O texto da cruz em três linguas: hebraíco, latim e grego. Imagem: Notícias de Israel.
Quando as procissões passam
pela Via Dolorosa em Jerusalém, no formato das cruzes e nas diferentes
liturgias não se reconhece apenas a grande variedade da cristandade mas também
a riqueza inesgotável da imaginação religiosa. Se, porém, analisarmos a consumação
desse tipo de pena de morte de maneira distanciada de todas as tradições
eclesiásticas, uma fria e sóbria realidade arqueológico-científica apaga a aura
glorificada que estamos acostumados a ver ao redor da cruz, e ela passa a ser o
que era em suas origens – a mais cruel, “mais terrível” (Cícero) e “mais miserável de todas as formas de pena de morte”
(Flávio Josefo).
A crucificação como pena de
morte chegou até Roma como “morte de escravo”, através da Pérsia de Zoroastro,
por meio dos gregos. Para os judeus, a crucificação era desconhecida. Crimes
especialmente graves eram castigados no antigo Israel com o apedrejamento ou
estrangulamento do condenado, sendo o mesmo depois pendurado no “madeiro
maldito”.
“Se alguém houver
pecado, passível da pena de morte, e tenha sido morto, e o pendurares num
madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas
certamente o enterrarás no mesmo dia.” (Deuteronômio
21:22-23)
Só pela influência dos
gregos, que entraram para a História como “helenistas humanísticos”, a
crucificação de pessoas ainda vivas se tornou popular.
Antíoco
Epifânio, o tirano greco-sírio (175-164 a.C), proibiu aos judeus,
sob ameaça de crucificação em vida, a prática da circuncisão que lhes era
obrigatória. Em 7 d.C. o romano Quintinus
Varus mandou pregar na cruz 2.000 judeus revoltosos. A sentença romana
soava: “Ibis ad
Crucem! – Subirás à cruz!” O historiador Flávio Josefo descreve como
incontável o número de judeus que foram mandados à crucifixão pelo procurador
romano Félix (52-60 d.C). Segundo o
costume romano, os condenados eram crucificados completamente nus.
Ramo de espinhos do "atad". Imagem: Notícias de Israel.
O condenado à morte na cruz
era conduzido ao local da execução fora da cidade. Durante o trajeto, ele tinha
que carregar a trave horizontal; em seu pescoço era pendurada uma placa com seu
nome, sua origem e o crime de que era culpado. A viga vertical já se
encontrava, deitado no chão, tinha então suas mãos pregados na trave horizontal
que gavia trazido.
Os cravos de 20 cm de
comprimento e de 2-3 cm de espessura eram pregados nos pulsos para que o corpo
esmorecido não se desprendesse da cruz posteriormente. Depois, a trave
horizontal com a pessoa pregada era levantada e encaixada em um entalhe da
viga, e os pés da pessoa eram pregados. Os romanos deixavam os crucificados
como alimento para as aves. Só os judeus conseguiram o direito especial de
tirar os crucificados da cruz. Quando os romanos estavam de bom humor,
permitiam que se desse de beber aos infratores uma bebida alucinógena – a fim
de amenizar a dor – uma mistura de mirra e vinagre ou vinho. Em troca,
entretanto, os romanos zombavam antes dos condenados e os coroavam como reis,
colocando em suas cabeças coroas de espinhos, trançadas com ramos novos do “atad” (Zizipus
lotus), cujos espinhos alcançam 12 cm de comprimento e são
terrivelmente dolorosos.
Foto de osso dos pés com cravo de crucificação encontrado em Jerusalém. Imagem: Notícias de Israel.
Devido à variedade de
idiomas falados pela população que vivia em Jerusalém, uma placa era
confeccionada em três línguas, em