Um psicopata dentro de casa. Imagem: Arquivo pessoal CHH.
Até aqui abordamos algumas características,
personalidades e inclusive a origem da sociopatia/psicopatia e a distinção ou
não por parte dos especialistas entre ambas. Agora trarei relatos de pessoas
que conviveram com sociopatas/psicopatas no seu dia a dia e levaram os traumas
desse encontro por toda sua vida.
Um psicopata dentro de casa
Hannah, uma moça jovem de 22 anos teve seu
pai preso por matar um homem. Seu pai havia sido diretor de uma escola pública
do bairro de classe média em que ela foi criada. Ele aparentava ser um homem
extremamente agradável que naturalmente atraía as pessoas com suas palavras,
adorado pelos alunos, professores e praticamente todo mundo na pequena
comunidade. Hannah era filha única, e desde pequena seu pai lhe dizia que ela
poderia ser o que quisesse mesmo sendo menina, ela poderia escolher a profissão
que quisesse. Que as meninas podiam ser médicas. Hannah entendia essa frase que
lhe era repetida pelo pai; Hannah você pode ser médica! Quando seu pai foi
levado a julgamento pelo assassinato de um homem, toda a cidade compareceu ao
julgamento. As pessoas ficaram lá sentadas chorando, sentido pena dele.
O homicídio ocorreu numa noite de março
quando Hannah que cursava o segundo ano do ciclo universitário básico, visitava
os pais durante as férias de primavera. A altas horas da madrugada, ela acordou
com um barulho muito alto do lado de fora. – Mais tarde descobrirá que tinha
sido um tiro. Hannah se levantou sonolenta, para saber o que estava acontecendo
e viu a mãe de pé junto à porta da frente, chorando angustiada. Assim que a mãe
viu Hannah, agarrou, como se tirasse a filha da frente de um trem em disparada,
e gritou para que ela não saísse de casa.
Depois de algum tempo seu pai entrou em casa,
passando pela porta escancarada, e se aproximando da mulher e da filha que
estavam abraçadas. Ele não estava com a arma na mão à jogara fora em algum
lugar. Vestido apenas a calça do pijama, ele se postou diante da sua pequena
família. Seu pai parecia bem. Meio ofegante, mas não dava a impressão de estar
assustado.
Aos poucos Hannah descobriu o que acontecera.
Mais cedo naquela noite horrível, a mãe, ouvira um barulho vindo da sala, como
o de copos quebrando, e acordara o marido. O pai de Hannah levantou e pegou a caixa com a arma do
armário do quarto, destrancou-a e carregou o revólver. Sua esposa
lhe implorou que apenas chamasse a polícia. Ele nem sequer respondeu, limitando-se a
rosnar uma ordem: “Fique aqui!” Ainda praticamente no escuro, ele se
dirigiu a sala. Ao vê-lo, ou mais provavelmente, ao ouvi-lo, o assaltante fugiu
pela porta da frente. O pai de Hannah saiu em seu encalço, atirou pela porta da
frente atingindo-o na cabeça, matando o invasor na hora. O assaltante caiu na
calçada entre o gramado e o meio-fio, o que, tecnicamente, significa que o pai
de Hannah atirara em um desarmado no meio da rua. Nenhum dos
vizinhos saiu de casa. A polícia atendeu prontamente a chamada.
Nas semanas que se passaram o episódio
despertou o interesse da mídia local. O crime ocorrera num subúrbio tranquilo
de classe média. O assassino era um homem comum sem histórico de violência. Não
estava bêbado nem usava drogas. A vítima era um delinquente conhecido, viciado em drogas,
que, pouco antes de ser morto, tinha invadido a casa quebrando uma janela. Houve
um longo julgamento depois de uma apelação. No final, o pai de Hannah foi
condenado a 10 anos de prisão por homicídio doloso. A notícia de que
um diretor de escola havia sido condenado a 10 anos de prisão por matar um
ladrão no gramado de casa causou grande comoção e polêmica.
Enquanto passava por tudo isso, embora pareça
impossível, Hannah
ainda frequentava a faculdade, tirava notas altas e se candidatava à
especialização em medicina, coisa que o pai, apesar de todos os problemas, insistia
que ela fizesse. Seu pai lhe dizia mesmo na cadeia que não iria
permitir que a
vida de Hannah fosse destruída por toda aquela “estupidez”, como chamava. Hannah
conseguiu ser aceita em quase todas as faculdades de medicina a que se candidatou,
apesar do problema pai na cadeia. Parecia que tudo aquilo como a própria Hannah afirmava, lhe
ajudará a ser admitida. Ele (seu pai), “era uma causa a ser defendida”.
Mas havia algo mais que havia passado por
Hannah. Por que seu pai atirou? Por que simplesmente não pôs o homem para
correr? Será que
talvez o pai de Hannah, o chefe de família, o diretor de escola de classe média
fosse um assassino! Aos poucos foi se montando o retrato de um pai e
indivíduo frio, cujas ações cruéis e controladoras. Esse homem via a bela esposa e a filha
brilhante mais como troféus do que como seres humanos, em geral ignorando-as
por completo quando adoeciam ou, por qualquer outro motivo passavam por um
período difícil. Quando Hannah estava na quarta serie sua
professora mandou-lhe um bilhete para casa dizendo que ela não estava fazendo
os temas. Seu
pai ficou duas semanas sem falar com a própria filha. Quando uma
espinha apareceu no rosto de sua filha quando ela estava no ensino médio, ele ficou três dias sem
falar com Hannah e nem olhava para ela. Ele via a filha apena como um
objeto a ser exibido, se apresentasse defeito não servia mais. Quando
Hannah era criança sua mãe ficou gravemente doente e passou três semanas
internadas devido a uma pneumonia. Seu pai não foi visitar sua mãe no hospital nenhuma vez
sequer durante toda a internação e, quando sua esposa voltou para
casa, encontrou-o
zangado e nervoso, preocupado porque a mulher, pálida e enfraquecida, “podia
não recuperar a beleza”.