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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Os segredos de Tutancâmon na rede.

Site da Universidade de Oxford disponibiliza imagens e documentos produzidos durante as escavações da tumba do faraó egípcio.

O arqueólogo Howard Carter descobriu a tumba de Tutancâmon, no Egito, em 1922

Em 1922, Howard Carter realizou uma das principais descobertas da arqueologia moderna: encontrou a tumba do faraó Tutancâmon, no Egito. Um achado dessa envergadura foi o resultado de anos de pesquisas, documentadas em diversas anotações, fotos e arquivos. Esse material, riquíssimo, permaneceu inédito durante décadas. Agora pode ser acessado na internet.

O acervo está disponível no site do Griffith Institute, de Oxford, sob o nome de “Tutankamon: anatomia de uma escavação”. Entre os documentos estão notas, fotografias, diários, mapas e esquemas realizados por Carter e sua equipe, além do inventário dos tesouros encontrados na tumba do faraó.

A iniciativa de colocar todo o material de Carter à disposição de pesquisadores partiu do egiptólogo Jaromir Málek, do Griffith Institute. Em 1993, ele se deu conta de que apenas um terço do material produzido por Carter havia sido publicado. A ideia de Malek é divulgar o trabalho do colega já falecido para que o público compreenda a dimensão da descoberta, além de incentivar outros especialistas e concluir o inventário realizado pelo arqueólogo.

Você quer saber mais?

http://www.griffith.ox.ac.uk/gri/4tut.html

O homem de Neandertal pensava como nós? Parte VI.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas.


Por João Zilhão

[continuação]


JOÃO ZILHÃO há muito argumenta que os neandertais inventaram as práticas simbólicas independentemente do homem de anatomia moderna. Aqui ele peneira os sedimentos em sítio localizado na mesma região dos sítios que permitiram as descobertas neandertais.

Você quer saber mais?

http://www2.uol.com.br/sciam/

O homem de Neandertal pensava como nós? Parte V.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas.

Por João Zilhão

[continuação]


SA: Então, o comportamento moderno – conforme representado pela decoração do corpo, peças de arte e assim por diante – é o produto da necessidade de se comunicar ou de se identificar com os membros de uma população crescente?

JZ: Sim, em um mundo em que os encontros com estranhos ocorresse em uma frequência que tornasse necessário criar maneiras de distinguir um amigo de um inimigo, alguém a quem seus parentes devessem favores ou alguém que os devesse a você.

SA: Mas acredita que algo teve de mudar no hardware, no cérebro, em algum momento na linhagem humana antes do aparecimento do comportamento
moderno?


JZ: Sim, acredito que isso aconteceu de 1,5 milhão a 2 milhões de anos atrás – ou cerca de 500 mil a 1 milhão de anos atrás, no máximo –, quando o tamanho médio do cérebro atingiu a dimensão atual. Se pudéssemos clonar um ser humano que viveu há 500 mil anos, colocá-lo num útero substituto e, então, após o nascimento, nutri-lo como um ser humano atual, ele conseguiria pilotar um avião? Talvez alguns de meus colegas possam dizer que não, mas a minha resposta seria afi rmativa.

SA: Se o homem de Neandertal da Espanha fabricava ornamentos 10 mil anos antes de o primo moderno ter chegado à Europa, você acredita que, em vez de os neandertais copiarem o homem moderno, pode ter ocorrido o inverso?

JZ: Antes de entrar na Europa, o homem moderno não perfurava nem entalhava os dentes de mamíferos como os encontrados em Châtelperronian, tampouco perfurava conchas bivalves como as encontradas na Espanha. Mas, assim que chegou à Europa, isso passou a acontecer. De onde o homem moderno obteve esses ornamentos? Se estivéssemos falando dos povos da Idade do Cobre, concluiríamos que os imigrantes os obtiveram dos habitantes locais. Por que deveríamos ter uma lógica diferente para os objetos neandertais?

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http://www2.uol.com.br/sciam/

O homem de Neandertal pensava como nós? Parte IV.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas

Sepultamento realizado por Neandetais.

Por João Zilhão

[continuação]


SA: Suas análises não fornecem evidência de que os orifícios nas conchas de mariscos e vieiras desses sítios foram feitos por homens, e vocês tampouco foram capazes de encontrar vestígios do uso nas bordas dos orifícios propriamente ditos, então como sabe que foram usadas para fins decorativos?

JZ: Essas espécies são encontradas em águas profundas, então na época que foram levadas à praia não continham mais nenhum molusco, indicando não terem sido coletadas para servir de alimento; além disso, tinham pigmentos associados a elas. Qual é a alternativa? Se abrir qualquer livro de ornamentos etnográfi cos de conchas da África ou Oceania, verá exemplos de conchas dessas espécies ou de espécies relacionadas, com perfurações naturais, usadas como ornamentos.

SA: Quais as implicações dessas descobertas para o entendimento da origem da modernidade comportamental em humanos?


JZ: A coisa mais importante que essas descobertas deixam claro é que o homem de Neandertal tinha comportamento moderno. Do ponto de vista anatômico, ele não era igual ao homem moderno primitivo, mas do ponto de vista cognitivo era tão avançado quanto ou até mais. Há várias conclusões possíveis a tirar desta observação: ou a cognição e o comportamento modernos emergiram independentemente em duas linhagens diferentes, ou eles existiam em um ancestral comum do homem de Neandertal e do homem com anatomia moderna. Ou, então, os grupos que denominamos homem de Neandertal e homem moderno não são espécies diferentes e, portanto, não deveríamos nos surpreender que, apesar das diferenças anatômicas, não existam diferenças cognitivas – a conclusão que favoreço.

Sob o meu ponto de vista, o surgimento do comportamento humano moderno é o acúmulo vagaroso, talvez intermitente, de conhecimento que, conforme as densidades populacionais aumentam, dá origem a sistemas de identifi cação social que aparecem no registro arqueológico na forma de ornamentos pessoais, pintura corporal etc. Devemos esperar que esses exemplos remotos de modernidade comportamental sejam raros. O início de um processo exponencial deve ser semelhante a isso.

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O homem de Neandertal pensava como nós? Parte III.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas

Por João Zilhão

[continuação]

O PINGENTE DE CONCHA DE VIEIRA foi pintado com pigmento laranja, talvez para que o exterior da concha (metade à direita) se equiparasse ao interior, naturalmente colorido (metade à esquerda). O pigmento encontrado na ponta de um osso naturalmente afi lado da pata de cavalo (acima da concha) sugere que o homem de Neandertal usou o osso para misturar ou aplicar a pintura.

SA: O que foi desenterrado no segundo sítio?

JZ: Por volta da mesma época em que inspecionei a coleção Aviones, também analisava as descobertas de setembro de 2008, da estação de campo em um grande abrigo na rocha que fi cava mais para o interior, a uns 60 km de Aviones, chamado Cueva Antón, onde eu vinha escavando depósitos neandertais desde 2006. Um dos objetos foi uma concha perfurada de vieira que um de meus alunos coletara no segundo dia de escavações. Originalmente, pensei se tratar de uma concha fóssil, que não estivesse relacionada com as atividades humanas. Porém, quando comecei a limpá-la, descobri que era bastante conservada e colorida. Uma inspeção mais detalhada mostrou que a parte exterior, mais esbranquiçada, parecia ter sido pintada com um pigmento laranja, que era uma mistura de hematita e de outro mineral, chamado goetita.

SA:O que vocês acreditam que o homem de Neandertal fazia com esses objetos?

JZ: O fato interessante em relação à natrojarosita é que ela tem apenas um uso conhecido, o cosmético. Assim, inferimos que foi esse o seu uso também em Aviones. O osso de cavalo com a ponta avermelhada pode ter sido usado para misturar ou aplicar pigmento ou para perfurar couro cru colorido com esse pigmento. A concha de ostra mediterrânea não perfurada que continha vestígios de uma mistura brilhante vermelha deve ter sido um recipiente para pintura. A explicação mais simples para a natrojarosita e o pigmento vermelho brilhante e o contexto no qual eles foram encontrados é algum tipo de pintura corporal, especifi camente pintura facial. Mas não temos certeza se o homem de Neandertal os aplicava diariamente, após terem acordado, ou se era algo que faziam por motivos rituais, em ocasiões especiais – nas celebrações ou talvez por luto. Além disso, uma das conchas de marisco perfuradas de Aviones tinha porções de ocre vermelho aderidos do lado interno, perto do orifício. Neste caso, a explicação mais plausível é que a concha fora pintada, já que não é possível usar uma concha com orifícios como um recipiente. Portanto, além de pintar seu corpo, o homem de Neandertal dos dois sítios coloria conchas perfuradas, provavelmente usadas como pingentes.

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O homem de Neandertal pensava como nós? Parte II.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas

Por João Zilhão

[continuação]


Então, em 1995, pesquisadores determinaram que os restos humanos encontrados nos níveis chatelperronianos em outro sítio francês, a gruta de Renne, em Arcy-sur-Cure, também pertenciam ao homem de Neandertal.

Para reconciliar essas descobertas com a ideia de que apenas o homem moderno foi capaz de práticas tão avançadas, alguns pesquisadores propuseram que artefatos de depósitos do homem moderno em camadas superiores mais recentes, de algum modo, se misturaram com os depósitos do homem de Neandertal. Outros argumentaram que ele simplesmente copiou o homem moderno, seu contemporâneo, ou obteve os objetos deste por meio de escambo ou do comércio, mas não os entendia realmente e nunca os integrou em sua cultura da mesma forma que o homem moderno. Essa controvérsia jamais foi totalmente resolvida de maneira satisfatória para todos os implicados; e é aí que entram nossas novas descobertas da Espanha.

SA: O que exatamente vocês encontraram e de que maneira?

JZ: O material se origina de dois sítios. Um deles é uma caverna no sudeste da Espanha, chamada Cueva de los Aviones, escavada em 1985 por Ricardo Montes-Bernárdez, da Fundação de Estados Murcianos Marquês de Corvera. Em seus relatórios, Montes- Bernárdez mencionou ter encontrado três conhas de mariscos perfuradas nos depósitos, mas ninguém prestou atenção na época. Alguns anos mais tarde, após ter lido sobre as conchas em seus artigos, fui ao museu que abrigava os materiais coletados por ele e pedi para vê-los. Imediatamente eles me impressionaram e pareceram de grande importância, já que essas conchas, quando descobertas em depósitos arqueológicos, são basicamente consideradas pingentes. No entanto, não sabíamos a idade do material, então a primeira coisa a ser feita foi selecionar amostras para datação por radiocarbono. As datas encontradas foram de 48 mil a 50 mil anos atrás.

Como as conchas da coleção jamais tinham sido lavadas, verifi quei se existiam outros espécimes dignos de nota. Descobriu-se que uma das conchas era de uma ostra mediterrânea, cuja limpeza revelou uma mancha que pensei que poderia ser resíduo de pigmento. A análise da substância identifi cou uma mistura do pigmento vermelho, denominado lepidocrocita, e pedaços bem triturados de hematita vermelha- escura e preta e de pirita, que acrescentaria mais brilho. Eu e meus colegas também encontramos um osso de cavalo afi lado naturalmente que tinha pigmento avermelhado na ponta. E achamos pedaços de pigmento amarelo e vermelho, inclusive um grande depósito de um mineral chamado natrojarosita, cujas quantidades e pureza indicavam ter sido armazenado em uma bolsa que acabou por se deteriorar, restando apenas o mineral.

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