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domingo, 20 de setembro de 2020

Distributismo, o caminho do meio entre capitalismo e socialismo.

 


Significado do símbolo do Distributismo. Antes nascer São Domingos Gusmão (1170-1221), sua mãe, em sonho misterioso, viu um cão que trazia na boca uma tocha acesa, que irradiava luz sobre o mundo inteiro. Esse relato, presente na L.A. – a Legenda Áurea - e consagrado na historiografia de São Domingos, está relacionado com a etimologia do nome: uma denominação comum assumida pelos dominicanos era domini cane, os cães de Deus ou cães a serviço do Senhor.

Boa tarde, mentes ávidas do amanhã. Recentemente um amigo me falou, sobre um sistema político-econômico que seria uma via do meio entre socialismo e capitalismo. Fiz uma pequena pesquisa sobre o assunto, e trago agora para a apreciação dos amigos.

Leandro Claudir Pedroso

É uma teoria política e econômica inglesa que foi elaborada primeiramente pelo historiador francês Hilaire Belloc (1870-1953), sistematizado a teoria em seu livro The Servile State (1913). Sua principal característica é se opor ao capitalismo e o socialismo em defesa da propriedade privada e de uma autêntica concepção de liberdade, e uma visão conservadora do mundo O principal propagador das ideias distributistas foi o famoso escritor inglês Gilbert Keith Chesterton (1874-1936). Uma curiosidade importante, é que podemos encontrar na obra de John Ronald Reuel Tolkien muito das ideias de Chesterton e Hilaire na trilogia “O Senhor dos Anéis” aonde passa de forma sutil muitas ideias distributistas. A própria filha de Tolkien, Priscilla Anne Reuel Tolkien, afirma que seu pai era aprofundado nos trabalhos de Chesterton e Hilaire Belloc. 

Seria uma espécie de "terceira via" pois se opõem ao capitalismo e o socialismo. Considerando tanto um quanto o outro, faces de uma mesma moeda, pois ambos são concentradores de propriedade: o primeiro a concentra nas mãos de alguns poucos indivíduos, o segundo nas do Estado. Em 1926 surgiu a liga distributista, um movimento intelectual que visava fundamentar às bases das ideias da restauração da verdadeira propriedade privada, segundo pronunciou Chesterton no discurso inaugural. Sendo ele mesmo eleito o primeiro presidente da liga.

Belloc em seu livro The Servile State crítica o capitalismo por deixar os meios de produção limitados a uma pequena parcela da população, e a grande maioria da população no sistema capitalista é formada por proletários que constituí a característica da servidão capitalista e presença de uma legislação que defende direitos e privilégios aos que possuem meios de produção.

1-    Proletariado, servidão capitalista.

2-    Legislação que defende direitos e privilégios aos que possuem meios de produção.

No capitalismo os trabalhadores são obrigados a venderem sua mão de obra,  este comercio por mão de obra está presente em toda a vida do sujeito e de forma coercitiva, criando uma ideia de que todos que se opõem a está visão de mundo são vagabundos, chegando a coerção pelos poderes do Estado. Com salários baixíssimos os proletariados não conseguem tornar-se proprietários de meios de produção. Sendo assim, a mobilidade social no dito sistema, quase nula, muito semelhante ou em alguns aspectos iguais a da Idade Média.

Para Belloc a descentralização dos meios de produção é o caminho para libertar o proletariado, pois acabaria com a concentração dos meios de produção que são os responsáveis pela servidão do povo. Sendo então por raciocínio lógico a propriedade privada distribuída como único caminho para a liberdade. Sendo o povo proprietário de meios de produção, estes teriam protegidas suas liberdades individuais, protegendo-o da escravidão, servidão, coerção e opressão do Estado ou dos grandes proprietários.

Para o distributismo não existe liberdade ou democracia sem a distribuição da propriedade, pois um homem sem posses é um homem dependente e destituído de poder.

Gustavo Corção, um escritor chestertoniano, afirmava em seu livro "Três Alqueires e uma Vaca" (1961), que a ideia central é a da defesa da pequena propriedade e da pequena empresa contra o gigantismo, que já no seu tempo ameaçava a sociedade, e que no nosso tornou-se uma calamidade declarada. Afirmava o direito à posse, não como uma concessão, mas ousadamente, como outorgado por Deus; admitia o capital enquanto indispensável reserva, mas não admitia, de modo algum, o capitalismo, porque a principal característica desse regime a seu ver está na raridade e não na abundância do capital (...) o capitalismo é, de fato, contrário à ideia de posse. Considerando o capitalismo nas suas origens e causas, estudando o ambiente do liberalismo e apreciando o fenômeno de dissociação entre o conceito de posse e o de responsabilidade moral, concluímos que o capitalismo foi gerado por um desregramento da propriedade e da liberdade (...) a hipertrofia da ideia de posse tornou-se uma atrofia; a livre competição degenerou em privilégio. Se o direito de posse é um direito comum não pode ser um privilégio. Logo, o capitalismo como tal, de fato, é uma negação do direito à propriedade privada.


“...Se não restaurarmos a Instituição da Propriedade, não poderemos escapar de restaurar a Instituição da Escravidão.”

Hilaire Belloc

No distributismo encontramos proteção ao individuo e a comunidade, dando ao povo liberdade e responsabilidade por meio da difusão do direito a propriedade privada, mas baseada no pequeno negócio e não em grandes empresas e latifúndios, fundamentada na ideia que o artesanato é superior a produção em massa, e na descentralização do poder por meio de governos locais mais fortes em detrimento do um poder central.

Foi em 1893 que o então Papa Leão XIII articulou a relação entre propriedade e justiça no mundo moderno. O capitalismo se baseia em duas ideias: que o rico sempre será rico o bastante para empregar o pobre; e que o pobre sempre será pobre o bastante para querer ser empregado pelo rico. A paralisia dentro deste sistema é inevitável. Capitalismo é uma contradição.

Dale Ahlquist, presidente da American Chesterton Society, declara que a solução preferida de Chesterton é a de que a maioria dos negócios se torne pequenos negócios. Onde os amplos negócios fossem necessários, eles deveriam pertencer aos empregados, os quais deveriam ser direcionados por um guia, combinando as suas contribuições e dividindo os seus resultados. Ele acredita que pequenas lojas podem ser governadas – mesmo que sejam governadas por si mesmas. Ele acredita que pequenas lojas podem ser sustentadas – se as apoiarmos. Distributismo é democracia, baseada na propriedade. Democracia pode funcionar somente se a propriedade for expandida. Democracia significa autogoverno. Propriedade significa autossuporte. Numa sociedade Distributista, pessoas produzem e usam seus próprios bens, fazem as suas próprias leis e não são dependentes de estranhos.

Isso significa tomarmos extraordinário controle sobre as nossas próprias vidas; pararmos de ser escravos assalariados e consumistas; sermos justos, livres e esperançosos. “A finalidade do homem político”, diz Chesterton, “é a felicidade humana. Mas isso não significa que estamos obrigados a nos tornarmos ricos, ou atarefados, ou mais eficientes, ou mais produtivos, ou mais progressivos. Nós não estamos obrigados a ser qualquer dessas coisas se elas não nos fizerem mais felizes”.

Para você que acha isso muito utópico cito um trecho do trabalho presente no site da Distributist Review: Isso tudo não é muito utópico?

Não, o Distributismo é um sistema prático, que é validado por vários exemplos de empresas Distributistas em funcionamento; em pequena escala, existem milhares de empresas baseadas em casa e de posse dos seus trabalhadores, bancos de microcrédito, cooperativas de crédito, e companhias de seguros; em grande escala, há a corporação de cooperativas Mondragón, na Espanha, uma das mais bem sucedidas cooperativas na Europa, e a economia Distributista de Emilia-Romagna (Bologna), na Itália, onde mais de 45% do PIB vem de cooperativas, e que possui um padrão de vida que é o dobro do restante da Itália, e um dos maiores da Europa. As economias e companhias Distributistas têm uma vantagem competitiva inerente sobre suas contrapartes capitalistas e socialistas, assim como benefícios sociais e comunitários que o capitalismo e o socialismo não conseguem desenvolver.

Você quer saber mais?

Currículo Lattes

http://lattes.cnpq.br/3735590007579581

Linkedin

https://br.linkedin.com/in/construindohistoriahoje

The Servile State de Hilaire Belloc

http://ldataworks.com/aqr/H_Belloc_The_Servile_State.pdf

Sociedade Chesterton Brasil

https://www.sociedadechestertonbrasil.org/o-esboco-da-sanidade/

Distributist Review

https://distributistreview.com/

Rerum Novarum

http://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html

Doutrina Social da Igreja

http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/justpeace/documents/rc_pc_justpeace_doc_20060526_compendio-dott-soc_po.html

https://web.archive.org/web/20070723062114/http://www.ciari.org/investigacao/dsi_e_democracia_crista_marca_jpII.pdf

Tradução para português do livro The Servile State

http://angueth.blogspot.com/2010/03/o-estado-servil.html

https://medium.com/sociedade-chesterton-brasil/o-m%C3%ADnimo-que-voc%C3%AA-precisa-saber-sobre-distributismo-77129312004a 

 

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