Autor:Roberto Carlos Simões Galvão
Bacon foi amigo do Rei Jaime I e do Duque de Buckingham. Sempre próximo ao poder, o filósofo tomou assento na Câmara dos Comuns em 1584, como representante de um pequeno Distrito. Sob o reinado de Jaime I, foi nomeado Lorde Conselheiro (1616), Lorde Guardião (1617) e Lorde Chanceler (1618).
Mesmo ocupando cargos públicos, Bacon nunca abandonou a vida intelectual. Ele acreditava ser necessária uma revolução implacável nos métodos de pesquisa e pensamento de seu tempo e também uma revolução no sistema de ciência e de lógica. Para o pensador inglês, o erro dos filósofos gregos foi ter dedicado muito tempo à teoria e pouco à observação.
Em 1620 Bacon publicou sua obra máxima sob o título de Novum Organum (Novo Instrumento), numa clara contraposição à obra Organon de Aristóteles, a quem chamara de “detestável sofista”.
Anteriormente ao pensamento de Bacon prevaleciam, comumente, concepções e métodos teológicos. Os teólogos partiam de dogmas religiosos e pressupostos metafísicos e deduziam conclusões. Bacon comparava os teólogos e lógicos medievais a aranhas que teciam lindas teias de saber, admiráveis pela delicadeza do fio, mas sem conteúdo ou finalidade.
O pensador inglês contestou a afirmação medieval de que a verdade poderia ser elucidada através de pouca observação e muito raciocínio. “Os homens, até agora, pouco e muito superficialmente se têm dedicado à experiência, mas têm consagrado um tempo infinito a meditações e divagações engenhosas”, afirmava Bacon.
Naquela época o estudo da natureza estava prejudicado pela busca incessante das causas finais. O único método que poderia ajudar o homem a dominar a natureza, segundo Bacon, seria o método empírico indutivo.
Na história do pensamento filosófico foram desenvolvidos diferentes métodos de abordagem e estudo, perante o desafio que representava o acesso ao conhecimento. À luz do empirismo (do grego empeiria, que significa: experiência dos sentidos) o conhecimento da realidade se reduz à experiência sensorial que temos dos objetos. Portanto, a experiência é o critério ou a norma da verdade.
As idéias de Bacon e sua defesa da experimentação e do método empírico representam os alicerces da ciência moderna. Para o autor do Novum Organum, a ciência é uma ferramenta para a criação de novo conhecimento que pode ser usada para promover avanços no bem-estar e no progresso do ser humano. Com efeito, o grande mérito de Bacon está em ter percebido os obstáculos existentes no caminho do progresso das ciências.
O filósofo inglês ensinava que os sentidos do homem são infalíveis e representam a fonte de todo o conhecimento válido, quando guiados pelo método científico. Ele fez a apologia do método experimental, propondo a indução como recurso necessário para se atingir os princípios mais gerais dos fenômenos naturais. O método indutivo parte sempre de fatos específicos, particularizados e observáveis, suficientemente catalogados e enumerados, para se chegar a uma conclusão geral, universal.
Será através do estudo e da observação dos casos particulares que se chegará às verdades mais gerais e, nesse processo, a experimentação se faz imprescindível. O “profeta da técnica”, como Bacon fora chamado, f ez da experimentação a base de seu método, sem, entretanto, prescindir da razão.
O processo de indução não visa outra coisa senão estabelecer a causa dos fenômenos naturais, ressaltando a necessidade de que sejam constatadas as teorias através dos seus resultados. Tal método caracteriza, ainda hoje, o processo da ciência experimental.
Diferentemente do método indutivo, a dedução é um método de raciocínio lógico que pressupõe existirem proposições universais, pré-determinadas, que servem de premissas básicas para se chegar à verdade nos casos específicos e particulares. Se alguém deduz algo, o faz a partir de um dado qualquer que poderá ser uma premissa, alguns pressupostos, um dogma ou verdades irretorquíveis. A dedução finda com a elaboração de um argumento plausível. O método dedutivo parte de premissas e termina em uma conclusão. Entre as premissas e a conclusão há um número de afirmações intermediárias, que são questionadas até que se assegure, ou não, a sua aceitabilidade. Aos poucos, e por meio das afirmações que vão sendo aceitas, chega-se a uma conclusão final.
O objetivo buscado por Bacon era o poder sobre a natureza. O conhecimento da natureza era a fonte deste poder. A observação, a investigação e a experimentação seriam o único método para alcançar o poder e o domínio sobre a natureza. Para nosso autor o conhecimento representava o poder.
Como é sabido, foram muito importantes as invenções resultantes de descobertas acidentais, como a bússola, a pólvora, o telescópio e a imprensa. A pretensão de Bacon estava, justamente, em substituir este acidentalismo por um plano preestabelecido. Como demonstram as inúmeras aplicações das Ciências com as quais convivemos, seu objetivo foi alcançado. Ele é considerado o pai do método experimental.
Sir Francis Bacon desmistificou a realidade e propôs à sociedade o domínio do mundo ao seu redor, construindo os alicerces da ciência moderna.
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FIKER, Raul. O conhecer e o saber em Francis Bacon . São Paulo: Nova Alexandria, 1996.
JAPIASSU, Hilton. Francis Bacon: o profeta da ciência moderna. São Paulo: Letras & Letras, 1995.
http://www.mundodosfilosofos.com.br/bacon.htm