Vista área da cidade de Paquimé.
Paquimé localiza-se em Casas Grandes, Chihuahua, no México. Paquimé, no norte do México, tinha edifícios de sete andares, climatizados, e um sofisticado sistema hidráulico, em pleno século XIII. A cidade de barro é um mistério que até hoje os arqueólogos não sabem explicar. É um Patrimônio Mundial da Unesco desde 1998.
Paquimé, que atingiu o seu apogeu nos séculos XIV e XV, teve um papel fundamental no comércio e nos contactos entre a cultura de Pueblo (que viviam no noroeste dos Estados Unidos e norte do México) e as culturas mais avançadas da Mesoamérica. As ruínas são uma clara prova da vitalidade de uma cultura que foi perfeitamente adaptada ao seu ambiente físico e económico, mas que desapareceu no tempo da Conquista Espanhola.
Os espanhóis que chegaram em
1556 ao deserto de Chihuahua, no norte do México, já encontraram Paquimé em
ruínas. A cidade foi abandonada no ano 1340, depois de incendiada por um ataque
dos índios ópatas, que vieram do norte, provavelmente de onde fica hoje o
Estado do Novo México, nos Estados Unidos. Para os europeus, Paquimé era uma
das sete cidades de Cíbola, um suposto reino mítico existente no Novo Mundo que
os invasores imaginavam repleto de ouro.
O ouro nunca apareceu, mas
os edifícios de argila com sete andares, o labirinto de ruas e os muros curvos
continuam a intrigar os arqueólogos. A civilização paquimense é praticamente
desconhecida. Sabe-se que tem parentesco remoto com os povos anasazi, do
Colorado, nos Estados Unidos, e hopi, do Novo México: todos eles construíam vilas
de barro, que ficaram conhecidas por “pueblos”.
Ar
refrigerado ambiental
O que distingue Paquimé é o
prodígio da climatização das casas em um deserto onde a temperatura oscila de
10 graus centígrados negativos a 45 positivos ao longo do ano. As paredes têm
75 centímetros de largura e, com isso, bloqueiam o calor. As casas estão
voltadas para o sol da manhã e ficam na sombra durante a quentura da tarde. A
pintura, em tons pastel, branco, rosa e verde, reflete a luz do sol, sem
absorvê-la. Pequenas janelas, no alto das paredes, garantem o máximo de
ventilação e o mínimo de insolação. Até parece ar-refrigerado.
Os paquimenses também eram
bons de hidráulica. A cidade possuía água em abundância, trazida do Rio Casas
Grandes por um canal de 8 quilômetros. Havia aquedutos atravessando praças,
poços e um reservatório, onde a água era filtrada em um tanque de sedimentação
formado com camadas de seixos, cascalho e areia para absorver as impurezas.
“Havia até uma roda com pás, que mantinha a água em movimento para evitar a
estagnação e a putrefação”, diz o arqueólogo inglês Ben Brown, do Instituto
Nacional de Antropologia e Arqueologia do México. “Eles tinham confortos de que
muita gente ainda carece no mundo moderno.”
Construtores
buscavam conchas a 300 quilômetros
Arqueólogos escavaram
Paquimé em 1958 e 1961. Acharam indícios de ocupação humana desde antes da era
cristã. Os paquimenses seriam descendentes dos povos mogollón, que se fixaram
no rio Casas Grandes. A cidade teve seu apogeu entre 1261 e 1340. Aparentemente,
depois da destruição, um clã paquimense, os patki, migrou para o norte e
fundiu-se aos hopis do Novo México, onde ainda hoje existe o clã palatkwabi.
O mais intrigante, porém, é
a engenharia que possuíam. Os paquimenses conheciam a fundo os materiais de
construção e as técnicas de proporção e misturas. As paredes de terra argilosa
e cascalho não têm material orgânico, como palha, ramos ou esterco, comum nos
adobes antigos. São mais resistentes. Espantados, os arqueólogos encontraram 4
milhões de conchas da espécie nassarius, que eram pulverizadas e misturadas
para impermeabilizar o revestimento das casas. O surpreendente é que elas foram
trazidas do Golfo da Califórnia, que fica a 300 quilômetros de Paquimé.
Concepção artística de Paquimé em seu auge.
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