 ele recebia em torno de 12 mil cartas por ano.
            Aliás, Hitler, Göring e Himmler, os principais dirigentes do partido, eram envolvidos em praticas místicas ocultistas e visões religiosas, mesmo Bormam (finanças), Goebbels (propaganda) e Rosenberg (ministro do Reich nos territórios ocupados) tinham uma queda pelo ocultismo, Goebbels em especial apresentava Hitler como “o Messias da Alemanha”, o grande timoneiro da Europa. Era a religião a serviço do Estado. Exemplo disso é a declaração do prefeito de Hamburgo que declarou: “Podemos nos comunicar com Deus por meio de Adolf Hitler”.
            O Führer esperto como era, não ia exteriormente contra a Igreja seja Católica ou Protestante, mas nos bastidores ele a minava sorrateiramente. Penetrou no inconsciente coletivo da sociedade alemã com uma refinada propaganda pseudoafetiva de massa jamais vista na história.
            Propaganda


            Aldolf Hitler, sob a sombra de seu  ministro de Propaganda, Goebbels, inaugurou o marketing político assistencialista. Uma dessas táticas de propaganda era o apadrinhamento do sétimo filho de todas as famílias alemãs no ritual de batismo cristão. Numa única peça de marketing e sem gastar novamente nenhum dinheiro do Estado, ele atingiu três fascinantes objetivos:
1)     Exaltou a religiosidade por valorizar o ritual de batismo cristão.
2)    Estimulou a multiplicação da raça ariana ao valorizar famílias numerosas
3)    Assumiu a “paternidade social” para conduzir a Alemanha ao seu “destino” histórico.
Hitler juntamente com o gênio Goebbels, foram os grandes inventores do marketing da emoção de massas.

Apêndice:   

O que é o Terceiro Reich?

O III Reich é o nome do Terceiro Império alemão. Alfred Rosenberg, ideólogo e papa do paganismo, propôs esse nome para o governo nacional-socialista, embora não tenha sido ele o inventor da expressão. Seu aturo foi o escriba, Moeller van den Bruch, conhecido como excelente tradutor da obra completa de Dostoiévski. “A ideia do III Reich é uma concepção história que se eleva acima da realidade...”, disse Moeller. Ele queria que todos os nacionalistas alemães participassem da sua construção, Rosenberg retomou, promoveu e expandiu as ideias de Moeller. O III Reich era, segundo Rosenberg, o autêntico Império Alemão, que respondia a todo anseio e expectativa dos alemães, o seu fundamento seria a raça alemã, foi lançado nesse império algo assombroso, a política  da supremacia racial. A raça afirmava o filósofo nazista era a alma vista de fora, e a alma é a raça vista de dentro.
            Os primeiros Reich’s foram segundo Moeller:
            I Reich: foi o Santo Império Romano-Germânico (926-1826)
            II Reich: foi o dos imperadores alemães após a unificação do país (1871-1918), que só se manteve pelo brilhantismo de Bismarck.

            O Führer do fogo


            Albert Speer, arquiteto pessoal de Hitler e ministro dos armamentos, que ficou preso na prisão aliada de Spandau em Berlim por 20 anos, reflete sobre se a personalidade das pessoas fossem relacionadas aos elementos da natureza a de Hitler seria o fogo, abaixo cito as reflexões de Speer sobre o Führer.
            Se as personalidades das pessoas se relacionam aos elementos da natureza e isto for verdade, não hesitaria em dizer que o fogo era o elemento adequado para Hitler – se bem que o que ele precisava no fogo não fosse o seu aspecto criador Promético, mas sua força destrutiva. Dizer que ele incendiou o mundo e fez o continente sentir o poder do fogo e da espada talvez seja uma figura forte demais. Mas no sentido mais literal do termo, o fogo sempre o afetou profundamente. Lembro-me dele mandar passar na chancelaria filmes mostrando Londres em chamas, o incêndio gigantesco que consumia Varsóvia, comboios explodindo – e o seu verdadeiro êxtase ao assistir tais cenas. Jamais o vi tão excitado como na ocasião em que, já no fim da guerra e quase num delírio, ele pintou verbalmente para si mesmo e para nós, o quadro de Nova Iorque sendo destruída por um furacão de fogo. Descreveu os arranha-céus se transformando em tochas monumentais, tombando uns sobre os outros e as chamas gigantescas a iluminar o céu escuro. Em seguida como se a loucura o levasse de volta à realidade, afirmou que Saur deveria tomar providências imediatas afim de que o bombardeiro a jato quadrimotor e de longo alcance que Messerschmitt planejaria fosse fabricado prontamente. Com um avião de alcance faríamos os americanos pagarem mil vezes pela destruição de nossas cidades.

Continua na próxima postagem.....

Você quer saber mais?
CURY, Augusto. O colecionador de lágrimas. São Paulo: Editora Planeta, 2012.
SPEER, Albert. Spandau: o diário secreto. Rio de Janeiro: Arte Nova, 1977,pg. 97.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Uma análise psicológica da mente de Adolf Hitler. PARTE II.



Daremos continuidade ao nosso estudo, e que suas mentes ávidas do amanhã estejam atentas para que os nazistas não voltem com outro nome, pois o mal até ser vencido pelo amor, sempre retornará com outro nome!

O que nos perturba sobre Hitler é que de um lado Hitler tinha necessidades completamente grotescas, de outro, completamente humanas e normais. Podemos chama-lo de louco, insano, maníaco, psicopata, sociopata, mas não podemos deixar de reconhecer a sua complexidade mental. A tese é que, se sua mente não fosse complexa, jamais seduziria a também complexa sociedade alemã. Na mente dele convivia simultaneamente o vampiro social e o artista, o monstro e o menino. O carisma e o terror, a afetividade e a destrutividade andavam lado a lado.

Infância de Hitler


            Quando nasceu, não havia nele nenhum traço da psique de um monstro, mas de uma simples criança, cuja existência deveria ser pautada por alegrias e angústias, perdas e ganhos, aventuras e rotina. Os fatores genéticos podem influenciar a formação da personalidade, mas não determinam ou condenam um ser humano. Os fatores educacionais, o meio ambiente e o desenvolvimento do eu como gestor psíquico podem atuar para regular e moldar as influências genéticas. Então em minha opinião ninguém nasce psicopata, mas forma-se ainda que haja alguma influência genética para sê-lo. E se acreditarmos no contrário, poderemos incorrer nas teses nazistas de querer eliminar cérebros menos aptos para purificar a espécie humana. Um erro cruel!

            A mãe de Hitler, Klara, era uma mulher ajustada, sociável e simpática. Uma camponesa humilde, iletrada. Há uma acusação de que sua mãe era supertolerante e encorajava nele o sentido de singularidade, de ser único e destinado a uma história única. É provável que fosse superprotetora do menino que amamentou gerando timidez, insegurança e contraindo a sua autonomia. Mas, ainda que tenha dado uma proteção exagerada ao pequeno Hitler, os tempos mudaram quando ele fez 5 anos. Sua mãe deu a luz a outro filho, Hitler teria que se ajustar  a essa nova realidade, mas pelo que sabemos de sua personalidade esse ajuste nunca foi operado com maturidade, ele jamais se adaptou, muitos garotos superprotegidos crescem com a necessidade neurótica de ser o centro das atenções. O mundo tinha de girar em torno de suas necessidades.

            O pai, Alois, era reservado circunspeto, de humor contraído. Filho ilegítimo, usava o nome de sua mãe, Schicklgruber, que mais tarde mudou para Hitler. Era funcionário público, um burocrata que vivia na rotina.

            Lembrem-se que a mente de Hitler era paradoxal, e provavelmente a mãe o exaltasse e o pai o diminuísse. Amor e ódio circulavam pelas suas artérias “emocionais”. A exaltação do menino por parte da mãe era uma forma de projetar nele uma admiração que não via no seu marido, muito mais velho, pacato, destituído de glamour. Alois não era alcoólatra, mas amava  a vida e os vinhos, e talvez os amasse mais do que a convivência com seus filhos. Embora não fosse dado ao grande humor e à sociabilidade, tinha uma relação estreita com a natureza, particularmente com as colmeias.

            Mesmo num ambiente isento de grandes estímulos estressantes podem-se não desenvolver funções complexas da inteligência, como a generosidade e a sensibilidade. Algumas vezes o pai de Hitler foi descrito como um tirano, um homem brutal, mas essa descrição é mais para tentar explicar ou justificar de maneira superficial o caráter insano de seu filho. Não há relatos de abuso sexual, privações, vexame social ou violência doméstica em grande escala. Embora Alois não fosse afetivo não há provas de que batesse ou espancasse o menino Hitler nem que o submetesse ao cárcere da humilhação e do desprezo. É provável que o pai fosse um homem radical, com rejeição aos judeus e aos clérigos. Suas últimas palavras antes de falecer de um ataque cardíaco foi uma expressão raivosa, “esses negros”, expressão que remetia aos clérigos reacionários.

Psicopata estrutural e funcional

            Hitler e outros de seus asseclas como Himmler e Goebbels não viveram na relação familiar um corpo de estímulos estressantes que justificasse se tornar os maiores psicopatas da história, mas se tornaram. Devemos saber  que há uma diferença enorme entre um psicopata estrutural, forjado pelas intempéries psíquicas e sociais, e um psicopata funcional, que não sofreu traumas importantes na infância, mas que ainda assim desenvolveu uma necessidade neurótica de poder e de evidência social, cuja mente é passível de ser adestrada por ideologias inumanas e, consequentemente, de cometer atrocidades inimagináveis. É provável que somente 2% ou 3% da temível polícia SS, que era comandada por Himmler, fosse formada por psicopatas estruturais, influenciados pela carta genética, agressividade, abusos sexuais, privações, discriminação, bullying. Felizmente, a maioria das pessoas traumatizadas se superam. E os demais carrascos da SS o que foram? Tornaram psicopatas funcionais forjados no útero social estressante e por ideologias radicais e inumanas construídas pelos nazistas. E psicopatas estruturais, devido às suas limitações intelectuais, dificilmente dominam as massas.

            Embora Hitler não fosse diretamente alvo de grandes traumas, é provável que a diferença de idade entre Klara e Alois Hitler, o ciúme doentio e o controle excessivo do pai sobre a “jovem” mãe tenham afetado o pequeno Adolf. O menino tinha uma ligação intensa com a mãe, mas era incapaz de protege-la das investidas do pai. Talvez aqui tenha começado a se desenhar a característica de “libertador” de Hitler, que mais tarde eclodiria, ainda que desastradamente, como líder político. Protegido pela mãe, tinha atitude conformista, não amava o trabalho árduo, não era proativo nem líder de grupo, ao contrário, era indolente, passivo, mas gostava de se vestir elegantemente.

A adolescência


            Hitler não era um adolescente brilhante, a estética o fascinava mais que o conteúdo, inclusive a sua imagem social. Não se sentia atraente, cativante, envolvente. Tinha necessidade de autoafirmação, nascendo um homem preocupado com sua imagem social. Desânimo marcou sua história, seus discursos teatrais, seus gestos vibrantes, suas decisões marcantes eram reflexos de um ser humano destituído de uma motivação existencial saudável, um homem que procurava sair da sua “insignificância”. O jovem Adolf Hitler raramente dava continuidade ao que começava. Suas reações diante das investidas educacionais da mãe eram sempre fracassadas. Seria esse garoto sem brilho que 25 anos mais tarde assumiria o controle da Alemanha. Tornou-se poderoso, eloquente, agressivo, combativo, determinado, mas raros eram os que enxergavam que no  seu cerne havia uma personalidade frágil, insegura, saturada de complexos. Era mais ator do que um líder. Não é sem razão que gostava de encenar. Sua ortografia e pontuação estavam muito abaixo do que se poderia esperar de um rapaz de 17 anos que havia cursado a escola secundária. Hitler era tão irresponsável que abandonou os estudos sem trancar a matrícula, um comportamento que demonstrava seu desprazer de entrar em camadas mais profundas do conhecimento.

Continuará nas próximas postagens....

Você quer saber mais?

CURY, Augusto. O colecionador de lágrimas. São Paulo: Editora Planeta, 2012.