“Em
torno da cabeça raspada ele usava uma faixa de pele de lontra, que tinha em
toda a circunferência feixes de magníficas plumas de um tom vermelho-escuro,
bem na frente, uma pluma resplandecente de garça-azul, de 60 centímetros de
comprimento.”
The Annals of Natal: 1495-1845, de Henry Fynn
(Compilação de John Bird, 1966).
lém de respeitado como grande guerreiro, graças
aos seus méritos, Chaka Zulu treinou e disciplinou rigorosamente os seus homens
e formou um exército formidável. Conhecido em todo o reino zulu como um,
guerreiro feroz que matou um leopardo aos dezenove anos, que construiu um
exército invencível com base num núcleo de menos de quinhentos anos e, ao longo
de um reinado de doze, foi responspável pela morte de mai de um milhão de pessoas,
Chaka Zjulu, ou “rei Chaka”, como é conhecido também, foi um governante
implacável que exerceu um poder inacreditável.
Uma
infância dificil
Chaka Zulu nasceu por volta de
1789, filho ilegítimo de uma mulher chamada Nandi (membro da tribo langeni) e
de Senzangacona, que era um chefe Zulu. Em consequência desse adverso começo de
vida, Chaka cresceu num ambiente pouco acolhedor, pois sua mãe era malvista
pela tribo, e, segundo conta a lenda, Chaka era humilhado e ridicularizado por
causa da origem bastarda.
Em tenra idade, Chaka foi
obrigado a trabalhar com pastor nas terras dos langenis, mas mesmo quando
cuidava do gado as outras crianças
gostavam de intimidá-lo. Dizem que durante toda
a infância foi uma criatura extremamente solitária.
A despeito disso, aos dezenove
anos, Chaka já era um lutador formidável, fato corroborado pela história de que
ele matou um leopardo. O animal tinha sido acuado numa árvore. Chaka arremessou
a primeira lança contra a fera, mas não lhe acertou o coração; o animal saltou da
árvore e avançou contra chaka, que em vez de fugir, esperou o animal chegar bem
perto e matou-o a porretadas.
Talvez por causa dessa
demonstração de força, talvez por ter chegado a ser querido e respeitado, aos
vinte e três anos Chaka foi chamado a servir como soldado da tribo mtetwa.
Nasce
um guerreiro
Durante os seis anos seguintes, portou-se de
forma admirável em sua unidade. Ao mesmo tempo, começou a procurar táticas e
armas melhores e mais eficientes para matar o inimigo. Com essa finalidade,
dizem que Chaka criou um novo tipo de lâmina para sua lança, mais resistente
que a leve assegais. Chaka queria
usar ferro fojado, ou ferro virgem, para que a nova lança pudesse ser moldada
com a forma que ele desejava. Dizem que
o ferreiro que ele procurou teve de fabricar novos foles e uma nova fornalha
para atendê-lo. O resultado foi exatamente o que Chaka havia sonhado: uma lança
de grande beleza e eficiência. Na verdade, tão letal era a nova arma, que Chaka
lhe deu seu próprio nome, Íxua;
embora não exista nenhuma tradução literal ou livre dessa palavra, algumas
pessoas se perguntam se não era onomatopéia: o som sibilante da lâmina quando
penetrava na carne.
Chaka Zulu também introduziu
escudos mais pesados de couro de boi, dentre outras novas armas. As novas
armas e as novas táticas de Chaka devem
ter sido eficientes, pois em várias escaramuças com tribos rivais sua reputação
de guerreiro não perdia para ninguém.
Em 1810, numa batalha contra a
tribo dos butelezis, dizem que Chaka derrubou e matou sozinho vários
adversários com a nova lança de lâmina larga, fazendo que os butelezis
remanescentes fugissem aterrorizados.
Quando começaram as
discussões sobre a sucessão do pai dele
Senzangacona, na chefia dos zulus, Chaka foi apresentado como um dos candidatos
mais fortes. Enquanto isso, ele havia recebido o controle total sobre o exército
zulu, uma posição que lhe permitiu refinar as táticas de guerra e capacidade de
liderança.
O pai de Chaka Zulu morreu em
1816. Após as cerimônias fúnebres, o pai de Chaka Zulu foi enterrado no vale
Mpembeni (Macosini – O Lugar dos Chefes).
De
bastardo à Rei
Chaka tinha sido escolhido
para suceder ao pai na chefia da tribo. Mas, depois da cerimônia fúnebre, soube
que não seria o novo líder. Sigujana, um dos meios-irmãos de Chaka, assumiu o
poder. Chaka ficou furioso, assim como seus homens, mas coube a outro dos
meios-irmãos de Chaka, Nguadi (filho de Nandi e de Gendeiana) por fim a
usurpação de Sigujana. Finalmente Chaka Zulu assumiu a liderança da tribo e sem
mais tardança, entrou na craal do pai. Começou a reestruturar todo o clã zulu.
Construiu um novo craal para cada unidade, que funcionava de maneira muito
parecida com uma guarnição militar ou com um quartel de nossos dias.
O primeiro ato real de
agressão instigado por Chaka Zulu no novo cargo de chefe de clã foi contra os
e-langenis – a mesma tribo na qual ele havia crescido e, por conseguinte,
contra os memos homens, mulheres e crianças que o haviam humilhado. Chaka nunca
se esqueceu de seus torturadores, e agora, como chefe por mérito próprio,
resolvera se vingar.
Ao alvorecer, Chaka e seus
homens tinham cercado não só a craal de Esiueni, nas terras dos e-langeris,
como também o chefe da tribo. Aos primeiros raios de sol, Chaka ordenou aos
e-langenis que se rendessem, o que eles fizeram imediatamente, sem esboçar a
menor reação. Chaka levou a julgamento todas as pessoas contra as quais
guardava rancor. Citou uma lista de crimes cometidos desde a época de sua
infância, responsabilizando-as por eles. Depois Chaka, dividiu o grupo em dois,
aqueles que perdoaria e aqueles que haviam cometido crimes imperdoáveis. Matou
brutalmente os membros do segundo grupo, empalando-os em longas estacas e
queimando-os.
Após as execuções, o chefe
e-langeni submeteu-se a todas as exigências de Chaka. Chaka voltou à sua craal
natal com uma fama muitíssimo maior do que a que tinha ao partir. Clãs vizinhos
começaram a mandar seus jovens para entrar no exército de Chaka onde passavam
por um treinamento intensivo.
Um grande número de pessoas de
outros territórios começaram a chegar à terra dos zulus para se beneficiarem da
proteção das leis do sábio rei guerreiro. Os homens juntavam-se ao exército
cada vez mais numeroso de Chaka. Por vez Chaka já contava com um exército de
3.600 homens armados até os dentes e bem treinados.
O
implacavel rei guerreiro
Durante a batalha do Quocli,
contra a tribo nduandues, os zulus tiveram sua primeira grande vitória, na qual
perderam 1.500 homens e mataram 7.500 guerreiros nduandues.
No inverno de 1818, liderados
por Chaka, os zulus entraram em guerra contra a tribo de quabe, cujo chefe, um
homem chamado Pacatuaio, o havia ofendido. Os zulus venceram em mesmo de uma hora,
capturaram Pacatuaio, que logo depois sofreu um ataque qualquer e morreu.
O território de Chaka tinha
então cerca de 11.000 quilômetros quadrados. Chaka também começou também a
revolucionar a produção agrícloa para que seu povo não sofresse escassez de
comida; introduziu um ramo de aspirantes em seu exército, destinado a meninos
adolescentes que não tinham idade para se tornarem guerreiros começaram o
treinamento a fim de servir a comunidade
ao mesmo tempo.
Em 1819, os guerreiros
nduandues liderados por Zuide entraram em confronto com os zulus de Chaka.
Zuide enviou 18.000 homens para o confronto. Como sempre, a luta não demorou
muito: Chaka derrotou as tropas nduandues em poucas horas. Mas a guerra não
terminará ali, pois Chaka estava resolvido a perseguir e matar todos os
guerreiros nduandues que tinham fugido do campo de batalha, assim como homens,
mulheres e crianças que haviam ficado na craal de Zuide. Assim que mataram
todos os que tinham alguma ligação com os nduandues capturaram o gado e queimaram
as craals, que viraram cinzas. Porém para a frustação de Chaka, Zuide escapou
mais uma vez, embora sua mãe, Ntombazi, tivesse sido aprisionada e levada a
julgamento em lugar do filho. Chaka condenou Ntombazi a morte, colocou ela em
uma tenda junto com uma hiena selvagem que a matou e devorou partes de seu
corpo.
Depois da morte de Ntombazi,
Chaka e seus guerreiros celebraram a grande vitória sobre os nduandues com
banquetes e bebidas.
Após derrotar uma grande
poderosa tribo, os tembus,
Chaka decidiu contruir uma nova capital para o povo Zulu, na parte sul do vale
do Umhlatuze, a que deu o nome de Bulauaio. Também instituiu um tribunal de
justilça, cuja sede foi construída no quintal do Grande Conselho de Chaka. O
tribunal era presidido pelo próprio chaka, que distribuia justiça com a ajuda
de alguns conselheiros de confiança. Ali era decidida a vida ou a morte dos
acusados de diversos crimes, Chaka era considerado um monarca absoluto de todos
e a palavra dele era lei. Todo cidadão Zulu jurava-lhe obediência; além disso,
todos percebiam que ele construía uma poderosa nação, na qual só se falava a
língua zulu, e, a despeito do medo e do sangue derramado, apoiavam seu líder.
Tenente Farewall, membro da
expedição comercial de Henry Fynn, de 1824, negocia a troca de mercadorias com
Chaka Zulu.
Mas o modo de vida zulu estava
prestes a mudar. Em 1824, um aventureiro branco da Inglaterra colonialista,
chamado Henry
Francis Fynn, foi enviado, junto com vários outros, a bordo do navio jula para
conhecer o rei zulu e fechar com ele um acordo comercial. Temos na palavras de Fynn as seguintes frases:
“Ficamos
abismados com a ordem e disciplina mantidos no país pelo qual viajámos. As
craals regimentais, especialmente as suas partes superiores, assim como as
craals dos chefes, mostravam que a higiene era um costume corrente, e não só
dentro das cabanas, mas fora também, pois havia espaços consideráveis nos quais
não se via sujeira nem cinzas.”
Henry Fynn estava presente
quando em outubro de 1827, Nandi, a mãe de Chaka, ao lado de quem ficara
durante todos aqueles anos, adoeceu e morreu. Fynn disse que Chaka ficou
inconsolável e começou a ordenar a execução de cidadãos. Calcula-se que não
menos de 7.000 pessoas foram mortas, Chaka ainda ordenou que seus guerreiros
saíssem pelo interior e executassem todos que não haviam lamentado devidamente
a morte de sua mãe, sepultada na presença de 12.000 guerreiros.
Na verdade o comportamento
violento de Chaka chegou a tal ponto durante essa época que ninguém estava a salvo.
Por ser um rei muito respeitado, Chaka Zulu, então com mais de quarenta anos,
não passava de um déspota cruel que não conseguia controlar as emoções mais
sombrias.
O
fim do grande rei Chaka Zulu
Até que, em setembro de 1828,
dois dos meios-irmãos de Chaka, Mlangana e Dingane, com a ajuda de uma tia, Mcabaii,
que achavam que as guerras incessanes de Chaka estavam enfraquecendo o reino,
começaram a trama a queda dele.
Finalmente em 22 de setembro
de 1828, puseram o plano em ação. Enquanto Chaka conversava com seus
conselheiros, os dois assassinos esconderam-se atrás de uma cerca de juncos, à
espera de uma oportunidade. Quando os conselheiros saíram da sala, Mlangana
disparou um lança contra Chaka, imediatamente seguida pela lança de Dingane.
Foi uma visão terrível; mesmo assim, depois do atentado eles rapidamente
espalharam o boato de que um grupo de mensageiros que trazia presentes a Chaka
tinha, na verdade, assassinado o irmão.
Em seguida o corpo de Chaka foi envolvido na pele de um touro negro e
enterrado.
Durante toda a vida, Chaka
Zulu lutou para obter o poder com o qual sonhava quando menino. Em doze curtos
anos, conseguiu criar, com abse no que tinha sido um pequeno núcleo, um imenso
reino. No começo, Chaka foi rei de apenas 160 quilômetros quadrados, mas, no
final, reinava sobre mais de 32 milhões de quilômetros quadrados. Suas tropas
tinham passado de um grupo de 500 homens para um exército fomidável de 50.000
soldados bem armados e extremamente disciplinados.
Foi uma façanha
impressionante, mas uma façanha realizada infelizmente com a morte de milhares
de homens, mulheres e crianças. Quanto aos assassinos de Chaka, Dingane
resolveu que o melhor seria matar o cumplice. Mlangana, depois do que assumiu o
trono zulu, mas seus súditos nunca mais constituíram a mesma potência militar
que haviam sido sob a liderança de Chaka, o rei e o guerreiro da África mais
feroz de todos os tempos.
Você quer saber mais?
KLEIN, Shelley. Os ditadores mais perversos da
História. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004.