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segunda-feira, 16 de maio de 2016

A humanidade terá um futuro?



Extraído de “Has man a future?” de Bertrand Russell

            O pessimista poderia argumentar: Por que tentar preservar a espécie humana? Não deveríamos antes nos alegrar à perspectiva de um fim para a imensa carga de  sofrimento, e ódio, e medo, que tem até agora enegrecido a vida do Homem? Não deveríamos contemplar com alegria um novo futuro para nosso planeta, pacífico, dormindo tranquilo finalmente, depois de chegar ao fim do longo pesadelo de miséria e horror?

            A qualquer estudante de História que contemple o terrível registro de loucura e crueldade que tem constituído a maior parte da vida da humanidade até agora, tais perguntas devem ocorrer em momentos de compreensão. Talvez esse exame possa tentar-nos a concordar com um fim, por mais trágico e definitivo que seja, para uma espécie tão incapaz de sentir alegria.

            Mas o pessimista tem somente metade da verdade e, a meu ver, a metade menos importante. O Homem não tem apenas a capacidade para a crueldade e o sofrimento, mas possui também potencialidades de grandeza e esplendor, realizadas até agora em grau diminuto, porém evidenciando o que poderia ser a vida num mundo mais livre e mais feliz.  Se o Homem permitir a si mesmo crescer em toda a sua estatura, o que poderá conseguir está além da nossa imaginação. A pobreza, a doença e a solidão tornar-se-iam raros infortúnios. Uma razoável esperança de felicidade poderia dissipar a noite de medo na qual tantos agora vagam perdidos. 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Ideologia Liberal (Liberalismo), analisando seus princípios e as mudanças que passaram ao longo dos séculos XIX, XX e XXI.


Adam Smith, mais importante teórico do liberalismo.

Autor: Construtor CHH

            O liberalismo se refere à educação abrangentemente humanística e tolerante. Mas também com um sentido pejorativo voltado a libertinagem. No século XIX, o Liberalismo teve seu primeiro uso político para designar os pregadores do reformismo radical e republicano contrário à monarquia espanhola.

E nesse século também que se delineia a ideia do homem com seu próprio senso de autorealização. Já no século XX, as características marcantes dos liberais foi a expansão dos direitos civis por meio do feminismo, igualdade racial, direito de voto a todos os cidadãos sem distinção, luta pela assistência médica gratuita e universal a todos os cidadãos, a busca pela erradicação da pobreza extrema.

Outra grande conquista do Liberalismo no século XX foi à ascensão do internacionalismo liberal que é responsável pelo surgimento da Liga das Nações e depois das Organizações das Nações Unidas em substituição da primeira. No alvorecer do século XXI, os governos democráticos e liberais se caracterizam pelo fundamental direito civil, o individualismo que se expande ao mesmo tempo que os avanços tecnológicos, sociedades marcadas pelo pluralismo e a busca constante pelo bem-estar pessoal acima do bem-estar da sociedade.

Neste século XXI, o Liberalismo é marcado pela descentralização política e pelo avanço na maioria das regiões do mundo.

sábado, 12 de setembro de 2015

Clive Staples Lewis, uma biografia.


Clive Staples Lewis, comumente mais referido como C. S. Lewis (Belfast, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, atual Irlanda do Norte, 29 de novembro de 1898 — Oxford, Inglaterra, Reino Unido, 22 de novembro de 1963), foi um professor universitário, escritor, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta e apologista cristão britânico. Durante sua carreira acadêmica, foi professor e membro do Magdalen College, tanto da Universidade de Oxford como da Universidade de Cambridge. Ele é mais conhecido por seus trabalhos envolvendo a apologia cristã, incluindo as obras O Problema do Sofrimento (1940), Milagres (1947) e Cristianismo Puro e Simples (1952), e a ficção e a fantasia, sendo as obras As Crônicas de Nárnia (1950-56), Cartas de um diabo ao seu aprendiz (1942) e Trilogia Espacial (1938-45), exemplos de sua produção literária voltadas para esses temas. Foi também um respeitado estudioso da literatura medieval e renascentista, tendo produzido alguns dos mais renomados trabalhos acadêmicos envolvendo esses temas no século XX.

Em vida, foi grande amigo do também professor universitário e escritor britânico J. R. R. Tolkien (1892-73). Juntos, os dois serviram como membros do corpo docente da Faculdade de Língua Inglesa da Universidade de Oxford e lideraram o grupo informal de discussão e colaboração literária The Inklings. Apesar de ter sido criado ao longo da infância dentro das tradições da Igreja da Irlanda, se tornou um ateu convicto na altura de sua adolescência, seguindo essa linha de convicção pessoal até o início de sua idade adulta, quando, por intermédio de Tolkien, voltou a professar a fé cristã, se tornando um árduo defensor do cristianismo até o fim de sua vida e carreira.

Nascido na cidade de Belfast, Irlanda (atual Irlanda do Norte), em 29 de novembro de 1898, Clive Staples Lewis cresceu no meio dos livros da seleta biblioteca particular de sua família, criando nesta atmosfera cultural um mundo todo próprio, dominado por sua fértil imaginação e criatividade. Filho caçula de Albert James Lewis (1863-1929) e de sua esposa, Florence Augusta Lewis (1862-1908), Clive foi descrito como uma "criança sonhadora". Quando tinha três anos, decidiu adotar o nome de "Jack", pelo qual ficaria conhecido na família e no círculo de amigos próximos durante toda a vida.


Quando eram adolescentes, Lewis e seu irmão Warren Lewis (1895–1973), três anos mais velho que ele, passavam quase todo o seu tempo dentro de casa dedicando-se à leitura de livros clássicos, e distantes da realidade materialista e tecnológica do século XX. Aos 10 anos, em 1908, a morte prematura de sua mãe fez com que ele ainda mais se isolasse da vida comum dos garotos de sua idade, buscando refúgio no campo de suas histórias e fantasias infantis.

Na sua adolescência encontrou a obra do compositor Richard Wagner e começou a se interessar pelas mitologias nórdica e grega, e por línguas, como o latim e o hebraico.

Sua educação foi iniciada por um tutor particular, ainda na Irlanda, sendo enviado a Malvern College, em Worcestershire, Inglaterra, aos 12 anos de idade. Em 1916, aos 18 anos, foi admitido no University College, em Oxford, Inglaterra. O serviço militar exigido pela Primeira Guerra Mundial (1914–18) interrompeu seus estudos. Em 1918, aos 20 anos, retornou à Oxford.

Durante a Primeira Guerra Mundial conheceu outro soldado irlandês, Paddy Moore, com quem travou amizade. Os dois fizeram uma promessa: se um deles falecesse durante o conflito, o outro tomaria conta da família respectiva. Moore faleceu em 1918 e Lewis cumpriu seu compromisso. Após o final da guerra, procurou a mãe de Paddy Moore, a senhora Janie Moore, com quem estabeleceu uma profunda amizade até a morte desta em 1951. Lewis viveu em várias casas arrendadas com Moore e a sua filha Maureen, facto que desagradou o seu pai. Por esta altura Clive já abandonara o cristianismo no qual fora educado.


Formando-se com louvor em letras e literatura aos 22, em 1920, em Oxford. Também se formou em teologia e linguística. De 1925 a 1954, lecionou no Magdalen College, também em Oxford, fazendo parte do corpo docente e servindo de consultor literário e teólogo da Universidade até sua morte, em 1963. Foi professor de Literatura Medieval e Renascentista na Universidade de Cambridge, em Cambrigde. Tornou-se altamente respeitado neste campo de estudo em toda a Europa, tanto como professor quanto como escritor. Seu livro A Alegoria do Amor: um Estudo da Tradição Medieval, publicado em 1936, é considerado por muitos seu mais importante trabalho, pelo qual ganhou o prêmio Gollansz Memorial de literatura. Em Oxford conheceu vários escritores famosos, como J. R. R. Tolkien (autor de O Senhor dos Anéis, de quem viria a se tornar grande amigo, discutindo com quem, numa noite em 1931, converteu-se ao cristianismo), T. S. Eliot, G. K. Chesterton e Owen Barfield.

Lewis voltou à fé cristã no início da década de 1930. Dedicou-se a defendê-la e permaneceu na Igreja Anglicana (o conhecido teólogo evangélico J. I. Packer foi clérigo na igreja que Lewis frequentava). Tornou-se popular durante a II Guerra Mundial, por suas palestras transmitidas pela rádio e por seus escritos, sendo chamado de "apóstolo dos céticos", especialmente nos Estados Unidos.


Lewis notabilizou-se por uma inteligência privilegiada, e por um estilo espirituoso e imaginativo. "O Regresso do Peregrino", publicado em 1933, "O Problema do Sofrimento" (1940), "Milagres" (1947), e "Cartas de um diabo ao seu aprendiz" (1942), são provavelmente suas obras mais conhecidas. Escreveu também uma trilogia de ficção científico-religiosa, conhecida como a "Trilogia Espacial": "Além do Planeta Silencioso" (1938), "Perelandra" (1943), e "Aquela Força Medonha" (1945). Para crianças, escreveu uma série de fábulas, começando com "O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa" em 1950. Sua autobiografia, "Surpreendido pela Alegria", foi publicada em 1955.

É bastante conhecida sua influência sobre personalidades ilustres da nossa época, dentre elas Margaret Thatcher, ex primeira ministra do Reino Unido. Seus livros foram lidos pelos seis últimos presidentes americanos, e muitos de seus pensamentos foram citados em seus discursos. Venderam-se mais de 200 milhões de cópias dos 38 livros escritos por Lewis, os quais foram traduzidos para mais de 30 línguas, incluindo a série completa de Nárnia para o polonês, ainda durante a Guerra fria, e o russo. Entre 1996 e 1998, quando foi celebrado o seu centenário, foram escritos cerca de 50 novos livros sobre sua vida e seus trabalhos, completando mais de 150 livros desde o primeiro, escrito em 1949 por Chad Walsh: "C. S. Lewis: O Apóstolo dos Céticos". Deu-se seu nome a um asteróide, o 7644 Cslewis, descoberto em 4 de novembro de 1988 por Antonín Mrkos.


Lewis e Tolkien foram grandes amigos durante décadas, até a morte de Lewis (em 1963, aos 64 anos, quase dez anos antes da morte do próprio Tolkien), e essa amizade foi explorada no livro O Dom da Amizade: Tolkien e C. S. Lewis. De fato, Lewis contribuiu para a existência de O Senhor dos Anéis, sendo um dos primeiros a ler O Hobbit; Tolkien jamais deixou de admirar a grande inteligência e criatividade de Lewis, e vice-versa.

Frases Famosas de C.S. Lewis

“O perdão vai além da justiça humana; é perdoar aquelas coisas que absolutamente não podem ser perdoadas.”

(C. S. Lewis)

“Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.”

(C. S. Lewis)

“[Eu] Pensava que nós seguíamos caminhos já feitos, mas parece que não os há. O nosso ir faz o caminho.”

(C. S. Lewis)

“Eu acredito no cristianismo como eu acredito no sol, não por aquilo que ele é,mas que através dele eu posso ver tudo ao meu redor.”

(C. S. Lewis)

“Existem coisas melhores adiante do que qualquer outra que deixamos para trás.”

(C. S. Lewis)

“O carinho é responsável por nove-décimos de qualquer felicidade sólida e durável existente em nossas vidas. “

(C. S. Lewis)

“Cada vez que você faz uma opção está transformando sua essência em alguma coisa um pouco diferente do que era antes.”

(C. S. Lewis)

“Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo.”

(C. S. Lewis)

“Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo.”

(C. S. Lewis)

“Os conservadores são pessimistas quanto ao futuro e otimistas quanto ao passado.”

(C. S. Lewis)

“O cristianismo, se for falso, não tem valor; se for verdadeiro, tem valor infinito. A única coisa que lhe é impossível é ser mais ou menos importante.”

(C. S. Lewis)

“Comecei uma dieta, cortei a bebida e comidas pesadas e, em catorze dias, perdi duas semanas.”

(C. S. Lewis)

“A questão é saber se você pode obrigar as palavras a querer dizer coisas diferentes. A questão é mostrar a elas quem manda...”

(C. S. Lewis)

“Mera mudança não é crescimento. Crescimento é a síntese de mudança e continuidade, e onde não há continuidade não há crescimento.”

(C. S. Lewis)

“Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.”
(C. S. Lewis)

“Eu... eu... nem eu mesmo sei, nesse momento... eu... enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então.”

(C. S. Lewis)

“Educação nunca foi despesa. Sempre foi investimento com retorno garantido.”

(C. S. Lewis)

“Mas os poços da fantasia acabam sempre por secar e o contador de histórias, cansado tentou escapar como podia: o resto amanhã... Já é amanhã.”

(C. S. Lewis)

“Eu acredito no Cristianismo como acredito no brilho do sol, não simplesmente porque eu o veja, mas porque, através dele, posso ver todas as outras coisas.”

(C. S. Lewis)

" O problema real da vida crista aparece onde as pessoas normalmente nao o procuram. Ele aparece no instante em que você acorda cada manha. Todos os desejos e esperanças para o dia correm para você como animais selvagens. E a primeira tarefa de cada manha consiste simplesmente em empurra-los todos para trás; em dar ouvidos a outra voz, tomando aquele outro ponto de vista, deixando aquela outra vida mais ampla, mais forte e mais calma entrar como uma brisa. E assim por diante, todos os dias. Mantendo distancia de todoas as inquietações e de todos os aborrecimentos naturais, protegendo-se do vento. No começo, nos somos capazes de faze-lo somente por alguns momentos. Mas então o novo tipo de vida estará se propagando por todo o nosso ser, porque então estamos deixando Cristo trabalhar em nos no lugar certo. Trata-se da diferença entre a tinta, que esta simplesmente deitada sobre a superfície, e uma mancha que penetra na. Quando Cristo disse "sede perfeitos", quis dizer isso mesmo. Ele quis dizer que temos que entrar no tratamento completo. Pode ser duro para um ovo se transforma e em um pássaro; seria uma visão deveras divertida, e muito mais difícil, tentar voar enquanto ainda se um ovo. Hoje nos somos como ovos. Mas você não pode se contentar em ser um ovo comum, ainda que decente. Ou sua casca se rompe ou você apodrecera."

(C.S Lewis) - Cristianismo Puro e Simples

“Amar é sempre ser vulnerável. Ame qualquer coisa e certamente seu coração vai doer e talvez se partir. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto , você não deve entregá-lo á ninguém , nem mesmo a um animal. Envolva o cuidadosamente em seus hobbies e pequenos luxos, evite qualquer envolvimento, guarde o na segurança do esquife de seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro , sem movimento , sem ar - ele vai mudar. Ele não vai se partir – vai tornar se indestrutível, impenetrável , irredimível. A alternativa a uma tragédia ou pelo menos ao risco de uma tragédia é a condenação. O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo de todos os riscos e pertubações do amor é o inferno.”

(C.S. Lewis) - Os quatro amores

 “O bem, quando amadurece, se mostra cada vez mais diferente, não só do mal, mas de qualquer outro bem. - O mal pode ser desfeito, mas não pode "transformar-se" em bem.”
(C.S. Lewis)

“Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende dEle. Se Ele não se quiser revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.”
(C. S. Lewis)


segunda-feira, 27 de julho de 2015

Introdução aos Estudos Históricos.





O quê é História? História é o que o historiador diz do passado. O passado é diferente de História, toda História é uma construção baseada na interpretação do passado que é feita pelo historiador e os fatos passados podem ser vistos de maneiras diferentes (interpretações).

Tempo Histórico: Tentar compreender o outro de acordo com seu tempo, ou seja, colocar-se na visão do individuo que vivia os acontecimentos tratados naquele período da História. Não podemos entender a visão de um legionário romano do século VI como se ele fosse um soldado do exército do Brasil. Temos que nos colocar no tempo e espaço do individuo histórico.

Fatos Históricos: Marcam a transição de um período para outro. Exemplo: 476 d.C, a queda do Império Romano do Ocidente marcou o inicio da Idade Média (476 d.C – 1492 d.C). Em 1789, a Revolução Francesa marcou o fim da Idade Moderna (1492 d.C, queda de Constantinopla – 1789 d.C, Revolução Francesa) e inicio a Idade Contemporânea (1789 d.C – dias atuais). Não existe uma divisão certa da História o que existe são rupturas e continuidades. Os povos que avançam primeiro se viam no dever de inserir os atrasados no seu meio, o que houve na colonização europeia na África e na América.

Dois argumentos da Teoria História: A História constitui um dentre uma série de discursos a respeito do mundo. Esses discursos não criam o mundo, mas dão significado ao mundo. A parte do mundo que a História investiga é o passado. Passado e História são coisas diferentes. Dada à distinção entre Passado e História, como conciliar as duas coisas?  O historiador tenta entender o passado, mas o objeto de investigação está ausente na maioria de suas manifestações, pois só restam vestígios do passado. Contudo, pode muito bem ser que esse esclarecimento sobre a distinção entre passado e História pareça coisa vã. Talvez você pense: “E daí? Que importância tem isso?” Permita-me oferecer um exemplo de por que é importante entender a distinção entre passado e História:

Passado e História: O passado já aconteceu. Ele já passou, e os historiadores só conseguem trazê-lo de volta mediado por veículos muito diferentes, de que são exemplo os livros, artigos, documentários, filmes etc., e não como acontecimentos presentes. O passado já passou, e a História é o que os historiadores fazem com ele quando põem mãos à obra. A História é o ofício dos historiadores. Quando os historiadores se encontram, a primeira coisa que perguntam uns aos outros é: “No que vocês estão trabalhando?” Esse trabalho, expresso em livros, periódicos etc., é o que você lê quando estuda História. Isso significa que a História está, muito literalmente, nas estantes das bibliotecas e de outros lugares. Assim, se você começar a fazer um curso de História espanhola do século XVII por exemplo, não vai precisar ir ao século XVII nem à Espanha; com a ajuda de uma bibliografia (Uma bibliografia é uma lista estruturada de referências a livros ou outros documentos, designadamente artigos de periódicos, com características comuns, como por exemplo, o mesmo autor ou o mesmo assunto), vai, isto sim à biblioteca. É ali que está a Espanha do século XVII, catalogada, pois aonde mais os professores poderiam mandar você estudar? Claro, você poderia ir a outros lugares onde é possível encontrar outros vestígios do passado – por exemplo, aos arquivos espanhóis. Mas, aonde que vá, sempre terá de ler/interpretar. Essa leitura não é espontânea nem natural. Ela é aprendida (ou seja, dotada de significado) por outros textos. A História (historiografia) é uma construção linguística intertextual (feita por meio de vários textos, vindo de fontes diferentes).

Não quero dizer com isso que nós simplesmente inventamos histórias sobre o mundo ou sobre o passado. Pelo contrário ainda que tenhamos essa vasta gama de interpretações, também possuímos o estudo de campo na História, aonde o historiador vai de encontro a locais históricos, sítios arqueológicos e áreas de patrimônio histórico e cultural aonde o mesmo tem acesso a fontes matérias, mas não existirá uma interpretação do passado 100% neutra, pois cada historiador possui suas linhas pensamento e influências de sua própria realidade.


quarta-feira, 18 de março de 2015

A droga invade a faculdade


Quase 50% dos 18 mil universitários entrevistados no país admitem ter usado entorpecentes. No DF, a situação se repete, segundo professores e alunos. Com medo de represálias, docentes se calam. A Secretaria de Justiça e Cidadania pretende ensiná-los a lidar com o problema

Autores: Saulo Araújo , Ariadne Sakkis

"Parece uma coisa distante do universo universitário, mas não é. São recorrentes os casos de professores ameaçados por tentarem enfrentar estudantes dependentes químicos" Rodrigo de Paula, presidente do Sindicato dos Professores das Entidades de Ensino Particulares

"Volta e meia, prendemos um estudante universitário envolvido com quadrilhas especializadas em tráfico de drogas. É triste para os pais, que ficam muito surpresos e decepcionados".

Luiz Alexandre Gratão, delegado-chefe da Cord O flagelo das drogas não se restringe ao universo das escolas. Nas faculdades públicas e privadas do Distrito Federal, o problema se repete. Em muitas delas, combater o consumo é mais complicado do que nos centros educacionais. Por lidar com um público adulto e que paga pelos estudos, a maioria dos professores tem dificuldade para controlar a entrada de substâncias ilícitas em sala de aula.

A mais recente pesquisa feita pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) mostra que quase 50% dos 18 mil universitários entrevistados admitiram ter usado algum tipo de entorpecente. O estudo não faz um recorte por unidade da Federação, mas especialistas, professores e alunos ouvidos pelo Correio confirmam a realidade na capital. Numa faculdade privada de Taguatinga, a polícia teve de agir para acabar com o tráfico explícito na entrada da instituição. O episódio ocorreu em janeiro. Na ocasião, dois homens, sendo um estudante, foram presos acusados de vender maconha e cocaína.

O presidente do Sindicato dos Professores das Entidades de Ensino Particulares (Sinproep), Rodrigo de Paula, confirma a rotina de medo. Segundo ele, é comum alunos sob efeito de drogas ameaçarem servidores. Mas, por medo de represálias, a maioria dos trabalhadores prefere não comunicar o episódio à polícia e ao sindicato da categoria. “Parece uma coisa distante do universo universitário, mas não é. São recorrentes os casos de professores ameaçados por tentarem enfrentar estudantes dependentes químicos. O problema é que ficamos sabendo desses episódios por meio do boca a boca, pois é natural que eles (professores) fiquem com receio de fazer uma denúncia formal”, explica Rodrigo.

Na tentativa de mudar essa realidade, a entidade sindical, em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), abriu inscrições para um curso no qual educadores aprenderão como lidar ao se deparar com alunos drogados. A primeira turma deve ser formada em outubro. “Percebemos que muitos professores não sabem o que fazer diante de um problema tão sério. Com uma abordagem direcionada e correta, acreditamos que as soluções para esses conflitos possam ser encontradas de forma mais tranquila”, frisou Rodrigo de Paula.



Festas badaladas

As universidades mais tradicionais e caras de Brasília não estão livres das drogas. Cientes do alto poder aquisitivo dos estudantes, traficantes seduzem jovens para festas badaladas promovidas em mansões situadas em bairros nobres. Nesses eventos, predomina o consumo de drogas sintéticas, como o ecstasy e o LSD. A cocaína escama de peixe, quase 100% pura, também é bastante procurada por estudantes universitários com bom padrão financeiro.

No primeiro semestre deste ano, a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) apreendeu 397 kg de cocaína. Desse total, aproximadamente 4kg eram do tipo escama de peixe. O quilo desse pó chega a custar R$ 100 mil nos bairros nobres. Nas cidades mais pobres, o preço cai para R$ 40 mil pela mesma quantidade. Parte desse narcótico é consumido por aspirantes a médicos, engenheiros, administradores, entre outros profissionais. “Volta e meia, prendemos um estudante universitário envolvido com quadrilhas especializadas em tráfico de drogas. É triste para os pais, que ficam muito surpresos e decepcionados quando descobrem que seus filhos estão envolvidos com esses grupos”, afirma o delegado-chefe da Cord, Luiz Alexandre Gratão.

Estudo interrompido

Foi justamente numa festa de fim de ano promovida por estudantes do curso de publicidade que o jovem Luiz*, 26 anos, entrou no submundo das drogas. Começou com a maconha, passou para a cocaína e, por muito pouco, não chegou ao fundo do poço com o crack. “Teve um dia que cheirei (cocaína) tanto que criei coragem para experimentar coisas novas. Estava disposto a conhecer o crack e só não comprei uma pedra porque um amigo meu que cheirava comigo impediu”, afirma.

O vício fez Luiz interromper uma promissora carreira. Os pais trancaram a matrícula do rapaz no terceiro semestre e o internaram numa clínica de reabilitação. Há seis meses, ele não usa nenhum tipo de substância ilícita, mas ainda não se sente preparado para voltar a estudar e encontrar os amigos que lhe ofereceram a primeira carreira de pó. “Acho melhor esperar mais um tempo. Quero me desligar dessa turma, sair dessa faculdade e começar uma vida nova”, vislumbra Luiz.

Para a titular da Promotoria de Educação, Márcia Pereira da Rocha, a prevenção ao uso de drogas deveria ocorrer desde os primeiros anos da criança na escola, com uma participação bem mais ativa do Estado e da família. “A escola, no Brasil, é um palco da visualização da violência que ocorre na cidade. Não foi ela (escola) que estimulou o uso e ela não é culpada pelo que está ocorrendo dentro dela. Se não houver uma ação multidisciplinar para o enfrentamento desse problema, não podemos esperar que apenas os professores tenham condições de mudar esse cenário”, analisa a promotora.
*Nome fictício a pedido do entrevistado

Alunos da UnB detidos

Em novembro de 2008, uma operação desencadeada pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), da Polícia Civil, terminou com a prisão de sete pessoas, entre elas dois estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Pedro Ivo Vianna e Rogério Fenner Santos foram apontados como integrantes de uma quadrilha envolvida com o tráfico de drogas interestadual. O grupo compraria os entorpecentes no Rio de Janeiro e em Mato Grosso do Sul e revenderia no Distrito Federal, inclusive dentro da UnB. Estima-se que o comércio movimentava pelo menos 10kg de haxixe por semana, além de LSD e ecstasy. Pedro Ivo foi condenado a 15 anos de prisão. O processo de Rogério ainda tramita no Superior Tribunal de Justiça.

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Marcha Fúnebre (Madrugada do Espírito,1931)



O mundo moderno perdeu o senso puro da alegria. Porque confundiu a alegria com o prazer. E tendo esgotado todos os prazeres, caminhou para a morte e o aniquilamento.

A liberdade política transformou-se em liberdade moral e essa criou a liberdade dos instintos. O subconsciente cresceu sobre o consciente e clamou pelos seus direitos. Era o mundo ignorado, o segundo plano confuso e impreciso que se trans¬portava ampliando-se como uma escuridão que avulta sobre a inteligência.

Proclamada a libertação de todos os limbos desconhecidos, entrou pela alma do homem moderno o tropel alucinante das formas de pensamento, em estado de elaboração, fantasmal e trágico. O mundo subconsciente (caos gerador ensaiando as expressões em lineamentos disparatados como fetos informes e monstruosos) veio dominar o sentido da vida contemporânea com a violência de forças brutais desencadeadas.

Forças sem governo, forças desordenadas, heterogêneas, sem direção. Forças telúricas do mundo interior, amorfas, nebulosas, de ritmos fragmentários, dissociantes.

* * *
O fenômeno que se dera com as antigas civilizações arra¬sadas pelos bárbaros repetiu-se de maneira inversa, dentro do próprio homem. Pois todo esse caos que a consciência disciplinava era contido pela pressão de uma força exterior dominadora. O século da máquina virou a alma pelo avesso, porque, tendo-se esta libertado do que se denominou o "terror cósmico", que mantinha o equilíbrio contendo a deflagração das energias interiores, viu-se, subitamente, dominada pelos estranhos duendes larvais, dos instintos desenfreados.

A alma foi invadida pelos hunos dos seus próprios recessos...

A isso fora o homem levado pela sede de liberdade. Essa liberdade chegou às suas últimas conseqüências. E de tal forma, que o pobre títere humano perdeu o sentido dela.

O homem já não sabe exatamente o que significa ser livre.

Pugnando pela progressão infinita do direito de se afirmar e de agir, acaba negando a própria personalidade e adotando o senso do coletivismo, aceita a subordinação do indivíduo à feição de um grande todo social.

Esse mesmo homem, que ergueu audaciosamente a cabeça para negar a metafísica, e substituiu a teologia pela crítica, o espiritualismo pelo materialismo, o sentimento da disciplina pela utilidade da disciplina, foi prosseguindo de tal forma que acabou por aceitar uma nova metafísica, criando o deus-coletividade, o misticismo da negação, o cativeiro social em nome de uma coisa tão vaga como o paraíso sonhado e uma humanidade mecânica.

* * *

De sorte que o homem moderno retornou ao estado de espírito anterior ao monoteísmo e à revelação cristã, para viver apavorado diante dos elementos. Pois, se hoje já não treme diante dos trovões e dos raios começa a tremer e vai até ao delírio, sentindo o rumor "freudiano" do seu subconsciente em tropel, que ele procura decifrar através da psicanálise, como outrora os povos primitivos procuravam conhecer o mundo ex¬terior através dos seus sortilégios e superstições.

E, do mesmo modo que o troglodita recuava apavorado diante de uma tempestade, o "gentleman" recua hoje atordoado diante do seu próprio complexo, que é tão grande ou tão pe¬queno, ou pelo menos tão incondicional à inteligência, como as complexas nebulosas no infinito do tempo e do espaço.

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Quem ouvir um marxista, dos mais conhecedores da sua doutrina, discorrer sobre a teoria dos movimentos e das relações da matéria, sobre os processos dialéticos, sobre a concepção evolucionista da natureza, ficará pasmado diante das abstrações a que a sua inteligência é conduzida e dos planos metafísicos em que o raciocínio vai agir, usando da mesma força criadora com que o homem da caverna, perdida a luz da graça, ideali¬zava os seus primeiros deuses. E quem atentar melhor sobre os sentimentos que animam o prosélito de Marx, verificará que esse sentimento, analisado à luz crua da crítica, tem muito de misticismo e até de feiticismo.

É o homem, de novo, sob o domínio do terror, que pre¬cedeu o monoteísmo e o cristianismo e de onde se originou todo o pavor do infinito.

Tal é o fundo espiritual desta civilização, que finge desde¬nhar do problema da causa e do fim. Essa a expressão do burguesismo libertário, do capitalismo científico, do anarquismo e do socialismo.

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O equilíbrio do Homem e do seu "sentimento do Universo" provinha exatamente do equilíbrio entre as duas forças, uma que está dentro, outra que está fora de si.

Anulada uma, desaparecida a pressão exterior, rompe-se o equilíbrio e efetiva-se o desdobramento dos planos interiores. É o mundo dos instintos, são as formas larvares do pensamento, que passara a dominar sobre o homem moderno.

Esses espectros de ideias conduzem o homem contemporâneo à interpretação errônea da alegria e do sentimento do prazer e da dor.

Tudo se indefine. O prazer passa a ser uma forma de sensação, sem limites bem traçados com a dor. É uma dor bastarda, como afirmaria um notável escritor brasileiro. E, como todos os planos morais, estéticos e políticos se baseiam na concepção do bem e do mal do agradável e do desagradável, do útil e do inútil, do feio e do belo, e uma vez que o mundo caótico dos instintos estabeleceu o tumulto crítico, a Humanidade vai hoje caminhando sem disciplina, entregue a essas forças bárbaras que arrastam a todas as degradações e a todos os crimes.

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Não admira que se afirme que a moral é um ponto de vista. Não admira que se dê hoje ao amor entre o homem e a mulher uma finalidade puramente egoísta. Não admira que se queira anular a personalidade em nome do individualismo. Nem que se queira fazer uma coletividade infeliz, em holocausto a uma pura ideia abstrata, a uma pura concepção ideal de coletividade feliz. Nem, ainda, que se persigam as religiões em nome da liberdade. Que se venham mais tarde a perseguir os próprios indivíduos que clamarem pela liberdade, em nome dessa própria liberdade. Que se atente contra a afirmação integral do amor entre o homem e a mulher, em nome da liberdade do prazer. Que se negue o direito dos pais, em nome da justiça social e dos interesses de uma ideal coletividade. Não admira ainda que se suprima a propriedade em nome dos próprios direitos da propriedade, como faz o capitalismo, como pretende fazer o comunismo. Nem espanta que desapareçam todas as garantias da lealdade e da honra, quando todos estão certos que a moral não passa de um ponto de vista.

É que o Homem perdeu o senso do equilíbrio. E, perdendo esse equilíbrio, torna-se um instrumento imperfeito de interpretação do Universo e dos seus fenômenos.

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Estamos vivendo o grande período humano da confusão. E, nesse estado de espírito, o Homem é triste. Profundamente triste. Todas as suas barulhentas expressões exteriores não passam de dissimulações.