Imagem: Zero
Hora. (Clique na imagem para ampliar).
Coiotes em Uruguaiana: imigrantes ilegais são aliciados para atividades
clandestinas entre Buenos Aires e SP. Máfias distintas estariam no
comando: uma exploraria a prostituição, e, a outra, usaria africanos
como mulas para o tráfico de drogas.
A mais importante ligação econômica do Mercosul, na fronteira oeste gaúcha, virou corredor do crime organizado sob o controle de quadrilhas internacionais de tráfico de pessoas.
A mais importante ligação econômica do Mercosul, na fronteira oeste gaúcha, virou corredor do crime organizado sob o controle de quadrilhas internacionais de tráfico de pessoas.
Saiba como os "coiotes" atuam na fronteira do Brasil com a Argentina.
Indícios apontam que imigrantes ilegais vindos do outro lado do mundo para tentar a sorte no Brasil e na Argentina e que passam por Uruguaiana e Paso de los Libres estão sendo aliciados para atividades clandestinas em algum ponto entre Buenos Aires e São Paulo. Nas duas cidades estariam os comandos dessas quadrilhas.
Essa
seria uma das razões para a surpreendente invasão de forasteiros nas duas
cidades da fronteira, fazendo prosperar redes de coiotes, responsáveis pela
travessia ilegal dos estrangeiros de um país a outro, sobre a ponte internacional
ou pelas águas do Rio Uruguai.
Embora
a maioria das respostas para esse fenômeno ainda seja desconhecida, suspeitas
levam a acreditar que o movimento de estrangeiros ilegais na fronteira é
coordenado por duas máfias distintas. Uma exploraria a prostituição de jovens
asiáticas e outra usaria africanos como mulas para o tráfico de cocaína e para
o contrabando. Parte deles se faz passar por vendedores de bijuterias.
Desde
março, quando o movimento migratório irregular se intensificou, em média 10
estrangeiros por mês são impedidos de ingressar ou mandados embora do Brasil
pela Polícia Federal (PF) em Uruguaiana. Mas o número de imigrantes ilegais
pode ser bem maior.
—
A gente vê que são uns 10, 12 por dia, indo e voltando da Argentina — diz um
taxista de Uruguaiana, que não se identificou.
Nos últimos cinco meses, em Paso de los Libres, a Gendarmeria (responsável pelo controle de fronteiras da Argentina) já flagrou 80 imigrantes ilegais vindo do Quênia, do Senegal, da Nigéria, de Burkina Faso, de Marrocos e da China. Há suspeitas de que fariam tráfico de pedras preciosas e diamantes introduzidos no corpo.
Nos últimos cinco meses, em Paso de los Libres, a Gendarmeria (responsável pelo controle de fronteiras da Argentina) já flagrou 80 imigrantes ilegais vindo do Quênia, do Senegal, da Nigéria, de Burkina Faso, de Marrocos e da China. Há suspeitas de que fariam tráfico de pedras preciosas e diamantes introduzidos no corpo.
—
Já escutamos isso, mas nada foi comprovado. É um dilema para nós. Alegam que
vendem semijoias, mas isso não rende muito e andam com boas quantias de
dinheiro — afirma o comissário-inspetor Ricardo Barboza, chefe regional da
polícia na cidade.
No
mês passado, um nigeriano teve roubados US$ 10 mil (cerca de RS 20.230). Na
sexta-feira, dois senegaleses, com documentação em dia, foram vítimas de
assaltante e perderam R$ 2,5 mil em pesos (cerca de R$ 1.250).
Cocaína lançada na Argentina é repassada depois ao Brasil
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Outros
dois homens vindos do Senegal e da Nigéria foram presos recentemente em Passo
de los Libres carregando, cada um, cerca de três quilos de cocaína. Um outro
africano abandonou uma mochila com documentos e quatro quilos de cocaína ao ser
parado na ponte.
—
Eles não têm trabalho, não têm profissão, não sabem ler e como têm dinheiro
para contratar advogados? — espanta-se Maria Eugenia Esquivel, secretária da
Justiça Federal na cidade.
Desde
a entrada em vigor no Brasil da Lei do Abate, em 2004, que permite a derrubada
a tiros de aviões que transportam drogas sobre o espaço aéreo brasileiro,
fardos de cocaína costumam ser arremessados no lado argentino da fronteira para
depois chegarem ao Brasil.
Entrevista:
"Do nada, pessoas não
caem em Uruguaiana"
O
combate aos crimes envolvendo imigrantes ilegais na Fronteira Oeste levou para
Uruguaiana a delegada Paula Dora. Atual chefe da Divisão de Cooperação Jurídica
Internacional da corporação em Brasília, Paula está à frente da investigação
para identificar e capturar grupos de coiotes e quem alicia imigrantes
clandestinos para cometer crimes.
Zero
Hora — O que está acontecendo em Uruguaiana?
Paula
Dora — Uruguaiana vive um movimento migratório entre Brasil e Argentina que
reflete a crise mundial. Estrangeiros procurando oportunidades de trabalho em
outros países, que, às vezes, por questões imigratórias, não têm documentação
regular, e acham mais fácil pagar um coiote.
ZH
— Em média são de 10 a 12 estrangeiros por dia cruzando a fronteira?
Paula
— É possível. A Argentina está se fechando para certas nacionalidades que estão
dando problemas, muitos apresentavam documentos falsos.
ZH
— Os coiotes estão se aproveitando disso?
Paula
— Claro. Quando a pessoa tem dificuldade de ingressar em um país, por causa de
barreira imigratória, a primeira coisa que ela pensa é usar o coiote. São duas
figuras diferentes: o que só atravessa a fronteira por meio de um pagamento de
R$ 30 e tchau. E os que integram organizações criminosas que utilizam essa
população flutuante, não documentada, para cometer delitos.
ZH
— Quantos grupos agem em Uruguaiana?
Paula
— Ainda não sabemos. O assunto está chamando a atenção, recebendo muitas
denúncias. No mês passado foram mais de 10, contra pessoas que estariam
envolvidas em várias atividades. E a partir delas, estamos investigando para
ver se chegamos a organizações dos dois tipos.
ZH—
Quais tipos?
Paula
— Os coiotes e os que exploram o trabalho dos imigrantes.