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terça-feira, 23 de novembro de 2010

O homem de Neandertal pensava como nós? Parte IV.

O arqueólogo João Zilhão defende a tese de que nossos parentes, de reputação intelectual duvidosa, compartilhavam as mesmas aptidões cognitivas

Sepultamento realizado por Neandetais.

Por João Zilhão

[continuação]


SA: Suas análises não fornecem evidência de que os orifícios nas conchas de mariscos e vieiras desses sítios foram feitos por homens, e vocês tampouco foram capazes de encontrar vestígios do uso nas bordas dos orifícios propriamente ditos, então como sabe que foram usadas para fins decorativos?

JZ: Essas espécies são encontradas em águas profundas, então na época que foram levadas à praia não continham mais nenhum molusco, indicando não terem sido coletadas para servir de alimento; além disso, tinham pigmentos associados a elas. Qual é a alternativa? Se abrir qualquer livro de ornamentos etnográfi cos de conchas da África ou Oceania, verá exemplos de conchas dessas espécies ou de espécies relacionadas, com perfurações naturais, usadas como ornamentos.

SA: Quais as implicações dessas descobertas para o entendimento da origem da modernidade comportamental em humanos?


JZ: A coisa mais importante que essas descobertas deixam claro é que o homem de Neandertal tinha comportamento moderno. Do ponto de vista anatômico, ele não era igual ao homem moderno primitivo, mas do ponto de vista cognitivo era tão avançado quanto ou até mais. Há várias conclusões possíveis a tirar desta observação: ou a cognição e o comportamento modernos emergiram independentemente em duas linhagens diferentes, ou eles existiam em um ancestral comum do homem de Neandertal e do homem com anatomia moderna. Ou, então, os grupos que denominamos homem de Neandertal e homem moderno não são espécies diferentes e, portanto, não deveríamos nos surpreender que, apesar das diferenças anatômicas, não existam diferenças cognitivas – a conclusão que favoreço.

Sob o meu ponto de vista, o surgimento do comportamento humano moderno é o acúmulo vagaroso, talvez intermitente, de conhecimento que, conforme as densidades populacionais aumentam, dá origem a sistemas de identifi cação social que aparecem no registro arqueológico na forma de ornamentos pessoais, pintura corporal etc. Devemos esperar que esses exemplos remotos de modernidade comportamental sejam raros. O início de um processo exponencial deve ser semelhante a isso.

Você quer saber mais?

http://www2.uol.com.br/sciam/

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