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segunda-feira, 13 de julho de 2020

Nazistas na Amazônia: missão secreta para atacar países vizinhos.



Livro conta a história de expedição nazista à região. Imagem: Einestages Spiegel.
Os oficiais de Hitler estiveram aqui, gostaram do que viram e fizeram um plano audacioso e assustador: enviar uma missão secreta à Amazônia para atacar os países vizinhos e começar a ocupação da à América do Sul.
por Pieter Zalis

Os gringos querem tomar a Amazônia. Você já deve ter ouvido essa teoria conspiratória, que volta e meia aparece em conversas de bar. O que você provavelmente não sabe é que esse risco já existiu de verdade. Uma superpotência já esteve aqui mapeando o terreno. E não foram os EUA - foi a Alemanha nazista. "A tomada das Guianas é uma questão de primeira importância por razões político-estratégicas e coloniais." Essa frase faz parte de um relatório de 1940 preparado pelo biólogo e geógrafo Otto Schulz-Kamphenkel para a SS - a força de elite do Terceiro Reich. O objetivo da chamada Operação Guiana era colonizar as guianas Francesa, Inglesa e Holandesa. A invasão seria feita pelo norte do Brasil, pois os nazistas já haviam passado por aqui - e gostado do que viram. De 1935 a 1937, Schulz-Kamphenkel liderara uma expedição que começou em Belém do Pará e percorreu as margens do rio Jari, no atual estado do Amapá, até chegar à fronteira da Guiana Francesa.

Os metais preciosos da região e a forte influência dos ingleses na América do Sul foram os principais incentivadores da Operação Guiana. Em carta endereçada a Hitler, no dia 3 de abril de 1940, o oficial da SS Heinrich Peskoller diz que as reservas de ouro e diamantes locais seriam suficientes para sanar a situação financeira da Alemanha em poucos anos. "Na Guiana Britânica, a extração de ouro e diamante é mantida em baixa para não atrapalhar o mercado sul-africano (dominado também por ingleses). Nas mãos do Führer, cada metro quadrado de solo poderia ser em pouco tempo explorado pela grande Alemanha", escreveu o oficial.

Peskoller não queria apenas criar uma colônia para alimentar a economia do Terceiro Reich. A região teria importância na construção do Espaço Vital da raça ariana - pois os nazistas acreditavam que seria possível transformar a região em um lugar bom de viver. "O empenho e a técnica alemã poderiam domar as inúmeras cachoeiras na forma de usinas hidrelétricas colossais. Podendo fazer uma rede elétrica em todo o país com bondes, navegação fluvial, produção de madeiras nobres, pontes, aeroportos, escolas e hospitais. A comparação entre o antes e o depois da tomada dos alemães contaria pontos para o Führer", argumentava Peskoller.

A conquista das Guianas também traria outro grande benefício para os alemães: atrapalhar a Inglaterra. Os ingleses compravam muitas matérias-primas das Américas, e boa parte dos cereais consumidos no território inglês vinha da Argentina. Depois de montar a base na América do Sul e tomar as Guianas, o próximo passo dos nazistas seria mandar submarinos para a região - para que os navios que se dirigiam à Inglaterra fossem abatidos.

Em 1940, o projeto foi encaminhado a Heinrich Himmler, líder da SS e um dos principais nomes do governo nazista. "O plano parece romântico, mas é factível", defendeu Schulz-Kamphenkel. A operação, de acordo com o pesquisador, deveria ser feita em sigilo. Os alemães atacariam em duas frentes. Uma tropa de 150 soldados navegaria o rio Jari, no Amapá, para chegar a Caiena, capital da Guiana Francesa. Ao mesmo tempo, pequenas embarcações e 2 submarinos atacariam pela costa da Guiana.

A América do Sul e a Sibéria deslumbravam Schulz-Kamphenkel pelas riquezas naturais. Esses territórios eram considerados áreas ideais para a expansão do Terceiro Reich. Mas a invasão militar na Sibéria estava temporariamente descartada. Os Russos dominavam a região. E, até 22 de junho de 1941, estava em vigor um pacto de não-agressão germano-soviético. Sobrava a América do Sul.

Na avaliação dos nazistas, os países vizinhos não impediriam a invasão. O Brasil dera apoio irrestrito à primeira viagem de Schulz-Kamphenkel pela Amazônia, em 1935 (quando o pretexto dele era estudar a flora e a fauna locais), e não sabia dos planos de ataque. Uma possível represália dos EUA também era considerada improvável. Em 1940, eles ainda não estavam em guerra contra a Alemanha. Pela lógica da SS, a troca de poder nas colônias seria uma mera substituição de nações europeias na região - e não afetaria a influência dos americanos por aqui.

O plano também incluía previsões assustadoras para o período do pós-guerra. Após a conquista da Europa, o novo alvo seria o Japão. "Se conseguirmos assegurar (o território das Guianas), teremos uma posição estratégica para enfrentar o Japão", diz o relatório. Era uma questão de defesa. "Há o risco terrível de domínio amarelo no mundo. A raça branca está ameaçada pela raça amarela."

Antes de a guerra estourar, o jovem Otto Schulz-Kamphenkel já desfrutava de prestígio entre os homens fortes de Hitler. Sua primeira grande expedição foi na África, na atual região da Libéria, onde ele caçou animais - que vendeu para o zoológico de Berlim. Seu grande desejo era conhecer a floresta amazônica. A expedição ao Jari, em 1935, colocou o pesquisador no patamar dos mais prestigiados cientistas alemães da época. O Museu de História Natural de Berlim ainda expõe animais empalhados trazidos por Schulz-Kamphenkel, que também gravou um filme de 90 minutos, tirou 250 fotos e escreveu o livro O Enigma do Inferno Verde, que vendeu 100 mil exemplares na época. "A descrição da paisagem é muito precisa. Ainda hoje é possível se guiar na região com as referências dadas no livro", diz Cristoph Jaster, chefe do Parque Nacional Tumucumaque, no estado do Amapá.

No livro, saudações a Hitler se misturam com comentários sobre a superioridade da raça ariana. Imagens mostram um hidroavião e alguns barcos carregando bandeiras com suásticas. Os nazistas deixaram uma lembrança que pode ser vista até hoje na margem do rio Jari, a poucos metros da cachoeira de Santo Antônio. É uma cruz de 3 m de altura, decorada com uma suástica, em homenagem a um oficial que morreu durante a expedição.

Negros e índios eram considerados raças inferiores. Mas Schulz-Kamphenkel exaltava a boa relação construída com as tribos locais aparai, mayna e wajäpi. Os nativos, que despertavam a curiosidade dos alemães (e atraíram muitos espectadores para o filme que mostra a expedição) serviram como guias na desconhecida região da floresta amazônica. Quando surgiu a ideia do Projeto Guiana, Schulz-Kamphenkel dizia que sua boa relação com os locais seria um facilitador para a conquista germânica. "Ele não queria apenas participar da invasão. O bom contato com os índios fez Schulz-Kamphenkel sonhar com o governo da futura Guiana Alemã", afirma o alemão Jens Glüsing, autor do livro Das Guiana-Prokejt. Ein deutsches Abenteuer am Amazonas (Projeto Guiana - Uma Aventura Alemã no Amazonas), ainda sem tradução em português.

Militares disfarçados

O Ministério da Aeronáutica nazista forneceu um hidroavião para ajudar nos estudos na selva. Nas entrelinhas, havia um objetivo militar: testar técnicas de mapeamento aéreo. Esse aprendizado foi usado para fins militares durante a Segunda Guerra. Os ministérios das Relações Exteriores e da Guerra de Brasil e Alemanha cuidaram da burocracia e negociaram a isenção de impostos para armas, munição e mais de 30 toneladas de material para a expedição. O Museu Nacional no Rio de Janeiro, presidido por Paulo de Campos Porto, foi o principal incentivador do projeto pelo lado brasileiro. Esse apoio existiu porque a região era igualmente desconhecida pelo nosso governo, e o museu estava interessado nos resultados científicos obtidos pela expedição. Além disso, as células do Partido Nazista no Brasil tinham forte influência sobre setores do governo de Getúlio Vargas e fizeram lobby a favor da expedição.

Nazistas aqui?

A opinião pública também apoiou a expedição nazista. O jornal carioca Gazeta de Noticias publicou no dia 9 de agosto de 1935 uma matéria com o título: "Nas vésperas da sua sensacional expedição  ao Jari". A entrevista com o geógrafo alemão exaltava "uma viagem que mereceu os mais francos aplausos". O cientista era caracterizado como "uma expressão brilhante da moderna geração que ora está surgindo cheia de vida e coragem, disposta a derrubar os obstáculos que entravam a marcha da civilização".

Em outra entrevista para o Jornal do Norte, publicada no dia 24 de agosto de 1935, o piloto alemão Gerd Kahle agradeceu: "Não se esqueça de dizer pelo jornal que estamos muito sensibilizados pelas atenções das autoridades paraenses. Aos senhores Andrade de Ramos & Cia., proprietários de imensa extensão de terras no Jari, também estamos cativos pelas facilidades que nos têm assegurado a boa consecução do nosso empreendimento."

Mas a segunda expedição, em que os alemães viriam secretamente para invadir as guianas, acabou não saindo do papel. Ela não se concretizou por uma decisão pessoal de Himmler, o líder da SS, que esfriou os planos. Na estratégia dele, a guerra havia ganhado outras dimensões - e seria mais inteligente centrar fogo na Europa. Em 10 de maio de 1940, a Alemanha lançou uma grande ofensiva contra a Europa Ocidental. Em dias, a Holanda foi conquistada e, em pouco mais de um mês, Hitler realizou seu desfile histórico pela avenida Champs-Élysées, em Paris. "As invasões da Holanda e da França representaram a anexação automática de suas colônias ao governo nazista. Não havia mais a necessidade de invadir as Guianas", explica Jens Glüsing.

Com o decorrer da guerra, os habitantes da Guiana Francesa começaram a se revoltar contra as forças de Vichy (governo pró-nazista implantado na França durante a Segunda Guerra). A capital, Caiena, ganhou o clima de terra sem lei e virou palco da ação de espiões e fugitivos. Em 1943, com a ajuda dos EUA, o governo pró-nazista foi expulso da Guiana Francesa. Mas a população local era contra uma ocupação americana. E os franceses não tinham mais autoridade. O país estava sem comando - e o governo brasileiro começa a cogitar a anexação da Guiana Francesa ao Brasil. Livros de propaganda política, como Brasil, o País do Futuro, do austríaco Stefan Zweig, chegaram a ser distribuídos em Caiena. Mas Getúlio Vargas acabou desistindo do plano, pois temia criar atrito com os EUA.

Após voltar da Amazônia, Schulz-Kamphenkel se filiou à SS e chegou ao posto de tenente. Com outros cientistas, formou uma tropa de elite de pesquisadores a favor do nazismo. Depois, se envolveu na operação secreta Comando Especial Doca, que levou mais de 50 pesquisadores nazistas para estudar o Deserto do Saara e imaginar possíveis rotas que os ingleses e os franceses poderiam tomar até a Itália. Schulz também perambulou por Grécia, Iugoslávia, Finlândia, Polônia e Ucrânia.

Em 1945, ele foi preso na Áustria pelos americanos e enviado para um campo de prisioneiros de guerra. O FBI o interrogou em maio de 1946. No dossiê sobre o geógrafo, um oficial recomendou ao governo americano que adotasse as técnicas de mapeamento aéreo desenvolvidas por Schulz-Kamphenkel, mas isso não chegou a ser concretizado. No mesmo ano, ele foi solto e voltou para sua cidade natal, Hamburgo, onde abriu o Institut für Welkunde in Bildung und Forschung (Instituto de Formação e Pesquisa de Ciência do Mundo). Em funcionamento até hoje, a instituição fundada pelo ex-tenente da SS fornece filmes didáticos e material de ensino de geografia para escolas alemãs.

Depois de ser alvo de Hitler, a região do rio Jari e a fronteira com a Guiana Francesa se transformou em palco de extração de ouro, com a ação predatória de garimpeiros e exploração mineral desenfreada na década de 1980. Hoje, faz parte de uma área de proteção ambiental - mas, como toda a Amazônia, sofre com os efeitos do desmatamento, que cresceu 60% no segundo semestre de 2011. Hoje a grande ameaça à região é outra: a destruição ecológica.

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

O pesadelo de Speer, Hitler cultuando a morte.



O relato que segue foi feito por Albert Speer (1905-1981), o Arquiteto Chefe e Ministro do Armamento do Terceiro Reich e principalmente amigo de Hitler durante o auge do partido e a guerra.  Speer ficou 20 anos preso em Spandau prisão aliada em Berlim, e durante o tempo em que esteve preso pode refletir quem realmente foi Hitler seu partido e suas próprias ações como subordinado do Führer.

Na noite de 13 de setembro de 1962 em Spandau,  Albert Speer teve um pesadelo com Hitler ao qual ele relata:

Pouco antes de Hitler aparecer para uma visita de inspeção, eu mesmo, apesar da dignidade de meu cargo de Ministro de Armamentos, passo a mão numa vassoura e pessoalmente ajudo a varrer a sujeira de uma fábrica. E ao mesmo tempo encontro-me num automóvel, tentando em vão vestir uma jaqueta que tirara para varrer a fábrica. Em vez de entrar na manga, minha mão sempre acaba enfiada num bolso. O carro chega e para numa praça enorme, com prédios do governo por todo lado. Num canto já um monumento honrando os mortos. Hitler via até lá e coloca uma coroa de flores. Entramos no saguão de mármore de um dos prédios. Hitler indaga de um assistente: “Onde estão as coroas de flores?” E o assistente se torna, aborrecido, para um oficial e o censura: “Você sabe muito bem que em qualquer lugar que ele vai hoje em dia, sempre quer colocar coroas de flores.” O uniforme deste oficial é muito leve e de um tipo de couro quase branco. Por cima do terno ele veste um guarda-pó enfeitado com lacinhos e bordados, mais parecendo a sobrepeliz de um coroinha ajudando missa. A coroa de flores chega. Hitler se dirige ao lado direito do prédio, onde há mais coroas. O Führer se ajoelha e começa uma canção melancólica, parecida com um canto gregoriano, e na qual ele repete sem parar “Jesus, Maria”. A sala é comprida alta e de mármore; nas paredes há muitas placas em memória de vários mortos. Cada vez mais depressa, Hitler via colocando uma coroa de flores depois da outra. Seus assistentes quase que tropeçam uns nos outros para lhe entregar todas as coroas que ele quer. E sua canção triste se torna cada vez mais monótona, enquanto as coroas de flores que vai colocando parecem nunca se acabar. Um oficial se atreve a sorrir e é severamente censurado por seus companheiros.

A interpretação do sonho de Speer

            O pesadelo de Speer foi interpretado no livro de Erich Fromm, “The Anatomy of Human Destructiveness – New York: Holt, Rinehard and Winston, 1973, pg. 334.

            Esse sonho é interessante por muitas razões. É um desses sonhos no qual o sonhador se concentra mais numa outra pessoa do que em seus próprios sentimentos e desejos. E no sonho o sonhador às vezes tem uma ideia mais exata dessa outra pessoa do que quando está acordado. Nesse caso, Speer expressa claramente, num estilo à la Chaplin, sua opinião sobre o caráter necrófilo de Hitler. Ele o vê como um homem que se dedica exclusivamente a homenagear a morte. Suas ações são, porém, bem peculiares, totalmente mecânicas e despidas de quaisquer sentimentos. O ato de colocar uma coroa de flores se torna um ritual organizado, mas tão organizado a ponto de ser absurdo. Entretanto, esse mesmo Hitler, tendo retornado às crenças religiosa de sua infância, mergulha completamente na entonação de canções melancólicas. O sonho termina dando ênfase à monotonia e ao modo totalmente mecanizado do ritual da dor.

            No inicio do sonho, o sonhador imagina uma situação tira da realidade da época em que era ainda era um Ministro de Estado e um homem muito ativo e cheio de energia. Talvez a sujeira que varre seja simbólica da sujeira que foi o regime nazista. O fato de que não consegue enfiar os braços nas mangas da jaqueta é muito provavelmente uma expressão simbólica de seu desejo de não mais participar desse sistema político. E isto informa a transição para a parte central do sonho, a mais importante, na qual ele reconhece que tudo o que resta são os mortos e um Hitler necrófilo, mecânico e enfadonho.

            Speer ficou conhecido como o “bom nazista” por ter admitido todas as culpas e crimes cometidos, e isso lhe custou 20 anos de prisão por ser Ministro Armamento e fazer uso de mão de obra escrava, sendo acusado de crimes contra a humanidade. Em seu pesadelo, chamo assim, pois não vejo nada parecido com um sonho em algo tão bizarro, ele demonstra como um dos homens mais próximos de Hitler realmente o via em seu subconsciente, um necrófilo, assassino que cultuava a dor e à morte.

Você quer saber mais?

SPEER, Albert. Spandau: o diário secreto. Rio de Janeiro: Arte Nova, 1977.




quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Uma análise psicológica da mente de Adolf Hitler. Parte V.



Chegamos a quinta e última parte de nossa análise da mente de Adolf Hitler, espero que o trabalho possa ter sido de ajuda aos amigos curiosos e pesquisadores da história. Apenas arranhamos a superfície de uma infindável pesquisa, mas mesmo assim fico feliz em saber que posso ter acrescentado uma parte em futuras pesquisas de meus pares.

Propaganda

O rádio foi um meio de comunicação usado em grande escala pelos nazistas para difundirem suas ideias e espalharem a propaganda de que Hitler era o salvador da nação alemã e da “raça ariana”. O rádio por transmitir apenas sons, liberta o imaginário do ouvinte, transformando-o num condutor das imagens que “vestem” os sons. Instigando-o a ser um engenheiro de ideias e não um repetidor delas. Goebbels, o “gênio” do marketing político, tinha um plano. Tal plano previa a utilização mais mapla possível do rádio, uma massificação “que nossos adversários não têm sabido explorar...”, escrevia o chefe da Propaganda. Ele queria que Hitler fizesse seus discursos em todas as cidades dotadas de emissoras de rádio para atingir o maior número possível de alemães. Mas os discursos deveriam romper o cárcere do tecnicismo político e ganhar ares de um artista plástico.
São de Goebbels estas palavras:

“Nós transmitiremos as mensagens radiofônicas para o meio do povo e daremos assim ao ouvinte uma imagem plástica do que acontece durante nossas manifestações. Eu mesmo farei uma introdução para cada discurso do Führer, na qual tentarei transmitir aos ouvintes o fascínio e o clima geral de nossas manifestações coletivas.”

            Albert Speer, o arquiteto e amigo de Hitler, confirma em suas memórias:

“Por meio de recursos técnicos como o rádio e o megafone 80 milhões de pessoas foram privadas da sua liberdade de opinião. Por conseguinte, foi possível submetê-las à vontade de um único homem.”

            Uns tem habilidade para adestrar animais, outros, mentes humanas, Adolf Hitler tinha habilidade para adestrar homens que antes eram mentes independentes.

Características do marketing político e dos discursos eletrizantes de Hitler, que alicerçava seu magnetismo social:

1) Tonalidade imponente e teatral a voz.
2) Utilização de frases de efeito.
3) Supervalorização da crise social.
4) Propaganda contínua da ameaça comunista, o que causava pânico nos empresários e causava uma adesão histérica ao Führer.
5) Lembrança constante  da humilhação sofrida na Primeira Guerra Mundial.
6) Excitação até o ódio aos inimigos da Alemanha, em especial marxistas e judeus.
7) Promoção exaustiva da raça ariana e da autoestima do povo alemão.
8) Exaltação do nacionalismo e de sua postura como o alemão dos alemães.
9) Utilização exagerada das suas origens humildes.
10) Verborreia – necessidade neurótica de falar, expressa por monólogos intermináveis.

            Antes de devorar os judeus, Hitler canibalizou a emoção dos alemães.

            O ponto alto das exibições do regime eram as Honras Fúnebres, quando Hitler atravessava fileiras gigantescas de milhares de soldados rigorosamente organizados. A portentosa homenagem aos que tombaram excitava o cérebro de quem os comtempla, gerando uma comoção fortíssima, provocando o instinto de lutar. A debilitada Alemanha despertava para o seu gigantismo. Os shows militares tornaram-se grandes peças de marketing. Feitos ao ar livre, em horários tais que combinavam um jogo de luz e sombra, objetivavam dar contornos messiânicos à imagem do Führer.

            O melhor desempenho de Hitler era como ator, pois, como ser humano, era ególatra, radical, instável, parcial, agressivo, explosivo, exclusivista, amante de bajuladores, avesso a críticas e ao diálogo. Queria inscrever seu nome no concerto das nações e gravar com chamas seu nome na história.

O homem do fogo

            Segundo Albert Speer, amigo e arquiteto pessoal de Hitler, o fogo era o elemento adequado para o Führer, ele apreciava seu aspecto destruidor. Dizer que ele incendiou o mundo e fez o continente sentir o poder do fogo e da espada talvez seja uma figura forte demais. Mas no sentido mais literal do termo, o fogo sempre o afetou profundamente. Speer relata que Hitler mandava passa na Chancelaria filmes mostrando Londres me chamas, o incêndios gigantesco que consumia Varsóvia, comboios explodindo, e o seu verdadeiro êxtase ao assistir tais cenas. Jamais o vi tão excitado como na ocasião em que, já no fim da guerra e quase num delírio, ele pintou verbalmente para si mesmo e para nós o quadro de Nova Iorque em chamas. Descreveu os arranha-céus se transformando em tochas monumentais, tombando uns sobre os outros, e as chamas gigantescas a iluminar o céu escuro.

            Em breve trarei aos amigos do Construindo História Hoje um trabalho voltando para as informações que Albert Speer nos passa em suas memórias sobre Adolf Hitler, Speer foi arquiteto no Terceiro Reich e ministro do armamento durante da guerra.

Você quer saber mais?

CURY, Augusto. O colecionador de lágrimas. São Paulo: Editora Planeta, 2012.

SPEER, Albert. Spandau: o diário secreto. Rio de Janeiro: Arte Nova, 1977.









sábado, 21 de setembro de 2019

Uma análise psicológica da mente de Adolf Hitler. Parte IV.



Saudações mentes ávidas do amanhã, dando continuidade hoje ao nosso estudo da mente de uns dos maiores carrascos da humanidade, um homem que traiu tudo que significa ser humano, pois mesmo que se humanidade significasse um principio filosófico ao qual nós Homo sapiens sapiens nos apegamos ao longo de milhares de anos para nos tornarmos uma espécie melhor, Hitler seria o perfeito estereotipo de traidor desse princípios.
Göring, comandante-chefe Luftwaffe era o perfeito estereótipo dos pensamentos de Hitler, os opositores não eram portadores de ideias divergentes, as mas inimigos a serem abatidos. Vejam o que ele teve a coragem  de dizer pouco mais de um mês após Hitler assumir o poder:
“Toda bala que sair agora do cano de um revólver é um projétil meu. Se chamam isso de assassinato, então sou eu que assassino; eu ordenei tudo e assumo a responsabilidade”.
            A pergunta que fica é: pessoas como Göring corromperão seus princípios humanos devido ao contato com a mente perniciosa de Hitler ou a mesma simplesmente trazia a tona o que há de pior dentro de cada pessoa? Deixo essa pergunta para os amigos da história responderem!
            Toda pessoa ou regime autoritário precisa ter ou inventar inimigos para continuar exercendo seu autoritarismo. Ainda que tenha havido fatores sociais estressantes, parece que foi menos a sociedade caótica do pós-Primeira-Guerra que criou o monstro Hitler e mais o monstro Hitler que moldou a sociedade para ser destrutiva. Ele aflorou e cultivou os instintos agressivos que estão em qualquer ser humano, raça ou cultura. São deles as palavras escritas em Mein Kampf: “ Na guerra eterna, a humanidade se torna grande, na paz eterna, a humanidade se arruína”.
            Hitler nunca foi patriota, nunca serviu a Alemanha, mas as suas próprias ambições, era um mestre da manipulação da emoção, provavelmente seduziria qualquer povo que não abordasse suas mensagens quando elas ainda estivessem no nascedouro.

            Seduzidos

            Muitos religiosos, pessoas do mais alto nível e com as melhores intenções humanitárias apoiaram Hitler naqueles áridos tempos. Se nós tivéssemos vivido na Alemanha nazista e dispuséssemos de informações reduzidas sobre as atrocidades que Hitler cometia, resistiríamos ao poder de sua influência? Os líderes religiosos viam nele o homem que salvou e manteria à salvo, o mundo livre do perigo comunista.
            Não somente os religiosos, mas o povo em geral eram seduzidos por suas palavras e sua falsa libertação dos males do mundo. Sua popularidade só cresceu desde 1933 com sua entrada na Chancelaria, até 1934 ele recebia em torno de 12 mil cartas por ano.
            Aliás, Hitler, Göring e Himmler, os principais dirigentes do partido, eram envolvidos em praticas místicas ocultistas e visões religiosas, mesmo Bormam (finanças), Goebbels (propaganda) e Rosenberg (ministro do Reich nos territórios ocupados) tinham uma queda pelo ocultismo, Goebbels em especial apresentava Hitler como “o Messias da Alemanha”, o grande timoneiro da Europa. Era a religião a serviço do Estado. Exemplo disso é a declaração do prefeito de Hamburgo que declarou: “Podemos nos comunicar com Deus por meio de Adolf Hitler”.
            O Führer esperto como era, não ia exteriormente contra a Igreja seja Católica ou Protestante, mas nos bastidores ele a minava sorrateiramente. Penetrou no inconsciente coletivo da sociedade alemã com uma refinada propaganda pseudoafetiva de massa jamais vista na história.
            Propaganda


            Aldolf Hitler, sob a sombra de seu  ministro de Propaganda, Goebbels, inaugurou o marketing político assistencialista. Uma dessas táticas de propaganda era o apadrinhamento do sétimo filho de todas as famílias alemãs no ritual de batismo cristão. Numa única peça de marketing e sem gastar novamente nenhum dinheiro do Estado, ele atingiu três fascinantes objetivos:
1)     Exaltou a religiosidade por valorizar o ritual de batismo cristão.
2)    Estimulou a multiplicação da raça ariana ao valorizar famílias numerosas
3)    Assumiu a “paternidade social” para conduzir a Alemanha ao seu “destino” histórico.
Hitler juntamente com o gênio Goebbels, foram os grandes inventores do marketing da emoção de massas.

Apêndice:   

O que é o Terceiro Reich?

O III Reich é o nome do Terceiro Império alemão. Alfred Rosenberg, ideólogo e papa do paganismo, propôs esse nome para o governo nacional-socialista, embora não tenha sido ele o inventor da expressão. Seu aturo foi o escriba, Moeller van den Bruch, conhecido como excelente tradutor da obra completa de Dostoiévski. “A ideia do III Reich é uma concepção história que se eleva acima da realidade...”, disse Moeller. Ele queria que todos os nacionalistas alemães participassem da sua construção, Rosenberg retomou, promoveu e expandiu as ideias de Moeller. O III Reich era, segundo Rosenberg, o autêntico Império Alemão, que respondia a todo anseio e expectativa dos alemães, o seu fundamento seria a raça alemã, foi lançado nesse império algo assombroso, a política  da supremacia racial. A raça afirmava o filósofo nazista era a alma vista de fora, e a alma é a raça vista de dentro.
            Os primeiros Reich’s foram segundo Moeller:
            I Reich: foi o Santo Império Romano-Germânico (926-1826)
            II Reich: foi o dos imperadores alemães após a unificação do país (1871-1918), que só se manteve pelo brilhantismo de Bismarck.

            O Führer do fogo


            Albert Speer, arquiteto pessoal de Hitler e ministro dos armamentos, que ficou preso na prisão aliada de Spandau em Berlim por 20 anos, reflete sobre se a personalidade das pessoas fossem relacionadas aos elementos da natureza a de Hitler seria o fogo, abaixo cito as reflexões de Speer sobre o Führer.
            Se as personalidades das pessoas se relacionam aos elementos da natureza e isto for verdade, não hesitaria em dizer que o fogo era o elemento adequado para Hitler – se bem que o que ele precisava no fogo não fosse o seu aspecto criador Promético, mas sua força destrutiva. Dizer que ele incendiou o mundo e fez o continente sentir o poder do fogo e da espada talvez seja uma figura forte demais. Mas no sentido mais literal do termo, o fogo sempre o afetou profundamente. Lembro-me dele mandar passar na chancelaria filmes mostrando Londres em chamas, o incêndio gigantesco que consumia Varsóvia, comboios explodindo – e o seu verdadeiro êxtase ao assistir tais cenas. Jamais o vi tão excitado como na ocasião em que, já no fim da guerra e quase num delírio, ele pintou verbalmente para si mesmo e para nós, o quadro de Nova Iorque sendo destruída por um furacão de fogo. Descreveu os arranha-céus se transformando em tochas monumentais, tombando uns sobre os outros e as chamas gigantescas a iluminar o céu escuro. Em seguida como se a loucura o levasse de volta à realidade, afirmou que Saur deveria tomar providências imediatas afim de que o bombardeiro a jato quadrimotor e de longo alcance que Messerschmitt planejaria fosse fabricado prontamente. Com um avião de alcance faríamos os americanos pagarem mil vezes pela destruição de nossas cidades.

Continua na próxima postagem.....

Você quer saber mais?
CURY, Augusto. O colecionador de lágrimas. São Paulo: Editora Planeta, 2012.
SPEER, Albert. Spandau: o diário secreto. Rio de Janeiro: Arte Nova, 1977,pg. 97.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Uma análise psicológica da mente de Adolf Hitler. Parte III.




            Daremos agora continuidade a nossa análise da mente de  um dos homens mais temidos e ao mesmo tempo estudado e analisado da história, no fundo não entendemos com certeza o que atrai tantos a procurarem estudar sua pessoa, mas humildemente acredito que é o fato de como um único homem com tantos traços de graves problemas psicológicos pode envolver e conquistar o coração da população de uma das nações mais cultas da Europa .

            A rejeição sempre calou fundo no psiquismo de Hitler, uma janela traumática inesquecível. Janelas da memória são áreas através da quais interpretamos e sentimos o mundo, e reagimos a ele, podem ser saturadas  de janelas que contem medo, ciúmes, inveja, paixões, que são verdadeiras armadilhas que asfixiam nossa percepção da realidade. Hitler nunca teve uma mente livre, era controlado pelos complexos que se desenhavam em sua adolescência. Se fosse bem humorado, bem resolvido e sereno, poderia ter absorvido o impacto da rejeição. Mas o filho superprotegido, hipersensível e emocionalmente frágil abateu-se muitíssimo.

           O futuro Führer era provavelmente um jovem tímido, impulsivo, socialmente retraído, não atraente física e intelectualmente, Hitler tinha uma existência regada à solidão, reforçando uma necessidade neurótica de estar em evidência social e de controlar pessoas.

            Megalomaníaco, fora um jovem sem consciência crítica, sem autodeterminação começou a confeccionar seu asco pela sociedade burguesa e suas normas. E como a rejeição dos judeus percorria as artérias de muitos ambientes sociais, aos poucos essa rejeição penetrou em seu psiquismo e produziu efeitos desastrosos.

            Ele via o mundo não pela realidade deste, mas pelas janelas traumáticas que construíra em seu psiquismo e que expandiam seus conflitos. Ensimesmado e com baixo nível de socialização, seus projetos, ainda que absurdos, tornaram uma obsessão. Nunca rompeu nem reciclou seu passado, era um líder autômato, que obedecia às ordens dos fantasmas que assombravam sua mente, em especial os da rejeição e insegurança. Era frágil e prisioneiro das mazelas que habitavam seu psiquismo.

            A compulsão pela palavra falada, associados a uma personalidade depressiva, tímida e que tentava se compensar por meio da neurose pelo poder.

            Durante a Primeira Guerra Mundial trabalhou como qualquer soldado, mas deixou que o conflito penetra-se nas entranhas de sua mente, debelou sua frágil capacidade de tolerância e fomentou seu comportamento agressivo, radical e exclusivista. Derrota na Primeira Guerra Mundial, os ataques de fúria e ódio ganharam musculatura no psiquismo do tímido Hitler.  É provável que com Hitler a política e a propaganda tenham começado um casamento inseparável, que dura até os dias atuais, pois com uma notável habilidade em manipular fatos a seu favor, para transformar o caos em oportunidade criativa.

            Hitler tinha 44 anos ao assumir o cargo de chanceler, era completamente saturado de ambição, irritadiço, ansioso, explosivo, de interiorização limitada, resiliência débil e com baixíssima capacidade para suportar contrariedades, mas com altíssima capacidade de manipular a emoção e influenciar pessoas. Talvez não passasse numa simples prova para avaliar suas habilidades de trabalhar em equipe e gerenciar uma mísera instituição, mas a democracia tem uma característica fundamental: os líderes são avaliados pelo voto. O sociopata prevaleceu!!!!

            Continuaremos nossa análise nas próximas postagens.

Você quer saber mais?
CURY, Augusto. O colecionador de lágrimas. São Paulo: Editora Planeta, 2012.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Análise psicológica da mente de Adolf Hitler. PARTE I.



Saudações, mentes ávidas do amanhã! Esse trabalho tem como objetivo revelar um pouco sobre a mente de uma dos indivíduos mais cruéis que conhecemos na história da humanidade, se não a mais cruel de todas. Seja por qual for o motivo sua pessoa e sua psique continuam a trazer interesse em milhões de pessoas no mundo inteiro. A história de sua vida, estratégias, visão de mundo e ideais nos instigam e nos fazem pensar. Como um ser humano foi capaz de levar o mundo à guerra com base em seus ideais de superioridade de seu povo em detrimento dos demais? Extremismo, preconceito, complexo de superioridade? Tire suas próprias conclusões no trabalho que se segue!

Hitler tinha uma personalidade altamente complexa. Seu ego era explosivo, belicoso, neurótico, intolerante, manipulador, messiânico. Como alguém com tais características doentias pode dominar a Alemanha, que era indubitavelmente um dos povos mais cultos do seu tempo? Após o vexame da derrota na Primeira Guerra Mundial e as pesadas indenizações do tratado de Versalhes, a Alemanha era uma nação com uma inflação galopante e altos índices de desemprego, violência social e a falta de líderes políticos, tornou a nação um caldeirão de estímulos estressantes que diminuíam os níveis de consciência crítica da população e elevaram o instinto de sobrevivência. Adolf Hitler dominou a Alemanha quando sua imunidade psíquica estava em baixa, tal como um vírus que infecta um corpo quando o sistema de defesa está combalido. Era um megalomaníaco com necessidade neurótica por poder que revelava um messianismo fanático por meio do que ele chamava de “Providência Divina”. O povo alemão foi iludido, pois é difícil perceber o veneno de uma cobra quando ela serpenteia admirável, arguta e vagarosamente sobre o solo.

O líder instável



Os vivos num momento estão tranquilos noutro, inseguros; num período são racionais, noutro, incoerentes; num período, gentis, noutro, individualistas. A flutuabilidade branda é aceitável, mas a extrema é gritante, o caso de Adolf Hitler era gravíssima, refletia uma mente destruidora. A emoção do Führer da Alemanha flutuava entre o céu e o inferno. Hitler não era psicótico com alguns o consideram erroneamente, ele era psicopata, e, como tal tinha plena consciência dos seus atos. Feria, excluía, exterminava, e não sentia a dor dos outros. E não era apenas psicopata, mas também sociopata, portador de alta periculosidade, o que o levava a colocar a sociedade em risco pela sua virulência.  A mente dele não era simplista, mas altamente complexa e sedutora: em alguns momentos, expressava grande generosidade; noutros, extrema violência. A psique de Hitler era espantosamente não linear e extremamente paradoxal, o que o levou a confundir a culta sociedade alemã. Por um lado nutria um intenso afeto por animais, por outro, não nutria afeto pelos seres humanos.

Quando fazia suas reuniões de cúpula, o clima era de um controle absoluto dos participantes. Raramente havia aqui ou ali alguma conversa paralela entre ministros e líderes das forças armadas. Um dos participantes dessas reuniões relatou:
“Havia uma corrente de servilismo, de nervosismo e de permanente falsificação da realidade, terminando por sufocar-nos e gerando um mal-estar físico. Nada ali era autêntico, a não ser o medo”.

            Falsificando a realidade Hitler conseguia sempre fazer fluir a confiança e despertar esperança diante dos líderes da Alemanha. Uma autoridade que permaneceu indiscutível até seu último fôlego de vida, apesar de seus erros, suas mentiras, seus rompantes de agressividade e suas teses incoerentes. O medo, a velha ave de rapina do psiquismo, era a única coisa autêntica nas reuniões dos arquitetos da Segunda Guerra Mundial, mas os cegos seguidores de Hitler não se mapeavam nem a mapeavam, não adentravam o edifício do psiquismo.

            Hitler era portador de um otimismo inabalável e de uma autoridade inquestionável nas reuniões ministeriais e nas campanhas de guerra, mas quando estava só, recluso em seu Bunker, ficava frequentemente deprimido, tinha uma atitude sombria de meditação, um espírito distante e vago. Suicidou-se emocionalmente anos antes de fazê-lo fisicamente. Ele assassinou seu prazer de viver, pois nunca aprendeu que o segredo do prazer de viver se encontras nas pequenas coisas. Precisava de grandes eventos para experimentar fagulhas de alegria. Eis mais duas flutuações doentias do líder da Alemanha: otimismo social e depressão, autoridade política e fragilidade emocional.

De sua exposição se conclui que tinha uma péssima relação consigo mesmo. A solidão o asfixiava. Só se podia ver o brilho evidente no seu rosto diante das grandes decisões, do domínio dos povos, da bajulação das plateias. O que se pode esperar de uma de uma sociedade cujo líder é mal resolvido? Um líder doente adoece sua sociedade. Como todo ditador, Hitler não desenvolveu o pensamento abstrato, era incapaz de corrigir suas rotas. A mente dele era pendular, flutuava entre a amabilidade e a agressividade explosiva.
Como conviver com um homem que não se sabia como estava seu humor? Como agir diante de uma pessoa que em alguns momentos mostrava afetividade, noutros, uma compulsão para eliminar a quem a ele se opunha? Albert Speer, amigo e arquiteto de Hitler, falou dos paradoxos comportamentais dele. Disse que na campanha eleitoral, em 1932, após a chegada ao aeroporto de Berlim, Hitler, num momento de intensa agressividade, repreendeu seus assessores pelo atraso dos carros que deveriam pegá-lo. Caminhava de um lado para o outro ansioso, descontrolado. Baia com seu chicote no alto das botas, como se quisesse espancar alguém. Speer, ao ver seu descontrole e sua irritabilidade diante de uma pequena contrariedade, disse: “Era diferente do homem com modos gentis e civilizados que me impressionara...”.

O Führer e as mulheres


O Führer era um verdadeiro cavalheiro com algumas mulheres, como as esposas dos oficiais e empresários e suas secretárias. Era capaz de pegar as mãos delas e delicadamente as beijar. As mulheres alemãs tinha verdadeiro fascínio por Hitler, o mais famoso solteirão. Tinham a impressão de que ele era um homem de rara sensibilidade. Onde as encontrava ele se curvava para beijar suas mãos, em especial as mulheres da alta-roda. Mas o mesmo homem que beijava generosamente as mãos das mulheres arianas era o que dava ordens para matar milhares de mulheres judias e de outras minorias perseguidas (nunca esqueçam que não fora só os judeus perseguidos pelos nazistas) sem nenhum constrangimento, inclusive ciganas. Eis outra flutuação fantasmagórica.

As mulheres próximas de Hitler adoeciam de tal maneira que tentavam o suicídio. Mini Reiter, uma de suas namoradas, tentou o suicídio em 1926; Geli, sua sobrinha e amante se matou em 1931; Renata Muller, uma amiga, também o fez, em 1937. Inge Ley, mulher do político Robert Ley, tentou contra a sua própria vida. E, por fim, Eva Braun se matou com cianureto poucas horas depois de se casar com Hitler. As mulheres mais intimas dele entravam em colapso, pois ele primeiro as cativava, depois furtava-lhes as identidades e por último as levava ao desespero.

Hitler era um homem de dupla performance, dupla face, uma no palco, outra nos bastidores, com tendências de inspirar ao suicídio. Ele era um suicida em potencial. Tinha resiliência débil, baixo limiar para lidar com frustrações, não suportava ser contrariado. Atitudes violentas ou depressivas acompanhavam suas decepções. Goebbels alimentava seu messianismo. Inclusive no fim da vida. Dizia a Hitler: “Se a morte fosse seu destino, deveria procurá-la nos escombros de Berlim. Sua morte seria um sacrifício à lealdade para com sua missão na história mundial”.

Hitler e a arte


Era um grande apreciador de música, mas como alguém como ele podia gostar de algo que normalmente denota sensibilidade e generosidade? Era possível, pois há diferença mais diferenças entre admirar a música e contemplá-la do que imagina o mundo das artes. Admirar é uma experiência fortuita, desprovida de profundidade. Contemplar a música é se entregar a ela, é penetrar em sua essência, imergir em sua sensibilidade, sentir o “paladar” das suas notas. Somente a contemplação produz a generosidade e o altruísmo. Hitler podia ser rude, tosco, inculto, mas tinha um psiquismo singular, admirava indubitavelmente as artes embora não as contemplasse. Era um escritor sem brilhantismo, um pintor, frustrado que pintava aquarelas no estilo de cartões-postais. E como vimos, era um confesso amante da música. Ele declarou após iniciar a guerra: “Sou um artista e não um político. Quando terminar a guerra, pretendo me dedicar às artes...”. O homem que confessava solenemente a importância da música foi ele mesmo o maestro da orquestra que protagonizou os maiores crimes contra a humanidade. A batuta que usava para reger era a mesma que manipulava para tirar vidas.

Outra característica do Führer era o gosto pelo cinema, era considerado um cinéfilo, seu gênero preferido era desenhos animados, pois sim, pasmem desenhos animados. Goebbels certa vez o presenteou com dezoito desenhos animados do Mickey Mouse, o ratinho da Disney. Não apenas gostava de filmes infantis como de história infantis. Jamais deixou de ler Karl May, o escritor que lia na infância e que escreveu cerca de setenta livros para crianças e adolescentes. E por incrível que pareça, solicitava que soldados que estivessem no front da batalha pudessem ter em mãos um livro do seu autor infantil preferido para sobreviver às intempéries ambientais. Hitler, intelectualmente imaturo, vendia a imagem de um grande líder.

Continuará na próxima postagem...

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CURY, Augusto. Colecionador de Lágrimas. São Paulo: Editora Planeta, 2012. 








segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Nazistas na Amazônia: missão secreta para atacar países vizinhos.




Livro conta a história de expedição nazista à região. Imagem: Einestages Spiegel.
Os oficiais de Hitler estiveram aqui, gostaram do que viram e fizeram um plano audacioso e assustador: enviar uma missão secreta à Amazônia para atacar os países vizinhos e começar a ocupação da à América do Sul.
por Pieter Zalis

Os gringos querem tomar a Amazônia. Você já deve ter ouvido essa teoria conspiratória, que volta e meia aparece em conversas de bar. O que você provavelmente não sabe é que esse risco já existiu de verdade. Uma superpotência já esteve aqui mapeando o terreno. E não foram os EUA - foi a Alemanha nazista. "A tomada das Guianas é uma questão de primeira importância por razões político-estratégicas e coloniais." Essa frase faz parte de um relatório de 1940 preparado pelo biólogo e geógrafo Otto Schulz-Kamphenkel para a SS - a força de elite do Terceiro Reich. O objetivo da chamada Operação Guiana era colonizar as guianas Francesa, Inglesa e Holandesa. A invasão seria feita pelo norte do Brasil, pois os nazistas já haviam passado por aqui - e gostado do que viram. De 1935 a 1937, Schulz-Kamphenkel liderara uma expedição que começou em Belém do Pará e percorreu as margens do rio Jari, no atual estado do Amapá, até chegar à fronteira da Guiana Francesa.

Os metais preciosos da região e a forte influência dos ingleses na América do Sul foram os principais incentivadores da Operação Guiana. Em carta endereçada a Hitler, no dia 3 de abril de 1940, o oficial da SS Heinrich Peskoller diz que as reservas de ouro e diamantes locais seriam suficientes para sanar a situação financeira da Alemanha em poucos anos. "Na Guiana Britânica, a extração de ouro e diamante é mantida em baixa para não atrapalhar o mercado sul-africano (dominado também por ingleses). Nas mãos do Führer, cada metro quadrado de solo poderia ser em pouco tempo explorado pela grande Alemanha", escreveu o oficial.

Peskoller não queria apenas criar uma colônia para alimentar a economia do Terceiro Reich. A região teria importância na construção do Espaço Vital da raça ariana - pois os nazistas acreditavam que seria possível transformar a região em um lugar bom de viver. "O empenho e a técnica alemã poderiam domar as inúmeras cachoeiras na forma de usinas hidrelétricas colossais. Podendo fazer uma rede elétrica em todo o país com bondes, navegação fluvial, produção de madeiras nobres, pontes, aeroportos, escolas e hospitais. A comparação entre o antes e o depois da tomada dos alemães contaria pontos para o Führer", argumentava Peskoller.

A conquista das Guianas também traria outro grande benefício para os alemães: atrapalhar a Inglaterra. Os ingleses compravam muitas matérias-primas das Américas, e boa parte dos cereais consumidos no território inglês vinha da Argentina. Depois de montar a base na América do Sul e tomar as Guianas, o próximo passo dos nazistas seria mandar submarinos para a região - para que os navios que se dirigiam à Inglaterra fossem abatidos.

Em 1940, o projeto foi encaminhado a Heinrich Himmler, líder da SS e um dos principais nomes do governo nazista. "O plano parece romântico, mas é factível", defendeu Schulz-Kamphenkel. A operação, de acordo com o pesquisador, deveria ser feita em sigilo. Os alemães atacariam em duas frentes. Uma tropa de 150 soldados navegaria o rio Jari, no Amapá, para chegar a Caiena, capital da Guiana Francesa. Ao mesmo tempo, pequenas embarcações e 2 submarinos atacariam pela costa da Guiana.

A América do Sul e a Sibéria deslumbravam Schulz-Kamphenkel pelas riquezas naturais. Esses territórios eram considerados áreas ideais para a expansão do Terceiro Reich. Mas a invasão militar na Sibéria estava temporariamente descartada. Os Russos dominavam a região. E, até 22 de junho de 1941, estava em vigor um pacto de não-agressão germano-soviético. Sobrava a América do Sul.

Na avaliação dos nazistas, os países vizinhos não impediriam a invasão. O Brasil dera apoio irrestrito à primeira viagem de Schulz-Kamphenkel pela Amazônia, em 1935 (quando o pretexto dele era estudar a flora e a fauna locais), e não sabia dos planos de ataque. Uma possível represália dos EUA também era considerada improvável. Em 1940, eles ainda não estavam em guerra contra a Alemanha. Pela lógica da SS, a troca de poder nas colônias seria uma mera substituição de nações europeias na região - e não afetaria a influência dos americanos por aqui.

O plano também incluía previsões assustadoras para o período do pós-guerra. Após a conquista da Europa, o novo alvo seria o Japão. "Se conseguirmos assegurar (o território das Guianas), teremos uma posição estratégica para enfrentar o Japão", diz o relatório. Era uma questão de defesa. "Há o risco terrível de domínio amarelo no mundo. A raça branca está ameaçada pela raça amarela."

Antes de a guerra estourar, o jovem Otto Schulz-Kamphenkel já desfrutava de prestígio entre os homens fortes de Hitler. Sua primeira grande expedição foi na África, na atual região da Libéria, onde ele caçou animais - que vendeu para o zoológico de Berlim. Seu grande desejo era conhecer a floresta amazônica. A expedição ao Jari, em 1935, colocou o pesquisador no patamar dos mais prestigiados cientistas alemães da época. O Museu de História Natural de Berlim ainda expõe animais empalhados trazidos por Schulz-Kamphenkel, que também gravou um filme de 90 minutos, tirou 250 fotos e escreveu o livro O Enigma do Inferno Verde, que vendeu 100 mil exemplares na época. "A descrição da paisagem é muito precisa. Ainda hoje é possível se guiar na região com as referências dadas no livro", diz Cristoph Jaster, chefe do Parque Nacional Tumucumaque, no estado do Amapá.

No livro, saudações a Hitler se misturam com comentários sobre a superioridade da raça ariana. Imagens mostram um hidroavião e alguns barcos carregando bandeiras com suásticas. Os nazistas deixaram uma lembrança que pode ser vista até hoje na margem do rio Jari, a poucos metros da cachoeira de Santo Antônio. É uma cruz de 3 m de altura, decorada com uma suástica, em homenagem a um oficial que morreu durante a expedição.

Negros e índios eram considerados raças inferiores. Mas Schulz-Kamphenkel exaltava a boa relação construída com as tribos locais aparai, mayna e wajäpi. Os nativos, que despertavam a curiosidade dos alemães (e atraíram muitos espectadores para o filme que mostra a expedição) serviram como guias na desconhecida região da floresta amazônica. Quando surgiu a ideia do Projeto Guiana, Schulz-Kamphenkel dizia que sua boa relação com os locais seria um facilitador para a conquista germânica. "Ele não queria apenas participar da invasão. O bom contato com os índios fez Schulz-Kamphenkel sonhar com o governo da futura Guiana Alemã", afirma o alemão Jens Glüsing, autor do livro Das Guiana-Prokejt. Ein deutsches Abenteuer am Amazonas (Projeto Guiana - Uma Aventura Alemã no Amazonas), ainda sem tradução em português.

Militares disfarçados

O Ministério da Aeronáutica nazista forneceu um hidroavião para ajudar nos estudos na selva. Nas entrelinhas, havia um objetivo militar: testar técnicas de mapeamento aéreo. Esse aprendizado foi usado para fins militares durante a Segunda Guerra. Os ministérios das Relações Exteriores e da Guerra de Brasil e Alemanha cuidaram da burocracia e negociaram a isenção de impostos para armas, munição e mais de 30 toneladas de material para a expedição. O Museu Nacional no Rio de Janeiro, presidido por Paulo de Campos Porto, foi o principal incentivador do projeto pelo lado brasileiro. Esse apoio existiu porque a região era igualmente desconhecida pelo nosso governo, e o museu estava interessado nos resultados científicos obtidos pela expedição. Além disso, as células do Partido Nazista no Brasil tinham forte influência sobre setores do governo de Getúlio Vargas e fizeram lobby a favor da expedição.

Nazistas aqui?

A opinião pública também apoiou a expedição nazista. O jornal carioca Gazeta de Noticias publicou no dia 9 de agosto de 1935 uma matéria com o título: "Nas vésperas da sua sensacional expedição  ao Jari". A entrevista com o geógrafo alemão exaltava "uma viagem que mereceu os mais francos aplausos". O cientista era caracterizado como "uma expressão brilhante da moderna geração que ora está surgindo cheia de vida e coragem, disposta a derrubar os obstáculos que entravam a marcha da civilização".

Em outra entrevista para o Jornal do Norte, publicada no dia 24 de agosto de 1935, o piloto alemão Gerd Kahle agradeceu: "Não se esqueça de dizer pelo jornal que estamos muito sensibilizados pelas atenções das autoridades paraenses. Aos senhores Andrade de Ramos & Cia., proprietários de imensa extensão de terras no Jari, também estamos cativos pelas facilidades que nos têm assegurado a boa consecução do nosso empreendimento."

Mas a segunda expedição, em que os alemães viriam secretamente para invadir as guianas, acabou não saindo do papel. Ela não se concretizou por uma decisão pessoal de Himmler, o líder da SS, que esfriou os planos. Na estratégia dele, a guerra havia ganhado outras dimensões - e seria mais inteligente centrar fogo na Europa. Em 10 de maio de 1940, a Alemanha lançou uma grande ofensiva contra a Europa Ocidental. Em dias, a Holanda foi conquistada e, em pouco mais de um mês, Hitler realizou seu desfile histórico pela avenida Champs-Élysées, em Paris. "As invasões da Holanda e da França representaram a anexação automática de suas colônias ao governo nazista. Não havia mais a necessidade de invadir as Guianas", explica Jens Glüsing.

Com o decorrer da guerra, os habitantes da Guiana Francesa começaram a se revoltar contra as forças de Vichy (governo pró-nazista implantado na França durante a Segunda Guerra). A capital, Caiena, ganhou o clima de terra sem lei e virou palco da ação de espiões e fugitivos. Em 1943, com a ajuda dos EUA, o governo pró-nazista foi expulso da Guiana Francesa. Mas a população local era contra uma ocupação americana. E os franceses não tinham mais autoridade. O país estava sem comando - e o governo brasileiro começa a cogitar a anexação da Guiana Francesa ao Brasil. Livros de propaganda política, como Brasil, o País do Futuro, do austríaco Stefan Zweig, chegaram a ser distribuídos em Caiena. Mas Getúlio Vargas acabou desistindo do plano, pois temia criar atrito com os EUA.

Após voltar da Amazônia, Schulz-Kamphenkel se filiou à SS e chegou ao posto de tenente. Com outros cientistas, formou uma tropa de elite de pesquisadores a favor do nazismo. Depois, se envolveu na operação secreta Comando Especial Doca, que levou mais de 50 pesquisadores nazistas para estudar o Deserto do Saara e imaginar possíveis rotas que os ingleses e os franceses poderiam tomar até a Itália. Schulz também perambulou por Grécia, Iugoslávia, Finlândia, Polônia e Ucrânia.

Em 1945, ele foi preso na Áustria pelos americanos e enviado para um campo de prisioneiros de guerra. O FBI o interrogou em maio de 1946. No dossiê sobre o geógrafo, um oficial recomendou ao governo americano que adotasse as técnicas de mapeamento aéreo desenvolvidas por Schulz-Kamphenkel, mas isso não chegou a ser concretizado. No mesmo ano, ele foi solto e voltou para sua cidade natal, Hamburgo, onde abriu o Institut für Welkunde in Bildung und Forschung (Instituto de Formação e Pesquisa de Ciência do Mundo). Em funcionamento até hoje, a instituição fundada pelo ex-tenente da SS fornece filmes didáticos e material de ensino de geografia para escolas alemãs.

Depois de ser alvo de Hitler, a região do rio Jari e a fronteira com a Guiana Francesa se transformou em palco de extração de ouro, com a ação predatória de garimpeiros e exploração mineral desenfreada na década de 1980. Hoje, faz parte de uma área de proteção ambiental - mas, como toda a Amazônia, sofre com os efeitos do desmatamento, que cresceu 60% no segundo semestre de 2011. Hoje a grande ameaça à região é outra: a destruição ecológica.