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domingo, 21 de julho de 2013

Efeito Lazaro. Parte I. Manter o cérebro resfriado após parada cardíaca pode permitir ressuscitação.


Uma solução interessante pode estar num aparelho chamado RhinoChill que dispara um líquido congelado de perfluorocarbono pelo nariz logo depois da parada cardíaca. Dessa maneira o que acontece é que é induzida de maneira controlada uma hipotermia que torna mais lento o metabolismo das células, prevenindo assim a liberação de moléculas tóxicas que podem causar dano permanente. Imagem: Fayerwayer.  

De volta à vida: médico afirma que é possível ressuscitar pacientes!

Especialista explica que a parada cardíaca não significa o fim, e que é possível restabelecer pessoas que passaram várias horas mortas. 

De acordo com Parnia, o segredo do procedimento é manter o cérebro resfriado para desacelerar o processo de decomposição. O especialista explica que, após a morte, apesar de o cérebro parar de receber oxigênio através da circulação, ele não morre imediatamente. Na verdade, o órgão entra em uma espécie de estado de hibernação, como forma de autopreservação.

Parece que foi justamente esse um dos fatores determinantes na “volta à vida” de Carol, paciente que ficou 45 minutos sem batimentos cardíacos — como no caso de Carol. Depois que os paramédicos foram chamados para atendê-la, seu corpo foi resfriado enquanto ela era transportada ao hospital. Outro procedimento envolve ligar os pacientes a uma máquina que mantém o sangue oxigenado e circulando — conhecida como ECMO ou oxigenação por membrana extracorpórea —, o que é padrão em alguns países.


sábado, 13 de julho de 2013

Presidente Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco


Posse de Castelo Branco. Imagem: Arquivo Pessoal CHH.

1-Introdução
           
Ao iniciarmos o estudo sobre a vida política do primeiro Presidente empoçado pela Revolução de 1964, Marechal Castelo Branco devemos analisar primeiramente os eventos que sucederam a sua posse. Desse modo poderemos ver com mais clareza a situação política nacional em que se encontrava nossa nação e os eventos que levaram há Revolução ou Golpe, dependendo do ponto de vista que são analisadas as questões pertinentes e de interesse nacional. Inicialmente analisaremos um curto governo de Jânio Quadro e após objetivamos esclarecer a política do governo João Belchior Marques Goulart (Jango) que muita indisposição causou nos membros da direita política e militar, devido a sua ligação com políticos socialistas e comunistas. Vale lembrar, que neste período, o mundo vivia o auge da Guerra Fria. Nesse contexto poderemos estudar os motivos que levaram as Forças Armadas a se oporem a posse dele como Presidente devido à renúncia do então Presidente Jânio Quadros. Sua posse só foi aceita pelos militares após a mudança do sistema político de presidencialista para parlamentarista, reduzindo dessa forma os poderes de Jango como presidente. A vitória do movimento civil-militar que derrubou João Goulart em abril de 1964 desferiu um golpe no projeto político da experiência republicana iniciada com o fim do Estado Novo, em 1945. Mas não foi um raio que desceu de um céu azul. Ao contrário, resultou de uma conjunção complexa de condições, de ações e de processos, cuja compreensão permite elucidar o que deixou então surpresos e perplexos não apenas os vencidos, mas também os próprios vencedores.

1.1- O Governo de Jânio Quadro

            Seu símbolo era a vassoura com a qual pretendia limpar o governo da corrupção, prega a defesa dos bons costumes e a moralização administrativa. O Presidente Jânio Quadros governou durante 7 meses e restabeleceu relações comerciais e diplomáticas com os países comunistas. Jânio Quadros como Presidente chegou a condecorar, no dia 19 de agosto de 1961, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul Ernesto Che Guevara. A política internacional que teve seu início no governo de Vargas foi dada continuidade e um aprofundamento no governo JK, foram dados continuidade pelo Presidente Jânio Quadros. Trabalhou em prol de um engrandecimento da política externa independente (PEI), que visava estabelecer relações com todos os povos, sejam socialistas ou da África. Restabeleceu relações diplomáticas e comerciais com a URSS e a China, algo impensável dentro do plano geopolítico e geoestratégico de inserção brasileiro. Dentro de seu governo realizou a nomeação do primeiro embaixador negro da história do Brasil. Era um defensor ferrenho da política de autodeterminação dos povos, condenando as intervenções estrangeiras. O Presidente Jânio Quadros renuncio em 25 de agosto de 1961 sob pressão dos ministros militares, devido a suas ações de proximidade a nações de política esquerdista como União Soviética, Cuba e China por acreditar estar expandindo o mercado externo, gerou desconfiança dos setores políticos mais conservadores. 

1.2- A Campanha da Legalidade

            Com a renúncia de Jânio Quadros abriu-se uma crise, pois os ministros militares vetavam o nome do Vice-Presidente João Goulart que achava em visita a China. Desse modo assumiu provisoriamente Ranieri Mazzili, presidente da Câmara. Grupos militares divulgaram manifestos contra a posse de Jango, alegando que ele teria ligações com o comunismo. Esses eventos levaram a reação imediata, sobretudo no Rio Grande do Sul, onde civis e militares uniram-se em defesa da legalidade: o governador Leonel Brizola ameaçou inclusive distribuir armas a população. Diante da iminência de uma guerra civil, os ministros militares aceitaram uma solução de compromisso: Jango poderia exercer a Presidência, desde que fosse adotado o regime parlamentarista, o que se fez mediante Ato Adicional à Constituição de 1946. No regime parlamentarista instituído, o presidente era o chefe de Estado, com funções protocolares, sem poder de governar de fato. Ele poderia indicar o primeiro-ministro – chefe do governo -, que deveria ser aprovado pelo Legislativo. Já no presidencialista, o presidente é chefe de Estado e chefe do governo, exercendo o poder Executivo de modo independente em relação ao Legislativo.

1.3 Jango chega ao poder

Após os eventos que se sucederam durante a Crise da Legalidade no dia 2 de setembro de 1960, o Congresso votou a emenda parlamentarista, assumindo a presidência João Goulart. Para Primeiro-Ministro, o Presidente João Goulart indicou, a 8 de setembro, Tancredo Neves, que organizou um Gabinete de coalizão.  Durante seu governo o pais viveu um período instável, com três primeiros ministros em menos de um ano e meio. Em 6 de janeiro de 1963, foi realizado um plebiscito, em que os eleitores escolheram a volta do presidencialismo. Com poderes restaurados João Goulart, adotou medidas reformistas, como o monopólio estatal sobre importação de petróleo e derivados e o controle da remessa de lucros ao exterior, além da criação do 13° salário para todos os trabalhadores. Em 13 de março de 1964, o presidente Jango assinou decretos que nacionalizavam as refinarias de petróleo e desapropriavam, para fins de reforma agrária, propriedades com mais de 100 hectares numa faixa de 10 quilômetros ao longo de rodovias e ferrovias federais. Essas medidas faziam parte do projeto das reformas de base, que incluíam também reforma eleitoral com voto para analfabetos, universitária e bancária dentre outras.

O Presidente João Goulart começou e prosseguia inflexivelmente, em suas políticas de tendências socializantes por meio do dispositivo sindical. Os grupos conservadores, entre eles a hierarquia da Igreja Católica Romana, mostraram as classes médias de que Jango queria impor uma República sindicalista, confiscar propriedades, abolir a religião, etc. As dificuldades econômicas também ajudaram, pois em 1964 a inflação chegava a 92%. A 21 de março de 1964, o Marechal Castelo Branco no posto de chefe do Estado-Maior do Exército, publicou um memorial em que acusava o governo de João Goulart de pretender implantar no Brasil um regime esquerdista. Declarando-se temerosos de uma solução final de esquerda, os generais Olímpio Mourão Filho, Carlos Luis Guedes, Justino Alves e Amauri Kruel, e os governadores Magalhães Pinto, Ademar de Barros, Nei Braga e Carlos Lacerda, desencadearam em 27 de abril de 1964, um movimento militar que em breve obtinha a adesão de unidades de outros Estados da Federação.

            A 1° de abril, sem apoio militar e preferindo abandonar a Presidência para evitar derramamento de sangue, Jango viajou para o Rio Grande do Sul, onde Leonel Brizola, agora deputado federal, pretendia organizar a resistência. À noite o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, Declarou vaga a Presidência e deu posse ao presidente da Câmara, Ranieri Mazzili. Jango estava deposto. No dia 4, exilou-se no Uruguai, onde falecera em 1974. Agindo rapidamente o comando militar, desmontou o dispositivo sindical em que se apoiava a linha política do Governo deposto.

1.4 Definições de Ditadura Militar

            Ditadura militar é uma forma de governo cujos poderes políticos são controlados por militares. O significado de ditadura se refere a qualquer regime de governo em que todos os poderes estão sob autoridade de um indivíduo ou de um grupo. No caso de uma ditadura formada por militares, estes chegam ao poder quase sempre através de um golpe de Estado. Um golpe de Estado liderado por militares significa que um governo legítimo é derrubado com o apoio de forças de segurança. Algumas ditaduras militares que não conseguem apoio popular são marcadas pela crueldade e pela falta de respeito aos Direitos Humanos nas perseguições aos defensores da oposição.

            Ditadura pode ser vista como um tipo de governo, onde o ditador possui poder e autoridade absoluta. Na ditadura, todos os poderes do Estado ficam concentrados em somente uma pessoa. É um regime antidemocrático e não existe a participação da população. Nos regimes democráticos, o poder é dividido entre Legislativo, Executivo e o Judiciário, e já na ditadura, não há essa divisão, ficam todos os poderes apenas em uma instância. A ditadura possui também vários aspectos de regimes de governo totalitários, ou seja, quando o Estado fica na mão apenas de uma pessoa. Geralmente, para um país tornar-se uma ditadura, ocorre um golpe de estado.

2- Marechal Castelo Branco

O Mal. Castelo Branco nasceu em Fortaleza, Ceará, no dia 20 de Setembro de 1897. Filho do General Cândido Borges Castelo Branco e Antonieta Alencar Castelo Branco. Seu nome completo era Humberto de Alencar Castelo Branco. Por parte de mãe era descendente do romancista José de Alencar. Aos oito anos foi estudar no Recife. Aos 14 anos estudou no Colégio Militar de Porto Alegre. Estudou também na Escola Militar do Realengo, quando se alistou em 1918, na IV Companhia de Estabelecimento, escolhendo a arma de Infantaria, onde se destacou como um dos mais brilhantes membros da Sociedade Acadêmica da Escola Militar sendo declarado aspirante em 1921. Estudou na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Armada, em 1923, como primeiro tenente. Frequentou a Escola do Estado Maior, ainda como primeiro tenente, concluindo o curso em dezembro de 1931, em primeiro lugar, com menção honrosa.

 General em 1962, foi promovido a marechal e transferido para a reserva dias antes de assumir a presidência da República. Militar de alta formação, fez todos os cursos superiores do Exército, além dos que realizou nos E.U.A e na França. Participou na Itália da II Guerra Mundial, como encarregado da Seção de Planejamento e Operações da F.E.B. No Brasil, exerceu, entre outros, os cargos de comandante do IV Exército, da Região Militar da Amazônia e chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, do qual fora dispensado pelo Presidente João Goulart (Jango), após tê-lo advertido quanto aos riscos de medidas comunistas no programa da ação governamental.

3- O Golpe Cívil-Militar de 1964

Na desordem que se seguiu à derrocada de Jango, houve uma espécie de disputa surda entre lideranças e dispositivos alternativos. Rapidamente o poder efetivo condensou-se em torno de uma junta militar, reunindo chefes militares das três Armas e que se autodenominara Comando Supremo da Revolução. Após compreendermos os eventos que levaram o Brasil a Revolução de 1964, falaremos agora sobre o primeiro Presidente Militar brasileiro, 26° presidente da República e 20° presidente da República, eleito indiretamente pelo Congresso Nacional a 11 de abril de 1964 e empossado 4 dias depois para completar o quinquênio 1961-1965, face à deposição do Pres. João Goulart pela revolução que, a 9 de abril do mesmo ano, instaurou a VII República com a outorga do Ato Institucional. Teve, contudo, seu mandato prorrogado até 15 de março de 1967, por força de emenda constitucional aprovada em julho pelo Congresso Nacional. Não sendo político, o Marechal Castelo Branco era, entretanto, conhecido por sua atividade militar. A primeira grande dificuldade enfrentada pelos vitoriosos foi definir um programa construtivo, uma identidade política positiva.

3.1- Repressões à política de oposição

            Todos os movimentos de oposição foram considerados subversivos e colocados na ilegalidade e seus membros foram presos. A UNE, CGT, MUT e Ligas Camponesas foram eliminadas. Extinguem-se os partidos políticos e define-se uma recomposição (ARENA – Aliança Renovadora Nacional, aliada ao governo e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, aglutinava políticos que fariam a oposição permitida ao governo).  

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A segunda morte de Castello Branco: Documento secreto obtido por ISTOÉ coloca sob suspeita investigações sobre desastre aéreo que matou o presidente. Promotor defende reabertura do caso. Foi atentado?


Imagem: http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/morte_castello_acidente.htm


A colisão aérea que matou um presidente da República e mudou o rumo da história política do País vai sair das sombras dos arquivos para ser reaberta à luz do dia, quase 40 anos depois. ISTOÉ teve acesso com exclusividade ao relatório secreto feito pelos oficiais do regime militar (1964-1984) sobre a queda do avião em que viajava o marechal Humberto de Alencar Castello Branco. Produzido pelo Serviço de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, datado de 21 de novembro de 1967, o documento de dez páginas jamais viera a público. Suas apurações repletas de falhas e conclusões superficiais fizeram com que o procurador da República Alessander Wilson Cabral Sales, do Ceará, entrasse com uma ação civil contra a União para obter informações mais detalhadas sobre o caso. “O Ministério Público não acredita que um acidente que vitimou um presidente da República tenha sido analisado de forma tão superficial”, diz ele. As falhas na apuração do acidente permitem a interpretação de que o que houve foi, de fato, a tentativa de acobertar um atentado – e não o de elucidar um acidente.

“Os militares construíram uma mentira”, definiu à reportagem o comandante Emílio Celso Chagas. “Esse caso tem de ser esclarecido. Ainda é possível.” Ele tinha 20 anos de idade e era o co-piloto do bimotor Piper Aztec PA 23 com sete pessoas a bordo. Tratava-se do marechal Castello Branco, quatro acompanhantes, o próprio Chagas e seu pai, Celso Tinoco Chagas, que pilotava o avião. À exceção de Chagas, que sobreviveu milagrosamente, todos morreram. O avião caiu na manhã de céu azul de 18 de julho de 1967. Foi abalroado em pleno vôo por um caça militar. Nas vésperas de morrer, Castello Branco anunciara a realização de um pronunciamento à Nação. Aguardava-se, na fala que não chegou a acontecer, um posicionamento do chefe militar sobre o destino do País. A tensão era crescente. Havia tortura nos quartéis, protestos civis fora deles e uma luta interna entre os militares da chamada linha dura contra a corrente dos moderados. Castello Branco fora escolhido pelos generais para ocupar a Presidência da República a partir do golpe militar de abril de 1964. Considerado um moderado, favorável até mesmo à volta do poder político às mãos de um civil, retirou-se do Palácio do Planalto em 15 de março de 1967. No processo sucessório, foi pressionado a passar a faixa presidencial para o general da linha dura Arthur da Costa e Silva. Inimigo de seu sucessor, Castello Branco estava resolvido a contra-atacar. Uma palavra pública dele contra Costa e Silva poderia rachar a tênue unidade entre os militares, aquecer os ânimos da oposição civil e, assim, sacudir a história.  



Como foi o acidente. Clique na imagem para ampliar. Imagem: http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/morte_castello_acidente.htm

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Balduíno IV, de Jerusalém, o Rei Leproso.


Balduíno IV na batalha de Montgisard, Charles Philippe Larivière (1798-1876). Imagem:  Arquivo CHH.

Esse jovem monarca, quase desconhecido na História, foi entretanto dos mais heróicos cruzados e protótipo de soberano virtuoso, comparável a São Luís IX.

Balduíno, filho de Amaury I de Jerusalém e de Inês de Courtenay, nasceu no ano de 1160 na Cidade Santa, Jerusalém. Apesar de o casamento de Amaury ter sido anulado por questão de parentesco, os filhos dele nascidos, isto é, Amauri e Sibila, foram considerados legítimos herdeiros da Coroa.

Um dia em que Balduíno brincava de guerra com outros meninos de sua idade, seu preceptor notou que, enquanto os demais gritavam quando eram atingidos, ele parecia nada sentir.

Perguntando-lhe a razão disso, o menino respondeu que os outros não o feriam, e por isso não manifestava dor e não gritava. Mas, reparando o preceptor em suas mãos e braços, percebeu que estavam adormecidos.

O rei foi informado e mandou vir os melhores médicos, que ministraram emplastros, ungüentos e outras medicinas à criança, sem alcançar entretanto resultado algum. Era o começo de uma doença que iria progredir à medida que Balduíno fosse crescendo.

Em suma, esse menino tão belo, tão ajuizado e já tão sábio fora atingido por um mal terrível, que se revelou logo: a lepra, que lhe valerá o trágico cognome de o Leproso.

Dificuldades: doença, divisão interna e Islã

Com a morte prematura de Amaury, Balduíno foi aclamado rei aos 13 anos. Nessa época ele era um adolescente encantador, o mais cultivado dos príncipes de sua família, “dotado de uma grande vivacidade de espírito, se bem que gaguejando ligeiramente como seu pai, e de uma excelente memória”, escreve seu historiador e preceptor, Guilherme de Tiro(1).

“O reino desse infeliz jovem, de 1174 a 1185, não foi senão uma longa agonia. Mas uma agonia a cavalo, face ao inimigo, toda enrijecida no sentimento da dignidade real, do dever cristão e das responsabilidades da coroa nessas horas trágicas em que o drama do rei correspondia ao drama do reino”(2).

Com efeito, o clima deste era de insubordinação, muitos procurando seguir apenas seus interesses pessoais. Foi essa funesta divisão entre os cristãos que levou, pouco depois, à perda de todos os reinos que haviam sido conquistados pelos cruzados na Palestina.

Já aos 15 anos e leproso, derrota islamitas

De 26 de junho a 29 de julho do ano de 1176, o sultão Saladino assediou a cidade de Alepo. Balduíno IV, que na ocasião contava apenas 15 anos e a lepra não havia ainda minado suas energias, partiu em socorro daquele bastião cristão, coadjuvado pelo Conde de Trípoli, Raimundo III.

Juntos, conquistaram grande vitória sobre os muçulmanos.

“Assim, mesmo sob o reino do pobre adolescente leproso, mesmo em presença da unidade muçulmana quase inteiramente reconstituída, a dinastia franca da Síria manteve os inimigos em cheque. Apesar de sua enfermidade — logo ele não viajará mais senão em liteira —, Balduíno IV, precocemente amadurecido pela dor, demonstrou uma força de alma diante da qual a História deve se inclinar com respeito”(3).

Progredindo a lepra, Balduíno viu a necessidade de assegurar sua sucessão. Para isso só havia suas duas irmãs, Sibila e Isabel. Esta última era filha do segundo casamento de seu pai.

Sobre Sibila, a mais velha, repousava em particular o futuro da dinastia, pois, segundo o costume do país, seu esposo seria rei de Jerusalém.
A escolha do esposo recaiu sobre o príncipe piemontês Guilherme Longa-Espada, um dos mais nobres da Cristandade, primo do Imperador Frederico Barbarroxa e do Rei da França, Luís VII.

Tal casamento, que se realizou em 1177, foi efêmero, pois Guilherme faleceu três meses depois, deixando sua jovem esposa à espera de um herdeiro, o futuro Balduíno V. Esse nascimento póstumo, trazendo como conseqüência para o reino uma nova regência, só poderia enfraquecê-lo ainda mais.

Enquanto isso, Balduíno IV apressou-se em renovar a aliança com o Imperador bizantino Manuel Comeno para, juntos, invadirem o Egito.

As circunstâncias pareciam favoráveis, em virtude das hostilidades que Saladino estava sofrendo na Síria naquela ocasião. Entretanto, como a lepra impedia Balduíno de comandar a expedição, ele ofereceu o comando ao Conde Felipe de Alsácia, que se encontrava em Jerusalém com seus homens.

Mas este, para surpresa geral, não aceitou o convite. Julga-se que Felipe queria suceder ao rei leproso, sendo seu primo. Sua recusa fez fracassar a aliança e comprometer ainda mais os interesses cristãos na Terra Santa.

Fé e heroísmo: causas de vitória inimaginável

Em 1177 Balduíno, cedendo às instâncias do Conde de Flandres, emprestou-lhe grande parte de suas tropas para que este tentasse uma expedição contra Hamas. Sabendo que Jerusalém estava assim desguarnecida, Saladino reuniu todas suas tropas para invadir o reino cristão.

A situação neste era trágica. Balduíno não dispunha senão de 500 cavaleiros. Por outro lado, o Condestável Onfroi de Toron, que o podia ajudar na direção da defesa, caiu gravemente doente.

Nessas circunstâncias quase desesperadas, o jovem rei leproso foi heróico. À aproximação do inimigo, reunindo tudo que podia encontrar de combatentes, saiu com a relíquia da Santa Cruz e chegou a Ascalon.

Mandou uma ordem a Jerusalém e a todo o reino, convocando todos os homens capazes de portar armas a reunirem-se a ele. Mas, quando o reforço se aproximava da Cidade Santa, foi capturado por Saladino.
Julgando-se já dono da situação, o sultão ismaelita permitiu que suas tropas se dispersassem, pilhando, matando, fazendo prisioneiros por toda parte.

Ébrio pelo sucesso, Saladino mostrou-se de uma crueldade inaudita. Mandou reunir os prisioneiros e lhes esmagou a cabeça.

Certo de que os francos estavam reduzidos à impotência, o sultão protegeu-se atrás das muralhas de Ascalon, quando viu aparecer subitamente o rei leproso e seu pequeno exército. Foi no dia 25 de novembro de 1177.

Tinham eles anteriormente perseguido os muçulmanos esparsos, derrotando-os.

Após a batalha, ação de graças no Santo Sepulcro

Os cruzados caíram como um raio sobre o exército de Saladino.

“Ágeis como lobos, ladrando como cães, atacaram em massa, ardentes como a chama” (4), com a relíquia da Santa Cruz à frente, portada pelo bispo de Belém.

Os cristãos tiveram a impressão de que a Cruz crescia até tocar o céu. O cronista siríaco Miguel, Patriarca da Igreja jacobita, contemporâneo dos acontecimentos, assim descreveu a milagrosa batalha de Montgisard:

“O Senhor teve piedade dos cristãos. Todo mundo tinha perdido a esperança, porque o mal da lepra começava a aparecer no jovem rei Balduíno, que enfraquecia, e desde então cada um tremia.”

“Mas o Deus que fazia aparecer sua força nos fracos inspirou o rei doente. O resto de suas tropas reuniu-se em torno dele.”

 “Ele desceu de sua montaria, prosternou-se com a face contra a terra diante da Cruz e rezou com lágrimas. À vista disto, o coração de todos os soldados se enterneceu.”

“Eles estenderam todos a mão sobre a verdadeira Cruz e juraram jamais fugir; e, em caso de derrota, olhar como traidor e apóstata quem fugisse em vez de morrer.

“Montaram de novo nos cavalos e avançaram contra os turcos, que se regozijavam, pensando já os ter derrotado.”

“Vendo os turcos, de quem a força parecia um mar, os francos deram-se mutuamente a paz e pediram uns aos outros um mútuo perdão.” Em seguida engajaram a batalha.

“No mesmo instante o Senhor fez cair violenta tempestade, que levantava a poeira do lado dos francos e a lançava no rosto dos turcos.”

“Então os francos, compreendendo que o Senhor havia aceito seu arrependimento, tomaram coragem, enquanto os turcos deram meia-volta e fugiram. Os francos os perseguiram, matando e massacrando durante o dia todo”(5).

Somente a fidelidade dos mamelucos salvou Saladino de morte certa.

sábado, 6 de julho de 2013

Sociopatas/Psicopatas. Eles estão entre nós? Parte V.


Um sociopata da infância a idade adulta, acompanhe a história de Skip. Imagem: Arquivo CHH.

*Skip é baseado em um personagem real, mas seu nome e imagens não relata o personagem verdadeiro.

“Skip concluíra que, no mundo dos negócios, poderia facilmente dominar o jogo e divertir-se usando seu talento inato e sua capacidade de encantar as pessoas e levá-las a fazer o que ele queria se tornou bem mais refinada.”

Chegamos à última postagem da sequência de 5. Nos três primeiros textos abordamos da sociopatia/psicopatia, suas características, se há ou não distinções entre elas, o modus operandi dos psicopatas e diversos meios de manipulação utilizados pelos mesmos para “caçar” suas vitimas. Desmistificamos a criação hollywoodiana do psicopata assassino para o psicopata assassino social, aonde mesmo que 90% dos psicopatas nunca matem ninguém, eles vivem a destruir sonhos e vidas das mais diversas formas imaginais. Em nossos estudos vimos que não existe uma profissão, religião, etnia, pois eles somam 4% da população total, mas mesmo diante de parecer ser um percentual pequeno perto dos 94% de humanos que são conscientes e possuem empatia pelos seus semelhantes, os psicopatas fazem um estrago imenso para toda a humanidade, principalmente se ocupam cargos de liderança. Como anunciado na postagem anterior estudaremos agora a história da vida de Skip, uma criança brilhante e bonita como repetiam seus pais e amigos deles e até seus professores, mas o que não sabiam é que Skip não era como o restantes das pessoas, Skip não possuía consciência, era desprovido de empatia e capaz de tudo para conseguir seus intentos e é o que veremos que fez tanto na infância como em sua vida adulta.

A família de Skip tinha um chalé ás margens de um lago nas colinas da Virgínia, onde Skip passou todos os verões de sua infância. Ele aguardava ansiosamente as férias na Virgínia. Não havia muito que fazer por lá, mas a atividade que inventara era tão “divertida” que compensava a falta de animação geral.  Mesmo sendo brilhante ninguém entendia o porquê das notas baixas ou por que, chegada essa fase, demonstrava tão pouco interesse pelas meninas. O que eles não sabiam é que desde os 11 anos Skip saia com meninas mais velhas, dispostas a ceder aos elogios e ao sorriso charmoso de Skip. Quanto as notas, Skip era mesmo bastante inteligente – poderia só tirar 10 -, mas para tirar 5 não era preciso fazer esforço algum, então se contentava com isso. De vez em quando, até conseguia um 7, o que o deixava surpreso, visto que nunca estudava. Os professores gostavam dele. Pareciam quase tão vulneráveis a seus sorrisos e elogios quanto às meninas, e todos estavam convencidos de que o jovem Skip faria o ensino médio num bom colégio – e depois entraria para uma faculdade decente, apesar de suas notas. Os pais tinham muito dinheiro, eram milionários, como diziam as outras crianças. Em várias ocasiões quando tinha cerca de 12 anos, Skip se sentou à escrivaninha que os pais haviam comprado para ele num antiquário para tentar calcular quanto dinheiro herdaria quando eles morressem. Baseava esses cálculos em alguns demonstrativos financeiros roubados do escritório do pai. Os papéis eram confusos e incompletos, mas, mesmo não conseguindo chegar a um valor exato, Skip não tinha dúvida de que um dia seria muito rico.

Ainda assim, ele tinha um problema. Passava a maior parte do tempo entediado. Nenhuma das coisas que o entretinham – nem mesmo sair com as garotas, enganar os professores ou pensar no seu dinheiro – o satisfazia por mais de meia hora. A fortuna da família era o entretenimento mais promissor, porém ainda não estava sob o seu controle – afinal, ele era uma criança. Não, a única coisa capaz de aliviar seu tédio era a diversão que o esperava na Virgínia. As férias eram época boa. No primeiro verão, aos 8 anos, ele simplesmente retalhou os sapos com uma tesoura, por falta de outro método. Descobrira que podia pegar uma rede na cabana de pescaria e capturar facilmente os sapos nas margens lamacentas do lago. Segurava os animais de barriga para cima, cortava-os e depois tornava a virá-los para observar aqueles olhos viscosos e burros se apagarem enquanto os animais sangravam até morrer. Em seguida atirava os corpos no lago, o mais longe possível, gritando para os sapos mortos: “Bem feito para você, seu sapo idiota!” Havia muitos sapos naquele lago. Skip podia passar horas a fio os matando e ainda assim sobravam centenas e mais centenas para o dia seguinte. No entanto, ao final daquele primeiro verão, o garoto decidiu que poderia fazer melhor. Estava cansado de retalhar os animais. Seria incrível mandá-los pelos ares, arrumar alguma coisa para explodi-los. Então bolou um plano realmente bom. Na cidade onde morava, conhecia alguns garotos mais velhos e sabia que um deles costumava viajar coma família para a Carolina do Sul todo mês de abril, nas férias de primavera. Skip ouvira dizer que lá se podiam conseguir fogos de artifício com facilidade. Mediante um pequeno suborno, Tim compraria alguns fogos para Skip e os traria escondidos no fundo da mala. Ele teria medo de fazer isso, mas, graças à lábia de Skip – e à quantia certa de dinheiro -, acabaria concordando. No verão seguinte, Skip não usaria uma tesoura, e sim rojões. Encontrar dinheiro em casa não foi problema e o plano funcionou perfeitamente. Naquele mês de abril, Skip conseguiu 200 dólares para um tipo de rojões que vira anunciado numa revista, e mais 100 dólares para subornar Tim. Quando finalmente pôs as mãos na caixa ficou encantado. A marca que ele tinha escolhido era a que trazia a maior quantidade de fogos em cada caixa e eles eram pequenos o bastante para caber perfeitamente – ou – quase- na boca do sapo.

Naquele verão, Skip enfiou os artefatos, um por um, na boca de cada sapo capturado, acendendo os pavios e jogando os animais para o alto, na direção do lago. Às vezes também deixava no chão o sapo prestes a ser detonado, saía correndo e, de longe, assistia a explosão. As imagens eram incríveis – sangue, muco, luzes e, às vezes, um barulho e estrelinhas coloridas. O resultado foi tão formidável que ele logo começou a desejar uma plateia para apreciar seu talento. Certa tarde, convenceu Claire, sua irmã de 6 anos, a acompanhá-lo até o lago, deixou que ela o ajudasse a capturar um sapo e depois, na frente da menina, explodiu o animal no ar. Claire soltou um grito histérico e correu de volta para casa o mais rápido que pôde.

No entanto, havia muito tempo que seus pais tinham percebido que Skip não era o tipo de criança fácil de se controlar e que, por isso, os confrontos precisavam ser cuidadosamente escolhidos. A questão dos fogos não era um problema que valesse a pena ser discutido. Nem mesmo depois que Claire foi correndo contar que Skip estava explodindo sapos. A mãe colocou o volume do aparelho de som da biblioteca no máximo e Claire tratou de esconder sua gata, Emily.

Skip é um sociopata. Não tem consciêncianenhum senso de obrigação baseado em ligações afetivas – e, como logo veremos, sua vida adulta fornece um exemplo esclarecedor de como uma pessoa inteligente mas sem consciência pode ser. Amoral e indiferente, estará ele destinado a ser marginalizado pela sociedade?  Será que vive ameaçando, rosnando e talvez até espumando, já que lhe falta uma característica humana tão fundamental? É fácil imaginar que Skip cresceu e se tornou um assassino. Quem sabe não matou os pais para ficar com a herança? Talvez ele tenha morrido ou esteja apodrecendo numa prisão de segurança máxima. Esses finais parecem prováveis, mas nada disso aconteceu de verdade. Skip continua vivo, nunca matou ninguém, pelo menos não diretamente e- até hoje – jamais viu o interior de uma cadeia. Pelo contrário, embora ainda não tenha recebido sua herança, é um homem bem-sucedido, mais rico que um rei. Se você o encontrasse num restaurante ou na rua, veria um sujeito igual a qualquer outro homem de meia-idade bem cuidado, vestindo um terno caro.

Como é possível? Ele se regenerou? Melhorou? Não. Na verdade, ficou ainda pior. Tornou-se o Super Skip. Com notas boas o bastante para ser aprovado, ainda que sem louvor, somadas ao charme pessoal e à influência da família, Skip foi aceito numa boa escola de ensino médio em Massachusetts, causando aos pais certo alívio, tanto pela admissão quanto por seu relativo distanciamento de suas vidas. Os professores ainda o achavam carismático, mas a mãe e a irmã já sabiam que ele era manipular e estranho. Claire, sua irmã, ás vezes comentava que “Skip tem uns olhos esquisitos”, e a mãe a olhava com uma expressão derrotada, indicando que não queria tocar naquele assunto. Mas praticamente todas as outras pessoas o viam apenas como um rostinho bonito.

Quando chegou o momento de ir para a universidade, Skip foi aceito na mesma instituição em que o pai (e antes dele seu avô) estudara, onde ganhou a reputação de “festeiro” e “conquistador”. Formou-se com as notas medianas de sempre e ingressou numa faculdade de menos prestigio para fazer um MBA, pois concluíra que, no mundo dos negócios, poderia facilmente dominar o jogo e divertir-se usando seu talento inato. As notas não melhoraram, mas sua capacidade de encantar as pessoas e levá-las a fazer o que ele queria se tornou bem mais refinada.

Aos 26 anos, foi trabalhar na Arika Corporation, uma empresa produtora de equipamentos para explosão, perfuração e carregamento usados na prospecção de minério. Sempre nos momentos certos, tinha um olhar azul intenso e um sorriso contagiante e, para os novos patrões, parecia ter um talento quase mágico para motivar a equipe de vendas e influenciar clientes.

Skip, por sua vez descobriu duas coisas:

Primeira: manipular adultos instruídos não era mais difícil do que tinha sido convencer seu amigo Tim a comprar fogos de artifício na Carolina do Sul;
Segunda: mentir, de uma forma cada vez mais sofisticada, era tão simples quanto respirar.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Sociopatas/Psicopatas. Eles estão entre nós? Parte IV.


Um psicopata dentro de casa. Imagem: Arquivo pessoal CHH.

Até aqui abordamos algumas características, personalidades e inclusive a origem da sociopatia/psicopatia e a distinção ou não por parte dos especialistas entre ambas. Agora trarei relatos de pessoas que conviveram com sociopatas/psicopatas no seu dia a dia e levaram os traumas desse encontro por toda sua vida.

Um psicopata dentro de casa

Hannah, uma moça jovem de 22 anos teve seu pai preso por matar um homem. Seu pai havia sido diretor de uma escola pública do bairro de classe média em que ela foi criada. Ele aparentava ser um homem extremamente agradável que naturalmente atraía as pessoas com suas palavras, adorado pelos alunos, professores e praticamente todo mundo na pequena comunidade. Hannah era filha única, e desde pequena seu pai lhe dizia que ela poderia ser o que quisesse mesmo sendo menina, ela poderia escolher a profissão que quisesse. Que as meninas podiam ser médicas. Hannah entendia essa frase que lhe era repetida pelo pai; Hannah você pode ser médica! Quando seu pai foi levado a julgamento pelo assassinato de um homem, toda a cidade compareceu ao julgamento. As pessoas ficaram lá sentadas chorando, sentido pena dele.   
 
O homicídio ocorreu numa noite de março quando Hannah que cursava o segundo ano do ciclo universitário básico, visitava os pais durante as férias de primavera. A altas horas da madrugada, ela acordou com um barulho muito alto do lado de fora. – Mais tarde descobrirá que tinha sido um tiro. Hannah se levantou sonolenta, para saber o que estava acontecendo e viu a mãe de pé junto à porta da frente, chorando angustiada. Assim que a mãe viu Hannah, agarrou, como se tirasse a filha da frente de um trem em disparada, e gritou para que ela não saísse de casa.

Depois de algum tempo seu pai entrou em casa, passando pela porta escancarada, e se aproximando da mulher e da filha que estavam abraçadas. Ele não estava com a arma na mão à jogara fora em algum lugar. Vestido apenas a calça do pijama, ele se postou diante da sua pequena família. Seu pai parecia bem. Meio ofegante, mas não dava a impressão de estar assustado.

Aos poucos Hannah descobriu o que acontecera. Mais cedo naquela noite horrível, a mãe, ouvira um barulho vindo da sala, como o de copos quebrando, e acordara o marido. O pai de Hannah levantou e pegou a caixa com a arma do armário do quarto, destrancou-a e carregou o revólver. Sua esposa lhe implorou que apenas chamasse a polícia. Ele nem sequer respondeu, limitando-se a rosnar uma ordem: “Fique aqui!” Ainda praticamente no escuro, ele se dirigiu a sala. Ao vê-lo, ou mais provavelmente, ao ouvi-lo, o assaltante fugiu pela porta da frente. O pai de Hannah saiu em seu encalço, atirou pela porta da frente atingindo-o na cabeça, matando o invasor na hora. O assaltante caiu na calçada entre o gramado e o meio-fio, o que, tecnicamente, significa que o pai de Hannah atirara em um desarmado no meio da rua. Nenhum dos vizinhos saiu de casa. A polícia atendeu prontamente a chamada.

Nas semanas que se passaram o episódio despertou o interesse da mídia local. O crime ocorrera num subúrbio tranquilo de classe média. O assassino era um homem comum sem histórico de violência. Não estava bêbado nem usava drogas. A vítima era um delinquente conhecido, viciado em drogas, que, pouco antes de ser morto, tinha invadido a casa quebrando uma janela. Houve um longo julgamento depois de uma apelação. No final, o pai de Hannah foi condenado a 10 anos de prisão por homicídio doloso. A notícia de que um diretor de escola havia sido condenado a 10 anos de prisão por matar um ladrão no gramado de casa causou grande comoção e polêmica.

Enquanto passava por tudo isso, embora pareça impossível, Hannah ainda frequentava a faculdade, tirava notas altas e se candidatava à especialização em medicina, coisa que o pai, apesar de todos os problemas, insistia que ela fizesse. Seu pai lhe dizia mesmo na cadeia que não iria permitir que a vida de Hannah fosse destruída por toda aquela “estupidez”, como chamava. Hannah conseguiu ser aceita em quase todas as faculdades de medicina a que se candidatou, apesar do problema pai na cadeia. Parecia que tudo aquilo como a própria Hannah afirmava, lhe ajudará a ser admitida. Ele (seu pai), “era uma causa a ser defendida”.

Mas havia algo mais que havia passado por Hannah. Por que seu pai atirou? Por que simplesmente não pôs o homem para correr? Será que talvez o pai de Hannah, o chefe de família, o diretor de escola de classe média fosse um assassino! Aos poucos foi se montando o retrato de um pai e indivíduo frio, cujas ações cruéis e controladoras. Esse homem via a bela esposa e a filha brilhante mais como troféus do que como seres humanos, em geral ignorando-as por completo quando adoeciam ou, por qualquer outro motivo passavam por um período difícil. Quando Hannah estava na quarta serie sua professora mandou-lhe um bilhete para casa dizendo que ela não estava fazendo os temas. Seu pai ficou duas semanas sem falar com a própria filha. Quando uma espinha apareceu no rosto de sua filha quando ela estava no ensino médio, ele ficou três dias sem falar com Hannah e nem olhava para ela. Ele via a filha apena como um objeto a ser exibido, se apresentasse defeito não servia mais. Quando Hannah era criança sua mãe ficou gravemente doente e passou três semanas internadas devido a uma pneumonia. Seu pai não foi visitar sua mãe no hospital nenhuma vez sequer durante toda a internação e, quando sua esposa voltou para casa, encontrou-o zangado e nervoso, preocupado porque a mulher, pálida e enfraquecida, “podia não recuperar a beleza”.