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domingo, 7 de outubro de 2012

Processo civilizatório Andino

Mapa do Império Inca ou Tawantinsuyo. Imagem: La Naciones.


Segundo Garcilaso de La Veja, de todos os homens entre 25 e 50 anos, era cobrado o tributo em forma de trabalho, conhecido algumas vezes como mita. Essa prática também é anterior aos incas só que o tributo, que anteriormente deveria ser estabelecido e pago ao Kuraka (Chefe do ayllu (Célula primaria de sua organização política social e econômica))e à divindade local, passou a ser devido ao Inca e ao deus Sol. Por meio desse recurso, a administração inca podia empregar massiva mão de obra, fosse para abrir grandes canais irrigação, fosse para construir uma estrada, um templo, armazéns ou um palácio para os imperadores. Além disso, havia o serviço militar, cobrado pelo Estado, que convocava guerreiros dos quatro cantos do império para compor o poderoso exército incaico.

O império dispunha para seu uso e distribuição de uma enorme variedade e quantidade de produtos; para isso, utilizou antiquíssimos padrões e técnicas, muitas vezes herdados de povos conquistados, aplicando-os em diferentes ecossistemas: desde a desde desértica costa do Pacífico, passando pelas altas montanhas da cordilheira, até os Andes amazônicos, que se constituíram na principal fonte de produtos.

A diversidade de mercadorias do império era enriquecida por produtos de regiões além das fronteiras do Tawantinsuyo. Rotas comerciais possibilitavam trocas com povos de outros lugares do continente; é o caso da estrada conhecida como Peabiru, que ligava o sul do Brasil à região de Chuquisaca,  na atual Bolívia. Essa trilha foi percorrida no século XVI pelo aventureiro português Aleixo Garcia, que obteve um grande saque em objetos preciosos de origem andina; seu trajeto total é calculado em cerca de 3 mil quilômetros, e seu nome, de origem tupi-guarani, significa “caminho forrado” ou “caminho batido”.

 Guerreiro Inca. Imagem: Construindo História Hoje.

O conhecimento das técnicas para aumentar a produção agrícola e de alimentos foi sistematizado dentro de um universo mágico-religioso e expressou-se mediante uma ciência de caráter sagrado que, em vez de fragmentária e especializada com a ciência ocidental, se apresentava como integradora e holística, coerente com a visão xamânica na qual o universo assemelha-se a uma gigantesca teia de aranha e o agitar das asas de uma mosca faz sacudi-la toda.


Para sabedoria andina, é inútil discutir se algo é ciência, religião ou arte; tudo está interligado ao todo e é este conhecimento, chamado yachay, que buscavam adquirir e dominar os sábios do Império Inca, denominados amautas.

Misto de sacerdote, astrônomo, cientista, engenheiro, agrônomo, historiador, filósofo e geobiólogo, os amautas eram grandes depositários da ciência sagrada dos incas. Aplicando seu conhecimento para a edificação e excelência do império do império, foram esses sábios que possibilitaram aos incas se sair tão bem no que diz respeito ao abastecimento de sua enorme população, principalmente por seu trabalho nas terras agrícolas, que se estendiam para todo lugar em que pudessem plantar, até as encostas de montanhas e vales de desertos.

Nas terras de cultivo, os campos e terraços eram divididos em três partes, não necessariamente de tamanhos uniformes: uma parte era de usufruto e para o sustento da própria comunidade ou ayllu, que a trabalhou, enquanto as outras eram cultivadas uma para o imperador, O Inca, filho do Sol, e outra para seu pai, Tata Inti, o deus Sol.

O trabalho e uma parte da produção em troca dos benefícios oferecidos pelo Estado incaico (a segurança e garantia de abastecimento em tempos difíceis principalmente) se enquadram na lógica econômica reinante nas comunidades andinas: a troca e a reciprocidade.

É muito comum encontrar nos povoados andinos feiras ou mercados nos quais toda a população das redondezas se reúne para trocar diversas mercadorias e produtos.

Conhecida como yankay, a reciprocidade era associada também à ideia de trabalho e solidariedade. Esse princípio determinava a economia e muitas vezes estabelecia e formalizava as relações sociais, além de ser considerada uma regra presente na própria natureza. Todos buscavam se ajudar mutuamente na comunidade, principalmente no trabalho. Em mercados, os produtos eram trocados, pois não havia dinheiro. Nenhuma pessoa visitava a outra sem levar um presente, uma dádiva. A generosa natureza, Pachamama, também tinha de ser retribuída por suas dádivas e bens, daí a prática do pago que é uma oferenda feita à Mãe-Terra como reconhecimento e gratidão pelo seu amor – munay.

Portanto, dentro da lógica de que a troca e a reciprocidade são inerentes à própria vida, trabalhar nas terras do Inca e de seu pai, o Sol, seria coerente e um pagamento, justo em troca das vantagens e da segurança de pertencer ao Tawantinsuyo.

Mão de obra e alimentos constituíam o tributo que, administrado pelo Estado, garantia a opulência do imperador e da nobreza, além do abastecimento de todo o império, graças ao remanejamento e distribuição das reservas de alimentos nos armazéns estatais.
Pelos relatos recolhidos pelos cronistas espanhóis e mestiços, atribui-se ao imperador inca um plano mítico, uma missão sagrada: construir e manter um grandioso império agrícola.

Esse foi o projeto mítico planejado e executado pelos Filhos do Sol, que ficou conhecido como Tawantinsuyo, o Império Inca: um Estado agrícola que adotou uma política efetiva e dinâmica, sabiamente adaptada à natureza andina cuja finalidade era garantir o sustento de seus milhares de súditos, pelos quatro cantos do mundo.

Leandro Claudir

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Você quer saber mais? 

RIBAS. KA W. A Ciência Sagrada dos Incas. São Paulo: Madras, 2008.









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