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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Relatório sobre o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin.



            O relatório que se segue visa analisar o filme produzido e dirigido por Charles Spencer Chaplin, Tempos Modernos e sua relação com os eventos históricos estudados na disciplina de História Moderna do Século XVII e XVIII, com foco na Revolução Industrial. O filme passasse na década de 1930, durante o crash da bolsa de valores de Nova Iorque (1929), conhecida também como Grande Depressão. No filme Chaplin interpreta o personagem vagabundo-operário.

            No inicio do filme aparece uma cena um tanto emblemática, onde vemos um rebanho de ovelhas avançando, mas se o telespectador não for atento passará despercebido que dentre elas há uma ovelha negra. Chaplin era um humanista, e como tal, suas obras sempre possuem várias críticas a sociedade e a suas diversas facetas políticas como o fordismo, militarismo, imperialismo, nazismo, capitalismo e tantas outras formas de opressão ou manipulação do homem pelo homem. Mas o que Chaplin tenta passar ao seu publico por meio dessa imagem da ovelha negra dentre as brancas? Pois bem, essa ovelha negra representa exatamente o vagabundo-operário interpretado por Chaplin, pois nosso herói irá opor-se ao sistema industriário vigente que submete a escravização os operários. No desenvolver da trama o operário-vagabundo simboliza a resistência do povo, diante da opressão da sociedade industrial moderna.

            Parafraseando a obra de Chaplin, não posso deixar de citar o livro, A Revolução Industrial de Francisco Iglésias, que nos deixa uma visão bem clara da situação vivida pelos trabalhadores desse momento da história humana:

“Já o proletariado desempenha tarefas rudes, pesadas, e em ambientes nocivos à saúde e que os leva a vida curta. Falta-lhes segurança, os acidentes com as novas máquinas são comuns e não há previdência. No trabalho consomem-se mulheres e crianças, de ínfima idade (até de quatro anos, com horário de 10 a 16 horas), como se vê nas descrições históricas de Marx em O Capital, no livro de Mantroux, ou – dentre outros – entre outros – nos romances de Charles Dickens (1812-70), que testemunhou a realidade.”

Francisco Iglésias,
A Revolução Industrial. Pg. 104.
            
            Na sequência temos as cenas dentro da fábrica, e podemos observar os trabalhadores manufaturando peças, enquanto, elas passam em uma esteira. Nosso herói, o vagabundo-operário não consegue acompanhar o ritmo frenético da máquina e não realiza sua função a tempo de acompanhar seus companheiros de trabalho. Nesse momento do filme em particular fica claro a dificuldade do homem permanecer lucido diante do insana máquina e seus proprietários burgueses, que veem o operário apenas como um complemente necessário aonde a máquina não se pode fazer presente naquele momento (por enquanto).

            Em meio ao alucinante e anormal trabalho braçal na fábrica, o personagem chapliniano enlouquece, e apresenta dificuldade de parar o movimento repetitivo  e literalmente surta, passando por diversos apuros na fábrica. Diante dos acontecimentos nosso herói cai na esteira e é puxado pela máquina para dentro das engrenagens, cena que veio a tornar-se épica no cinema. Desse acontecimento podemos encontrar algumas metáforas chaplinianas. O homem entre as engrenagens é a peça principal que faz a máquina funcionar? Os constantes acidentes de trabalho que acometiam centenas de trabalhadores anualmente durante a década de 1930? Acredito que ambas as questões são pertinentes para aquela cena.

            No próprio filme o operário-vagabundo é confundido com um líder comunista ao tentar devolver uma bandeira vermelha, que caiu de um caminhão e acaba em frente de um grupo de grevistas.


            O visionário Chaplin traz em seu filme a presença da supervisão por câmera de vigilância, algo ficcional para seu período histórico, mas que hoje é realidade em praticamente todas as fábricas. Por meio desta câmera o proprietário da fábrica pode acompanhar o trabalho dos funcionários e ditar o ritmo das esteiras de produção conforme a necessidade.


            Sua tradicional montagem semântica aparece aqui, no inicio do filme intercalando imagens de ovelhas entrando aglomeradas no curral e de trabalhadores se amontoando na entrada da fábrica, ilustrando que o empregado não é tão diferente dos animais, tendo que seguir ordens e rotinas. Observe ainda como uma ovelha negra se destaca no meio das outras, simbolizando o personagem do vagabundo, que simplesmente não aceita o modo de vida imposto pela urbanização e industrialização e, portanto, é diferente dos demais.

            Nosso herói é levado para um hospital depois de seu surto de loucura dentro da fábrica. Após breve tratamento ele recebe alta e não é aceito de volta na fábrica. Agora nosso herói vagabundo-operário está doente e desempregado em meio a uma cidade aonde impera o desemprego, fome, greves e desordem social. Chaplin acaba preso ao tentar ajudar uma jovem que roubava bananas para alimentar suas irmãs menores e seu pai desempregado. Encontramos afirmações que fazem eco há esses eventos no texto de Francisco Iglésias:

“Foi exatamente esse aumento (na produção), levando à dispensa de muitos, que trouxe a revolta contra a máquina, ao longo de toda a primeira Revolução Industrial, vista como inimiga pelos trabalhadores, pela dispensa de gente provocada.”
Francisco Iglésias,
A Revolução Industrial. Pg. 88.

            Na obra cinematográfica de Chaplin, Tempos Modernos o operário-vagabundo apaixona-se pela jovem que por fome roubava comida, ele vai trabalhar numa loja de departamentos como segurança, até que nosso herói volta à fábrica como ajudante de mecânico no reparo das máquinas.

            No desenvolver dessa trama o mecânico chefe cai dentre as engrenagens e fica preso. O operário-vagabundo tenta de todas as maneiras retirar o companheiro das engrenagens. Aqui vemos Chaplin fazendo alusão aos constantes acidentes que acometiam os trabalhadores nas fábricas, pois as mesmas levavam mais em consideração a produção do que a segurança humana. Para o proprietário burguês o que importava não era a segurança do homem, mas a funcionabilidade plena da máquina, pois está lhe renderia capital o homem é substituível.      

     
       No filme Tempos Modernos de Charles Spencer Chaplin, somos atraídos pela comédia e levados a refletir sobre nossa sociedade capitalista e sua desumana visão das pessoas, como meras peças nas engrenagens da industrialização. Uma clara e lucida visão de seu tempo e do futuro. Um descontentamento com a sociedade moderna industrial e a burguesia industrial que dita seu ritmo tão atual como quando foi filmado.

Autor: Leandro Claudir. Criador e administrador do Projeto Construindo História Hoje e Acadêmico de História.

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Você quer saber mais? 

IGLÉSIAS, Francisco. A Revolução Industrial. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

CHAPLIN, Charles Spencer. Tempos Modernos. [Filme-vídeo]. Produção de Patríciu Santans, direção de Charles Chaplin. 1936, 1 DVD, 87 min. 

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