Indústria têxtil na Inglaterra do séc. XVIII.
A Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII
na Inglaterra não foi acontecimento casual. Ela se verificou então e aí e só
poderia ter lugar aí, pois os outros países não estavam preparados. Há fortes
razões para o pioneirismo inglês, vivendo no século XVIII o que outros só
conheceriam no século XIX. Muitos fatores contribuíram: a Inglaterra tinha
unidade política que a Europa não atingira, pois foi a primeira a superar em
parte o atomismo do regime feudal.
As grandes mudanças verificadas preparam o terreno para o
industrialismo, impondo-o antes que em qualquer outra parte. São alterações em
profundidade em três setores, convencionalmente chamadas revoluções: Comercial,
Agrária e Intelectual. Prepara-se a área para o novo, propiciador de outra
Revolução, a industrial.
Em primeiro lugar, caracteriza-se a Revolução Comercial.
O comércio, estagnado grande parte da Idade Média, começa a renascer com as
Cruzadas. Seu impulso se dá nos séculos XV e XVI, com os descobrimentos,
realizados sobretudo por portugueses e espanhóis. Ante o êxito desses povos,
outros, como holandeses, franceses, ingleses se empenham na aventura. Com os
viajantes novos povos e terras são conhecidos. Produtos até então ignorados são
descobertos e integram a pauta de consumo do europeu. Outros, já vistos e sabidos, tem o uso
aumentado. O europeu vai buscar especiarias, sedas, metais e outros artigos
ainda não de seu conhecimento, intensificando o comércio. Os europeus exploram
os povos obtendo preciosidades em troca de quase nada ou do simples saque. O
resultado é o impulso do processo criativo, Os inventos são provocados pela
maior procura. Verifica-se a Revolução Comercial, na qual destacam-se
Inglaterra e Holanda.
A Grã-Bretanha obtém maiores êxitos, sobretudo com a
política de Cromwell durante a qual é votado o ato de Navegação estabelecendo
que cabotagem e pesca só podem ser realizadas por navios britânicos, produtos
de outra origem só trazidos por navios das respectivas nacionalidades ou por
navios com três quartos da equipagem e comandante britânicos. A Holanda, grande
prejudicada protestou, chegando mesmo à guerra. Em 1652-54, na qual é
naturalmente derrotada.
Ainda no século XVII verifica-se a revolução de 1688,
eminentemente religiosa e política, em defesa do protestantismo e das
liberdades parlamentares e públicas em geral, contra o absolutismo e a religião
do rei. A revolução gloriosa teve um caráter econômico porque foi fundado o Banco
de Inglaterra, a Companhia das Índias, de tanta importância no futuro. Expandem
seu comércio para Oriente e trazem o algodão e vários tecidos da Índia. Também
trazem o chá e as porcelanas da China e outros artigos.
Esta é uma das formas do Mercantilismo, o Comercialista,
em que os ingleses se distinguiram. Num primeiro momento, o desenvolvimento
econômico é um processo de expansão do comércio. O agente dinâmico é o
comerciante.
Em segundo lugar houve a Revolução Agrária. O estudo da Revolução Industrial implica em
conhecimento da propriedade fundiária e da produção agrícola, não só pela
ocupação da terra por atividades industriais como pelo abastecimento das
populações urbanas e das fábricas.
A Inglaterra é país de grandes propriedades. Tal
característica não é antiga, pois durante séculos foi partilhada por inúmeras
porções de terra, que se dividiam entre grande parte da população.
Um dos elementos fundamentais da história inglesa são
essas demarcações ou lei das cercas. É um golpe no open Field system ou no
sistema de campos abertos. Acontece que com as cercas não se faz uma reforma
agrária popular, mas forma-se a grande propriedade.
As pessoas são obrigadas a migrar para as cidades que
abrigam populações que não têm onde morar o não têm habilitação para tarefas
urbanas. Vão constituir a farta mão-de-obra disponível, que se sujeita a
qualquer salário vivendo em condições de miséria, promiscuidade, falta de
conforto e higiene, em condições sub-humanas.
Constituem variantes do que Marx chamou “o exército
industrial de reserva”. A esses desalojados pelas leis acresce a presença dos
imigrantes notadamente irlandeses, como judeus da Europa Central, que deixam
suas terras em busca de uma esperança de vida melhor.
A Inglaterra, antes exportadora de cereais, tem de
comprar de outros países, se sua produção é insuficiente para atender a
população cada vez mais numerosa. Aumentaram a pobreza, a miséria, a má
situação das cidades: feias, insalubres, insuficientes para abastecer as
populações. O país deixou as plantações pelas pastagens. Pensava-se na
indústria, não na agricultura. Na indústria estava o futuro da riqueza.
Na renascença, com os humanistas, a filosofia torna-se
naturalista. Multiplicam-se os nomes de filósofos e cientistas, com o culto da
natureza, da experiência, da mecânica. Agora a ciência dá sentido científico ao
estudo e as inquietações. A técnica, em suas feições mecânicas passa a ser
considerada. Essa mudança de mentalidade representa transformação intelectual e
cria o clima de crítica sistemática. Uma das conseqüências da mudança de
mentalidade é o interesse pela indústria que contribuiu significativamente para
que a Revolução Industrial pudesse se originar na Inglaterra.
Autor: Leandro Claudir. Criador e administrador do Projeto Construindo
História Hoje e Acadêmico de História.
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IGLESIAS, Francisco. A revolução Industrial. São Paulo: Editora Brasiliense,
1982.
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