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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

B'nai B'rith?

Gombin é uma cidade judaica da Polônia que foi dizimada pelo nacional-socialismo. Todavia, na foto, de 1935(!) vemos um grupo de "sobreviventes" reunido em Chicago, Estados Unidos. Interessante é que a foto do grupo é encimada pelo tradicional Símbolo maçônico do esquadro e compasso com a letra "G" no centro.
Fonte: SHULMAN, A. (Secretary-Editor). Gomblin. The Life and Desruction of a Jewish Town in Poland. New York: Gombiner Society, 1969. A foto é da página 123.


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Poema-Canção das Águias

Canção das Águias

Plínio Salgado.*

Eleva-te no azul! Corta-o, serena e forte...
Rasga o seio à amplidão! Embriaga-te no arrojo
do vôo triunfal! Deixa que estruja o Norte,
que o mar rebente em fúria e levante do bojo
as potências revéis e as ciladas da morte!
Atira-te no espaço!

E, se um dia, singrando os céus, vieres de rôjo,
rôtas as asas de aço,
ferido o coração, a alma descrente,
não te abata o cansaço,
do oceano, atro e fatal, não te sorva a torrente...
Grita, forceja, anseia e combate impoluta!
Morre a lutar!
Morre na luta!
Mas, antes de morrer, tenta ainda voar!

(Transcrito da pág. 5 do "Poemario da Vida Heróica" – Rio de Janeiro – Livraria Clássica Brasileira – 1955 – 39 págs. Coleção "Águia Branca".)

* Plínio Salgado tinha 22 anos quando escreveu esta Poesia.

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Cascudo não renegou seu passado Integralista .


Luiz Gonzaga Cortez*



Diversos veículos de comunicação social do país, nos dois últimos anos, principalmente em 1999, em função do seu centenário do nascimento e do quarto centenário de Natal, publicaram reportagens, entrevistas e artigos diversos sobre o escritor natalense Luiz da Câmara Cascudo, um dos monumentos da cultura norte-rio-grandense.

E por ter sido uma figura de proa da inteligência da terra, Cascudo, que não era gênio, presunçoso, antipático nem vivia com o rei na barriga, como muitos intelectuais conterrâneos, foi uma figura ímpar, simples, modesto e digno. E dentro dessa dignidade, há um detalhe honestíssimo que não pode ser maculado por ninguém: ele jamais renegou a ideologia integralista.

Os intelectuais potiguares que participaram da Ação Integralista Brasileira (AIB) - a versão cabocla do fascismo italiano, fundada pelo escritor e advogado Plínio Salgado, em 1932(1) - e que tiveram atuação mais destacada foram Luis da Câmara Cascudo, Manuel Rodrigues de Melo, Otto de Brito Guerra, Antonio Soares de Araújo Filho, Edmundo de Melo Lima, Valdemar de Almeida, Hélio Galvão e José Augusto Rodrigues, entre outros. Nenhum deles renegou o seu passado integralista, ideologia que reunia cristianismo, nacionalismo, indianismo, estatismo(2)o e respeito aos direitos humanos, sob o lema de "Deus, Pátria e Família".

Mussolini e Hitler tinha admiradores nas fileiras da AIB em todo o país, principalmente nas regiões sul e sudeste.(3) Mas Cascudo, que não foi anti-semita nem espião nazista, jamais negou que era um ex-integralista, jamais renegou a ideologia fascista brasileira e não se têm provas (um rumor, um boato ou uma soprada no ouvido de alguém sério) de que tenha tocado fogo nos livros, jornais, revistas, camisas, emblemas e dísticos integralistas.

Foi a partir do final de 1998 que começaram a surgir declarações, atribuídas a um filho do grande escritor, de que Cascudo tinha renegado o integralismo e se arrependido de ter vestido camisa verde. Veja bem, caro leitor, somente mais de doze anos depois da morte de Cascudo é que surgiram essas frágeis versões. Em vida, na época em que estavam vivos o dr. Otto Guerra, dr. Clóvis Travassos Sarinho, Manuel Rodrigues, Hélio Galvão e Manuel Genésio, quem se atreveu a dizer que Cascudo tinha queimado os documentos e livros integralistas? Ninguém. Na verdade o que Cascudo abjurou (não confundir com renegou) foi à maçonaria. Nos anos 30/40, Cascudo foi forçado pela Igreja Católica a abjurar a maçonaria, pois caso contrário, não receberia o título de Comendador, concedido pelo Vaticano, que, na época, mantinha relações estreitíssimas com o Duce Benito Mussolini.

Quem duvidar, fineza procurar o professor José Melquíades, que está aí vivíssimo para confirmar e detalhar esse episódio. E mais: na década de 50, quase 20 anos após a extinção da AIB, quando os ex-integralistas(4) estavam reagrupados no Partido de Representação Popular-PRP, também criado por Plínio Salgado, Câmara Cascudo, apesar de afastado da militância política (não se filiou ao PRP), assinava os jornais integralistas Idade Nova e A Marcha. Cascudo não gostava de críticas descabidas ao integralismo, principalmente de pessoas que não tinham lido nada sobre a ideologia de Plínio Salgado. "Jamais renegou os seus princípios e não negava a sua condição de ex-integralista", escreveu o falecido médico Clóvis T. Sarinho (Fatos, Episódios e Datas que a memória gravou, Editora Nordeste, 1991, Natal, páginas 183 e 184).

Na série de reportagens que publiquei no Diário de Natal, a partir de 01 de julho de 1984, “A Pequena História do Integralismo no RN”, mais tarde republicadas em livro editado pela Fundação José Augusto e Clima, cometi o deslize de escrever que o dr. Otto Guerra tinha declarado que Cascudo tinha renegado o integralismo. O dr. Otto mandou uma carta de desmentido, publicada na edição de "O Poti" de 08.07.1984, p.10, da qual extraio o seguinte trecho: "...Minha segunda retificação prende-se ao escritor Luís da Câmara Cascudo, antigo e dedicado "Chefe Provincial" do integralismo no Rio Grande do Norte, durante algum tempo. Nunca o ouvi renegar o seu passado integralista, nem tenho provas disso. Num dos seus livros - "Viajando o Sertão"- ele fala abertamente na sua filiação integralista. Note-se que esse livro foi reeditado faz pouco tempo e Cascudo não alterou ou retirou uma linha do que antes escrevera. Seria pois grave injustiça de minha parte atribuir ao meu velho amigo e mestre, a quem tanto devo na minha formação cultural, uma atitude que desconheço".

Eduardo Maffei(5), escritor paulista, já falecido, esteve em minha modesta residência em março de 1987 e disse-me que admirava muito Cascudo e um dos motivos que lhe causava mais admiração era que ele ainda tinha idéias integralistas (Maffei conheceu-o em Recife, em abril de 1940). Câmara Cascudo foi um dos intelectuais expoentes da Ação Integralistas Brasileira. Escreveu artigos para as publicações integralistas A Ofensiva, Panorama e Anauê, entre outras, na década de 30, até a extinção da AIB, em novembro de 1937.


Alguns desses artigos estão reunidos no livro "Câmara Cascudo, jornalista integralista", publicado pelo Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que, segundo o escritor Itamar de Souza, é obra indispensável para se conhecer o lado político de Luiz da Câmara Cascudo.(6)

* Luiz Gonzaga Cortez é Jornalista e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Notas do Blog "Integralismo e História":

1) O Integralismo não é a versão cabocla do fascismo, isso é desconhecimento ou preconceito do Autor. Plínio Salgado era Jornalista e não advogado.

2) O exame atento de Documentos Oficiais Integralistas, como o “Manifesto de Outubro”, as “Diretrizes Integralistas”, o “Manifesto Programa de 1936”, entre outros, demonstra cabal e insofismavelmente que o Integralismo jamais foi estatista.

3) Hitler e Mussolini tinham admiradores em todo o Brasil, mas, onde eles menos proliferavam era justamente nas fileiras da AIB. O Integralismo desenvolvia um trabalho de integrar na Pátria Brasileira os filhos e netos de alemães e italianos, o que desagradava principalmente os hitleristas.

4) O Autor comete um equívoco muito comum, o de achar que Integralista é apenas aquele que militou na Acção Integralista Brasileira. Na verdade, Integralista é todo aquele que é adepto do Integralismo. Assim, ex-Integralista é apenas aquele que deixou de seguir a Doutrina do Integralismo e adotou uma outra posição política (liberalismo, anarquismo, comunismo, etc.).

5) Depoimento insuspeito, pois, o sr. Eduardo Maffei era um comunista militante.


6) No início de 2008, encontrei nos meus guardados o Artigo acima, infelizmente, sem indicações de procedência. Mesmo assim, considerei-o esclarecedor e de publicação indispensável. Posteriormente, consegui contatar seu ilustre Autor, que generosa e democraticamente, autorizou por e-mail tal publicação. Agora reedito-o, pois, é de grande importância a sua ampla difusão. Recentemente descobri que uma versão ampliada deste artigo está publicada em Livro cuja leitura tomamos a liberdade de sugerir: CORTEZ, Luiz Gonzaga. "Câmara Cascudo, o Jornalista Integralista". [2. ed.]. São Paulo: Edições GRD, 2002.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Como Estudar Plínio Salgado.

Humberto Pergher*

O artista ao modelar o barro para dele extrair uma estátua, não só deixa em sua superfície estampados seus traços digitais, muito mais que isso concretiza na obra a sua idéia e personifica nela seu próprio ser de tal maneira, que esta passa a ser seu retrato mais ou menos fiel conforme a perfeição da obra. Através dela entra-se em contato com a riqueza interior, a vibratividade e euritimia do artista e do homem, para com ele sentir as mesmas emoções.

Pode-se ainda entrar em contato, em comunhão íntima de paixões e idéias pela simples visão do artista, ouvindo-o falar especialmente quando à riqueza de vibração aliar uma espontaneidade de expressão oral e mímica; quando à cadência e ao fluir ligeiro do verbo aliar a agudeza de olhar que magnetiza; quando à grandiosidade e profundidade de idéias, quando a sonoridade da voz e intensidade de emoções, à majestosa estruturação do período aliar, paradoxalmente, uma incompreensível pequenez física talhada duramente pela adversidade e pela luta.

Pois esta visão íntima do homem em sua diáfana transparência esta simbólica vivência de idéias e emoções, esta aterradora pequenez do homem frente ao espírito já a experimentaram todos quantos ouviram uma conferencia de Plínio Salgado. Despe-se imediatamente o espírito do ouvinte de quantos atavios por ventura se ache emaranhado e em sua original candura entra em união intelectual com o conferencista, para sorver gota a gota, o néctar que este destila, modicamente, de início; em ritmo crescente, logo após; e, por fim, em torrentes incontidas ocupando o intelecto e a sensibilidade do ouvinte de maneira tão completa que o tempo perde seu valor. Aqui, mais que em qualquer parte, manifesta-se a pequenez do homem ante o infinito e sua grandeza no finito.

Entrechoque da grandiosidade das idéias com a violência dos sentimentos despertados nos espíritos, busca escape emotivo nos vibrantes aplausos e nas palmas espontâneas de quantos auditórios travem contato íntimo com o espírito de Plínio Salgado. Não há necessidade de anterior conhecimento da vida deste escritor, nem tão pouco de suas idéias, de suas lutas, de seu sofrimento em ver sua Pátria, que deseja grande, pujante e cristã, tão amesquinhada, traída tantas vezes, e cada vez mais enfraquecida em suas forças vitais. É suficiente ver sua pessoa, fisicamente pequena e abatida, transformar-se subitamente em um gigante que domina completamente toda uma multidão pela grande e eloqüente cadência de seu verbo, para sentir com o orador um amor imenso por esta terra que é nossa, uma dor pungente pela desdita que a abate, e a necessidade imperiosa de lutar pela sua re-cristianização, único meio de salvá-la e fazê-la feliz.

É suficiente este contacto auditivo - visual – intelectual - emocional para ter-se o homem todo em toda sua riqueza, em toda a sua grandeza intelectual e moral. Então se compreende sua incrível obstinação em lutar, mesmo que seja sozinho, em sacrificar sua grande vocação para a literatura e “recomeçar mil vezes se for preciso para salvar o Brasil”.

Entretanto, muito restrito é o número dos que podem, por este contato direto assimilar os ensinamentos de Plínio Salgado. A grande maioria dos brasileiros deve fazê-lo pela leitura de suas obras embora em todas as suas obras esteja, em sua totalidade, o homem que dedicou sua vida à causa de Cristo e do Brasil, devido à predominância de um dos aspectos de sua doutrina, poderia o leitor ser levado a um conhecimento parcial e, por isto mesmo, falho, do homem e de seu pensamento.

Pela obra se chega ao autor e pelo autor se compreende a obra.

Por onde se vê ser necessário um conhecimento biográfico do autor para melhor compreensão de sua obra. Urge situá-lo em sua época, no meio em que vive, para conhecer quais as influências do ambiente sobre ele e as suas reações. É necessário saber qual a sua formação religiosa, qual sua adaptação social, para melhor compreender e interpretar as idéias mestras de sua doutrina.

No caso do autor da “Vida de Jesus”, torna-se indispensável saber de seu espírito profundamente cristão, conhecer os laços afetivos que o ligam ao Brasil desde os seus ternos anos, quando num ambiente familiar essencialmente cristão aprendeu a amar a Deus e à sua Pátria. Conhecida sua biografia e tendo presente estes fatores fundamentais, pode-se começar o estudo de seu pensamento sociológico e filosófico pela leitura de suas primeiras obras, os romances “O Estrangeiro”, “O Esperado”, “O Cavaleiro de Itararé”, e a “Voz do Oeste”, nos quais procede a um largo estudo social do homem do interior paulistano, em páginas de rara sensibilidade artística e profundo senso objetivo, cônscio do papel do literato no aprimoramento da sociedade.

Nestes seus romances estão lançados os princípios de toda sua doutrina sociológica, política e filosófica. As inúmeras obras que se seguiram são desenvolvimentos dos princípios anteriormente esboçados. O leitor das obras de Plínio Salgado terá sempre presente o espírito profundamente cristão do autor voltado para a realidade brasileira, esperançoso de ver o Brasil cumprir sua missão histórica da qual se fez para sempre o mesmo incansável batalhador, durante sua vida e após ela na duração de seus escritos. Porém, de todas as obras de Plínio Salgado é na “Vida de Jesus”; que mais alto se ergueu seu gênio. Neste livro uni-se a piedade cristã a alma do artista, o espírito do pensador e a visão do homem público para burilar incontestavelmente a maior pérola da literatura brasileira. Na “Vida de Jesus”, os moços brasileiros têm a obra prima do artista, do sociólogo, do cristão, onde a identificação do autor se faz em cada linha e onde seu pensamento se concretizou para a eternidade.

É este Plínio Salgado fervorosamente cristão e perdidamente brasileiro que deve ser compreendido em primeiro lugar e está sempre presente ao estudioso de suas obras e de seus escritores. Só assim haverá a perfeita compreensão em sua honestidade intelectual, em sua sensibilidade profundamente humana, em seu ardor apostólico, na crueza apocalíptica de sua analise social do nosso tempo e na certeza absoluta dos superiores destinos do Brasil.

* Publicado originalmente em “A Marcha”, 12/02/1954, e posteriormente reproduzido no Vol. VIII da “Enciclopédia do Integralismo”.

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6 de dezembro de 1976 – No exílio, morre João Goulart.


Doze anos depois de ter deixado o Brasil para se asilar no Uruguai, o ex-Presidente João Goulart regressou, conduzido pela família e amigos que, chorando, seguiram em automóveis a caminhonete que levava os restos mortais para São Borja, sua terra natal. Jango morreu de infarto, aos 47 anos de idade, no quarto de sua fazenda, na fronteira entre Uruguai e Argentina, após ter comido churrasco e tomado chimarrão, na hora do jantar. Na hora em que sentiu a dor no peito, estava em companhia da esposa, que gritou pedindo ajuda do capataz Júlio Vieira, o qual nada pode fazer para ajudar o patrão.

Tudo aconteceu de forma rápida e vertiginosa na vida do fazendeiro e político gaúcho João Goulart, um homem de temperamento afeito à calmaria do campo, longe do qual sempre pareceu desambientado. Aos 13 anos já ajudava seu pai a transportar gado na fazenda da família. Vinte anos depois, começou a se envolver com política e rapidamente chegou à Presidência da República, assumindo o governo após a renúncia de Jânio Quadros.

Seu governo foi marcado por uma crise política e social sem precedentes, a qual resultou em sua trágica deposição, em abril de 1964. Por ser identificado como um político de tendência comunista, Jango sofreu grande oposição das altas camadas do Exército que tramaram um golpe de Estado que enterrou a democracia no Brasil, restabelecida apenas vinte anos depois.

João Goulart

Fazendeiro de terras em três países viveu os últimos anos amargando o exílio, com a certeza de ter sido personagem central nos momentos mais dramáticos da história do Brasil na segunda metade do século. Segundo a família, Jango recusava-se a retornar ao Brasil “pelos fundos”, ou seja, pela fronteira gaúcha, com a condição de viver internado em São Borja. Pretendia descer no Rio de Janeiro e, só então, ir para o Sul. Inicialmente, descartava a hipótese de um retorno enquanto a maioria dos outros exilados não pudesse voltar. Nos últimos meses de vida, Goulart procurava saber se poderia retornar ao Brasil. Morreu com a garantia de que não poderia.

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Em 1964 - Marcha da Família com Deus Em 1964 – Goulart foge e militares tomam o poder no Brasil Em 1989 – No centenário da República, Brasil vai às urnas

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A roda: a maior invenção tecnológica.

A roda: a primeira grande invenção da humanidade

Alberto Cury Nassour Engenheiro de Materiais

Num trecho de linha férrea próximo da cidade de Paris, apenas um zumbido indica a passagem de um trem de passageiros a quase 300 quilômetros por hora. Numa estradinha de terra batida numa fazenda do interior mineiro, uma estrutura barulhenta de carro de bois passa a menos de 5 quilômetros por hora, produzindo um ranger quase sonolento provocado pelo atrito entre a roda de madeira e o eixo de apoio. A única semelhança entre esses dois acontecimentos, converge talvez, para o fato de simplesmente andarem sobre rodas.

Mais depressa, mais devagar, milhões de rodas, pequenas ou grandes, funcionam em todo o mundo, transformando a vida em movimento. Um dos principais indicadores do progresso consumista de um país, costuma ser medido pela facilidade com que seus habitantes podem se locomover e transportar os produtos de seu trabalho ou para seu consumo. Em outras palavras: quantas rodas esse país faz girar e com qual rapidez?

A diferença que a roda, considerado como sendo o maior invento fundamental da história, trouxe para o destino humano é incalculável. Um pouco de matemática ajudará a explicar tal façanha. Um homem adulto e treinado percorre num dia de caminhada, cerca de 30 quilômetros, e a carga máxima que consegue carregar é cerca de 40 quilos, além do seu próprio peso. Com a domesticação de animais, por volta de 5.000 a.C., a capacidade de carga no lombo de bestas aumentou para 100 quilos. A tração animal aumentou ainda mais a capacidade de carga para 1.200 quilos puxados por uma carreira de bois. Acredita-se que os egípcios usaram de artifícios como grandes roletes de madeira para transportar por quilômetros, os enormes blocos de granito e de pedra para a construção das pirâmides, inventando também o que se chama hoje de rota de transportes, ou simplesmente estradas.

Na verdade, a invenção da roda é motivo de discussão entre os grandes historiadores de todos os tempos. Alguns sustentam que essa peça de tamanha simplicidade, foi a maior criação do homem estudando o movimento do astro Sol, como se ele rodasse ao redor da Terra. Por terem sido fabricadas em madeira, as primeiras rodas já foram certamente destruídas pela ação do tempo.

Sem a roda, o homem não iria muito longe. As quatro principais fontes de energia que o homem utiliza para sua existência são fundamentadas na roda: a água, a energia elétrica, o animal e o vento. O simples carrinho de mão inventado pelos chineses, cerca de 200 a.C., conduz sete vezes mais carga e passageiros do que o ombro humano. A bicicleta criada na França em 1645, permitia velocidades até três vezes maiores do que a de um homem caminhando pausadamente.

Além de revolucionar os meios de transportes, a roda possibilitou outro grande salto para a tecnologia – o movimento controlado por rotação. Na Mesopotâmia, há milhares de anos, os primeiros discos de madeira usados pelo homem para trabalhar o barro, talvez tenha sido uma das primeiras criações empregando a roda no sentido explícito da palavra. No século XIV, apareceram simultaneamente em diferentes regiões da Europa, como França e Inglaterra, as primeiras rodas de tecelagem enxertadas com finas agulhas para desfiar o algodão. Desde então, novos engenhos baseados no mesmo princípio não pararam de surgir, porém, cada vez mais complexos. Aproveitando a descoberta de que uma roda de maior diâmetro leva mais tempo para dar uma volta completa do que uma roda pequena, o homem também descobriu a teoria da velocidade centrípeta. Inventaram-se os relógios com rodas dentadas que até hoje encantam as mais belas catedrais do mundo todo; as máquinas a vapor; a locomotiva e o automóvel.

Rodas e revoluções andam juntas há muito tempo. Numa era de colossais conquistas tecnológicas entre 8.000 e 5.000 a.C., na faixa de países semi-áridos entre os rios Nilo, localizado na África e Ganges, na Ásia, o homem inventou o arado, o barco à vela, os processos de fundição de ferramentas, jóias e o calendário solar. Todos estes inventos baseados no princípio da roda. A primeira indicação da figura de uma roda registrada numa placa de argila, auxiliando um meio de transporte humano foi na Suméira em 3.500a.C.

Atualmente, as rodas de bicicleta já são feitas de alumínio, kevlar ou fibra de carbono. É o homem rinventando a invenção. Após a descoberta da roda pelos sumérios, a notícia se espalhou. Gregos, romanos e egípcios há mais de 2.000 a.C. criaram então novos modelos, com raios ao invés de uma placa de tábuas, para conduzir suas bigas de guerra e revestidas com pedaços de metal fundido para resistirem aos fortes impactos provocados pelas colisões. Enfim, sempre foram modificando a idéia original conforme suas necessidades e abrindo largos espaços para o uso da roda no seu cotidiano. Os celtas, por exemplo, modificaram os carros romanos e inventaram o sistema de eixo dianteiro giratório, capazes de dar maior direção em curvas menos angulosas. O Renascimento, movimento de revolução nas artes, ciências, medicina e literatura que ocorreu por toda a Europa no século XV, fez surgir os famosos cabriolés, diligências de tração animal com cabine fechada para conduzir a aristocracia européia e protegê-la do mau tempo ou da poeira das rudimentares estradas de terra.

Por volta de 1850, começava o declínio da tração animal e iniciava-se a era da tração a vapor, reescrevendo o papel da roda. Não demorou muito, inventou-se então as rodas fabricadas totalmente de ferro forjado no final do século XIX. Barcos a vapor e locomotivas, além de servirem de meios de transporte de carga, eram o fascínio de milhares de bens-aventurados da época. No início do século XX, o veterinário inglês John Boyd Dunlop criou o primeiro aro pneumático. Nada mais era do que um aro metálico revestido com uma câmara de couro costurado e cheio de ar, o qual servia para amenizar os sacolejos provocados pelas rodas de ferro sobre as estradas de pedra, que imediatamente foram introduzidos nos veículos automotivos fabricados por Henry Ford.

O cinema mostrou toda a força dessa invenção no lendário filme "Tempos Modernos", de 1936, brilhantemente estrelado por Charlie Chaplin. Daquela época até os dias atuais a roda nunca mais parou de movimentar a humanidade.

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O Brasil as Armas e a Vítimas.


Minha opinião pessoal

FONTE: Brasil as Ármas e as Vítimas - 1. Impacto da arma de fogo na saúde da população do Brasil.

Intencionalidade

Em 2002, no Brasil, 90,0% das mortes por PAF foram homicídio, enquanto 3,6% foram suicídio. As mortes por PAF cuja intencionalidade não foi determinada representaram 5,6% e 0,8% das mortes foram atribuídas a acidentes. A cada dia, quase 94 pessoas morrem por homicídio, 4 por suicídio e 1 por acidente. Todas vítimas de arma de fogo. A taxa de homicídio por arma de fogo é 20,8 e de suicídio 0,8 por 100.000 habitantes.

Nos Estados Unidos, em 2000, essas mortes apresentaram um perfil diferente: 58% suicídio, 39% homicídio, 4% de intencionalidade desconhecida ou acidental. Em relação à distribuição proporcional das mortes por PAF, o Brasil apresentou o padrão de países menos desenvolvidos, onde há mais homicídios que suicídios, já os Estados Unidos apresentaram o padrão de países mais desenvolvidos, onde há o predomínio de suicídios. A diferença entre o percentual das mortes por intencionalidade desconhecida denota a diferença da qualidade da informação entre os dois países.

As mortes por arma de fogo são, em sua grande maioria, os homicídios.

Mortalidade Proporcional das causas externas

Em 2002 houve 126.550 (cento e vinte e seis mil, quinhentas e cinqüenta) mortes por acidentes e violências. Destas, 30,1% foram cometidas por PAF, sejam por motivos não intencionais (acidentes) ou intencionais (homicídio e suicídio), e 25,9% em virtude de acidentes de trânsito.

Apesar do Brasil ser um país eminentemente rodoviário e do uso de arma ser mais restrito que o do automóvel, o número de mortes por arma de fogo (n = 38.088) supera os de acidente de trânsito (n = 32.753). Interessante apontar as semelhanças dessas mortes.

Em ambas as situações, tanto nas mortes que envolvem a arma – sua maioria é o homicídio – como nos acidentes de trânsito – sua maioria é a morte de pedestres – mata-se o “outro”, muitas vezes mais indefeso. Em países mais desenvolvidos, a maioria das mortes por arma relaciona-se com o suicídio, e as mortes no trânsito são, em sua maioria, das pessoas que ocupam o veículo (condutor ou passageiro). No aspecto simbólico, a arma e o automóvel representam poder sobre o outro.

No Brasil morre-se mais por arma de fogo do que por acidente de trânsito.

Homicídios – métodos

No Brasil, 63,9% dos homicídios são cometidos por PAF, enquanto só 19,8% são causados por arma branca. A alta letalidade da arma de fogo é expressada nessas
proporções.

A arma branca implica um envolvimento maior com a vítima, uma aproximação física, uma coragem e uma determinação maior com relação ao ato. Diferentemente da arma de fogo, que pode ser acionada à distância, sem envolvimento.

Um ataque a faca requer uma certa força física ou destreza, enquanto uma arma de fogo pode ser manuseada por uma pessoa de porte pequeno e força física menor que a vítima. Esse contexto certamente favorece a maior participação da arma de fogo nos homicídios.

Arma de fogo, o jeito mais rápido de não ter mais jeito.

Brasil as Armas e as Víntimas na íntegra:

Brasil as Ármas e as Vítimas - 1. Impacto da arma de fogo na saúde da população do Brasil.

Brasil as Ármas e as Vítimas - 2. Legislação para controle de armas leves no Brasil de Vargas a Lula.

Brasil as Ármas e as Vítimas - 3. A indústria brasileira de armas leves e de pequeno porte produção legal e comércio.

Brasil as Ármas e as Vítimas - 4. Posse de Armas de fogo no Brasil mapeamento das armas e seus proprietários.

Brasil as Ármas e as Vítimas - 5. O mercado ilegal de armas de fogo na cidade do Rio de Janeiro.

Brasil as Ármas e as Vítimas - 6. Demanda por armas de fogo no Rio de Janeiro.

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RADIOATIVIDADE E A POLÊMICA HISTÓRIA DAS SUAS APLICAÇÕES.


Paula Homem de Mello Instituto de Química de São Carlos - USP

Em 1896, o francês Henri Becquerel constatou que um composto de urânio causava uma mancha numa chapa fotográfica, mesmo no escuro e embrulhado em papel negro. Becquerel concluiu que o composto deveria emitir algum tipo de raio capaz de atravessar o papel e atuar sobre a chapa. Essa propriedade era semelhante à dos raios X descobertos um ano antes por Wilhelm Conrad Röntgen.

Em abril de 1898, a polonesa Marie Curie percebeu que, além do urânio, outro elemento conhecido, o tório, também emitia os tais raios. Em julho do mesmo ano, com a ajuda do marido, o físico francês Pierre Curie, descobriu um novo elemento que chamou de polônio e alguns meses depois ambos descobriram um elemento ainda mais radioativo: o rádio. Os estudos sobre radioatividade renderam a Becquerel, Pierre e Marie Curie o Nobel de Física de 1903.

Ainda no ano de 1898, Ernest Rutherford utilizou uma tela fluorescente para detectar as radiações provenientes de um material radioativo. Com auxílio de placas metálicas eletricamente carregadas descobriu que havia dois tipos de radiação, que chamou de α (alfa) e β (beta). A radiação α, segundo ele, deveria ser formada por partículas de carga positiva, uma vez que seu feixe era atraído pela placa negativa. Já a radiação β, deveria ser formada por partículas negativas, pois seu feixe era atraído pela placa positiva. Em 1900, Paul Villard, na França, descobriu uma outra forma de radioatividade que não apresenta carga elétrica e foi chamada de radiação γ (gama).

Hoje sabemos que as partículas α são constituídas por dois prótons e dois nêutrons, isto é, correspondem ao núcleo de um átomo de hélio (He). As partículas β são elétrons emitidos pelo núcleo de um átomo instável. Mas, você vai me dizer: o núcleo não tem elétrons! Na verdade, um nêutron pode se decompor em um próton, um elétron e uma partícula chamada antineutrino . Ao contrário das radiações α e β, que são constituídas por partículas, a radiação γ é formada por ondas eletromagnéticas emitidas por núcleos instáveis logo em seguida à emissão de uma partícula α ou β.

Cada elemento radioativo, natural ou obtido artificialmente, se desintegra (ou decai) com uma velocidade característica. A unidade do tempo de decaimento é a meia-vida. Este é o tempo necessário para que a atividade de um elemento radioativo seja reduzida à metade da atividade inicial. Ou seja, para cada meia-vida que passa, a radioatividade vai sendo reduzida à metade da anterior, até atingir um valor insignificante, que não permite mais distinguir suas radiações das do meio ambiente.

Na natureza existem elementos radioativos que decaem sucessivamente, se transformando em outros elementos, que não sendo ainda estáveis, decaem até que o núcleo atinja uma configuração estável. Essas seqüências de núcleos são denominadas séries radioativas. Existem três séries radioativas naturais: a série do urânio, a série do actínio e a série do tório. A série do actínio, na realidade, inicia-se com o urânio-235 e tem esse nome, porque se pensava que ela começasse pelo actínio-227. As três séries naturais terminam em isótopos estáveis do chumbo, respectivamente, chumbo-206, chumbo-207 e chumbo-208.

Alguns anos antes da Segunda Guerra Mundial, vários grupos de pesquisadores tentavam obter novos elementos químicos bombardeando o urânio com nêutrons. Este processo foi chamado de Fissão Nuclear. O nêutron, ao atingir um núcleo de urânio, provoca sua quebra em dois núcleos menores e a liberação de mais nêutrons que, por sua vez, irão atingir outros núcleos e provocar novas quebras, liberando grande quantidade de energia. Se a velocidade dessa reação em cadeia não for controlada, a reação ocorre muito rapidamente (em menos de 1 segundo), liberando enorme quantidade de energia. É o que acontece, por exemplo, na explosão da bomba atômica. Mas se a reação for controlada, como ocorre num reator, é possível aproveitar a energia liberada.

O italiano Enrico Fermi e sua equipe, em 1942, construíram o primeiro reator nuclear. Esse reator tinha a finalidade de executar em laboratório a fissão nuclear para que se pudesse compreendê-la melhor, a fim de aproveitá-la como fonte de energia. A versão moderna do reator de Fermi são as usinas nucleares. O calor liberado na fissão aquece a água, mantida a alta pressão. Esta, por sua vez, aquece uma outra porção de água que entra em ebulição. O vapor produzido gira a turbina, cujo eixo se liga a um gerador elétrico, o qual, por sua vez, transforma a energia do movimento em energia elétrica.

Também podemos usufruir dos benefícios da radioatividade na medicina. A Medicina Nuclear é a área que utiliza os radioisótopos, tanto em diagnósticos como em terapias. Células cancerosas ou microorganismos nocivos podem ser destruídos pela absorção da energia das radiações. Fontes de radiação de césio-137 e cobalto-60 são usadas para destruir células de tumores, uma vez que estas são mais sensíveis à radiação do que os tecidos sãos. Um outro exemplo é a utilização do iodo-131 para o diagnóstico e tratamento de doenças da tireóide. O elemento iodo, radioativo ou não, é absorvido pelo organismo humano preferencialmente pela glândula tireóide. Para verificar se a tireóide apresenta problemas, o paciente ingere uma solução de iodo-131 e um detector verifica a absorção do elemento, permitindo o diagnóstico de deformações da glândula. Doses maiores de iodo-131 são utilizadas no tratamento de doenças da tireóide.

Estas são apenas algumas das aplicações da radioatividade. Entretanto, nem sempre a radioatividade é usada adequadamente. Um dos principais problemas é a utilização bélica, ou seja, para a construção de bombas atômicas. Em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki foram destruídas por bombas atômicas lançadas por aviões do Exército dos EUA. Mais de 200 mil pessoas foram mortas nos ataques e, seis décadas depois, milhares de pessoas ainda apresentam seqüelas devido à exposição à radioatividade.

Uma outra preocupação é o lixo nuclear. As sobras de materiais radioativos e tudo o que estiver contaminado por eles, os resíduos de mineração, o encanamento por onde eles passaram, as vestimentas dos trabalhadores, enfim, tudo o que entra em contato com material radioativo são considerados lixo nuclear. Nos produtos da fissão do urânio-235 já foram identificados mais de duzentos isótopos pertencentes a 35 elementos diferentes. Muitos deles emitem radiações α, β e γ, representando um risco à população e necessitando, portanto, ser armazenados em recipientes de chumbo e/ou concreto e guardados em locais seguros por tempo suficiente para que a radiação caia a níveis não-prejudiciais. Se o lixo nuclear não for armazenado corretamente, podem acontecer acidentes como o de Goiânia (GO) em setembro de 1987: a violação de uma cápsula de césio-137 por sucateiros resultou em quatro mortes e cerca de 250 pessoas tiveram problemas de saúde na época.

Um outro viés é a possibilidade de ocorrerem acidentes nas usinas nucleares e as conseqüências podem ser muito graves. O pior acidente ocorreu em Chernobyl, na Ucrânia, em abril de 1986. A explosão de um dos quatro reatores da usina lançou na atmosfera uma nuvem radioativa que atingiu todo o centro-sul da Europa. Estima-se que morreram entre 15 mil e 30 mil pessoas e aproximadamente 16 milhões sofrem até hoje alguma seqüela em decorrência do desastre.

A Constituição Federal do Brasil, em seu artigo 21, proíbe a utilização da energia nuclear para fins que não sejam exclusivamente pacíficos. A história da energia nuclear no Brasil teve início por volta de 1945, no final da 2ª Guerra Mundial. Apesar de pobre em reservas conhecidas de urânio, o Brasil era um grande exportador de monazita, um mineral radioativo. A primeira central nuclear brasileira, Angra 1, começou a ser construída em 1971, em Angra do Reis (RJ) e foi inaugurada em 1982. De um acordo com a Alemanha, foram propostas mais duas usinas: Angra 2, que começou a operar em 2000, após quase vinte anos de construção, a um custo de cerca de US$ 10 bilhões, e Angra 3, na qual, segundo números oficiais, já foram gastos US$ 750 milhões entre a compra e a estocagem dos equipamentos. O projeto de Angra 3 foi paralisado em 1992 por motivos econômicos, pois para entrar em operação, necessitaria de mais US$ 1,5 bilhão.

São inegáveis os benefícios que a radioatividade traz à humanidade. Porém, são inegáveis também os prejuízos à saúde e à paz que o emprego incorreto provoca. Por isso, a utilização da radioatividade deveria ser muito bem controlada e restrita a situações em que não existem alternativas.

Você quer saber mais?

http://www.comciencia.br/200408/noticias/3/energia.htm

http://www.greenpeace.org.br

VOCÊS ENTENDERAM? ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE PERGUNTAS NAS AULAS DE CIÊNCIAS.

Cristiane Camargo
Departamento de Metodologia do Ensino - UFSCar

As Ciências Naturais (que incluem a Biologia, a Química, a Física, a Geologia etc.) são, por sua natureza, atividades investigativas, que partem dos questionamentos feitos, há gerações, acerca dos fenômenos naturais.

Nada mais natural, portanto, que as aulas de Ciências fossem repletas de...”???”

Se você respondeu “perguntas” já deve ter entendido onde pretendo chegar.

Isso mesmo: as aulas de Ciências deveriam estar repletas de perguntas! Mas, ao contrário do que alguns possam pensar, refiro-me aqui às perguntas feitas pelo professor, não àquelas feitas pelos alunos que, estes, aliás, quanto menores e menos reprimidos pela escola, as têm de sobra.

Você pode estar se colocando diante da seguinte questão: não cabe ao professor perguntar e, sim, responder, já que, supostamente, é ele quem sabe mais e está ali para ensinar aos alunos?

Mas é neste ponto que se pode confundir o papel do professor com o de uma mera fonte de informações. Quero fazer aqui a importante observação de que o professor pode ser, também, uma preciosa fonte de informações, mas seu papel não deve se reduzir a este. Se entendermos o papel do professor como o daquele que deve criar as condições para a aprendizagem mais do que simplesmente transmitir informações, podemos compreender a importância de fazer perguntas em sala de aula.

As perguntas podem servir a muitos fins, ou não servir para nada, como é caso da tão velha e desgastada pergunta repetida pelos professores há séculos “Vocês entenderam?”. Salvo exceções, essa pergunta é invariavelmente acompanhada por um silêncio da classe com, talvez, algumas cabecinhas sinalizando respostas positivas com confiança que varia de nula a total ou, quem sabe, exibindo sinais de total perplexidade diante da questão.

Para servir como fonte de informação para o professor a respeito da aprendizagem, as perguntas devem ser mais objetivas do que isso, ou seja, devem ter um conteúdo objetivo, como por exemplo, quando o professor pergunta “Alguém pode me explicar de que forma as folhas de uma árvore conseguem obter a água que foi absorvida pelas raízes?”, ao invés simplesmente de perguntar “Vocês entenderam?”. Até porque, inclusive, é bastante provável que cada aluno tenha tido um entendimento parcial do assunto e, portanto, a questão “Vocês entenderam?” não pode ser respondida de forma simples com um sim ou com um não.

Ao ouvir as respostas de um ou mais alunos, o professor tem a possibilidade de identificar o que foi e o que não foi bem compreendido, pode explicar novamente, pode esclarecer ambigüidades, mal entendidos.

Mas não é só para verificar a aprendizagem que o professor pode fazer perguntas em sala de aula. Ele pode criar questões que funcionem como desencadeadoras dos processos mentais necessários à aprendizagem de um determinado assunto. São questões que estimulam os alunos a pensar sobre aquele assunto, a selecionar e relacionar as idéias que têm a respeito dele, a distinguir, dentre estas idéias, o que é relevante ou não, o que está correto ou não do ponto de vista da Ciência etc. Ao invés, por exemplo, de dizer aos alunos que os ambientes de água salgada são mais estáveis que os de água doce e, que, portanto, é mais comum encontrar formas larvais nos organismos marinhos, o professor pode, após explicar o que caracteriza a estabilidade/ instabilidade nestes ambientes, pedir aos alunos que relacionem estas características com a vantagem/ desvantagem adaptativa de passar ou não por um estágio larval. Munidos das informações necessárias, lembrando sempre que a transmissão de informações é sim parte muito importante do trabalho do professor, os alunos, provavelmente serão capazes de chegar à conclusão correta.

É interessante, para que as perguntas tenham maiores chances de alcançar este segundo objetivo, que o professor dedique algum tempo no preparo de suas aulas à elaboração das perguntas que pretende fazer. Algumas questões podem ajudá-lo nesta tarefa: o que eu quero que meus alunos aprendam?; quais idéias/ informações relacionam-se com o que quero ensinar?; eles já têm as informações necessárias?; como devem relacionar estas idéias/ informações?; quais raciocínios meus alunos podem seguir para chegar aonde pretendo?

Algumas perguntas interessantes também podem advir de um pouco de leitura sobre História da Ciência. Conhecer a história de como foram construídos os conhecimentos dentro de determinada área ou assunto específico pode ajudar a entender melhor a respeito dos processos mentais, que na verdade são construções coletivas, de produção do conhecimento.

Você quer saber mais?

Lorencini Júnior, A.; O ensino de Ciências e a formulação de perguntas e respostas em sala de aula. In: Cadernos de Textos da III Escola de Verão. Serra Negra, São Paulo: FEUSP, 1994, p. 128-137.