Cristo enviou os apóstolos
para pregar a proximidade do Reino com esta instrução: “Curai os doentes,
ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios” (Mt 10,8). Numa
outra oportunidade, contestando seus adversários, apresenta sua vitória sobre o
demônio como sinal da presença do Reino (cf. Lc 11,20). Segundo o Novo
Testamento, anúncio da chegada do Reino de Deus e expulsão do demônio se
confundem. Uma é efeito imediato e argumento irrefutável do outro (cf. Mt
12,22-32).
Inspirada na prática e
mandamento de seu Fundador, a Igreja, desde os primórdios, fez orações em favor
dos fiéis, visando protegê-los contra a influência do maligno e subtraí-los de
seu domínio (Hipólito de Roma, Tradição Apostólica, 42).
A ciência, no entanto, tem
demonstrado que , dos casos tidos como possessão diabólica, no passado, apenas
3% podem ser levados a sério. Daí a cautela da Igreja, nos últimos tempos, com
relação à prática do exorcismo. O Catecismo da Igreja Católica lembra que é
necessário proceder com prudência, assegurando-se, antes de celebrá-lo, se de
fato se trata da presença do maligno ou de uma doença (CIC 1673).
O Ritual de Exorcismo e
outras súplicas (...) é fruto de quinze anos de estudos e trabalhos. Na esteira
de toda a reforma preconizada pelo concilio do Vaticano II, apresenta o
exorcismo como celebração litúrgica, com participação ativa e consciente dos
fiéis. Pede que seja celebrado de tal forma que “manifeste a fé da Igreja e
ninguém possa considera-lo uma ação mágica e supersticiosa”. Atento aos
avanços da teologia que coloca as verdades dentro de uma hierarquia, o ritual
põe em primeiro plano a ação do Espírito Santo e celebra a vitória de Cristo
sobre as potências do mal. Alertado pelas conquistas ciência, pede
circunspecção por parte de quem vai exercer o ministério de exorcista, orienta
para transformar a celebração em espetáculo, proíbe a divulgação através dos meios de
comunicação e exorta a consultar “peritos em ciência médica e
psiquiátrica, que tenham senso das coisas espirituais”.
Do uso criterioso do* Ritual espera-se, portanto, a
superação de duas tendências opostas, ambas errôneas e muito frequentes entre
nossos fiéis.
A
primeira consiste num certo satanismo que vê presença
do maligno em toda parte, submetendo as pessoas à psicose do medo irracional do
demônio.
A
segunda tende a considerar o Diabo como personificação simbólica
do mal e não como indivíduo, agente pessoal e responsável por grande parte
deste mesmo mal.
O Espírito Santo de Deus nos
ajude a compreender cada vez melhor que toda ação litúrgica da Igreja é
celebração do mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Cristo,
expressão máxima da vitória sobre o demônio e desmoronamento de todo o seu
poder.
Brasília, 17 de novembro de
2004
Dom
Manoel João Francisco
Bispo
de Chapecó
Presidente da Comissão Episcopal
Pastoral para a Liturgia, da CNBB
*deste