Caboclo d'Água. Imagem: Nostalgia do Terror.
Caboclo d'Água
é um ser mítico, defensor do Rio São Francisco, que assombra os pescadores e
navegantes, chegando mesmo a virar e afundar embarcações. Para esconjurá-lo, os
marujos do São Francisco fazem esculpir, à proa de seus barcos, figuras
assustadoras chamadas carrancas. Outros lançam fumo nas águas para acalmá-lo.
Também são cravadas facas no fundo de canoas, por haver a crença de que o aço afugenta
manifestações de seres sobrenaturais.
Os
nativos o descrevem como sendo um ser troncudo e musculoso, de pele cor de
bronze e um unico, grande olho na testa. Apesar de seu tipo físico, o Caboclo
d'Água consegue se locomover rapidamente. Apesar de poder viver fora da água, o
Caboclo d'Água nunca se afasta das margens do rio São Francisco.
Quando
não gosta de um pescador, ele afugenta os peixes para longe da rede, mas, se o
pescador lhe faz um agrado, ele o ajuda para que a pesca seja farta.
Há
relatos de que ele também pode aparecer sob a forma de outros animais. Um
pescador conta ter visto um animal morto boiando no rio; ao se aproximar com a
canoa, notou que se tratava de um cavalo, mas, ao tentar se aproximar, para ver
a marca e comunicar o fato ao dono, o animal rapidamente afundou. Em seguida, o
barco começou a se mexer. Ao virar-se para o lado, notou o Caboclo d'Água
agarrado à beirada,
tentando virar o barco. Então o pescador, lembrando-se de
que trazia fumo em sua sacola, atirou-o às águas, e o Caboclo d'Água saiu dando
cambalhotas, mergulhando rio-abaixo.
"O senhô pode me creiá. Eu e
meus dois menino, numa pescaria, num pegamo um caboclo pro causa desta minha
careca. Eles três tavam numa canoa e, noutra, eu mais o fio mais novo, o
caçula, de uns dezoito janeiros de idade. Nisso, donde nós tava, nós escutou os
menino gritando demais. Nós remou depressa pra lá, mas quando já tava pertinho
de chegá nós ouviu eles gritá: "Sorta! Sorta! que é o velho nosso
pai". E nós viu, no escuro que fazia, o bicho rolar pra dentro d'água, maretando
o rio. Pois num foi que os bobos dos meninos deixaro se encantá a ponto de
confundi eu com o danado? Vendo a quereca dele lumiá na luz dos fachos, pensaro
que o bicho era eu e gritaram pra soltar. Encantado como eles ficou, até
esquecero que eu num era nenhum bocó pra ficar sem gritar com aquela amarração
que tinham fazido a rede, embaraiando o sem-vergonha." (J. A. Macedo,
1956).
O caboclo-d'água, também chamado
negro-d'água e bicho-d'água, é um dos mitos aquáticos mais populares na região
do vale do rio São Francisco. Ninguém sabe de onde surgiu. Vive nas barrancas e
alagadiços. Segundo as descrições mais comuns, é baixo, troncudo, musculoso,
muito forte, tem a pele cor de bronze e um só olho no meio da testa. Apesar de
seu tipo físico, movimenta-se de forma muito rápida e ágil. Às vezes sai do rio
e caminha pela terra, geralmente para praticar alguma vingança ou fazer algum
favor, mas nunca se afasta muito das margens. Para muitos, é um só e possui
poderes para estar em vários lugares ao mesmo tempo.
Dizem que possui o temperamento
enfezado e não nutre grandes simpatias para com os pescadores e remeiros.
Agarra o fundo das canoas e barcos, balançando-os até os virar ou
encalhando-os. Seu corpo é à prova de balas. Para evitar encontrá-lo, deve-se
fincar uma faca no fundo da embarcação. Porém, se for bem tratado, o caboclo
torna-se benfazejo, ajudando nas pescarias e evitando enchentes. Para
agradá-lo, basta oferecer-lhe fumo.
Você quer saber mais?
Ambrósio, Manuel.
Brasil interior; palestras populares, folclore das margens do São Francisco:
Januária, Minas Gerais, 1912. v.1, São Paulo, Nelson Benjamin Monção,
1934, p.60-61.
Cabral, Alfredo
do Vale. Achegas ao estudo do folclore brasileiro. Rio de Janeiro,
Ministério da Educação e Cultura / Fundação Nacional de Artes, 1978, p.61-63.
Cascudo, Luís da
Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro, Instituto
Nacional do Livro, 1954 | 9ª edição: Rio de Janeiro, Ediouro, sd.
Lima, Noraldino. No
vale das maravilhas. Belo Horizonte, 1925, p.160.
Lins, Wilson. O
médio São Francisco; uma sociedade de pastores e guerreiros. 3ª ed. São
Paulo, Companhia Editora Nacional; Brasília, Instituo Nacional do Livro, 1983
(Brasiliana, 377), p.121-124 < www.jangadabrasil.com.br/revista/novembro84/im84011b.asp
>
Macedo, J. A.
"O caboclo-d'água". Folha de Minas. Belo Horizonte, 2 de
dezembro de 1956.
Teixeira, José
Aparecido. Folclore goiano; cancioneiro, lendas, superstições. 3ª ed.
São Paulo; Brasília, Companhia Editora Nacional; Instituto Nacional do Livro,
1979 (Brasiliana, 306).
"O
caboclo-d'água". A Tarde. Juiz de Fora, 18 de abril de 1967
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