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domingo, 15 de maio de 2016

O mito de Lilith segundo o Zohar, o livro do esplendor.


Lilith, cultuada pelos acadianos como Ishtar.

O primeiro capitulo da Bíblia, conta a história de Adão e Eva ... mas segundo o Zohar (comentário rabínico dos textos sagrados), Eva não é a primeira mulher de Adão. Quando Deus criou o Adão, ele fê-lo macho e fêmea, depois cortou-o ao meio, chamou a esta nova metade Lilith e deu-a em casamento a Adão. Mas Lilith recusou, não queria ser oferecida a ele, tornar-se desigual, inferior, e fugiu para ir ter com o Diabo. Deus tomou uma costela de Adão e criou Eva, mulher submissa, dócil, inferior perante o homem.


De acordo com Hermínio, "Lilith foi feita por Deus, de barro, à noite, criada tão bonita e interessante que logo arranjou problemas com Adão". Esse ponto teria sido retirado da Bíblia pela Inquisição. O astrólogo assinala que ali começou a eterna divergência entre o masculino e o feminino, pois Lilith não se conformou com a submissão ao homem.

O mito de Lilith pertence à grande tradição dos testemunhos orais que estão reunidos nos textos da sabedoria rabínica definida na versão jeovística, que se coloca lado a lado, precedendo-a de alguns séculos, da versão bíblica dos sacerdotes. Sabemos que tais versões do Gênesis - e particularmente o mito do nascimento da mulher - são ricas de contradições e enigmas que se anulam. Nós deduzimos que a lenda de Lilith, primeira companheira de Adão, foi perdida ou removida durante a época de transposição da versão jeovística para aquela sacerdotal, que logo após sofre as modificações dos pais da igreja.

No Talmude, ela é descrita como a primeira mulher de Adão. Ela brigou com Adão, reivindicando igualdade em relação a seu marido, deixando-o "fervendo de cólera". Lilith queria liberdade de agir, de escolher e decidir, queria os mesmos direitos do homem mas quando constatou que não poderia obter status igual, se rebelou e, decidida a não submeter-se a Adão e, a odiá-lo como igual, resolveu abandoná-lo. Segundo as versões aramaica e hebraica do Alfabeto de Ben Sirá (século 6 ou 7). Todas as vezes em que eles faziam sexo, Lilith mostrava-se inconformada em ter de ficar por baixo de Adão, suportando o peso de seu corpo. E indagava: "Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual." Mas Adão se recusava a inverter as posições, consciente de que existia uma "ordem" que não podia ser transgredida. Lilith deve submeter-se a ele pois esta é a condição do equilíbrio preestabelecido. Vendo que o companheiro não atendia seus apelos, que não lhe daria a condição de igualdade, Lilith se revolta, pronuncia nervosamente o nome de Deus, faz acusações a Adão e vai embora; é o momento em que o Sol se despede e a noite começa a descer o seu manto de escuridão soturna, tal como na ocasião em que Jeová-Deus fez vir ao mundo os demônios.

Adão sente a dor do abandono; entorpecido por um sono profundo, amedrontado pelas trevas da noite, ele sente o fim de todas as coisas boas. Desperto, Adão procura por Lilith e não a encontra: Procurei-a em meu leito, à noite, aquele que é o amor de minha alma; procurei e não a encontrei" (Cântico dos Cânticos III, 1). Lilith partiu rumo ao mar vermelho (Diz-se que quando Adão insistiu em ficar por cima durante as relações, Lilith usou seus conhecimentos mágicos para voar até o Mar Vermelho). Lá onde habitam os demônios e espíritos malignos, segundo a tradição hebraica. É um lugar maldito, o que prova que Lilith se afirmou como um demônio, e é o seu caráter demoníaco que leva a mulher a contrariar o homem e o questionar em seu poder. Desde então, Lilith tornou-se a noiva de Samael, o senhor das forças do mal do Outro Lado . Como conseqüência, deu à luz toda uma descendência demoníaca, conhecida como "Liliotes ou Linilins", na prodigiosa proporção de cem por dia.

Alguns escritos contam que Adão queixou-se a Deus sobre a fuga de Lilith e, para compensar a tristeza de Adão, Deus resolveu criar Eva, moldada exatamente como as exigências da sociedade patriarcal. A mulher feita a partir de um fragmento de Adão. É o modelo feminino permitido ao ser humano pelo padrão ético judaico-cristão. A mulher submissa e voltada ao lar. Assim, enquanto Lilith é força destrutiva (o Talmude diz que ela foi criada com imundície e lodo), Eva é construtiva e Mãe de toda Humanidade (ela foi criada da carne e do sangue de Adão).

Jehová-Deus tenta salvar a situação, primeiro ordenando-lhe que retorne e, depois, enviou ao seu encalço uma guarnição de três anjos, Sanvi, Sansavi e Samangelaf, para tentar convencê-la; porém, uma vez mais e com grande fúria, ela se recusou a voltar. Lilith está irredutível e transformada. Ela desafiou o homem, profanou o nome do Pai e foi ter com as criaturas das trevas. Como poderia voltar ao seu esposo? Os anjos ainda ameaçaram: "Se desobedeces e não voltas, será a morte para ti." Lilith, entretanto, em sua sapiência demoníaca, sabe que seu destino foi estabelecido pelo próprio Jeová-Deus. Ela está identificada com o lado demoníaco e não é mais a mulher de Adão. Acasalando-se com os diabos, Lilith traz ao mundo cem demônios por dia, os Lilim, que são citados inclusive na versão sacerdotal da Bíblia. Jeová-Deus, por seu lado, inicia uma incontrolável matança dessas criaturas, que, por vingança, são enfurecidas pela sua genitora. Está declarada a guerra ao Pai. Os homens, as crianças, os inválidos e os recém-casados, são as principais vítimas da vingança de Lilith. Ela cumpre a sua maligna sorte e não descansará assim tão cedo.

Uma outra versão diz que foram os anjos que mataram os filhos que tivera com Adão. Tão rude golpe transformou-a, e ela tentou matar os filhos de Adão com sua segunda esposa, Eva.

 Lilith alegou ter poderes vampíricos sobre bebês, mas como os anjos a queriam impedir, fizeram-na prometer que, onde quer que visse seus nomes, ela não faria nenhum mal aos humanos. Então, como não podia vencê-los, ela fez um trato com eles: concordou em ficar afastada de quaisquer bebês protegidos por um amuleto que tivesse o nome dos três anjos. Não obstante, esse ódio contra Adão e contra sua nova (e segunda) mulher, Eva, resultou, para Lilith, no desabafo da sua fúria sobre os filhos deles e de todas as gerações subsequentes.


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

La esfinge nunca fue tal, es en realidad un chacal


Así es, a nadie se le escapa el detalle de que la famosa y deteriorada cabeza de la esfinge no corresponde con el cuerpo, por motivos de proporción y estética:


En realidad este gran monumento fue en un principio un chacal o perro egipcio. Fijáos, fijáos:


Obviamente en referencia al dios Anubis:



Lo véis? ¿A que así ya van cuadrando más las cosas? Es que es lógico, esa postura de patas delanteras estiradas y las de atrás retraídas es la postura perruna por excelencia, mi perro lo hace, el tuyo lo hace y el de todos también.

No es un león como se ha dicho desde siempre, sino un chacal. Tras su construcción algún faraón con aires de grandeza seguramente decidió cincelar la cabeza del chacal original y erigir su magnánime y mayestático cabezón.

Por cierto, se dice que bajo este gran monumento se esconde una cavidad, una especie de gruta subterránea o mazmorra.

Pues tendría toda la lógica del mundo....

Anubis era el Señor de las necrópolis, la ciudad de los muertos, que se situaban siempre en la ribera occidental del Nilo. Según las creencias egipcias, era el encargado de guiar al espíritu de los muertos al "otro mundo", la Duat. Vigilaba el fiel de la balanza en el Juicio de Osiris.

Anubis era representado como un hombre con cabeza de cánido, o como un perro egipcio (o chacal) negro, por el color de la putrefacción de los cuerpos, y de la tierra fértil, símbolo de resurrección.

Ocasionalmente, aparece como un cánido que acompaña a Isis.

La asociación con el chacal se debe, probablemente, a su hábito de desenterrar los cadáveres de las tumbas para alimentarse. Anubis era representado con pelaje negro, a pesar de que los chacales en el Antiguo Egipto tenían un pelaje rojizo, debido a que ese color simbolizaba la resurrección y la fertilidad, por el color del limo traído por el Nilo cada año, que renovaba la fertilidad de los campos

Anubis era el antiguo dios de la Duat.

Anubis estaba relacionado no sólo con la muerte, también con la resurrección después de ella, y era pintado en color negro, color que representa la fertilidad.o.

Cuando Osiris subió al poder en el mundo de los muertos, la Duat, Anubis tomó un papel secundario, limitándose a embalsamar los cuerpos de los faraones, guiarlos a la necrópolis y cuidarla con su vida

. Los sacerdotes de Anubis usaban unas máscaras rituales con su figura en la ceremonia de embalsamamiento del faraón. También Anubis era el encargado de vigilar, junto a Horus, la balanza en la que se pesaban los corazones de los difuntos durante el Juicio de Osiris.

Los primeros textos religiosos no le asignan progenitores, aunque en los Textos de las Pirámides su hija es Qebehut, la diosa que purificaba al difunto. En los Textos de los Sarcófagos, Bastet o Hesat, eran su madre. En otros textos era hijo de Ihet (diosa de la mitología de Esna); también de Ra y Neftis, de Seth y Neftis, de Sejmet-Isis y Osiris (en Menfis), o de Sopedu.

domingo, 10 de maio de 2015

Ela está entre nós! NSA criou programa de vigilância chamado 'Skynet'.


 Relatório da Skynet sobre jornalista do Qatar

Por Leonardo Müller

Segundo noticiou o jornal norte-americano The Intercept, a agência de espionagem dos EUA, a NSA, criou e tem usado um programa chamado “Skynet”, em referência à inteligência artificial de mesmo nome que dominou o planeta e mata seres humanos indiscriminadamente no mundo ficcional dos filmes da franquia  O Exterminador do Futuro.

Apesar de não ser de fato uma inteligência artificial, a Skynet da NSA pode ser encarada com temor semelhante ao da sua homônima da ficção. O programa é uma ferramenta que analisa metadados de milhões de pessoas e determina quais delas são terroristas em potencial.

Se a Skynet da vida real identifica alguém limpando dados de um chip SIM com certa frequência, ou apenas recebendo chamadas curtas com sem nunca realizar ligações, a vigilância sobre ela aumenta. Se mais pontos suspeitos forem detectados, os indivíduos espionados podem ser levados para interrogatório.

Jornalista da TV Al Jazeera erroneamente acusado de terrorista com base em metadados

Contudo, a Skynet norte-americana está longe de ser eficiente. O último grande erro do programa foi identificar o conhecido jornalista da TV Al Jazeera, Ahmad Muaffaq Zaidan, como integrante da organização terrorista Al Qaeda. Ele firmemente nega a acusação, que a própria NSA já descreditou.

Processamento de metadados aos assassinatos 

O problema de a Skynet cometer erros grosseiros como esse não é simplesmente levantar dúvidas sobre a índole de pessoas inocentes. Um antigo diretor da NSA, Michel Hayden, já admitiu que a agência mata pessoas baseando suas escolhas apenas em processamento de metadados, como os feitos pela Skynet.

Contudo, o funcionamento de sistemas como esses podem estar com os dias contados nos EUA. Uma decisão judicial tomada ontem considerou ilegal a coleta de metadados em grande escala. Com isso, a agência terá que encontrar novas formas de definir alvos através da Skynet para destruir com seus drones teleguiados.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Hy Brazil: a ilha fantasma e os “Antigos”.


Detalhe do mapa europeu de 1572 do cartógrafo Abraham Ortelius.

“On the ocean that hollows the rocks where ye dwell,
A shadowy land has appear’d, as they tell;
Men thought it a region of sunshine and rest,
And they call’d it ‘O Brazil – the Isle of the Blest’.
From year unto year, on the ocean’s blue rim,
The beautiful spectre show’d lovely and dlim;
The golden clouds curtain’d the deep where it lay,
And look’d like an Eden, away, far away.”

Trecho de um antigo poema irlandês sobre Hy Brazil.

“Hy Brazil” — “Ilha Afortunada”, no irlandês — aparece na mitologia gaélica irlandesa, cuja lenda está relacionada a diversos avistamentos por marinheiros de uma porção de terra encontrada no Atlântico Norte que desaparecia em meio à neblina. Ao longo dos séculos, a ilha foi deslocada por diversas vezes nos mapas, inclusive chegando onde seria a costa da América do Sul, em algumas ocasiões.

Considerada como existente na cartografia européia medieval, Hy Brazil, portanto, nunca teve uma localização específica.

Aparentemente os cartógrafos da época, baseados nas lendas e relatos de avistamentos, ficaram confiantes o suficiente de sua existência para incluírem o local mítico em mapas a partir do século XIV; como no mapa da Catalunha (1325-1330). A inclusão de Hy Brazil na cartografia marítima pode ter inspirado diversas viagens e aventuras malfadadas que ocorreram até o final do século XV.


Mapa mostrando a localização de Hy Brazil. Detalhe do mapa catalão de 1350 mostrando a localização de Hy-Brazil. (imagem de Donald Johnson, “Ilhas Fantasma do Atlântico” )

A ilha aparece na mitologia irlandesa muito antes da data oficial do descobrimento de Vera Cruz (Brasil). Assim, como é possível verificar nos trechos abaixo, algumas vertentes históricas atribuem que o nome “Brasil” tenha sido dado em decorrência da lendária ilha e não da árvore Pau Brasil, visto que durante os séculos seguintes, a fantasiosa porção de terra já era conhecida na Europa.

Para Roger Casement, não existe a menor dúvida que tanto os livros escolares, enciclopédias e dicionários como os brasileiros indagados individualmente estavam cometendo um engano. ‘Por mais estranho que possa parecer, o Brasil deve o seu nome não à abundância de um certo pau-de-tinta, mas à Irlanda. “A distinção em nomear o grande país da América do Sul, eu acredito, pertence seguramente à Irlanda e a uma antiga crença irlandesa tão remota como a própria mente celta'”. — Geraldo Cantarino.

“Assim, tal qual Duarte Pacheco que, com sua etimologia selvagem havia dado à madeira ibirapitanga dos indígenas o nome de brisilicum, frei Vicente também contribuía, à sua maneira, para obscurecer a origem mítica do nome Brasil. De erros em enganos foi-se sedimentando a assimilação do vocábulo brasa ao nome Brasil, perdendo seu significado primitivo como metonímia do Outro Mundo dos celtas atlânticos.” — Ana Donnard.


Hy Brazil em mapa de 1572
Mapa europeu de 1572 do cartógrafo Abraham Ortelius.

Histórias sobre o lugar vinham circulando por toda a Europa durante séculos, alegando que era a Terra Prometida dos Santos, um paraíso terrestre onde seres puros viviam. Mas supostamente Hy Brazil era cercada por uma névoa espessa, escondida dos olhos dos mortais. Na mitologia celta, ela aparecia a cada 7 anos, mas não era possível alcançá-la, pois a mesma desaparecia sempre que uma embarcação se aproximava. Entretanto, o monge irlandês São Brandão alegou descer na ilha, considerando-a o Éden.

As buscas pela Hy Brazil tiveram ápice entre os anos de 1300 e 1500, sendo patrocinadas por inúmeros monarcas. Ainda que outras ilhas míticas da época tenham sido descobertas, a ilha fantástica nunca foi encontrada.

Tradução do poema:

“No oceano que esculpe as rochas onde moras,
Uma terra enigmática apareceu, é o que contam;
Os homens a consideraram uma região de luz e descanso,
E a chamaram de O’Brazil, a ilha dos Bem-Aventurados.
Ano após ano, na margem azul do oceano,
A linda aparição se revelava encontadora e suave;
Nuvens douradas encortinavam o mar onde ela se encontrava,
Parecia um Éden, distante, muito distante.”

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segunda-feira, 9 de março de 2015

A Idade da Esfinge e “Os Antigos”


Erosão causada pela chuva é diferente da erosão causada pelos ventos em pedra calcária.

Dados sobre a Esfinge:

     A Esfinge não foi construída com blocos quadrados, como as pirâmides e templos os quais guarda, mas esculpida na rocha bruta. Seus escultores lhe deram a cabeça de um homem (alguns dizem ser de uma mulher) e um corpo de um leão. Tem 65 pés (20 metros) de altura e 241 pés (73.5 metros) de comprimento. Apresenta uma das mais fantásticas expressões faciais, como se representasse uma centena de Mona Lisas e seus olhos, virados para leste, contemplam fixamente o horizonte distante, o equinócio, alguma coisa não pertencente a este mundo, mas além dele, no firmamento. Alguma coisa, que talvez, esteja refletida ou "congelada" na essência e na idade da Esfinge.

Antes desta nova descoberta (abaixo), era sugerido que a Esfinge havia sido construída há aproximadamente 4500 anos atrás, ou seja, em 2500 a.C.

A Descoberta:

Um dia, enquanto lia o livro Sacred Science (Paris, 1961) do autor e matemático francês Schwaller de Lubicz, no Egito, a resposta para o que Lubicz chamava a atenção em seu livro veio à cabeça de John Anthony West. Schwaller apontava o que parecia ser erosão provocada pela água, no corpo da Esfinge. Pegando uma fotografia de perto da Esfinge, West percebeu que o padrão de desgaste da Esfinge não era horizontal como visto em outros monumentos de Giza, mas vertical. O desgaste horizontal é resultado pela exposição prolongada a ventos fortes e tempestades de areia. Com certeza houve várias tempestades assim nesta árida região do Saara. Surgem então as perguntas: Poderia a água ser responsável pelo desgaste vertical na Esfinge? Água de onde?

West sabia que a maioria dos Egiptólogos acreditava que a Esfinge havia sido construída na mesma época em que viveu o faraó Khafre (2555 à 2532 a.C) - a pirâmide de Khafre é a situada do lado esquerdo da Esfinge. Ele também sabia que esta crença estava tão firme e difundida, que se faria necessária uma escavadeira intelectual para pôr este conceito abaixo.

Em primeiro lugar, West perguntou a si mesmo se existia alguma prova concreta que fosse, que ligasse Khafre à Esfinge. A resposta foi não, e a razão foi simples. Não há inscrições - nem uma sequer - nem esculpida em uma parede ou em uma estela (coluna destinada a conter uma inscrição) ou escrito nos amontoados de papiros que identificasse Khafre (ou qualquer outra pessoa) com a construção da Esfinge e dos templos em sua proximidade. Certamente, um monumento com sua magnitude, tendo sido esculpido em rocha bruta, teria sido celebrado, mas não há nem a mais ligeira menção a este monumento.

Poderia então ser a Esfinge muito mais antiga que o reinado de Khafre, como West já o suspeitava? Poderia esta hipótese explicar, por exemplo, o estranho desgaste vertical na estátua?


A Confirmação:

Em 1991 o Dr. Robert Schoch, geólogo e professor da Universidade de Boston, junto com John A. West e um time de cientistas e arqueólogos, decidiu examinar as novas descobertas. Após meses de estudos, Schoch chegou a conclusão de que realmente, conforme havia dito West, os padrões de desgaste haviam sido formados por intensas chuvas - chuvas torrenciais. Mas porque não haviam marcas como estas nos outros monumentos? Com certeza não haveria de ter chovido somente na Esfinge e em seus templos.

"Isso é impossível!", bradaram os egiptólogos. - "Não é impossível", disse Schoch. "se levarmos em conta que a Esfinge pode ter sido construída quando tais chuvas eram comuns nesta região”.

Por que a relutância da comunidade científica em aceitar tais fatos? Simplesmente por que a história deverá ser reescrita e os cientistas deverão ter que reconsiderar as origens do homem como um todo. Bem, que seja. Assim funciona o progresso. De todo modo, isto já foi feito muitas vezes antes. Poderia ser feito novamente.


Provar que a Esfinge é muito anterior a pirâmide de Khafre é uma coisa. A questão é quanto tempo mais antiga, exatamente? Como a ciência pode determinar a verdadeira idade de um monumento de pedra?

A Astronomia Se Junta ao Debate:

(Tradução e adaptação do texto de Robert Bauval, publicado na revista AA&ES, agosto 1996)

Em 1989 eu publiquei um artigo no Oxford Journal, Discussões sobre Egiptologia (vol.13), no qual eu demonstrei que as 3 Grandes Pirâmides e suas relativas posições para o Nilo criavam no solo um tipo de holograma em 3-D das três estrelas do cinturão de Órion (3 Marias) e suas relativas posições com a Via Láctea. Para dar apoio a esta controvérsia, eu trouxe à luz o eixo inclinado da Grande Pirâmide o qual, situado no meridiano sul, "aponta" para este grupo de estrelas. Trouxe também as evidências escritas dos Textos da Pirâmide que identificavam o destino da vida após a morte dos faraós com Órion. Mais tarde, no meu livro O Mistério de Órion (Heinemann-Mandarin) eu também demonstrei que o melhor encaixe para os padrões das Pirâmides de Giza/Nilo com o padrão do cinturão de Órion/Via Láctea ocorreu mais precisamente em 10.500 a.C.


A esquerda temos os efeitos da erosão causada por chuva e a direita os efeitos da erosão causada pelos ventos.

Os antigos egípcios, por exemplo, se referiam constantemente a uma distante era dourada a qual eles chamavam ZEP TEPI, "A PRIMEIRA ERA" de Osíris.  Osíris era Órion, e a Grande Pirâmide tem um eixo bem no meridiano sul da Terra, direcionado para Órion. Para mim, esta silenciosa linguagem astro-arquitetural parecia estar nos dizendo: ‘aqui, no céu, estava Osíris, quando estas pirâmides foram construídas, e agora também, que suas origens estão enraizadas na "Primeira Era"’.  
   
Mas "Primeira Era" de que? Como poderiam as estrelas da constelação de Órion ter uma "Primeira Era"? 

Bem, elas podem e tem, levando-se em conta que você possa ler através da "linguagem" alegórica dos antigos via a arquitetura simbólica e os Textos da Pirâmide relacionados. Alegoria, em outras palavras, é a "chave" de que os astrônomos que construíram o complexo de Giza usaram.


Quando as estrelas de Órion são observadas no meridiano, na maneira precisa que os antigos astrônomos egípcios fizeram por muitos séculos, não há como deixar de notar que estas estrelas atravessavam o meridiano sul em diferentes altitudes em diferentes épocas. Isto, é claro, devido ao fenômeno de Precessão (veja O Mistério de Órion, apêndices 1 e 2).


Em resumo, pode ser considerado que as estrelas de Órion tenham um "início" ou "começo" no nadir, ou ponto de partida do seu ciclo de precessão. Simples cálculos mostram que isto ocorreu em 10.500 a.C.. Poderiam os antigos astrônomos da "Era das Pirâmides" ter usado sua muito inteligente "linguagem silenciosa" combinada com a Precessão para congelar a "Primeira Era" de Osíris - algo como os arquitetos das catedrais góticas congelaram em seus trabalhos alegóricos na "Época de Cristo"?

No livro do cientista Graham Hancock, Fingerprints of the Gods (Heinemann-Mandarin), é mostrado que a data da "Primeira Era", 10.500 a.C., também significava o início da Era de Leão.


Isto foi quando a constelação de leão teria crescido em forma de espiral (na alvorada, antes do Sol) no dia do equinócio da primavera. Este evento trouxe o leão celestial para descansar exatamente no leste, em perfeito alinhamento com a Esfinge.


A Esfinge, em outras palavras, foi feita para olhar para sua própria imagem no horizonte - e conseqüentemente na sua própria "era". Hancock observou que 10.500 a.C. não era uma data aleatória. Ela significava precisamente outro começo, o começo definido no solo com os padrões e alinhamentos das pirâmides próximas a Esfinge.

Isto prova então que não só as pirâmides, mas também a Esfinge está nos atraindo para a mesma data de 10.500 a.C.. Estaríamos lidando com uma coincidência - ainda que espantosa - ou seria tudo isso parte de um projeto feito pelos antigos?


Haveriam evidências de uma presença contínua aqui em Giza, através das eras, de alguns grandes "astrônomos" que poderiam ser responsáveis para ver este projeto realizado?


Se existem, quem seriam eles? De onde vieram? Porque em Giza? Graham e eu gastamos os 2 últimos anos pesquisando este fascinante acontecimento. Nós acreditamos que o que nós descobrimos irá mudar para sempre a percepção do que era e ainda é Giza. Os resultados completos de nossa investigação está descrito em nosso novo livro, Keeper of Genesis.

O Enigma da Esfinge:

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Ilha Mítica de Aztlan

Representação da partida de Aztlan no códice Boturini.
Aztlan é "altepetl" talvez mítica da qual futuro astecas teriam começado sua migração para a região central do México no ano 1 Flint, de acordo com os escritos astecas e testemunhos recolhidos pelos cronistas espanhóis no século XVI.
Aztlan era uma ilha no meio de um lago. Depois de deixar a ilha, os astecas teriam chegado em um lugar chamado Chicomoztoc, ou seja, "as sete cavernas"; ao contrário de Aztlan, que aparece apenas nas narrativas astecas Chicomoztoc é considerado por muitos grupos nahuas como seu lugar de origem lendária. Os astecas teriam encontrado uma imagem de seu deus Huitzilopochtli e juntou-se outras tribos. 
Análise 
Aztlan é considerado por muitos estudiosos contemporâneos como um lugar puramente simbólica, um reflexo de uma cidade de verdade, talvez México-Tenochtitlan. De fato, as histórias são cheias de simbolismo, como a data de partida, 1 Flint, representando o início.
Diego Durán refere uma das tradições mais curiosas sobre Aztlan, que o imperador Moctezuma I enviou emissários em busca do lugar de origem dos astecas. Liderados por magia Aztlan, eles vão ter encontrado Coatlicue, a mãe de Huitzilopochtli, que lhes perguntou notícias de seus parentes distantes em Tenochtitlan. As receitas de novo magicamente Aztlan, emissários foram, portanto, capaz de indicar a localização. Esta história mostra que os astecas em si não eram claros sobre a localização de Aztlan, exceto que ele estava em algum lugar ao norte. 
As sete cavernas de Chicomoztoc, na História Tolteca-Chichimeca
Pressupostos Localização 
Muitos especialistas, postulando que era um lugar histórico, tentou descobrir Aztlan em diferentes partes do norte ou da Mesoamérica, a partir do qual as tribos chichimecas, os astecas são um ramo. 
O cosmógrafo francês do século XVI, André Thevet o variou de sua parte na Flórida. 
Pesquisadores proponentes modernos dessa visão têm procurado encontrar um site norte em uma ilha em um lago. Entre os locais mais citados são a ilha de Janitzio no meio do lago Patzcuaro, no estado mexicano de Michoacán, ou Mexcaltitán ilha no estado de Nayarit.
Aztlan [em espanhol Aztlán (AFI: [asˈtlan]), do nauatle Aztlān, (AFI: [ˈastɬaːn])] é a lendária terra ancestral dos povos nauas, um dos principais grupos culturais da Mesoamérica. Asteca deriva do termo nauatle que significa "povo de Aztlan". 
As lendas nauatles relatam que sete tribos viviam em Chicomoztoc ("lugar das sete cavernas"). Cada caverna representava um diferente grupo naua: xochimilcas,tlahuicas, acolhuas, tlaxcaltecas, tepanecas, chalcas e mexicas. Devido à origem linguística comum, estes grupos são também chamados nahuatlaca (ou povos nauas). Estas tribos acabaram por abandonar as cavernas e estabeleceram-se "próximo" de Aztlan, ou Aztatlan.
As diferentes descrições de Aztlan são aparentemente contraditórias.Enquanto algumas lendas descrevem Aztlan como um paraíso, o códice Aubin diz que os astecas estavam sujeitados por uma elite tirânica (Asteca Chicomoztoca). Guiados pelo seu sacerdote, os astecas fugiram, e no caminho, o seu Deus Huitzilopochtli proibiu-os de se autodenominarem astecas, dizendo-lhes que deveriam ser conhecido como os mexicas. Ironicamente, os acadêmicos do século XIX - em particular, William H. Prescott - denominá-los-iam como astecas.
O papel de Aztlan nas histórias lendárias astecas é ligeiramente menos importante que a própria migração paraTenochtitlan. Segundo a lenda, a migração para sul teve início em 24 de Maio de 1064; 1064 é também o ano da explosão vulcânica de Sunset Crater no Arizona e o primeiro ano solar asteca, começando em 24 de Maio, após o evento da Supernova do Caranguejo de Maio a Julho de 1054, que deixou os céus à noite tão claros quanto de dia. Cada um dos sete grupos é creditado com a fundação de uma grande cidade-estado no México Central.
Segundo as lendas astecas, os mexicas foram a última tribo a partir. Quando chegaram ao actual vale do México, toda a terra havia sido ocupada, e foram forçados a ocupar uma área na margem do lago Texcoco.
Após a conquista do México, a história de Aztlan ganhou importância e foi relatado por Diego Durán em 1581 e por outros que tratar-se-ia de um paraíso tipo Jardim do Éden, livre de doenças e morte, que existia algures no norte longínquo. Tais histórias impulsionaram as expedições espanholas à actual Califórnia.
Locais postulados para Aztlan
Aztlan tem muitos dos traços próprios de um mito, como sucede comTamoanchan, Chicomoztoc, Tollan e Cibola, mas ainda assim os arqueólogos tentaram identificar o local geográfico original para os mexicas.
O nome de Aztalan, Wisconsin (um sítio da cultura mississippiana), foi proposto por N. F. Hyer em 1837, pois ele pensava que poderia ter sido Aztlan, seguindo uma sugestão etimológica de Aztatlan de Alexander von Humboldt. Esta informação é incompatível com a correlação feita pelos académicos modernos dos relatos recolhidos por cronistas em Tenochtitlan após a conquista espanhola.
Existe um lago em redor de Cerro Culiacan, o lago Yuriria, que faz com que a montanha se pareça bastante a uma ilha quando fotografada desde a água, e semelhante à ilustração à direita.
Em meados do século XIX, Ignatius Donnelly, no seu livro Atlantis: The Antediluvian World, procurou estabelecer a ligação entre Aztlan e o suposto "continente perdido" Atlântida da mitologia grega; contudo os pontos de vista de Donnelly nunca foram reconhecidos como credíveis pela maioria dos académicos.
Em 1887, o antropólogo mexicano Alfredo Chavero sugeriu que Aztlan estava situado na costa do Pacífico no estado de Nayarit. Apesar de tal sugestão ter sido refutada por académicos seus contemporâneos, recebeu ainda assim alguma aceitação popular. No início da década de 1980, o presidente mexicano José López Portillo sugeriu que Mexcalititán, também em Nayarit, era a verdadeira localização de Aztlan, mas tal foi denunciado por historiadores e políticos mexicanos como uma jogada política.1 Mesmo assim, o estado de Nayarit incorporou o símbolo de Aztlan no seu brasão de armas com a legenda "Nayarit, berço dos mexicanos". Vários estudos académicos demonstram que esta pretensão artificial foi um ardil político para aumentar o turismo nesta zona costeira.
Eduardo Matos Moctezuma presume que Aztlan se situa algures nos actuais estados de Guanajuato, Jalisco e Michoacán. De facto, os académicos são consistentes em chamar a atenção para a medida de "150 léguas" desde Tenochtitlan, documentada pelos escribas espanhóis que recolhiam relatos dos mexicas, como sendo a distância ao local de origem, coincidindo com Chicomoztoc, "Cerro del Culiacan", que é na realidade uma montanha com uma bossa quando vista da face sul.
Foi também proposto que o local original de Aztlan fosse a área em redor do actual lago Powell. Parte da lenda da migração descreve também uma paragem em Culhuacan ("monte inclinado"). Os proponentes da teoria do lago Powell equivalem Culhuacan com a antiga casa dos anasazi no Palácio dos Penhascos, no Parque Nacional de Mesa Verde.
As fontes primárias sobre Aztlan são os códices Boturini, Telleriano-Remensis e Aubin. Aztlan é também mencionado naHistória de Tlaxcala (de Diego Muñoz Camargo, um mestiço tlaxcalteca do século XVII) bem como na História Tolteca-Chichimeca.
O significado do nome Aztlan é incerto. Um significado sugerido é "lugar das garças" - a explicação dada na Crónica Mexicáyotl— mas tal não é possível segundo a morfologia nauatle: "local das garças" seria Aztatlan. Outras derivações avançadas incluem "lugar da alvura" e "no lugar na vizinhança de ferramentas", partilhando o elemento āz- de palavras como teponāztli, "tambor" (de tepontli, "toro de madeira").

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Fausto: a busca pelo absoluto

Drama filosófico que, ao mostrar a procura como fonte pulsante da vida, transfigura-se em odisséia do homem moderno.


 Eloá Heise

            A tragédia Fausto é, sem dúvida alguma, um dos textos que empresta a Goethe repercussão universal. Nela, pode-se dizer, o poeta expressa a experiência de toda sua existência. O próprio autor afirma em Poesia e verdade, que essa obra representa o “suma sumaruim” de sua vida. Não se pode esquecer que Goethe trabalhou durante 60 anos com esse tema : de 1772 (com seus trabalhos sobre o Urfaust – Fausto zero como ficou conhecido pela tradução encenada no Brasil) até 1832, ou seja, pouco antes de sua morte, ano em que postumamente é publicado o Fausto II. Em seu longo processo de elaboração, esse texto congrega as várias transformações pelas quais passou o poeta em sua longa vida: os vários períodos literários da época – Ilustração, Sturm und Drang, Classicismo, Romantismo -; as diversas atividades do poeta junto ao estado, no meio teatral, seus interesses científicos – botânica, mineralogia, estudo das cores -; seus estudos filosóficos – teologia, teosofia, escritos mágico-místicos -, além dos conhecimentos da mitologia antiga.

            Fausto, além de ser a obra simbólica da vida de Goethe, adquire também significado universal por materializar o mito do homem moderno, o homem que busca dar significado a sua vida, que precisa tocar o eterno e compreender o misterioso. Sob este aspecto, o mito faústico transforma-se em um “mito vivo”, um relato que confere modelo para a conduta humana.

O mito faústico e as marcas intertextuais

            A relação de Fausto como o conceito de mito, entretanto, também deve ser entendida em uma outra acepção, no sentido de fábula, de ficção, uma vez que a obra de Goethe baseia-se na lenda medieval sobre a figura histórica do doutor Fausto.

            Para entender o verdadeiro significado da figura do doutor Fausto, torna-se importante ressaltar que não se trata apenas de um charlatão que se tornou rico e famoso por ter feito um pacto com o diabo, como se propaga comumente. Cabe lembrar que o mito criado em relação a essa figura histórica – Georg (Johann)  Faust, (1480-1540) tem sua origem em uma época de crise, a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, época caracterizada por profundas mudanças, na qual conceitos até então inquestionáveis começam a ser colocados em xeque. Nesses novos tempos de inquietação, ligados a pesquisas no campo das ciências naturais e outras ciências, pode-se entender que aquele que manifesta sua descrença em relação a verdades, tidas como absolutas, é considerado um homem não temente a Deus, um pactuário do demo. Isso explica a recorrência do motivo do pacto com o diabo à época. Nesse contexto, basta lembrar de figuras contemporâneas ao doutor Fausto: Paracelsius, Nostradamus, Bacon ou Galileu que, perante os olhos da Inquisição, também teriam feito uma aliança com o demônio. Esse é o pano de fundo que serve de cenário para o aparecimento do personagem histórico, doutor Fausto, em tempos que espelham esse processo de busca por maioridade.

            Consta que esse douto levou uma vida errante, passando por várias localidades da Alemanha, o que fez que se tornasse conhecido por toda parte. Estudou magia, medicina, astrologia, alquimia, atividades que lhe permitiram trabalhar com horóscopo e fazer profecias. Unindo a capacidade de curar com a de prever o futuro, ficou famoso e conseguiu amealhar uma boa fortuna. Todas essas aptidões, por sua vez, renderam-lhe a fama de ter vendido sua alma ao diabo. Esse destino pessoal, que personifica os anseios da época ao materializar a busca daquele que quer ultrapassar os próprios limites através da especulação, dará origem à primeira versão escrita sobre as histórias de Fausto, publicada logo após a morte do Fausto histórico, em 1587, sob o título de Historia von D. Johann Fausten.

            Essa história, de autor anônimo e de cunho popular, narra, ao lado de relatos sobre o Fausto, que eram voz corrente, outras discussões de cunho teológico, astrológico, histórico, científico, provindas das mais diferentes fontes contemporâneas. Essa estrutura, sem unidade estética, acaba por refletir esse tempo de transformação, com a justaposição de crenças diabólicas medievais ao lado do novo espírito das ciências. No livro popular, com suas partes especulativas e enciclopédicas, o pacto entre Fausto e o diabo compreende um período de 24 anos. Nesse contexto, a sede insaciável do protagonista por saber é vista, antes de tudo, como um grande pecado, pois uma tal postura afastaria o homem de Deus e o aproximaria da dúvida. Esse homem incorreria no pecado da hybris, a presunção, por pretender equiparar-se a Deus. Essa história, tão ao gosto da época, conquistou enorme repercussão, atingindo 5 edições. Sabe-se que Goethe, ainda quando criança, entrou em contato com a edição de 1725, sob a forma de teatro de marionetes, apresentada em praças de mercado.

As versões de Marlowe e Lessing

Por volta de 1592, o livro popular alemão é traduzido para o inglês, originando-se daí o livro popular inglês sobre o tema Fausto. Esse livro, por sua vez, serve de material para Christopher Marlowe, o mais importante dramaturgo ao lado de Shakespeare, escrever sua peça Tragical history of doctor Faustus, editada em 1604. As encenações do texto de Marlowe, por seu turno, irão repercutir novamente na Alemanha ao serem apresentadas por teatros mambembes, em língua estrangeira, mas de forma pantomímica. Consta que Goethe conheceu as encenações da peça de Marlowe de 1768 e 1770.

            Já a partir do drama de Marlowe, começa a delinear-se uma ambivalência moral em relação a este homem impulsionado por sua sede de saber. Tem origem no dramaturgo inglês a idéia do monólogo inicial, no qual Fausto mostra toda sua infelicidade por não alcançar a plenitude do conhecimento. Enquanto no livro popular alemão há uma clara condenação da presunção do protagonista, a versão inglesa da lenda deixa transparecer uma postura dúbia. Existe a condenação, sim, mas, paralelamente, percebe-se uma admiração pela figura desse douto que, qual um Prometeu, desafia a divindade. Contudo, também na versão inglesa, o ímpeto desmesurado de Fausto conduzirá ao estabelecimento de um pacto com o diabo, selado sob a condição de viver 24 anos de prazer sem limites, decorrendo, como conseqüência, a sua condenação.

            A lenda sobre o Fausto ganha novo fôlego a partir de idéias próprias do período da Ilustração. Entre 1755 e 1775, Lessing, o grande escritor do Iluminismo alemão, desenvolve projetos de escrever uma peça sobre o Fausto. O texto não chega a se efetivar, restando apenas a montagem de fragmentos e idéias gerais  reconstituídas pela memória de amigos, dados creditados à coincidência de informações.

            Se Kant, em sua definição de Iluminismo, mostra que o lema dessa corrente filosófica é: Sapere aude - tenha a coragem de servir-te da tua própria inteligência -, então Fausto, por ousar, por ter a coragem de buscar pelo sentido da vida, não poderia ser alguém condenado à danação dos infernos. Nesse contexto iluminista, Fausto, na sua procura pela verdade através da razão, empreende uma tarefa que dignifica o homem; em outras palavras: aquele que decide fazer uso de sua qualidade intrínseca, a razão, não será condenado, mas transforma-se no preferido de Deus, o destinado à salvação.

            Goethe conhecia os planos de Lessing e as reconstituições de seu drama que podem ser detectadas, em sua essência, nas obras teatrais póstumas (Theatralischer nachlass, de 1786). Vem de Lessing a idéia de salvação que encontramos no Fausto de Goethe.

            Goethe contou, pois, com diferentes pré-textos na elaboração de suas variadas versões da tragédia: de 1772-1775, elabora o Fausto zero; em 1790, produz Fausto, um fragmento; em 1808, é publicado o Fausto I e, em 1832, o Fausto II. No rastreamento do percurso do mito faústico e das fontes que serviram de inspiração para a realização de sua obra-prima, pode-se mencionar suas impressões da infância, ao assistir nas praças dos mercados as encenações do livro popular propriamente dito, a versão inglesa, com as apresentações do Fausto de Marlowe. A esses legados de cunho literário deve-se acrescentar um fato de origem real, o processo e a execução da infanticida Margaretha Brand, ocorrido em 1771-72, tragédia que impressionou profundamente Goethe e que será ficcionalizada em sua obra através do destino de Gretchen, a mulher que se apaixona por Fausto e, ao ser abandonada por ele, em um ato de loucura, assassina o próprio filho. Dentro desse rol de marcas intertextuais cabe dar ênfase especial à idéia de salvação, esboçada inicialmente por Lessing e assumida por Goethe, que servirá de inspiração para a virada redentora no destino de seu protagonista.

A estrutura da peça

            Dentre as diversas versões mencionadas, vamos nos ater à composição do Fausto I e do Fausto II, que podem sem interpretadas como uma unidade, com uma construção própria.
            A peça inicia-se com três cenas introdutórias, três prólogos que desenvolvem, respectivamente, uma perspectiva autobiográfica, uma perspectiva poetológica e uma perspectiva metafísica.

            O primeiro prólogo, Dedicatória, não dedica a peça a ninguém, como o título faz supor, mas é uma metarreflexão, em forma de monólogo, no qual o poeta faz uma retrospectiva da história da obra. No Prólogo no teatro, que vem a seguir, há uma discussão sobre a essência e a função da obra teatral; no confronto de opiniões antagônicas, debatem-se temas pouco ortodoxos para uma peça de teatro como: produção, rentabilidade, encenação e recepção do drama. Percebe-se, pois, que esses dois prólogos iniciais não se integram no enredo dramático.

            O Prólogo no céu, no entanto, é parte do desenvolvimento da trama e representa a moldura celestial externa que contém no seu escopo a ação terrena interna. Essa moldura metafísica envolve todo o drama. Inicia-se no começo do Fausto I e encerra seu contorno no fim do Fausto II, sob forma de epílogo. A moldura celeste, formulada segundo conceitos próprios da tradição cristã e assumindo a fórmula de um mistério medieval, apresenta uma imagem do mundo e do homem. Nesse jogo universal a terra é colocada entre o céu e o inferno e o ser humano entre Deus e a diabo.

            Nesse espaço, Fausto, personificando o homem,  transforma-se em objeto de disputa entre o Senhor e Mefistófeles. O Senhor acredita que o homem é intrinsecamente bom; pode errar porque procura, mas, por fim, será conduzido à luz. Já Mefisto o vê como uma criatura mal construída, dividida entre o instinto animal e sua parte racional. A partir dessas posições contrárias, Mefisto pede permissão e aposta que conduzirá Fausto por seus caminhos. Já o Senhor, por acreditar que “o homem erra, enquanto aspira” mas “da trilha certa se acha sempre a par”, aceita a aposta. Paralelamente, o Senhor também sabe que o “humano afã tende a frouxar ligeiro” e, por isso, é necessário que o homem tenha por companheiro o diabo, que atiça e instiga, impedindo que o ser humano caia na suprema condenação, a inércia. Assim, Mefisto desempenha uma dupla função: conduz o homem por caminhos que o levarão à culpa mas, ao mesmo tempo, impede que ele esmoreça e cesse sua atividade, o motor essencial da vida.

            Fausto, portanto, é colocado em jogo como objeto demonstrativo pelo Senhor, e deve provar através de si os valores ou os desvalores da criação. O drama, como um todo, pode ser entendido como a tentativa espiritual de compreensão da totalidade do universo. Discute, de forma poética, o sentido da criação, a função do mal, o destino do homem.

            A ação interna da peça, no âmbito terreno, vai espelhar, na aposta feita entre Fausto e Mefisto, o dilema proposto no âmbito celestial, entre o Senhor e Mefistófeles. Diante do desafio que lhe propõe Fausto, Mefisto assume a tarefa de satisfazer o homem e de conduzi-lo pelas experiências do pequeno mundo (Fausto I) e do grande mundo (Fausto II). Já Fausto, na sua busca sem limites, aposta que o diabo nunca conseguirá seu intento, que ele nunca irá deitar-se em “uma cama de preguiça” e, satisfeito consigo, irá proferir as palavras que  condenariam sua alma: “permaneça (momento), tão belo que és”. Desta maneira, com a ajuda de Mefisto, Fausto percorrerá o mundo na ânsia de vivenciar toda experiência destinada à humanidade.

            A ação terrena, abarca toda a trajetória do protagonista: desde a cena Noite, (Fausto I), com a constatação da crise existencial, até a cena final Grande átrio de palácio (Fausto II), quando Fausto morre. Dentro desse grande contorno, a partir das propostas do pacto e da aposta entre Fausto e Mefisto, o protagonista irá percorrer as diversas estações na sua busca por sentido.

            Cabe mencionar que o pacto, cerne do mito faústico tradicional, tem pouca ênfase na obra de Goethe. O pacto, sugerido por Mefisto, é prontamente aceito por Fausto, pois o protagonista “não teme nem o inferno nem o diabo”. Essencial em Goethe é a aposta, desafio proposto pelo titã Fausto que, por não apresentar um vencedor de antemão, tem um caráter ativo e inconclusivo (diferente do pacto que é um acordo fechado). Coaduna-se, assim, mais com a proposta vital da obra: a ação contínua como mola propulsora da vida.

            No Fausto I podemos detectar três estações: a procura por sentido através da bebida (O porão de Auerbach), do desejo e do amor por Gretchen (cenas Rua até Cárcere) e da sensualidade desenfreada (Noite de Walpúrgis). O Fausto II também comporta mais três estações: o mundo da corte (I ato), a estação da beleza e da arte (II e III atos) e a estação do conquistador e empreendedor (IV e V atos).

Quem ganha a aposta?