A revolução integralista se processa em dois planos simultaneamente:
1º) – O plano espiritual mediato; 2º) – O plano cultural, imediato.
A Revolução Espiritual
Seria ridículo que nós nos apresentássemos à Nação, dizendo: “somos os homens perfeitos, somos os únicos honestos, somos os santos e os heróis, só a nós assiste o direito de governar o país”. Essa atitude de orgulho é que tem posto a perder a todos os que julgaram salvar o Brasil mediante simples revolução de quadros, simples mudança de homens. Em 1930, brasileiros bem intencionados, porém tentados pelo demônio da vaidade, apresentaram-se à Nação como os “puritanos da Pátria”. Esse espírito de puritanismo não permitiu que os problemas nacionais fossem estudados na sua complexidade e nas suas mais profundas raízes, criando-se, apenas, o mito da “moralidade administrativa”, que, sendo um dever, não pode ser objeto de programa. O Integralismo sabe que o Brasil não é um país de santos canonizados nem de anjos pulcros. A doutrina do Integralismo, em relação às questões de Estado não vai buscar a sua inspiração no otimismo de Rousseau e de Locke. Pelo contrário, somos pessimistas em relação à possibilidade de uma instantânea transformação dos homens, repousando toda a nossa esperança imediata na transformação do regime, de modo a policiarmos as tendências más que uma educação materialista agravou no país. Não vamos aos excessos pessimistas de Hobbes, imaginando o Leviatã, o Estado absorvente, anulador de todas as liberdades. Conservamo-nos na linha realista, crentes de que uma obra sistemática de educação individual e da coletividade elevará a média das virtudes morais e cívicas do povo brasileiro, cuja estrutura mais íntima nos revela traços de superioridade incontestável.
Essa obra de educação é que nós chamamos a “revolução espiritual” e é em razão dela que nos distinguimos tanto do Fascismo como do Hitlerismo, imprimindo um sentido profundo ao nosso movimento.
Fariseus e publicanos
Há no Evangelho uma parábola que serve para ilustrar o nosso pensamento. É a do fariseu e do publicano. Enquanto aquele vai se ajoelhar próximo ao altar, vangloriando-se de suas virtudes, da sua incorruptível maneira de cumprir a lei de Moisés, o pobre publicano ajoelha-se na porta do templo de Salomão, exclamando: “Não sou digno Senhor, de me aproximar de vós”. O Divino Mestre afirma que o publicano está no caminho da perfeição e
esse é o caminho que eu indico a todos os integralistas.
O primeiro ato revolucionário do integralista é assumir essa atitude humilde diante da Pátria. Em vez de viver apontando os defeitos alheios, procurar descobrir os próprios defeitos e corrigi-los. Confiar mais no gênio da raça e na inspiração de Deus do que nos seus próprios méritos. Ferir de morte a vaidade, aceitando muitas vezes o comando de um companheiro que tem uma posição social inferior à sua. Vencer a si próprio, contrariandose, ciliciando-se a todo instante em coração e espírito, convencido de que num país onde cada qual é intransigente em relação aos seus semelhantes, não existe possibilidade de harmonia social nem de grandeza da Nacionalidade. Dominar o comodismo, a preguiça, o ceticismo, a desilusão, o cansaço, a impetuosidade, o egoísmo, o apego às glórias falazes, convencido de que ninguém tem o direito de pretender orientar uma Pátria, quando não é capaz de governar-se a si próprio. Esforçar-se, instante a instante, na aprendizagem do domínio de si mesmo, pois é neste domínio que reside a essência da autoridade pessoal de cada um. Cultivar o amor ao seu povo e a generosidade para os que se manifestam incapazes de compreender este movimento, porque a conquista de todos os brasileiros muito depende da perseverança, da paciência, da tenacidade e serenidade dos nossos doutrinadores. Despertar em si próprio as forças do sentimento nacional porque a fusão de todas as centelhas de patriotismo de cada coração formará a fogueira que incendiará o grande coração da Pátria. Pedir a Deus coragem e paciência, fortaleza e inspiração, energia e bondade, severidade sem alarde, bravura sem ostentação, virtude sem orgulho puritanista, humildade sem indignidade e dignidade sem egolatria. Luta subjetiva e ação objetiva Essa é a revolução interior, a revolução espiritual. Nós sabemos que ela se processará devagar, porque estamos encharcados dos vícios de uma educação materialista, de uma educação farisaica de catonismos hipócritas em que se esfacelou uma República que confiou mais nos doutores da lei do que na realidade da Pátria e nas profundas verdades humanas.
Sei que essa Revolução Espiritual durará muito tempo e o seu triunfo completo só se dará nas futuras gerações. É por isso que, paralela a essa transformação do espírito nacional, estamos acionando a Revolução Cultural. Há no Integralismo uma revolução subjetiva e outra objetiva.
Transformação do Estado
Não podemos nos cingir exclusivamente à transformação espiritual, porque temos problemas imediatos e, principalmente porque, dentro do atual regime, tudo se tornará mais
difícil para atingirmos os objetivos morais que colimamos. Enquanto a revolução espiritual se processa, por assim dizer, numa progressão aritmética, a outra, a revolução cultural se opera numa progressão geométrica. Os resultados que iremos obtendo, em síntese, podem ser comparados à razão logarítmica das duas revoluções. O problema da transformação do Estado subordina-se a uma concepção filosófica da qual decorrem as soluções dos problemas político e econômico. Partimos do princípio da autoridade moral do Estado, do conceito ético do Estado. Esse princípio se origina da própria concepção do Universo e do Homem, encarados de modo integral. A subordinação do mundo da matéria e da força ao mundo do espírito e da vontade. A síntese das concepções científica e espiritual que marcam os aspectos das filosofias da Idade Média e do século XX. Repelimos todas as unilateralidades tão características do século passado. Assim fazendo, não condenamos de um modo absoluto, os esforços prodigiosos dos pensadores, sociólogos e economistas do século XIX.
Continua...
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