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domingo, 27 de julho de 2014

A Copa Além do Futebol!


            Nossa nação encontra-se longe de possuir condições para receber um evento de magnitude internacional como a Copa do Mundo de Futebol. Baseio-me nisto pelo grande absurdo de nossa realidade do dia-a-dia. Vivemos em uma nação rica onde uma pequena elite fica com toda riqueza e o restante da população precisa lutar pelo que sobra. A realização da Copa no Brasil custará 30 bilhões de reais, sendo 94% advindo de dinheiro dos cofres públicos. Quando comparamos esse valor ao que é investido em educação e saúde no Brasil em relação ao nosso PIB, nosso governo gasta 10% de seu PIB em educação e 12% em saúde. O Brasil ocupa 85° posição no IDH mundial (Índice de desenvolvimento humano), ocupamos a penúltima posição no ranking mundial de educação (segundo pesquisa da Economist Intelligence Unit (EIU)). Sem esquecermos-nos das áreas menos favorecidas de nossa nação aonde nem escolas existem e se existem mal possuem a presença de professores.

            Nossa realidade não está em conformidade com os gastos exorbitantes de um evento que não proporcionará o retorno desejável, pois necessitamos de cidadãos com uma boa educação para nos tornarmos uma nação campeã na educação, nossas escolas e professores estão abandonados. Escolas completamente esquecidas pelo governo com bibliotecas sem recursos, ausência de especialização técnica, falta de professores em diversas áreas da educação básica e média, uma assustadora formação de analfabetos funcionais, poucas ou nenhuma presença de salas de multimídia e informática. Necessitamos de grandes investimos na saúde, pois nossos hospitais estão “sucateados”, abandonados, nossos irmãos brasileiros ficam meses esperando para consultar com um especialista nos Postos de Saúde do SUS. Pessoas morrem todos os dias em todos os Estados da Federação de doenças evitáveis ou por falta de tratamento ou atendimento de urgência/especialidade.

            Embora muito se tenha falado sobre haver vantagens na realização da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, particularmente como cidadão e contribuinte não concordo com essas afirmações, pois não caracterizam nossa realidade nacional. Uma realidade de uma nação subdesenvolvida, com a população carente dos mais básicos serviços públicos.  Muitos falam que a visibilidade que o país terá neste período será uma vantagem, mas oque será realmente visto? Os Estádios “Padrão Fifa” ou as Escolas e Hospitais dentre outros “Padrão Brasil”. Os mais otimistas esperam que esta visibilidade possa atrair, por exemplo, investidores para que venha conhecer o país e suas características, não só futebolísticas. Mas que tipos de investidores esse evento pode trazer para um país onde grande parte da população vive a margem da miséria? Investidores no turismo sexual, no tráfico de drogas, no tráfico humano.

           

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Um Sonho Possível, crítica e reflexão sobre o filme baseadas nos estudos piagetianos.


O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma crítica reflexiva sobre o filme ‘Um Sonho Possível’ e a relação dos acontecimentos do filme com os estudos piagetianos.

Toda a trama cinematográfica aborda a vida de Michael Oher, um jovem que foi tirado de sua mãe quando tinha sete anos de idade, pois a mesma era usuária de crack. Seu pai suicidou-se, mas ele nunca possuiu uma relação com ele, seu irmão Marcos de quem ele lembra-se que foi separado pelo Estado, quando este interveio em sua família é o único membro da família que ele conhece o paradeiro. Michael não foi nem ao menos registrado e apresenta um QI de 80, muito baixo. Michael é tirado de sua mãe Denise e separado do seu irmão Marcos em um período importante de sua vida quando a criança está entrando no Período operatório. Piaget diz que em torno dos sete anos o pensamento da criança torna-se lógico, com características de reversibilidade. Inicialmente esta lógica é aplicada a problemas que existem, problemas concretos. Depois se transformam em operações mentais. Michael nessa fase já era capaz de tomar decisões cognitivas e lógicas, apresentando argumentos corretos, essa análise explica as recordações traumáticas do momento em que foi tirado de sua família, pois Michael podia decidir por si mesmo e por mais difícil que fosse a vida com sua mãe, ele queria ficar junto a ela e ao seu irmão.

No decorrer do filme Michael Oher é adotado pela família Tuohy e começa há perceber o amor de mãe vindo da Leigh Anne que também apresenta ao próprio Michael suas qualidades como jogador de Futebol Americano.  Com base em Piaget que distingue em três características básicas da inteligência operatória: a descentração, a conservação e a reversibilidade, podemos, observar que Michael tinha sido marcado pelas transformações sucessivas que ocorrem em sua existência e possuía consciência e compreensão das relações que se estabeleceram entre os diferentes eventos de sua vida desde que foi tirado de sua mãe e irmão, características da inteligência operatória de descentração. Ele achava que sua capacidade era limitada, pois foi assim colocado para ele. Michael demonstra habilidade de responder as questões oralmente, mas muitas dificuldades em fazer o mesmo pela forma escrita. É essência para a escrita e matemática à necessidade do principio piagetiano de inteligência operatória da conservação. As palavras têm uma forma de escrever e os cálculos também seguem regras para isso é essencial à conservação. Vemos que o personagem mostra um desenvolvimento deficitário nessa etapa de sua vida, sejam pelos traumas sofridos na infância ou pelo desprezo, preconceito e abandono ocorridos pela indiferença da sociedade para com ele.

Michael tem um forte instinto protetor que é aparente tanto no seu convívio com a família Tuohy como no teste de aptidão que realiza. O protagonista começa a jogar para o time futebol da escola e devido ao seu instinto protetor consegue grande destaque junto ao grupo. Aqui podemos relacionar com o que ensina Piaget, que com o desenvolvimento da moral e da afetividade a criança passa a perceber que o importante no jogo, está no fato de jogar pelo prazer da convivência ou jogo social. Michael tem a oportunidade de demonstrar sua grande aptidão na adolescência, mas isso já estava inerente em seu desenvolvimento cognitivo desde a infância.

Relatório sobre o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin.



            O relatório que se segue visa analisar o filme produzido e dirigido por Charles Spencer Chaplin, Tempos Modernos e sua relação com os eventos históricos estudados na disciplina de História Moderna do Século XVII e XVIII, com foco na Revolução Industrial. O filme passasse na década de 1930, durante o crash da bolsa de valores de Nova Iorque (1929), conhecida também como Grande Depressão. No filme Chaplin interpreta o personagem vagabundo-operário.

            No inicio do filme aparece uma cena um tanto emblemática, onde vemos um rebanho de ovelhas avançando, mas se o telespectador não for atento passará despercebido que dentre elas há uma ovelha negra. Chaplin era um humanista, e como tal, suas obras sempre possuem várias críticas a sociedade e a suas diversas facetas políticas como o fordismo, militarismo, imperialismo, nazismo, capitalismo e tantas outras formas de opressão ou manipulação do homem pelo homem. Mas o que Chaplin tenta passar ao seu publico por meio dessa imagem da ovelha negra dentre as brancas? Pois bem, essa ovelha negra representa exatamente o vagabundo-operário interpretado por Chaplin, pois nosso herói irá opor-se ao sistema industriário vigente que submete a escravização os operários. No desenvolver da trama o operário-vagabundo simboliza a resistência do povo, diante da opressão da sociedade industrial moderna.

            Parafraseando a obra de Chaplin, não posso deixar de citar o livro, A Revolução Industrial de Francisco Iglésias, que nos deixa uma visão bem clara da situação vivida pelos trabalhadores desse momento da história humana:

“Já o proletariado desempenha tarefas rudes, pesadas, e em ambientes nocivos à saúde e que os leva a vida curta. Falta-lhes segurança, os acidentes com as novas máquinas são comuns e não há previdência. No trabalho consomem-se mulheres e crianças, de ínfima idade (até de quatro anos, com horário de 10 a 16 horas), como se vê nas descrições históricas de Marx em O Capital, no livro de Mantroux, ou – dentre outros – entre outros – nos romances de Charles Dickens (1812-70), que testemunhou a realidade.”

Francisco Iglésias,
A Revolução Industrial. Pg. 104.
            
            Na sequência temos as cenas dentro da fábrica, e podemos observar os trabalhadores manufaturando peças, enquanto, elas passam em uma esteira. Nosso herói, o vagabundo-operário não consegue acompanhar o ritmo frenético da máquina e não realiza sua função a tempo de acompanhar seus companheiros de trabalho. Nesse momento do filme em particular fica claro a dificuldade do homem permanecer lucido diante do insana máquina e seus proprietários burgueses, que veem o operário apenas como um complemente necessário aonde a máquina não se pode fazer presente naquele momento (por enquanto).

            Em meio ao alucinante e anormal trabalho braçal na fábrica, o personagem chapliniano enlouquece, e apresenta dificuldade de parar o movimento repetitivo  e literalmente surta, passando por diversos apuros na fábrica. Diante dos acontecimentos nosso herói cai na esteira e é puxado pela máquina para dentro das engrenagens, cena que veio a tornar-se épica no cinema. Desse acontecimento podemos encontrar algumas metáforas chaplinianas. O homem entre as engrenagens é a peça principal que faz a máquina funcionar? Os constantes acidentes de trabalho que acometiam centenas de trabalhadores anualmente durante a década de 1930? Acredito que ambas as questões são pertinentes para aquela cena.

            No próprio filme o operário-vagabundo é confundido com um líder comunista ao tentar devolver uma bandeira vermelha, que caiu de um caminhão e acaba em frente de um grupo de grevistas.


            O visionário Chaplin traz em seu filme a presença da supervisão por câmera de vigilância, algo ficcional para seu período histórico, mas que hoje é realidade em praticamente todas as fábricas. Por meio desta câmera o proprietário da fábrica pode acompanhar o trabalho dos funcionários e ditar o ritmo das esteiras de produção conforme a necessidade.


            Sua tradicional montagem semântica aparece aqui, no inicio do filme intercalando imagens de ovelhas entrando aglomeradas no curral e de trabalhadores se amontoando na entrada da fábrica, ilustrando que o empregado não é tão diferente dos animais, tendo que seguir ordens e rotinas. Observe ainda como uma ovelha negra se destaca no meio das outras, simbolizando o personagem do vagabundo, que simplesmente não aceita o modo de vida imposto pela urbanização e industrialização e, portanto, é diferente dos demais.

            Nosso herói é levado para um hospital depois de seu surto de loucura dentro da fábrica. Após breve tratamento ele recebe alta e não é aceito de volta na fábrica. Agora nosso herói vagabundo-operário está doente e desempregado em meio a uma cidade aonde impera o desemprego, fome, greves e desordem social. Chaplin acaba preso ao tentar ajudar uma jovem que roubava bananas para alimentar suas irmãs menores e seu pai desempregado. Encontramos afirmações que fazem eco há esses eventos no texto de Francisco Iglésias:

“Foi exatamente esse aumento (na produção), levando à dispensa de muitos, que trouxe a revolta contra a máquina, ao longo de toda a primeira Revolução Industrial, vista como inimiga pelos trabalhadores, pela dispensa de gente provocada.”
Francisco Iglésias,
A Revolução Industrial. Pg. 88.

            Na obra cinematográfica de Chaplin, Tempos Modernos o operário-vagabundo apaixona-se pela jovem que por fome roubava comida, ele vai trabalhar numa loja de departamentos como segurança, até que nosso herói volta à fábrica como ajudante de mecânico no reparo das máquinas.

            No desenvolver dessa trama o mecânico chefe cai dentre as engrenagens e fica preso. O operário-vagabundo tenta de todas as maneiras retirar o companheiro das engrenagens. Aqui vemos Chaplin fazendo alusão aos constantes acidentes que acometiam os trabalhadores nas fábricas, pois as mesmas levavam mais em consideração a produção do que a segurança humana. Para o proprietário burguês o que importava não era a segurança do homem, mas a funcionabilidade plena da máquina, pois está lhe renderia capital o homem é substituível.      

     

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Relatório sobre o filme Cromwell, o homem de ferro.


            O presente relatório tem por objetivo relacionar por meio de meus comentários minha percepção sobre as informações encontradas no filme “Cromwell, o homem de ferro” com o texto “A Revolução Inglesa” de José Jobson de Andrade Arruda.

            O filme inicia mostrando os eventos relacionados com as “Leis de cercamentos” (Enclosures) e o conflito entre camponeses e nobres devido a está politica real iniciada no século XVI e editada por sucessivos monarcas ingleses. Esse evento remete a reflexão sobre o que nos diz José Arruda em seu texto: “(...) a reunião dos lotes de terra dispersos numa área contínua que permitiria ao seu proprietário isolá-la das demais propriedades ou posses, transformando a terra em mercadoria e criando condições para a especialização da produção, a intensificação da divisão social do trabalho agrícola e a penetração mais intensa no campo.” (ARRUDA, pg. 19). Os cercamentos gerarão grandes conflitos sociais, pois por meio deles estava sendo atingido o que restava do antigo sistema feudal e as bases do capitalismo começaram a se instaurar. Estes conflitos levaram a Inglaterra a grandes transformações quando vemos que no século XVI os cercamentos de grandes propriedades “(...) intensificando o êxodo que, por sua vez, resulta em infinita variedade de trabalhos marginais, criando um exercito de reserva para a composição dos exércitos mercenários ou para atividades manufatureiras” (ARRUDA, pg. 20).

            Cromwell é um protestante puritano que não deseja nenhuma aproximação da Inglaterra com a Igreja Católica. Isso devido ao fato do rei Carlos I ter se casado com uma católica e possuir uma política duvidosa sobre o assunto, pois o rei deseja levar o anglicanismo para longe do calvinismo e os puritanos viam nisso uma reintrodução do catolicismo romano. Em um momento do filme vemos Oliver Cromwell revoltar-se dentro da igreja devido ao fato do rei Carlos I ter autorizado o Arcebispo a reintroduzir símbolos católicos no altar, resultando que Cromwell destrói todos os símbolos por ele considerados idolatras. Neste instante em particular do filme remete-me ao que nos é relato por José Arruda, quando mostra-nos o poder que “A Igreja Anglicana transformou-se então num instrumento direto do poder do Estado, cabendo ao Rei à indicação dos bispos” (ARRUDA, pg. 52).

            No filme Carlos I pede dinheiro ao parlamento para o conflito religioso na Escócia que havia invadido o Norte da Inglaterra em 1639, mas o parlamento nega seu pedido, Oliver Cromwell fala de democracia ao rei. Descontente com o parlamento o rei começa a mandar prender e decapitar os seus membros incluindo Cromwell que o desafia e ameaça de uma guerra civil. Neste momento sou levado a pensar nas palavras de Arruda ao afirmar que “Isto colocava a monarquia diante de uma falência iminente. Não restava alternativa a não ser reunir o Parlamento (...)” (ARRUDA, pg. 73).

            Agora a trama cinematográfica começa a desenvolver-se com o inicio da Guerra Civil onde fica claro a falta de um exercito nacional permanente por parte do rei ao ser necessário contratar mercenário para lutar ao seu lado com os Realistas também chamados “Cavaleiros” contra as forças do parlamento. Os revolucionários eram chamados de Puritanos ou “Cabeças redondas”. Deste o inicio da Guerra Civil temos nas palavras de Arruda a difícil tarefa dos Puritanos que “O inicio da guerra foi desastroso para as milícias arregimentadas pelo Parlamento, pois não eram tropas profissionais e, portanto pouco adestradas no uso das armas.” (ARRUDA, pg. 78). Coube então a Oliver Cromwell com o título de General liderar o treinamento e organizar as tropas Puritanas do parlamento para enfrentar os Realistas partidários do rei como pude observar no filme. O evento que culminante da Guerra Civil foi a Batalha de Naseby em julho de 1645, segundo os dados do filme, aonde as tropas lideradas por Oliver Cromwell e Lorde Fairfax massacram as tropas Realistas lideradas pelo próprio Rei Carlos I. Nesse momento do desenrolar cinematográfico levo-me aos textos de José Arruda que nos mostra claramente o desenrolar desses eventos, como vemos:

“Coube a Oliver Cromwell, um puritano (...), criar o Novo Modelo do Exército (New Model Army), constítuido de forma revolucionaria, pois a ascensão não se fazia por nascimento e sim por merecimento, estimulando entre os próprios homens a livre discussão, o que, flagrantemente contrariava as elites do exército revolucionário. (...) E finalmente, em Naseby, em 1645, os liderados de Cromwell derrotaram os comandos do Príncipe Rupert que liderava as tropas Realistas. Terminava a guerra civil (...).”
(ARRUDA, pg. 78-79)

            Cromwell assume o controle do parlamento como observei no filme e elabora com o mesmo os termos de paz que o próprio Cromwell entrega ao rei Carlos I, mas o mesmo não aceita os termos e inicia uma trama para uma segunda guerra civil. José Arruda passa-nos todos esses eventos de forma clara ao contar-nos que no ano “(...) de 1646, o comandante Lorde Fairfax, em nome do Parlamento toma Oxford, obrigando o Rei Carlos I a fugir para a Escócia. (...) Os setores mais conservadores do Parlamento, os presbiteranos, passam a tramar junto ao Rei, pretendendo livrar-se do exército, enviando-o para conquistar a Irlanda, sem pagamento de seus soldos.” (Arruda, pg. 79).

            No filme as palavras ganham vida quando Cromwell decide levar o Rei Carlos I a julgamento por traição e agora Cromwell quer a sua cabeça. Segue agora como Arruda nos passa esses eventos. “Em 1647, o exército aprisiona o Rei com a finalidade de impedir um acordo com o setor presbiteriano do Parlamento. (...) Com a prisão do Rei, os independentes (opositores no parlamento aos presbiterianos), liderados por Cromwell, tinham o controle da situação (...).” (ARRUDA, pg. 80).

            Então temos o inicio das dramáticas cenas que culminam com a execução do Rei. Todos os membros do Parlamento assinam um documento sentenciando o Rei Carlos I a morte. O Rei com uma Bíblia na mão ao saber da decisão encarra corajosamente sua execução, dirigindo-se até o carrasco. O Rei faz um breve discurso e posiciona-se para execução, depois de um breve sinal seu o carrasco desce o machado. No Texto a Revolução Inglesa de José Arruda, temos com extrema exatidão em suas palavras os motivos que levaram a tal decisão: “Consciente do perigo representado pelo Rei, em constante ameaça de  restauração, o Exército força o julgamento e a condenação do Rei pelo Parlamento depurado. No dia 30 de janeiro de 1649, Carlos I foi decapitado.” (ARRUDA, pg.81).

  

sexta-feira, 18 de julho de 2014

O pioneirismo inglês durante a Revolução Industrial.


Indústria têxtil na Inglaterra do séc. XVIII.


            A Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII na Inglaterra não foi acontecimento casual. Ela se verificou então e aí e só poderia ter lugar aí, pois os outros países não estavam preparados. Há fortes razões para o pioneirismo inglês, vivendo no século XVIII o que outros só conheceriam no século XIX. Muitos fatores contribuíram: a Inglaterra tinha unidade política que a Europa não atingira, pois foi a primeira a superar em parte o atomismo do regime feudal.

            As grandes mudanças verificadas preparam o terreno para o industrialismo, impondo-o antes que em qualquer outra parte. São alterações em profundidade em três setores, convencionalmente chamadas revoluções: Comercial, Agrária e Intelectual. Prepara-se a área para o novo, propiciador de outra Revolução,  a industrial.

            Em primeiro lugar, caracteriza-se a Revolução Comercial. O comércio, estagnado grande parte da Idade Média, começa a renascer com as Cruzadas. Seu impulso se dá nos séculos XV e XVI, com os descobrimentos, realizados sobretudo por portugueses e espanhóis. Ante o êxito desses povos, outros, como holandeses, franceses, ingleses se empenham na aventura. Com os viajantes novos povos e terras são conhecidos. Produtos até então ignorados são descobertos e integram a pauta de consumo do europeu.  Outros, já vistos e sabidos, tem o uso aumentado. O europeu vai buscar especiarias, sedas, metais e outros artigos ainda não de seu conhecimento, intensificando o comércio. Os europeus exploram os povos obtendo preciosidades em troca de quase nada ou do simples saque. O resultado é o impulso do processo criativo, Os inventos são provocados pela maior procura. Verifica-se a Revolução Comercial, na qual destacam-se Inglaterra e Holanda.

            A Grã-Bretanha obtém maiores êxitos, sobretudo com a política de Cromwell durante a qual é votado o ato de Navegação estabelecendo que cabotagem e pesca só podem ser realizadas por navios britânicos, produtos de outra origem só trazidos por navios das respectivas nacionalidades ou por navios com três quartos da equipagem e comandante britânicos. A Holanda, grande prejudicada protestou, chegando mesmo à guerra. Em 1652-54, na qual é naturalmente derrotada.

            Ainda no século XVII verifica-se a revolução de 1688, eminentemente religiosa e política, em defesa do protestantismo e das liberdades parlamentares e públicas em geral, contra o absolutismo e a religião do rei. A revolução gloriosa teve um caráter econômico porque foi fundado o Banco de Inglaterra, a Companhia das Índias, de tanta importância no futuro. Expandem seu comércio para Oriente e trazem o algodão e vários tecidos da Índia. Também trazem o chá e as porcelanas da China e outros artigos.

            Esta é uma das formas do Mercantilismo, o Comercialista, em que os ingleses se distinguiram. Num primeiro momento, o desenvolvimento econômico é um processo de expansão do comércio. O agente dinâmico é o comerciante.

            Em segundo lugar houve a Revolução Agrária.  O estudo da Revolução Industrial implica em conhecimento da propriedade fundiária e da produção agrícola, não só pela ocupação da terra por atividades industriais como pelo abastecimento das populações urbanas e das fábricas.

            A Inglaterra é país de grandes propriedades. Tal característica não é antiga, pois durante séculos foi partilhada por inúmeras porções de terra, que se dividiam entre grande parte da população.

            Um dos elementos fundamentais da história inglesa são essas demarcações ou lei das cercas. É um golpe no open Field system ou no sistema de campos abertos. Acontece que com as cercas não se faz uma reforma agrária popular, mas forma-se a grande propriedade.

            As pessoas são obrigadas a migrar para as cidades que abrigam populações que não têm onde morar o não têm habilitação para tarefas urbanas. Vão constituir a farta mão-de-obra disponível, que se sujeita a qualquer salário vivendo em condições de miséria, promiscuidade, falta de conforto e higiene, em condições sub-humanas.

            Constituem variantes do que Marx chamou “o exército industrial de reserva”. A esses desalojados pelas leis acresce a presença dos imigrantes notadamente irlandeses, como judeus da Europa Central, que deixam suas terras em busca de uma esperança de vida melhor.

            A Inglaterra, antes exportadora de cereais, tem de comprar de outros países, se sua produção é insuficiente para atender a população cada vez mais numerosa. Aumentaram a pobreza, a miséria, a má situação das cidades: feias, insalubres, insuficientes para abastecer as populações. O país deixou as plantações pelas pastagens. Pensava-se na indústria, não na agricultura. Na indústria estava o futuro da riqueza.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Paralelo entre os autores do texto “A crise do século XVII” (Hobsbawm, Lublinskaya e Trevor-Roper).

  
Horror story: An Allegory of War, c1608 by Frans Francken the Younger (Bridgeman Art Library). 

O presente trabalho visa elaborar um paralelo entre as opiniões dos autores citados no texto “A crise do século XVII” (Eric. J. Hobsbawm, A. D. Lublinskaya, H. R. Trevor-Roper), e por meio deste apresentando suas opiniões convergentes e divergentes. Seguirei iniciando minha linha de análise por texto de cada autor e sua relação com os demais autores. 

O texto “A crise geral da economia europeia no século XVII” de Eric J. Hobsbawm tem por base as teorias marxistas e parte do pressuposto de que a crise não foi paralela em toda a Europa, mas distingue-se em algumas regiões houve estagnação e em outras não. Em alguns lugares da Europa houve crescimento e em outros houve crise. Para Eric J. Hobsbawm, a existência ainda de relações feudais impediram o desenvolvimento do capitalismo na Europa, sendo esse um dos principais motivos da Crise do século XVII da qual o mesmo demonstra provas incontestáveis da ocorrência da Crise. 

“O raciocínio geral pode ser resumido no seguinte: para que o capitalismo se implante, a estrutura da sociedade feudal ou agrária deve passar por uma revolução.” 

Eric J. Hobsbawm

 Já em contrapartida podemos observar no texto “A crise geral do século XVII” de H. R. Trevor-Roper, uma perspectiva antimarxista da visão da Crise do século XVII. Ele nos mostra em seu texto que a crise do século XVII não foi uma crise de produção devido à estagnação como propôs Eric Hobsbawm, porque somente a Inglaterra que possuía as forças capitalistas triunfantes da Europa neste período, pois a antiga estrutura foi destruída e uma nova forma de organização econômica estabelecida. Dentro desta organização segundo H. R. Trevor-Roper, o capitalismo moderno, industrial pode desenvolver-se e desse modo sofrer as consequências plenas da crise que atingia a Europa nesse momento da história. 

“Consequentemente, enquanto outros países não fizeram qualquer progresso imediato em direção ao capitalismo moderno, na Inglaterra a antiga estrutura foi destruída e uma nova forma de organização econômica foi estabelecida, Dentro desta organização, o capitalismo moderno, industrial, pode atingir seus resultados surpreendentes: não era amais a empresa capitalista ‘adaptada à estrutura geralmente feudal’; era a empresa capitalista, a  partir de sua base insular recém-conquistada, ‘ transformando o mundo’”. 

H. R. Trevor-Roper

             Mesmo afirmando ter a Crise do século XVII ter alcançado plenamente somente a Inglaterra devido ao seu desenvolvimento capitalista adiantado em relação às outras nações ele acaba por concordar com Eric J. Hosbawm ao afirmar que de fato, não se conseguiu a transformação em lugar algum sem um pouco de revolução. Apresento agora as opiniões da autora A. D. Lublinskaya em seu texto “A teoria da revolução geral na Europa do século XVII”. Ela critica as teorias de uma generalização da crise entre as nações da Europa e apoia suas teorias em consideração da situação de cada nação em particular. 

“Destes três países (Inglaterra, Holanda e França), cuja revolução capitalista se opera no começo do século XVII, a França não somente ocupa um lugar menor, como é o único Estado cujo desenvolvimento capitalista experimenta realmente grandes dificuldades.” 

A.   D. Lublinskaya
  
No aspecto de uma crise do capitalismo em particular, A. D. Lublinskaya discorda com Eric J. Hobsbawm que afirma que a crise ocorreu em cada nação devido ao desequilibrado desenvolvimento do capitalismo, como enquanto a Inglaterra era estagnada pela crise a Suécia, Rússia e outras regiões menores desenvolviam-se. 

“As potências ibéricas, a Itália e a Turquia apresentavam um evidente retorocesso. Quanto a Veneza, encontrava-se a ponto de transforma-se num centro turística(...) Mais ao norte, o declínio da Alemanha era evidente, embora de forma alguma irremediável. Na Polônia báltica, a Dinamarca e a Hansa declinavam. (...) Por outro  lado, as potências marítimas e suas dependências – Inglaterra, Províncias Unidas, Suécia – assim como a Rússia e outras regiões menores como a Suiça pareciam se desenvolver a invés de estagnar. Enquanto a Inglaterra, encontrava-se em pleno avanço. A França encontrava-se em uma situação intermediária (...).”  

Eric J. Hobsbawm
  
            A autora Lublinskaya concorda com Hobsbawm que o capitalismo é um dos centros do evento da crise do século XVII, mas que este não é o responsável pela mesma como nos tenta demonstrar Hobsbawm em seu texto. Pois a autora estima que não é uma crise de produção capitalista a que se registra no século XVII, mas uma luta econômica e política – entre os países onde o capitalismo se desenvolve de maneira desigual.


            Em relação ao texto do autor Trevor-Roper, Lublinskaya nos guia em sua crítica de que as teorias da crise geral do século XVII e da crise do capitalismo em particular de onde tirou a maioria de suas conclusões da economia inglesa e holandesa. Ele sublinhou mais o ritmo lento, a seu juízo, deste processo até nos países desenvolvidos. 

“De qualquer maneira, as cortes reconheceram-na como a sua crise. Algumas cortes procuraram reformar-se foi então que as velhas cidades-estados, particularmente Veneza, embora agora em decadência, tornaram-se o modelo admirado, primeiro para a Holanda e depois para a Inglaterra.”
  
H. R. Trevor-Roper

Lublinskaya concorda com Trevor-Roper sobre a importância do envolvimento dos acontecimentos na Holanda, Inglaterra e França para exemplificar os eventos da crise do século XVII, ainda que de formas distintas como vemos a autora citar: 

“A evolução capitalista na França durante o período examinado está muito influenciada pelo capitalismo dos países vizinhos, principalmente da Holanda e da Inglaterra. Estes três Estados caminham para a sociedade burguesa (...).” 

A.   D. Lublinskaya