Foto artística que retrata um Djinn. Imagem: Channel CWtv.
Há uns tempos atrás aluguei um filme em VHS, de nome “Djinn - O Senhor dos Desejos” (“Wishmaster”). O filme não era uma super-produção mas a sua história despertou-me o interesse e como tal resolvi pesquisar sobre a criatura. Espanto o meu quando descubro que Djinn é muito mais do que um simples fato de látex avermelhado, propriedade de um estúdio de cinema qualquer de Hollywood. De facto, Djinn é uma criatura ancestral da Mitologia Árabe Pré-islâmica, uma personagem supra-humana e mais do que isso, neste caso é um “semi-demónio”, não porque é feio mas porque fluentemente é persuasivo, e maléfico até, nos seus actos e propósitos, pode causar dor e desespero onde se encontra mas... já lá vamos!
Djinn do Árabe “Jin”, possuí em português o equivalente a grosso modo de “Génio”! O Djinn provém de uma raça de seres sobrenaturais, os Djinni, remetente a Djanna (do Árabe), que significa coisa dissimulada ou invisível. Têm origem na Mitologia Árabe e mais tarde são “assimilados” pelo Islamismo. A sua presença é notada por diversas vezes no Alcorão, inclusive, para além de constantes referências suas nos textos sagrados, existe uma Sura (capítulo do Alcorão) inteiramente dedicada aos Djinni, a “Al-Jinn” (Sura nº 72).
Fotografia artística retratando um Ifrit. Imagem: Channel CWtv.
Fotografia artística retratando um Ifrit. Imagem: Channel CWtv.
A história desta “espécie”, segundo rezam diversas escrituras, é já milenar, os Djinni são criaturas antiquíssimas postas a vaguear no paraíso há cerca de quatro mil anos atrás, dois mil anos antes da criação de Adão. Alá fê-los de ar e fogo razão pela qual se diz que estes podem assumir todo o tipo de formas animadas e inanimadas, inclusive a humana, podendo assim permanecer e caminhar “camuflados” entre nós sem que possam ser detectados, ou então simplesmente permanecerem ocultos no ar que nos rodeia a observarem a seu belo prazer a nossa sociedade. A princípio, ainda antes da chegada do Islamismo ao mundo Árabe os Djinni eram criaturas com virtudes e defeitos, nas “hierarquias sobrenaturais” são considerados inferiores tanto em relação aos Anjos (pois estes possuíam apenas a face da obediência) como aos Demônios (pois não eram tão maus nem poderosos quanto os mesmos). No entanto e relativamente aos segundos, eram igualmente detentores de uma enorme força e astúcia que usariam sem hesitar, independentemente do meio, para atingirem os seus objetivos. Após domínio Islâmico e por influência do mesmo, a alguns dos Djinni foram-lhes progressivamente retiradas as suas “qualidades” ficando assim criaturas negras e enraivecidas, aos restantes foram-lhes conservada a capacidade de ajuda e interacção com os homens, embora na maior parte das vezes estes o façam para proveito e gozo próprio e não pela afinidade com a inferior espécie!
Ilustração artística de um Ghul. Imagem: Channel CWtv.
Ilustração artística de um Ghul. Imagem: Channel CWtv.
Aquando da criação de Adão, Alá ordenou que os Djinni se curvassem perante o recém-criado ser, no entanto estes refutaram a ordem, dada a sua “antiguidade” no Paraíso e sob o comando e liderança de Iblis (o actual equivalente cristão de Satan), um dos mais “negros” Djinni caracterizado como sendo orgulhoso e ciumento do poder de Alá,iniciaram uma revolta contra o seu criador. Como consequência de tal irreverência os Djinni, juntamente com Iblis, foram atirados para a terra e ficaram sujeitos à mortalidade e a todas as restantes necessidades fisiológicas dos homens, com a excepção da forma física. Assim como os humanos também estas criaturas ficaram, segundo o Islamismo, sujeitos à salvação ou à condenação divina. Já na Terra, segundo as escrituras, os Djinni alojaram-se nas Montanhas de Káf, que se acreditava, na mitologia da antiga Pérsia, circundarem o mundo. São seis os grandes clãs ou tribos de Djinns que constituem os Djinni. Os Jinn, os Jann, os Marid, os Shaitan, os Ghul e os Ifrit. Iblis pertence a os Ifrit. Podemos ainda “catalogar rudemente” estas seis tribos em duas categorias; os que conseguem interagir com os humanos de forma harmoniosa e os que aterrorizam e existem para castigar e troçar dos mortais. Na primeira categoria incluem-se os Jinn juntamente com os Jann, os primeiros são os mais comuns na referida espécie sobrenatural e os que mais frequentemente interagem com os humanos, os segundos, os Jann, são conhecidos por se encontrarem e viverem em Oásis nos desertos. Já os Marid, a tribo mais antiga, encontram-se em menor número nesta superior sociedade, não obstante são os mais sábios e poderosos dos Djinni e como tal acharam por direito que os membros da mesma tribo pudessem ter o livre arbítrio sobre “de que lado ficariam”. Os Marid alojam-se normalmente perto da costa e são conhecidos por controlarem o estado do tempo, estes podem aparecer aos humanos sob a forma de cavalo ou de um velho homem. Na segunda categoria inserem-se os “génios negros”, os Ifrit que são os mais comuns de entre os maus e são conhecidos pela tenacidade com que se opõem aos mortais; os seus aliados Shaitan, que vivem nas montanhas e no subsolo, são a segunda tribo mais antiga dos Djinni, são conhecidos por serem persuasivos e por se divertirem a manipular tanto humanos como outros Djinni para atingirem os seus propósitos. Os Shaitan podem adquirir a forma de chacal, nuvens de fumo, camelos negros ou a forma de uma bela mulher com uma parte de animal no seu corpo. Por fim os Ghul são os mais depravados deste subgrupo, deles diz-se que estão possessos de uma enorme gula, podem ser encontrados nos becos das grandes cidades a alimentarem-se de restos, muitos são avistados em cemitérios a devorarem os cadáveres dos recém-falecidos.
Diz-se que os Ghul estão presos entre o mundo dos mortos e o mundo dos vivos. É comum aparecerem sob a forma de peregrinos que apanham boleia das caravanas que atravessam o deserto e que atacam à primeira oportunidade e abertamente qualquer um que se afaste para sítios mais calmos e recônditos assim como pequenos grupos de pessoas. Normalmente os Ghul adquirem a forma de vultos ou de mulher.
Qual o propósito dos Djinni, na terra?!É relatado nos escritos e contos mais antigos e “floridos” sobre os Djinni, que estes se encontram perdidos e aprisionados eternamente na Terra e que o seu propósito é o de guardar em si próprios o maior número de almas possível, pelo conceder ou indução de três desejos a quem os libertou da sua lamparina, rubi (etc.), como forma de agradecimento.
No entanto e segundo esses contos, ninguém se fica pelo primeiro ou segundo desejo, todos os responsáveis pela libertação de um Djinn são induzidos nos três desejos e consequentemente ficam sem a sua alma. Poderá ter sido muito bem destes textos que surgiu a figura espampanante e bem típica do Gênio contemporâneo da Lâmpada Mágica que concede três desejos a quem o libertar da sua prisão, variante essa que corta convenientemente com a parte do abdicar da alma do libertador para o libertado! Ora conseguido o número suficiente de almas, reunirão uma força/exército tal que lhes permita regressar e invadir o Paraíso, sob o comando de Iblis, com o objectivo de vingar perante o seu criador a sua raiva e revolta pela condenação eterna à Terra e a convivência com os homens…
No entanto o que consta em escritos e histórias mais “sérios”, é que estes, são seres mágicos livres e solitários, que como tal caminham entre nós, ou então isolam-se num habitat que mais lhes seja propício e procuram permanecer esquecidos e importunados durante o resto da sua vida. São seres capazes de viver um milênio, mas também e como tal capazes de serem mortos. São poucos os Djinnis existentes hoje em dia e na sua esmagadora maioria são membros das tribos menos amistáveis para os humanos, por isso não é de todo recomendável que tenhamos o infortúnio de nos encontrar com o Djinn. Segundo textos mágicos um Djinni é capaz de moldar a realidade para seu benefício próprio, pelo que será muito bom que consigamos escapar de um encontro com uma destas criaturas apenas com uma praga dirigida a nós!De ressalvar ainda o facto de que consta, em diversas escrituras e relatos, que os Jinn são os mais comuns/numerosos de entre as tribos Djinn e os que mais interagem com os humanos (como acima mencionado), fruto desse constante interagir são as suas fracas apetências mágicas (face a outras tribos). São frequentemente avistados entre pessoas sob a forma humana pois é dito que eles gostam de expor e discutir ideias e assuntos sociais com humanos, que viajam em tapetes voadores e que vivem em palácios luxuriantes onde nunca falta o vento! Eu pessoalmente, se fosse um Jinn, acharia uma chatice morar num sítio onde de repente pudesse ficar sem combustível para o meu tapete voador mas…
Quanto aos Ifrit, contrariamente aos Jinn, são os mais poderosos e violentos, alojam-se geralmente em locais abandonados ou isolados e atacam sem hesitar quem os perturbar. As aparições dos Ifrit dão-se sob a forma de um cão, um grande tornado de areia, um camelo mágico de areia, um escorpião gigante ou uma serpente cuspidora de fogo. Iblis foi um grande líder dos Ifrit que a determinada altura se deixou corromper por um demônio, daí a sua figura na História ser associada a um demônio, no caso cristão a Satã. Pelo carácter do seu líder, das seis a tribo dos Ifrit é a que mais se encontra ligada aos poderes infernais. Terá sido portanto destes contos (relativos a aparição dos Jinn), que surgiu o romance Persa, “As Mil e Uma Noites”, escrito entre os séculos XIII e XVI, trazido para a Europa por Antoine Galland em 1704 e convenientemente castrado por tradução para as edições agora conhecidas e comercializadas por Sir Richard Francis Burton e Andrew Lang em 1850 e 1898 respectivamente, para eliminar as cenas de sexo da versão original. Mais tarde e já na era do pequeno ecrã, a Disney “divulgou” para a pequenada o conto animado de Alladin que teve muita venda e comércio associado. Após divulgado este pequeno artigo sobre esta fantástica criatura que me captou o interesse, é perfeitamente normal que este mito se assemelhe às histórias de existência de outras criaturas sobrenaturais, pois como o mundo islamismo absorveu uma grande quantidade de países na zona árabe, persa e não só, é natural que por “contaminação cultural/religiosa” países em zonas geográficas diferentes contenham lendas e mitos com algumas semelhanças.
Leandro Claudir
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