sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Análise comparativa da Revolução de 30, tendo por base os textos de Sandra Jatay Pesavento, Sônia Regina Mendonça e Roberto Luis Lopez.


Getúlio Vargas e sua comitiva em Itararé-SP. Imagem: Larousse Cultura.

Nessa análise comparativa procurarei por meio dos textos de Sandra Jatay Pesavento, “A Revolução de 30: os anos de transição”, Sônia Regina Mendonça em “Da Revolução de 30 ao Estado Novo” e Roberto Luis Lopez, com o texto “Os caminhos da Revolução de 30”. Trabalharei em estabelecer os pontos comparativos relevantes entres os autores sobre a Revolução de 30, baseado nas obras elaboradas pelos mesmos que acabo de citar. Usarei por base o cruzamento de informações fornecidas pelos autores para estabelecer se suas opiniões se assemelham ou não em relação aos respectivos temas dentro da temática estabelecida.


Getúlio Vargas no Palácio do Catete em 31 de outubro de 1930, no dia que chegou ao Rio de Janeiro, após vitoriosa a Revolução de 1930. Imagem: Enciclopédia Larousse Cultural.

Quando analisamos o texto de Sandra J. Pesavento, vemos que ela procura especificar que a dita “Revolução” de 30, foi na realidade um Movimento e não Revolução, pois não mudou a classe dominante nem o sistema político vigente. Ela vê uma “Revolução” que ocorreu devido ao esgotamento do padrão capitalista baseado na agroexportação de um só produto, o café. Já o autor Roberto Luis Lopez, nos mostra em seu texto que já nos fins da década de 1920, o descontentamento existente podia levar a uma conflagração, mas para que ela pudesse ocorrer deveria haver uma cisão a nível das oligarquias. O autor Roberto Luis Lopez também quando trata da questão “Revolução”, ele nos destaca o fato que a “Revolução” de 1930 não foi uma “Revolução Nacional”, como dizem, a não ser pelos desdobramentos de seu núcleo desencadeador original. Ela teve por base um movimento regional, partindo sobretudo do Rio Grande do Sul, Minas e Paraíba, embora a conspiração tivesse se processado em nível nacional. A escritora Sônia Regina de Mendonça, estuda a chamada “Revolução” de 30, como um Golpe de Estado e não uma Revolução. Definindo como um período de crise política aberta (Sônia Regina de Mendonça, 237). Ela também nos passa uma visão do golpe de outubro de 1930, como um deflagrador do deslocamento da tradição oligárquica paulista do epicentro do poder, enquanto que os demais setores sociais a ele articulados e vitoriosos não tiveram condições, individualmente, nem de legitimar o novo regime, nem, tampouco, de solucionar a crise econômica (Sônia Regina de Mendonça, p. 237).
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Isto deveria ocorrer a fim de que as hesitações pudessem desembocar numa ação concreta. Essa cisão no bloco oligárquico que manipulava a presidência da República veio quando em 1929, Washington Luís, escolheu para sucedê-lo um paulista, Júlio Prestes, ao invés do mineiro, como seria de esperar em vista do rodízio tradicional prescrito no acordo “Café-com-leite”. Desses acontecimentos se formou por meio da aliança entre Minas Gerais e Rio Grande do Sul a Aliança Liberal, uma facção dissidente das oligarquias, que apresentou uma chapa oposicionista nas eleições de 30, com Getúlio Vargas para Presidente e João Pessoa para vice-presidente (Roberto Luis Lopez, p. 60) .

 A autora nos mostra que essa hegemonia do café tornava os cafeicultores politicamente poderosos. Devido a esse fator o grupo que empolgou o poder imediatamente pós-30 era constituído por membros dos setores agropecuários nãoexportadores associados com militares da oficialidade tenentista (Sandra Jatay Pesavento, p. 41). Essa mudança no sistema de agroexportação, permitiu que os agropecuaristas nãoexportadores conseguissem estabelecer maiores alicerces do modelo capitalista no Brasil que por consequência gerou um maior desenvolvimento do país. Isto tudo seguido da falência dos produtores cafeicultores que deixaram um vácuo no mercado internacional de agroexportação. Nas vias políticas o assassinato de João Pessoa, vice-presidente na chapa de Getúlio Vargas para presidente pela Aliança Liberal, foi decisivo contrapeso à apatia dos oposicionistas que conspiravam para fazer uma revolução depois de terem perdido as eleições de março. O governo foi acusado do crime e a tensão reacendeu a chama conspiratória e facilitou a decisão para a ação. Enfim, o assassinato de João Pessoa funcionou como um aglutinador de forças e um mobilizador de vontades (Roberto Luis Lopez, p. 62) ..

Havia a necessidade dar nova legitimidade ao Estado, ampliando-o enquanto participação dos diferentes setores sociais. Achava-se ainda o problema dos interesses regionais e setoriais das várias facções da burguesia brasileira. Do mesmo modo havia a aliança com o Exército e expectativa das camadas médias urbanas e a necessidade de incorporar de modo tutelado a massa popular das cidades (Sandra Jatay Pesavento, p. 41). Vemos que o  Exército insatisfeito com o governo civil se antecipou aos revoltosos da Aliança Liberal e aliados que derrubaram o presidente Washington Luis e entregou o poder aos revolucionários que procuravam medidas para legitimar seu poder. E para tanto entregaram o cargo máximo da República ao chefe da Revolução, Getúlio Vargas, que tomou posse em 3 de março de 1930 (Roberto Luis Lopez, p. 63) .

Segundo autora Sandra Pesavento, a “Revolução” de 30 solidificou o capitalismo e as estruturas do poder burguês, pois foi mais uma etapa da revolução burguesa que se desenvolvia no país, construindo progressivamente um modo capitalista de produção e solidificando as estruturas políticas e administrativas de constituição da burguesia. Para buscar novas saídas para o Brasil que não a agroexportação, o governo recorreu à emissão e desvalorização da moeda, a destruição de safras de café para aumentar seu valor no exterior, mas paralelamente a tais medidas o governo empenhou-se na diversificação da economia brasileira. Esta diversificação das exportações brasileiras devido ao recuo da posição ocupada pelo café, faria entrar divisas e a nação restabeleceria o equilíbrio da sua balança comercial. Como também nos mostra Roberto Luis Lopez, que com a “Revolução” de 1930, surgiu um novo Estado, um Estado liberto do controle das antigas oligarquias e que seria obrigado a levar em consideração e a exprimir outros anseios. Um Estado mais complexo, mais heterogêneo em seus objetivos, em condições de assumir uma posição arbitral em momentos de crise da sociedade brasileira (Roberto Luis Lopez, p. 64). Como nos mostra em seu texto Sônia Regina de Mendonça ao avaliar sobre suas palavras o Golpe (“Revolução”) de 1930 e do Estado dele resultante que se distingue historicamente por se dividir em torno do caráter burguês ou não da “Revolução”, responsável pela emergência de uma atuação estatal modernizadora – ou conservadora – da economia brasileira (Sônia Regina de Mendonça, p. 237).

Neste ponto a autora Sandra Jatay Pesavento nos deixa clara sua visão extremamente marxista como historiadora, achando necessário haver uma Revolução Burguesa para então ocorrer a “verdadeira” Revolução comunista e muitos historiadores consideraram a “Revolução” de 30 esse evento (Sandra Jatay Pesavento, p. 44).

Com a diversificação da economia houve o recuo das importações e a integração do mercado interno brasileiro com notória economia de divisas, uma vez que as diferentes regiões trocariam entre si produtos que antes adquiriam no mercado exterior (Sandra Jatay Pesavento, p. 42). Autores como Sônia Regina Mendonça, que interpreta a “Revolução” de 30 como a verdadeira “Revolução” burguesa no Brasil, entendida, dogmaticamente, como a ascensão da burguesia industrial ao aparelho de Estado. Em consequência desta tomada do poder, implantar-se-ia de fato a indústria de base no país, único meio capaz de superar o dilema criado pela coexistência dos setores arcaico (agroexportação) e moderno (o polo urbano-industrial) na sociedade brasileira (Sônia Regina de Mendonça, p 237).



Em relação às trocas nacionais inaugurou-se o sistema de intercâmbio produto-produto, sem mediação de divisas, como com a Alemanha e a Itália. O governo também trabalha para tornar a indústria o novo setor de ponta da economia brasileira. O desenvolvimento industrial pós-30 é um desenvolvimento progressivo deste setor desde a última década, levando a cabo que a acumulação do capital passou do setor agrário para o industrial. Havia com esse modo modelo político-econômico a necessidade de uma nova maneira de controlar os trabalhadores, segundo nos aponta a autora Sandra Pesavento à solução foi dada através da intervenção direta do Estado no mercado de trabalho, através da legislação social e da sindicalização das classes produtoras. Vemos essa presença de interesses já na Aliança Liberal que já propunha em 1929 em sua plataforma algumas medidas de proteção aos trabalhadores, e, segundo, porque fez constar, nesta mesma plataforma, a defesa das liberdades individuais, a anistia e a reforma eleitoral. Em suma a Aliança Liberal, a despeito da composição oligárquica, fez questão de introduzir itens progressistas de modo a angariar simpatias de faixas da classe média urbana e conseguiu-o (Roberto Luis Lopez, p. 60) .