Por Lauro
Edison, 18 de
setembro a 27 de outubro de 2007
Esqueça a
Roza-Cruz, os Iluminatti, a Golden Dawn ou a Maçonaria. Os Nove Desconhecidos formam a
mais poderosa sociedade secreta do Universo. Poucos mitos são tão profusos em
especulações: da manipulação das massas às viagens na velocidade da luz, da imortalidade às
civilizações perdidas. E todas estas maravilhosas ideia sem nenhum apelo ao
misticismo.
Segundo a
versão principal da lenda, a ordem dos Nove foi fundada na Índia, em 246 a. C.,
pelo imperador Ashoka. Objetivo: tornar o conhecimento secreto; evitar que caia
em mãos erradas. E toda a sabedoria seria armazenada em nove livros,
constantemente atualizados e cada qual dedicado a uma ciência: psicologia,
gravitação e luz são três delas.
Sobre um
dos livros, Talbot Mundy escreveu: “uma única página tem segredos de propaganda
o suficiente para que um ladrão possa começar, prontamente, a sua própria
religião”.
Escondidos,
os Nove interviriam sutilmente no mundo, de tempos em tempos, conduzindo a
civilização por caminhos seguros. E muitos ocidentais, ao visitarem o Oriente,
teriam entrado em contato com eles, ou com instruções de algum dos nove livros,
e retornado com conhecimentos impressionantes.
Ora, e
quais ligações poderia haver entre tudo isto e, por exemplo, as estranhas
atividades de uma ilha perdida no pacífico? Obviamente, falo de Lost.
Eles sobreviveram à queda de um avião, mas se viram presos em uma ilha cheia
de eventos absurdos e, voilà, eis a trama mais
indecifrável dos últimos tempos! Lost provoca o espectador com
visões de mortos, sonhos proféticos e outros milagres, mas então despeja
hipóteses tecnológicas, sugerindo (muitas vezes de forma direta) que nada há de
realmente sobrenatural ocorrendo na ilha.
Uma
fachada de mágica e misticismo para aquilo que, na verdade, é a pura ciência
dissimulada, a técnica. Eis o que pode ser a ilha Lost.
Eis o que é a Lenda dos Nove Desconhecidos. E parece haver outras
conexões intrigantes entre estes dois universos. É fascinante ver um mito tão
remoto fazer contato, e de forma tão inesperada, com um dos melhores mitos
modernos.
Mas Lost seria
apenas a manifestação mais recente da lenda dos Nove. Seja fornecendo a cura da
cólera, guardando antigos projetos de vimanas ou enviando
gurus bizarros ao ocidente, os Nove dão as caras em várias ocasiões. As pistas
são péssimas. E as possibilidades, incríveis.
De
qualquer modo, seguiremos as pistas péssimas.
Então rastrearemos a origem do mito. Conheça,
enfim, a magnífica Lenda dos Nove Desconhecidos…
Materialismo e Espiritualismo
Uma
crença existente na humanidade desde tempos imemoriais de que existe uma segunda realidade para além do mundo físico. Seja metafísica, sobrenatural, plano divino,
mundo das ideias, o além, a esfera do espírito. Cada um o imagina de um
jeito, mas uma coisa é certa: é algo “não físico”, imaterial, intangível. É
onde moram os deuses, anjos e fantasmas (e o próprio diabo), e para onde vamos
quando morremos.
E materialista foi, por
exemplo, Tales de Mileto, pai da filosofia e ciência. Também o foram Demócrito,
Nietzsche, Darwin. Não é surpresa: são ocidentais, filhos do racionalismo grego
(embora mesmo este inclua uma maioria de espiritualistas, de Platão a Kant).
Mas seria estranho descobrir o materialismo entre os orientais, não? O Oriente,
afinal, parece o berço do mais fantasioso misticismo.
Será?
Quem quer
que tenha sido, o criador da Lenda dos Nove Desconhecidos pensa
diferente: nada de fantasmas, deuses ou milagres, apenas Ciência. O misticismo
prolífico das diversas tradições orientais – hinduísmo, budismo, confucionismo,
etc. – seria apenas um engenhoso disfarce, elaborado pela própria influência
dos Nove, para esconder tecnologia de ponta.
Enquanto
as outras sociedades secretas são ditas possuidoras de saberes místicos,
os Nove teriam a instigante característica de guardar um conhecimento
puramente racional, científico.
Mas os
Nove Desconhecidos não são Ciência, é claro. São paranoia, mito, teoria da
conspiração. São, talvez, uma amostra lúdica daquilo que a Ciência pode se
tornar nos próximos mil anos. E, se você possui uma mente excessivamente
aberta, esta lenda pode até – quem sabe, vá lá, de repente, quiçá, porventura –
se aproximar de alguma coisa real.
O
importante, e a razão maior de esta matéria existir, é: seja ou não um completo
disparate, esta lenda ilustra de modo simples aquilo que a Ciência não cansa de
mostrar, ou seja, que fantasmas e milagres são inúteis. O Universo físico é
mais fascinante do que você pensa. Além do quê, a simples ideias de um mito,
situado no Oriente, que nega explicitamente as conhecidas realidades místicas
orientais, é em si mesmo imperdível.
E por
mais absurdo que seja (e ele é muito!), seus absurdos jamais invadem o terreno
do sobrenatural. Eis o detalhe crucial. E não será isso algo espetacular?
Afinal, dizem que a Ciência e seu materialismo são áridos e desencantados. Mas
a Ciência também é absurda, pois o mundo é estranho. Lindamente estranho em
suas revelações e possibilidades. Quando se trata de fascinar e assombrar, é
realmente difícil superar os fatos. Duvido muito que a lenda dos Nove, ou
qualquer outro delírio inspirado, possa conseguir tal feito.
E, no
entanto, fugir do sobrenatural é um ótimo começo.
Por isso
estamos aqui.
Qual será
a origem deste tão improvável “mito sem misticismo”?
O
Despertar dos Mágicos
Há uma
exceção: os Nove Desconhecidos também são citados em um fórum. Onde? Na teoria
de um fã americano de Lost… Mas, fora isso, se você digitar “nine
unknown” no Google, será invariavelmente levado ao mesmo texto, repetido
dezenas de vezes por toda a web. É um excerto do livro O Despertar dos
Mágicos, escrito em 1960 por Louis Pauwels e Jacqües Bergier.
O livro é
uma introdução ao “realismo fantástico”: uma visão de mundo que, em nome do
entusiasmo, pretendeu buscar a verdade através de meios nada ortodoxos
(leia-se: indo além do método científico), abrindo a mente para todas as
possibilidades, mas tentando evitar o absurdo.
É difícil
fugir do absurdo quando se atropela o método científico, mas a obra de Pauwels
e Bergier está muito longe de qualquer delírio místico ou “new age”, destes que
infestam as bancas e livrarias, seja na seção de esotéricos, seja na dos mais
vendidos. Os “mágicos” de O Despertar dos Mágicos estão muito
mais pra cientistas do que pra gurus. “Magia” é tecnologia. E, é claro, a Lenda
dos Nove Desconhecidos é um exemplo perfeito, coroando um capítulo
chamado “A conspiração em pleno dia”, sobre sociedades secretas.
Não é
nenhum desfile de bizarrices. Sociedades secretas “comuns”, como Maçonaria e
Iluminatti, são descartadas como brincadeiras ridículas. E Pauwels avança para
uma tese engenhosa: quando a tecnologia se torna muito perigosa, é preciso
escondê-la.
Isto
esteve perto de ocorrer após a 2ª guerra mundial. De fato, houve uma
mobilização geral contra a tecnologia. Quando armas de destruição em massa
mostraram seu poder, autoridades cogitaram interditar a ciência pública. A ideia
era entregar o avanço científico a uma comissão conscienciosa, que decidiria,
sem riscos, que uso dar ao conhecimento.
E é aí
que entram os Nove Desconhecidos.
Pauwels
especula que, no passado distante, o avanço tecnológico teria sido alvo da
mesma necessidade de segredo, porque igualmente perigoso. E vai buscar
informações sobre os Nove, ao que parece, sobretudo no livro de Talbot
Mundy, The Nine Unknown. Como o próprio Pauwels diz (e talvez
aumentando), ele é “um misto de realidade e ficção”. Isto não ajuda a
credibilidade da lenda, mas, como veremos, quase chega a ser melhor que nada.
Mais
adiante, falaremos sobre Mundy e seu livro.
Antes, o
ponto de partida da história dos Nove: o imperador Ashoka.
O
Império de Ashoka
Tecnologia
perigosa: eis o que permitiu que Ashoka, por volta de 270 a. C., expandisse seu
Império, exterminando cem mil calinganeses em uma violenta e arrasadora
conquista na Índia. Isto faria dele apenas mais um Gêngis Khan, um Alexandre,
um Hitler. Mas Ashoka é historicamente famoso pela sua mudança: abandonou a violência
e, segundo Pauwels, “quis proibir para sempre aos homens que utilizassem a
inteligência de uma forma prejudicial”. A tática, adivinhe, foi tornar a
ciência secreta, fundando os Nove Desconhecidos.
Que
tecnologia Ashoka possuía? Basicamente, apenas a tecnologia de guerra. Uma
versão mais louca, no entanto, diz que o imperador deparou com destroços
impressionantes de uma guerra tecnológica ocorrida 20 mil nos antes. Por hora,
não importa. Em posse de conhecimentos devastadores, os Nove interviriam de
modo bastante sutil no mundo, poucas vezes deixando pistas.
O nome
“Ashoka” lhe é familiar?
Talvez
você tenha visto, na televisão, um dos recentes comercias da Ashoka
Empreendedores Sociais, uma organização mundial sem fins lucrativos, mas
que financia projetos profissionais de impacto social positivo. Começou, por
sinal, justamente na Índia, embora fundada por um americano. A origem do nome é
esclarecida no site da Ashoka do
Brasil. E a explicação é tão boa e concisa que preciso repeti-la aqui:
“Em
sânscrito – língua indo-européia de registro escrito mais antigo – Ashoka
significa ‘ausência de sofrimento’. Ashoka foi também o nome de um imperador
que governou a Índia durante o século III a. C. e é lembrado como um dos
maiores inovadores sociais do mundo. Depois de uma guerra pela unificação do
país, o imperador Ashoka renunciou à violência e dedicou sua vida à promoção do
bem-estar social, da justiça econômica e da tolerância. Em seu governo instituiu
serviços de saúde, lançou um amplo programa de abertura de poços, construiu
alojamentos para viajantes e plantou milhares de árvores para fazer sombra nas
estradas quentes e de muita poeira da Índia. Seus éditos, gravados em pilares
de pedra em todo o império, testemunham sua fé na ética como guia para a ação
pública.”
Tecnologia e bons propósitos,
afinal.
E, como
que para colocar minhocas na cabeça criativa dos paranoicos, o slogan deles
é: “todo mundo pode mudar o mundo”.
Mas os
empreendedores sociais nada dizem sobre “nove desconhecidos”, é claro. E, antes
que especulem, também não encontrei nenhum “9” escondido no site da
organização! Na verdade, os Nove não são citados em nenhuma história oficial do
imperador Ashoka ou da dinastia Mauryan, da qual ele fazia parte. A lenda foi
obviamente incorporada depois. Mas há uma pista de onde tudo começou, e que
depois nos levará a Lost: a difusão do Dharma.
É fato que
Ashoka enviou monges budistas pela Ásia e além, incluindo um de seus filhos,
para difundir os princípios do Dharma, isto é, o budismo. Não se distraia pelo
fato de Ashoka estar difundindo uma “religião”, pois o que “dharma” significa
é: “o caminho das verdades mais altas” ou “o princípio universal que rege toda
a realidade”. Trata-se (bem, faça um esforço, em nome da brincadeira) de puro
conhecimento racional, e o resto seria fachada.
Pois bem,
os monges eram dez, mas foram enviados a nove lugares.
A sugestiva lista a seguir saiu de um livro antigo chamado “Mahavamsa”. Eis
nossos primeiros “nove” (de muitos suspeitos):
1. Majjhantika
2. Mahadeva
3. Rakkhita
4. Yona Dhammarakkhita
5. Mahadhammarakkhita
6. Maharakkhita
7. Majjhima
8. Sona e Uttara
9. Mahamahinda (filho de Ashoka)
Não é
difícil imaginar alguém que, partindo destes “nove”, tenha criado uma versão
rudimentar do que, muito depois, viria a ser a rica mitologia dos Nove
Desconhecidos. Vamos a ela, afinal.
Os Nove Livros do Conhecimento
Este é,
quase com certeza, o aspecto mais instigante do excerto de O Despertar dos
Mágicos. E o fato é o seguinte: diz-se que cada um dos Nove Desconhecidos
era responsável por um livro, que conteria informações de uma determinada
ciência. Tais livros seriam constantemente atualizados.
Estes seriam os seus conteúdos:
Livro I
– Psicologia: técnicas de controle e
manipulação psicológica das massas, através da compreensão do funcionamento da
mente.
Livro II
– Fisiologia: como matar ou curar alguém
com um toque, por exemplo.
Livro III
– Microbiologia: cura de doenças e
engenharia biológica.
Livro IV
– Química: a alquimia (transmutação
dos metais) seria viável.
Livro V
– Comunicação: incluindo, talvez, os meios
corretos de telepatia.
Livro VI
– Gravitação: seria
possível controlar a gravidade.
Livro VII
– Universo: “a mais vasta cosmogonia
concebida pela nossa humanidade”, segundo Pauwels.
Livro
VIII – Luz: viagem e Invisibilidade.
Livro IX
– Sociologia: as leis que governam a
evolução das sociedades.
Estes
supostos nove livros se abriram a belas especulações. Ainda no excerto, diz-se que
o Judô seria resultado de “vazamento” de informações do Livro II. E
o Livro VI é muito citado, aludindo sempre à tecnologia dos
“vimanas”, isto é, as supostas máquinas voadoras da antiquidade que infestam a
narrativa do sagrado livro hindu, o Mahabharata.
Além da
já citada “técnica para fundar uma religião”, presumivelmente vinda do Livro
I, uma fonte remota (que ainda veremos) fala na possibilidade de que, com a
disciplina correta, seja possível desfazer a própria sombra: obviamente o Livro
VIII vem à mente. Como veremos, também não escapou à
atenção dos fãs de Lost a possível ligação entre estes nove
livros e os projetos de pesquisa financiados pela misteriosa Fundação
Hanso.
Voltaremos
aos livros durante o texto.
Manifestações dos Nove na História
Mesmo
para uma lenda, as “manifestações” dos Nove Desconhecidos são abusivamente
raras e esparsas. Era de se esperar que, para uma coisa inventada, ou sobre a
qual se pode inventar o quanto quiser, existiria um sem número de histórias,
versões e boatos. Mas só o que temos (?) é o que segue:
• 246 a.
C. – Ashoka funda os Nove Desconhecidos (como já vimos)
• 370 d.
C. (aproximadamente) – Pilar
de Ferro de Délhi
Até hoje,
na capital da Índia, existe um famoso monumento. É o Pilar de Ferro de Délhi,
erigido há mais de 1500 anos pelo imperador Chandragupta II Vikramaditya, da
dinastia dos Guptas. Ele resistiu à corrosão por todo este tempo, o que para
muitos é um mistério inexplicável – mas, ao que parece, não
para os especialistas. Seja como for, a obra é tida como exemplo da excelência
e da habilidade dos antigos indianos no processamento de ferro.
Por ser
um antigo mistério tecnológico em plena Índia, a coluna acabou sendo vagamente
associada à ação dos Nove Desconhecidos. E há um segundo motivo
óbvio. Tome fôlego: o imperador Chandragupta II, responsável pelo monumento, é
neto de Chandragupta I, fundador da dinastia dos Guptas. Mas este adotou o nome
de um imperador antigo que, 600 anos antes, unificara a Índia: era o
Chandragupta da dinastia Mauryan, exatamente o avô de Ashoka.
Conclusão
espalhafatosa: a Coluna de Ferro de Délhi foi
construída pelo neto do imperador que copiou seu nome do avô do fundador dos
Nove Desconhecidos (!). Talvez – e põe “talvez” nisso – haja alguma conexão
maior entre a dinastia Mauryan e a dinastia Gupta, “explicando” esta suposta
ação dos Nove na construção da coluna.
Ou é tudo
coincidência e delírio.
• 999 d.
C. – A
Cabeça de Bronze do Papa
Esta
Cabeça de Bronze tem mitologia própria e apenas resvala na lenda dos Nove.
Seria um aparelho capaz de responder “sim” ou “não” a qualquer pergunta. Em
algumas versões, seu funcionamento é mágico. O importante é que, em outras, o
funcionamento é mecânico! Entre seus supostos donos, constam nomes como Roger
Bacon, Alberto Magno e Boécio. Mas O Despertar dos Mágicos fala
apenas em Gerbert d’Aurillac, o Papa Silvestre II.
E não é
à-toa. D’Aurillac era cientista, e teve a fama de ultrapassar sua época. É
considerado o inventor do relógio mecânico. Tornou-se Papa no paranoico ano de
999. Pauwels o define como “um dos homens mais misteriosos do Ocidente”. Tudo o
que se diz é que, após uma suposta viagem à Índia, ele retornou com
conhecimentos impressionantes. Índia? Tecnologia? Obviamente foram os Nove
Desconhecidos!
Isto, ao
menos, é fato: d’Aurillac realmente fala da cabeça de bronze,
na Patrologia Latina, organizada por Migne. O que é de cair o
queixo é a afirmação textual do Papa de que a Cabeça de Bronze possui um
funcionamento baseado em “um cálculo feito com dois números”. Mesmo em 1960
isto fez Pauwels pensar em nosso moderno código binário de “0” e “1” da informática.
É a cara dos Nove, não? Pense no Livro V, da comunicação.
• 1875 – Louis
Jacolliot e o mistério das águas do Ganges
O rio
Ganges é um dos sete rios sagrados da Índia e, para os hindus, a vida não está
completa sem pelo menos um banho ali. Diz-se também que suas águas teriam
efeitos curativos. Agora imagine a enorme população da Índia e a corrida de
doentes a se banhar junto com pessoas saudáveis! O espantoso não é tanto a cura
dos doentes (que decerto nem ocorre), mas o fato de que os saudáveis não são
contaminados. Eis o mistério, se há algum.
O francês
Louis-François Jacolliot viveu muitos anos na Índia, chegando a ser cônsul da
França em Calcutá. Mas, por outro lado, escreveu muitos livros sobre os enigmas
da humanidade. Em 1875 escreveu Trois mois sur le Gange et le
Brahmapoutre, onde apresenta uma tese incrível: a água do Ganges é
continuamente esterilizada pela radiação, o que evita que as pessoas saudáveis
se contaminem com o banho dos doentes. De onde vem tal radiação? De um templo
secreto dos Nove Desconhecidos, enterrado sob o leito do rio!
O que
impressiona Pauwels, em O Despertar dos Mágicos, é que a ideia
de “esterilização por meio de radiação” só foi levada a sério um século depois
de Jacolliot escrever seu livro. Bem, para uma teoria da conspiração é melhor
que nada… Em outros livros, ao que parece, Jacolliot afirmou cabalmente a
existência dos Nove.
• 1890
– A. Yersin e a cura da cólera
A
história de A. Yersin é rápida e óbvia. Ele foi o bacteriólogo europeu que
descobriu a cura da cólera. Mas… Fez muitas viagens por toda a Ásia, inclusive
morrendo em sua casa, no Vietnã. Então, é claro, a cura da cólera lhe teria
sido fornecida pelos Nove Desconhecidos. Talvez tenha sido o próprio Jacolliot quem
disse isto: Yersin teria viajado a Madrasta em 1890, tendo recebido instruções
dos Nove sobre a peste e a cólera.
• 1923 – Talbot
Mundy publica “The Nine Unknown”
O livro
de Mundy não constaria da lista de “manifestações dos Nove” se Pauwels não
houvesse dito que se trata de “um misto de ficção e realidade”. Ficção porque
narra as aventuras de JimGrim, uma espécie de Indiana Jones com uma queda pelo
Oriente. Realidade porque, supostamente, há eventos-chave da narrativa que
possuem um fundo real.
Esta história
é um pouco mais longa.
William
Lancaster Gribbon (1879-1940), famoso como Talbot Mundy, foi um novelista
inglês, conhecido por narrar aventuras que se passavam no Oriente. Afinal,
Mundy trabalhou um certo tempo na polícia inglesa da Índia, se fascinando por
sua cultura. Seu nome é pouco conhecido no Brasil, mas ele teve grande
influência sobre Robert E. Howard, o criador de Conan.
O
livro The Nine Unknown (“Os Nove Desconhecidos”, sem
tradução para o português) foi publicado em 1923 e é, sem dúvida, a maior fonte
de informação de O Despertar dos Mágicos. É de lá que sai a ideia
dos nove livros, por exemplo. Mas antes precisamos conhecer o enigma por trás
do protagonista deste livro, isto é, o personagem JimGrim.
James
Schuyler Grimm (JimGrim) é o herói de várias novelas de
Mundy. Em suas primeiras aventuras, era um agente da inteligência britânica –
como um 007, por exemplo. Mundy afirmou que JimGrim era baseado numa pessoa
real. Especulou-se, então, que o personagem seria uma versão do próprio Mundy.
Aos poucos, porém, o 007 foi se tornando Indiana Jones. As aventuras de JimGrim
foram se deslocando para a Índia e ganhando aura de mistério, e The
Nine Unknown é uma das primeiras novelas nesta direção.
Qual a história contada em The
Nine Unknown?
Existe
uma enorme quantidade de ouro na Índia, mas é sabido não haver senão uma mina
em todo o país. De onde viria tanto ouro? Na narrativa, JimGrim vai justamente
tentar resolver este mistério – pense no Livro IV dos Nove,
sobre a transmutação dos metais.
O herói
descobre um certo “reverendo”, que passou 80 anos coletando livros na Índia,
obtendo conhecimentos proibidos e, por fim, chegando aos responsáveis pelo ouro
indiano, isto é, os Nove Desconhecidos – talvez Mundy tenha realmente conhecido
uma biblioteca abandonada deste tipo.
Mas,
mesmo no romance, os Nove são tão evanescentes que JimGrim jamais os encontra,
dando de cara apenas com imitadores – o que, por sinal, gerou a interpretação
de que Mundy estaria falando de outros Nove, voltados para
propósitos malignos. O autor, indo ainda mais fundo, acrescenta que os Nove
Desconhecidos podem remontar à cidade perdida de Atlântida – o que nos levará bem
longe, como você vai ver.
Sobre os
nove livros do conhecimento, Mundy escreve que “uma única página tem segredos
de propaganda o suficiente para que um ladrão possa começar, prontamente, a sua
própria religião; e um meio eficiente de resistir a uma hipnose maligna é
pensar em difíceis cálculos matemáticos”.
Como
autor de extensa matéria sobre os Nove Desconhecidos, vou tentar incrementar a
mitologia com pura especulação – que não será mais implausível do que a lenda
já é. Veremos se, com os anos, minha sugestão assumidamente inventada será
incorporada ao mito. É um teste. Vamos lá:
• 1963
– Auto-Imolação no Vietnã
Em
protesto contra o governo de Ngô Đình Diệm, que oprimia a religião budista, o
monge vietnamita Thích Quảng Ðức ateou fogo a si mesmo e queimou até a morte,
sem mover um músculo. Como ele conseguiu? Diz-se (?) que ele teria tido acesso
a instruções dos Nove Desconhecidos, em especial o Livro II, sobre
fisiologia, com técnicas sobre a total anulação da dor.
Os Nove
teriam interesse em lutar pela religião da qual seu fundador, Ashoka, era um
adepto entusiasta, e promoveram um mártir exemplar: após a morte, o monge Quảng
Ðức se tornou santo. É que seu corpo foi carbonizado pelo fogo, mas seu coração
se manteve intacto e, até hoje, pode ser visto em público para adoração. Golpe
de mestre contra Ngô Đình Diệm.
Os
Outros Nove
A ideia
de “nove entidades” que controlam o mundo, ou que são capazes de intervir nele
de forma crucial, é um tema que vai bem além da lenda de Ashoka. Há versões
gregas, egípcias, satanistas, hindus e modernas para o que, em geral, se chama
de “O Conselho dos Nove”.
Vejamos as outras possíveis origens dos Nove Desconhecidos:
• Versão
Grega – O Conselho dos Nove
Prometeu
ousou dar o poder do fogo aos humanos. Isto enfureceu Zeus. Todos conhecem este
mito. Prometeu foi amarrado a uma pedra e teve o seu fígado eternamente
devorado por uma águia. E a humanidade também foi punida. Zeus criou o
“Conselho dos Nove”:
1. Aphrodite
2. Apollo
3. Athena
4. Demeter
5. Hephaestus
6. Hera
7. Hermes
8. Poseidon
9. Zeus
Este Nove
presentearam a humanidade com a famosa Caixa de Pandora, tendo acrescentado que
a caixa jamais deveria ser aberta. No mito, como se sabe, é dito que a caixa
acaba sendo aberta, e dela saem todas as tragédias e males da humanidade. O
interessante é que, neste caso, a curiosidade é a vilã. É por causa dela que a
caixa é aberta, abrindo uma era de trevas no mundo.
• Versão
Hindu – Os Navnath (Nove Senhores)
Os nomes que você vê a seguir são os “nove senhores”, ou nove santos, da
linhagem Nath Sampradaya, da mitologia hindu. Esta última é muito importante, e
teria sido fundada pelo próprio Shiva. Já os “navnath”
seria uma de tantas ramificações secundárias. Mas como são hindus e são nove,
não poderiam faltar nesta matéria:
1.
Machindranath
2.
Gorakhnath
3.
Jalandernath
4.
Kanifnath
5.
Charpatnath
6.
Nageshnath
7. Bharatnath
8. Revannath
9. Gahininath
• Versão Egípcia
– A Ennead de Heliópolis
A
tradição egípcia parece ser formada por vários grupos de nove deidades, sendo o
principal deles a “Ennead de Heliópolis”, encabeçada pelo que seria o criador
do Universo, Atum. Este teria sido capaz da façanha de “criar a si mesmo” e,
talvez mais incrível, de ter gerado os demais deuses. Os demais deuses, agora formados, completariam a estranha
cosmogonia egípcia. O corpo de Geb, por exemplo, daria forma ao céu.
1. Atum
2. Shu
3. Tefnut
4. Nut
& Geb
5. Osiris
6. Isis
7. Nephtys
8. Seth
9. Horus
• Versão
“Moderna” – Os Nove Princípios
“E quando eu digo ‘Eu’, não sou eu,
mas é o grupo – porque sou um mensageiro dos Nove. Nós somos nove princípios do
universo, contudo junto nós somos um.”
As palavras do Dr. Vinod não precisam ser místicas. Pense no Livro
VI dos Nove Desconhecidos e todas as suas técnicas de
comunicação. Seja como for, as mensagens de Vinod atraíram um círculo de homens
poderosos, que acabou se reunindo para ouvir, e talvez obedecer, as instruções
dos “nove princípios”. E esses homens formaram uma espécie de contraparte do “Conselho dos Nove”.
A lista a
seguir é uma vaga tentativa. São os possíveis membros:
1. Dr. D. G. Vinod (veio da
Índia)
2. Andrija Puharich
3. Uri Geller (sim, o entortador
de colheres)
4. John
Whitmore
5.
Phyllis Schlemmer
6. “Bobby
Horne”
7. Lyall Watson
8. Ira Einhorn
9. Gene Roddenberry (criador da
série Jornada nas Estrelas)
É interessante notar o último
membro. A série Jornada nas
Estrelas é cheia de “spin-offs”(seriados
derivados). Um deles, sugestivamente, se chama Deep Space Nine.
Pior: em um episódio deste spin-off há
um personagem cujo nome é “Vinod”!
Em 1976 a
sonda Viking obteve uma imagem clássica do solo marciano: o famigerado Rosto de
Marte. Não apenas um rosto, mas pirâmides pareciam evidentes por todo o terreno
ao seu redor. Muita gente criativa logo imaginou: os responsáveis pelas
pirâmides do Egito e as marcianas são os mesmos.
Richard
C. Hoagland é, até hoje, um dos maiores entusiastas da ideia de “egipcismo”
marciano. Conspiração sobre conspiração, há quem diga que, neste ponto, ele teria
sido diretamente influenciado pelos Nove, encabeçados por Vinod. O que tudo
isto tem a ver com os Nove Desconhecidos de Ashoka?
A banda The Gak Omek parece ser a única entidade
no planeta, além de mim, que “percebeu” alguma conexão. Em seu disco, Return of the
All-Powerful Light Beings, deu às músicas nomes derivados
da conspiração. Uma delas era Dance
of the Nine Unknown Men (sim, “Dança dos Nove Homens
Desconhecidos”, mas a melodia é fantástica) e outra Cidonya, a região de Marte.
Mas vamos
ao suposto link:
Primeiro,
lembre que o Dr. Vinod veio da Índia. Segundo, lembre que Talbot Mundy falara
sobre uma origem muito remota dos Nove, remontando à cidade perdida de
Atlântida. Pois bem: uma fonte
nada confiável diz
que o livro sagrado dos hindus, o Mahabharata, falaria sobre uma
guerra entre Atlantes e o Império de Rama há 20 mil anos.
Já o
famoso manuscrito de Lhasa, em
sânscrito, sugeriria que este tal “Império de Rama” seria também uma
civilização avançada, capaz de construir veículos voadores (os tais vimanas do Mahabharata),
e que existiu na mesma época dos Atlantes, situada ao longo do que hoje é o
Paquistão e – adivinhe – a Índia. O resto teremos que “deduzir”.
Obviamente,
a guerra tecnológica entre as duas civilizações, há 20 mil anos, se deu em
plena Índia. Os destroços foram encontrados em 246 a. C. pelo imperador Ashoka.
Havia técnicas impressionantes, e toda uma grandiosa ciência, discerníveis ali.
Por exemplo, os segredos da gravitação, contidos no Livro VI,
teriam vindo de destroços de vimanas.
20.000 a.
C. – Uma
guerra tecnológica entre os Rama e os Atlantes deixa incríveis destroços na
Índia.
246 a. C.
– O
imperador Ashoka encontra os destroços. Talvez seguindo instruções, ou talvez
deliberadamente, funda os Nove Desconhecidos, com o objetivo de
tornar secreto aquele perigoso conhecimento – tudo seria guardado em nove
livros, constantemente atualizados.
370 d. C.
em diante – Os Nove
se manifestam esporadicamente. Criam a estranha Coluna de Ferro de Délhi,
entregam ao Papa uma cabeça falante que diz “sim” ou “não”, ajudam Yersin a
curar a cólera, ajudam Quảng Ðức a pegar fogo sem dor, entre outras coisas.
2003 – O seriado Lost apresenta
conexões interessantes com a lenda dos Nove Desconhecidos, como
veremos a seguir.
Conexões com a ilha de Lost
Fãs de
Lost: antes
de ler o que vem a seguir, é recomendável ler pelo menos a INTRODUÇÃO desta matéria, para melhor compreender os Nove
Desconhecidos. O texto a seguir é baseado, também, no universo expandido
de Lost, com informações do Lost Experience, por
exemplo.
Leigos em
Lost: o
texto a seguir entrega fatos das 3 primeiras temporadas do seriado. É
imperativamente recomendado (na verdade, é ordenado!) que você não ouse
estragar as surpresas da série. Se não viu as 3 primeiras temporadas de Lost,
pule este capítulo.
Tanto os Nove
Desconhecidos quanto Lost possuem uma fachada de
misticismo para algo que, talvez, seja pura tecnologia e ciência avançada. Não
é surpresa, portanto, que exista uma teoria para o mistério da ilha com base
na lenda dos Nove rolando entre os fãs. E, bem… Agora há duas.
O link
mais direto entre os Nove e a ilha misteriosa é o “Dharma”, isto é, “o único
caminho verdadeiro” ou “caminho das verdades mais altas”. Por um lado, o
objetivo do imperador Ashoka, o fundador dos Nove Desconhecidos,
era a difusão dos princípios do Dharma. Por outro, a série Lost nos
apresenta o ex-magnata das munições, Alvar Hanso, que fundou a Iniciativa
Dharma.
Ashoka e
Alvar Hanso têm algumas coisas em comum. Ambos usaram a tecnologia em nome da
guerra. Depois, abandonaram a violência para, em seguida, fundar organizações
secretas, destinadas a obter conhecimento científico e a usá-lo para o bem da
humanidade. E ambos estão envolvidos com “o único caminho verdadeiro”, isto é,
o Dharma.
Em Lost o
termo “Dharma” também é uma sigla, e aliás muito instigante: o seu significado
éDepartment of Heuristics And Research
on Material Applications, isto é, Departamento
de Heurística e Pesquisa em Aplicações Materiais. Dois termos se destacam:
“heurística” é o ato de descobrir coisas novas; e “materiais” obviamente nos
remete ao materialismo, e à ideia de que não há nenhum conhecimento místico nos
planos.
No seriado,
a Iniciativa Dharma foi criada com um propósito específico:
alterar a chamada Equação de Valenzetti, cujos valores são os famosos “4
8 15 16 23 42”, que representam, cada um, um aspecto do planeta e da vida. Esta
equação prediz o tempo que falta para o fim do mundo. Se os valores puderem ser
alterados, o mundo será salvo. Coincidência ou não, veja as contas que o
especial da Superinteressante sobre Lost publicou:
• Soma: 4+8+15+16+23+42 = 108
(1+0+8 = 9)
•
Multiplicação: 4x8x15x16x23x42
= 7418880 (7+4+1+8+8+8+0 = 36; 3+6 = 9)
•
Divisão: 4+8+15+16+23+42
divido por 6 = 18 (1+8 = 9)
Sugestivo?
Voltemos
à Iniciativa Dharma. Ela financia seis entidades de pesquisa, certamente
dedicadas ao objetivo maior de alterar os seis números da equação. E é
interessante compará-las com os nove livros da lenda. A hipótese é que,
precisando salvar o mundo, a Dharma estaria utilizando as valiosas informações
dos Nove Desconhecidos para basear suas pesquisas. Vejamos:
•
Iniciativa de Investigação Eletromagnética: está relacionada à anomalia
eletromagnética da ilha, situada na estação O Cisne. E a anomalia é
causada por um estranho efeito casimir que, em física, é o
modo de abrir brechas no espaço-tempo. Os livros sobre gravitação (VI) e luz (VIII),
dos Nove, podem ter ajudado na investigação.
•
Iniciativa de Previsão Matemática: busca prever tendências e eventos sociais
futuros, através de modelos matemáticos. A ideia de que a dinâmica social possa
ser captada através de alguma equação exata é estranha, mas está no Livro
IX, sobre as “leis que governam a evolução das sociedades”.
•
Instituto de Avanço Genômico: parece que este seria o equivalente moderno
do Livro II, que guarda os segredos da fisiologia. O
objetivo de ambos seria conhecer completamente o corpo humano.
• Prog.
de Desenvolvimento e Prevenção do Bem-estar Global: parece tratar da pesquisa de
doenças, especificamente. Pode indicar que, em Lost, as quarentenas
fossem pesquisas e os humanos, cobaias. A relação óbvia é com Livro III,
sobre microbiologia.
• Apelo à
Saúde Mental: o
nome diz tudo, e nos leva ao Livro I, sobre a manipulação das
massas “através da compreensão da mente”. Em Lost, talvez esteja
relacionado ao manicômio de Hurley e Libby. A tática da Dharma seria fingir
ajudar pacientes especiais, com fins de pesquisa.
• Projeto
de Extensão de Vida: muito
sugestivo. É possível que os Nove Desconhecidos não sejam trocados por substitutos
ao longo do tempo, mas tenham obtido meios de prolongar a vida (outra vez, Livro
II). E em Lost alguns personagens não estão envelhecendo.
Bem, hora
de pirar de vez: não é apenas a Iniciativa Dharma que possui vínculo com os
Nove. Há uma conexão mais profunda da ilha com as civilizações perdidas que, no
passado, possuíram tecnologia avançada.
Existe um
mistério que vai muito além de tudo o que vimos. Refiro-me a duas coisas que
não parecem relacionadas à Dharma: a estátua do pé com quatro dedos e a fumaça
negra da floresta. Já que estamos atrás de vestígios de alta tecnologia avançada
no passado da ilha, ambos caem como uma luva.
A fumaça
negra é, quase certamente, nanotecnologia avançadíssima.
E o pé…
ora, o pé tem quatro dedos! Representa uma outra espécie humana distinta.
Seja como
for, parece que ele existiu mesmo: a pintura do hatch, segundo alguns, ilustra
a tsunami que varreu o povo da ilha, destruiu a estátua e, além disso, trouxe o
navio Black Rock para o meio da selva.
O povo
não teria sido completamente extinto. As pessoas escutam uns sussurros
estranhos na selva, porém sem entender uma palavra. Talvez estejam ouvindo
alguma “conversa” de antigos habitantes no subsolo que, é claro, não seria em
inglês.
Agora que
providenciamos os antigos habitantes com tecnologia avançada, falta ligá-los ao
Egito. E, por ridículo que seja, podemos fazer isso: o contador da escotilha,
que retorna ao 108 (por sinal, um múltiplo de 9) sempre que o código é digitado
no computador, é nosso link. Assim que o código deixa de ser digitado, o
contador passa a mostrar hieróglifos, sem mais nem menos. Sim, foi
a Dharma que pôs aquilo lá. Mas eles pesquisaram a ilha antes de instalar-se.
Vai saber o que descobriram.
Por que a
ilha apresenta uma anomalia eletromagnética capaz de dobrar o espaço-tempo,
enviando um personagem ao passado e, talvez, causando outros distúrbios
temporais?
A teoria
“Nove/Lost“, então, fica assim: essa civilização humana
distinta que puseram pirâmides em Marte e no Egito, e forneceram tecnologia
para povos antigos, e deixaram todos os vestígios que há nela (fumaça negra,
anomalia eletromagnética, o pé de quatro dedos, etc). Milênios depois, Ashoka
encontra tecnologia de povos antigos e funda os Nove Desconhecidos. Estes,
atualmente, estão ligados à Iniciativa Dharma. E agora retornam à ilha, o lugar
mais propício à alteração de algum dos valores ambientais da Equação de
Vallenzeti.
Pra
finalizar, deixo a frase atribuída a Alvar Hanso, que sintetiza a ideia básica
que vejo por trás de Lost e da lenda dos Nove
Desconhecidos:
“Desde o
despertar de nossa espécie, o homem foi abençoado com a curiosidade. Nosso mais
precioso presente, sem exceção, é o desejo de saber mais – olhar para o que é
aceito como verdade e imaginar o que é possível.” – Discurso no Conselho de
Segurança da ONU, 1967
Conclusões
Um fórum perdido, nos confins da internet, fala
de antigos textos Yoga, relacionados aos Nove Desconhecidos, detalhando
“práticas de disciplina do self (a mente, o Eu)” – incluindo
um modo de “desativar” a própria sombra. Tudo seria feito através de técnicas
corporais, físicas. Isto é muito adequado
aqui: a mente, ou melhor, a consciência é um mistério para o
materialismo.
Pela
perplexidade que ela causa, os antigos lhe chamaram “alma” e afirmaram ser algo
“não-físico”, uma substância etérea que “permeia” o cérebro. Como, afinal,
nosso cérebro físico possui “experiência subjetiva”, isto é, consciência? Esta
pode ser a última fronteira da Ciência moderna. Tal como é descrito, o Deus
hindu bem poderia ser a própria consciência:
Armas não
conseguem cortá-lo,
fogo não
pode queimá-lo,
água não
consegue molhá-lo,
ventos
não podem secá-lo…
ele é
eterno e tudo permeia,
sutil,
imóvel e sempre o mesmo.
–
Bhagavad Gita, II:23-24
A
sugestão de que os Nove compreendem a mente e, por isso, são
capazes de coisas estranhas como desativar a sombra, é muito instigante. Do que
a Ciência será capaz quando compreender a consciência? Terá a mente ligação com
a luz? Ou com o espaço e o tempo? Explicará ela os universos paralelos e o
livre-arbítrio? E, é claro, estariam os Nove mantendo em segredo este
conhecimento espetacular?
Tanta
especulação desvairada sobre os Nove e, até aqui, ainda parecia faltar um
sentido maior em tudo. O segredo da consciência é um coroamento perfeito para
a Lenda dos Nove Desconhecidos: a fronteira final da visão
materialista por ela representada, e a esperança de que, ao compreendermos nós
mesmos e a nossa mente, as chaves do Universo se abram de uma vez por todas,
revelando todas as suas maravilhas.
É
impossível concluir este tour de force paranoico sem antes
citar as palavras insubstituíveis com que, em O Despertar dos
Mágicos, Louis Pauwels conclui o seu magnífico capítulo sobre
sociedades secretas:
“Afastados
das agitações religiosas, sociais e políticas, resoluta e perfeitamente
dissimulados, os Nove Desconhecidos encarnam a imagem da ciência calma, da
ciência com consciência. Senhora dos destinos da humanidade, mas abstendo-se de
utilizar o seu próprio poder, essa sociedade secreta é a mais bela homenagem
possível à liberdade em plena elevação. Vigilantes no âmago da sua glória
escondida, esses nove homens veem fazer-se, desfazer-se e tornar a fazer-se as
civilizações, menos indiferentes que tolerantes, prontos a auxiliar, mas sempre
sob essa imposição de silêncio que é a base da grandeza humana.
Mito ou
realidade? Mito soberbo em todo o caso, vindo das profundezas dos séculos – e
ressaca do futuro.”
Dos
navios aos astrolábios, da imprensa à anestesia: a tecnologia e a Ciência não
cessam de melhorar nossas vidas há pelo dois mil anos. Ainda assim a chama do
pensamento racional continua sendo hostilizada por inúmeras vertentes, de
correntes filosóficas insanas a apologistas da fé cega. E tudo isto no momento
mesmo em que os políticos parasitam um povo incapaz de reflexão e cientistas
dão a dádiva da visão a pessoas sem olhos.
O
pensamento racional é a nossa maior capacidade e esperança.
A Lenda
dos Nove Desconhecidos é, enquanto mito, uma celebração ao mesmo tempo
estranha e bem-vinda dos poderes da razão e da Ciência. Como qualquer teoria da
conspiração, é um disparate do começo ao fim – mas não precisamos misturar as
coisas, isto é, não precisamos acreditar na lenda. Basta apreciar o fato de
que, sendo mito, é um mito sem misticismo.
Sem
evocar fantasmas ou deuses, a lenda se abre para possibilidades materialistas
que, ao contrário do que dizem, nada têm de enfadonhas ou sem graça.
É claro
que a Ciência ainda não avançou tanto. Mas tampouco estamos falando de coisas
absurdas: átomos já viajam no tempo; a psicologia evolutiva vem explicando
padrões sociais com sucesso inédito na última década; a tecnologia de
invisibilidade foi capa da Scientific American recentemente;
anéis girando diminuem o peso de objetos em seu centro.
Não estou
dizendo que, por tudo isso, a lenda dos Nove pode ser real.
É outro o
objetivo desta matéria:
Apresentar
às pessoas um mito que, do mesmo modo que as brilhantes ficções científicas dos
séculos XIX e XX, tem o poder de inspirar, de fascinar a mente das pessoas com
possibilidades maravilhosas e, com isso, despertar-lhes o desejo de conhecer a
Ciência e o poder da razão, seja para proveito próprio, seja para, quem sabe,
ajudar a humanidade a concretizar sonhos.
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