"Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para
melhor." Winston
Churchill
Fascismo e Nazismo
O que é totalitarismo?
O totalitarismo é uma forma de organização do
Estado na qual todo o poder se concentra nas mãos de um pequeno grupo de
pessoas, organizadas sob a forma de partido único. Esse partido conta
geralmente com uma base de massas, mas apenas seus dirigentes têm poder de
decisão. Os líderes intermediários ocupam postos na hierarquia do governo, de
tal forma que a máquina do partido se confunde com o aparelho do Estado. Essa
superposição entre a organização partidária e a administração do Estado só é
possível porque o grupo no poder suprime todas as liberdades individuais e
coletivas e instala um regime de terror total contra a nação. O Estado
totalitário, portanto, é um Estado policial que exerce uma vigilância
permanente sobre a vida cotidiana dos cidadãos, controlando até mesmo a vida
pessoal e familiar dos indivíduos. Trata-se de um caso extremo de
autoritarismo. Uma de suas principais características é o grande uso dos meios
de comunicação de massa para difundir a ideologia do regime, exaltar o governo
e a figura do líder. O chefe de um regime totalitário é o depositário de toda a
ideologia, sendo encarado como um indivíduo excepcional, dotado de qualidades
quase sobrenaturais.
Fascismo
italiano
Aliados das nações vencedoras da Primeira
Guerra Mundial, os italianos ficaram insatisfeitos com os resultados do
conflito. Além das perdas materiais e humanas sofridas (cerca de 670 mil mortos
e 1 milhão de feridos), a Itália não obteve as compensações territoriais
desejadas, não conseguiu, por exemplo, anexar nenhuma das antigas colônias
alemãs na África nem mesmo regiões mais próximas nos Bálcãs. Nessas
circunstâncias, difundiu-se entre a população da Itália um profundo
ressentimento contra as grandes potências democrático-liberais da Europa, ao
qual vinha somar-se uma crescente insatisfação social em razão da inflação, da
carestia e do desemprego decorrentes da guerra. Entre 1919 e 1920 cerca de 3
milhões de trabalhadores urbanos participaram de greves. Em Turim e outras
cidades industriais, os operários ocupavam fábricas e tentavam colocá-las em
funcionamento. O movimento foi reprimido, mas a sensação de que o governo havia
perdido o controle da situação se generalizava entre as classes médias. Em meio
a essas condições, em 1919 um ex-combatente chamado Benito Mussolini
(1883-1944) fundou um grupo nacionalista de extrema direita conhecido como Fascio
de Combattimento. Seu símbolo, um feixe de varas (fascio) atado à lâmina de
um machado, havia sido também um dos emblemas do Império Romano. Com ele,
Mussolini queria dizer que era preciso reconquistar o antigo poderio de Roma.
Os Fasci de Combattimento espalharam-se pela Itália divulgando suas idéias
ultranacionalistas, anticomunistas e antiliberais. Eles lutavam pela
instauração de um governo forte e autoritário capaz de esmagar os grupos de
esquerda (comunistas e socialistas) e de pôr um fim às greves e manifestações
operárias, vistas por Mussolini como desordem.
Com cerca de 320 mil adeptos no início dos anos
1920, os Fasci de Combattimento contavam com milícias armadas e uniformizadas
com camisas negras, que espalhavam o terror pelo país. Os integrantes dessas
milícias, conhecidos como camisas-negras, assassinavam militantes de
esquerda, dissolviam manifestações operárias e intimidavam políticos de
orientação democrática, tudo sob os olhares complacentes do governo. Em 1921 os
Fasci di Combattimento se unificaram em torno da autoridade de Mussolini e se
constituíram em Partido Nacional Fascista. Sua base de apoio era
formada, sobretudo por desempregados, ex-combatentes, pessoas das classes
médias, além de industriais e proprietários de terra temerosos de que a Itália
se transformasse em palco de uma revolução comunista. Nas eleições
parlamentares de 1921, 35 fascistas foram eleitos deputados. Entre eles,
Mussolini. Em 1922, numa demonstração de força, cerca de 30 mil camisas-negras,
sob a chefia de Mussolini, invadiram a capital italiana, ocupando prédios
públicos e estações ferroviárias. O episódio ficou conhecido como Marcha
sobre Roma. Dois dias depois, o rei Vítor Emanuel III convidou Mussolini
para ocupar o cargo de primeiro-ministro. O fascismo chegava ao poder.
Entre 1922 e 1925 Mussolini governou juntamente com outras forças políticas.
Gradativamente, porém, ampliou seus poderes e se impôs como verdadeiro ditador.
O Parlamento perdeu sua autoridade e os partidos políticos, com exceção do
Partido Nacional Fascista, foram extintos. Os prefeitos e chefes locais
perderam seus cargos e foram substituídos por seguidores de Mussolini. Também
foi criada uma polícia política secreta para perseguir opositores do regime, o
que levou 300 mil pessoas a se refugiarem no exterior; o governo implantou
forte censura aos meios de comunicação e suprimiu o direito de greve. Todas as
organizações que não fossem fascistas tornaram-se ilegais. No início dos anos
1930, o duce (guia), como era conhecido Mussolini, já centralizava todo
o poder.
Os fascistas
acreditavam ser fundamental doutrinar as crianças e jovens. Nas escolas e
universidades os professores eram obrigados a exaltar as realizações do regime
e aspectos da vida do duce. Também foram criadas organizações que promoviam
festas, competições, acampamentos, atividades ao ar livre e que transmitiam aos
jovens a ideologia fascista. Mussolini valeu-se dos meios de comunicação de
massa para conquistar o apoio da população.
Para tanto, utilizou amplamente jornais, rádios e documentários que divulgavam
os feitos de seu governo e cultuavam sua figura, mostrada como a de um homem
enérgico, atlético e trabalhador.
Dois outros aspectos da política fascista
contribuíram para sua afirmação entre a população italiana. O primeiro
foi a intervenção maciça do Estado nas atividades econômicas. Isso ocorreu
principalmente após o crash da Bolsa de Nova York, em 1929. Para debelar a
crise, o Estado fascista lançou um amplo programa de obras públicas (estradas,
pontes, etc.) e incentivou a produção de armas. Essas medidas fizeram baixar o
desemprego. O segundo aspecto dessa política foi a instituição, em 1927,
da Carta del Lavoro (Carta do Trabalho), na qual se combinavam
concessões aos trabalhadores com medidas de controle policial sobre eles. A
Carta estabelecia, por exemplo, o seguro contra acidentes de trabalho e a
jornada de oito horas, mas proibia as greves e extinguia os sindicatos. Em 1935
Mussolini ordenou a invasão da Etiópia, único país africano, ao lado da
Libéria, ainda não dominado pelos europeus. No ano seguinte, interveio na
Guerra Civil Espanhola, enviando tropas em apoio às forças do general Francisco
Franco (veja o boxe A Guerra Civil Espanhola). Os princípios fascistas não
ficaram restritos à Itália. Com a consolidação do governo de Mussolini,
começaram a surgir ditaduras de direita também em outros países da Europa, como
Portugal, Hungria e Polônia. Foi nesse contexto que, em 1933, o nazismo chegou
ao poder na Alemanha.
Os princípios
do fascismo
Mussolini se definia como reacionário, antiparlamentarista,
antidemocrático, antiliberal e anti-socialista. A doutrina fascista tinha
aspectos originais. Seus princípios básicos eram:
v
Estado totalitário
assentado sobre a força da massa popular, encarnada na mística do chefe;
v
Existência do indivíduo
apenas como fração do Estado, em cuja grandeza devia encontrar sua própria
exaltação;
v
Extinção da luta de
classes: o Estado promoveria a solidariedade entre patrões e empregados,
visando a maior produtividade; busca da grandeza italiana, num constante apelo
às glórias do Império Romano, com exaltação da importância da guerra na
formação das pessoas;
v
Identificação entre
Estado, chefe de Estado e Partido Fascista.
Nazismo
Ao terminar a Primeira Guerra Mundial, a
Alemanha entrou em uma crise de grandes proporções. Estimulados pela
consolidação da Revolução Russa de 1917, os trabalhadores alemães saíam às
ruas, os soldados se amotinavam. Com a abdicação do imperador Guilherme II,
dois dias antes do armistício que pôs fim ao confronto mundial, líderes da
oposição proclamaram a República e constituíram um governo provisório liderado
pelo Partido Social-Democrata (socialista moderado). Em janeiro de 1919,
operários, soldados e marinheiros tentaram tomar o poder por meio de uma
insurreição armada. A frente da rebelião colocaram-se os socialistas da Liga
Espartaquista, liderados por Rosa Luxemburgo (1871-1919) e Karl Liebkenecht (1871-1919).
A revolta fracassou e, os dois líderes foram presos e executados. Nesse mesmo
ano realizaram-se eleições para uma Assembléia Constituinte, reunida na cidade
de Weimar. Nascia, assim, a chamada República de Weimar (1919-1933),
primeira experiência democrática da história da Alemanha. Os primeiros anos da
nova República foram extremamente difíceis. O país não tinha dinheiro para
pagar as indenizações de guerra e sofria uma das maiores inflações de todos os
tempos. O preço das mercadorias subia várias vezes no mesmo dia. Em abril de
1922, por exemplo, um dólar valia mil marcos; em setembro do ano seguinte, era
equivalente a 350 milhões de marcos.
A economia alemã só voltou a se estabilizar a partir
de 1924, graças à injeção de capitais norte-americanos. Entretanto, a população
continuou insatisfeita com os termos dos tratados de paz que puseram fim a
Primeira Guerra Mundial. Esse sentimento de orgulho nacional ferido estimulou a
formação de grupos ultranacionalistas que propunham a instauração de um governo
forte, capaz de unificar os alemães e lutar pela recuperação da grandeza
nacional. Um desses grupos era o Partido
Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (que, em alemão, daria
origem à expressão nazista), formado em 1919. Liderado pelo austríaco Adolf
Hitler (1889-1945), suas fileiras eram compostas por comerciantes
arruinados pela crise, desempregados, ex-militares, etc. Da mesma forma que os
fascistas italianos, os nazistas alemães também se organizavam em grupos paramilitares.
Suas milícias eram conhecidas como SA, sigla em alemão para “tropas de
assalto”. Além de reprimir violentamente os comunistas e os socialistas, as SA
garantiam a segurança dos comícios nazistas. Em novembro de 1923, inspirado na Marcha sobre
Roma de Mussolini, Hitler tentou dar um golpe de Estado na cidade de Munique. A
tentativa ou putsch de Munique, como ficou conhecida, fracassou e Hitler
foi preso. Na cadeia, onde ficou por um ano, escreveu o livro Mein Kampf
(Minha luta), no qual sistematizou a ideologia nazista. No livro, Hitler
defendia a superioridade dos povos arianos, considerados puros pelos nazistas e
dos quais descenderiam os alemães, sobre judeus, eslavos, ciganos, negros e
outros grupos humanos. Para Hitler, os judeus seriam, juntamente com os
comunistas, culpados por quase todos os males do mundo. O livro defendia ainda
o direito dos alemães a um “espaço vital” ou seja, um território na Europa que
reunisse os povos germânicos num só império.
No início, o apoio a Hitler era pequeno. A partir de
1930, porém, a Grande Depressão iniciada com o crash da Bolsa de Nova York
arruinou as classes médias e causou o desemprego de milhões de trabalhadores
alemães. A crise aumentou ainda mais o sentimento de humilhação que atingia a
população alemã desde 1918. Muitas pessoas passaram a ansiar pelo aparecimento
de um líder carismático capaz de resgatar a “honra nacional” e de colocar a
Alemanha outra vez entre as grandes potências. Com sua exaltação da “raça ariana”,
Hitler parecia a muitos ser esse líder predestinado. O Partido Nazista passou,
então, a crescer vertiginosamente. Assim, entre 1930 e 1932, o número de
deputados nazistas no Parlamento alemão aumentou de 170 para 230. No ano
seguinte, o presidente da Alemanha, marechal Paul von Hindenburg, convidou
Hitler para ocupar o cargo de chanceler (primeiro-ministro) de seu governo.
Morto Hindenburg em agosto de 1933, Hitler o substituiu no cargo de
presidente e assumiu o título de Führer (chefe), dando início ao Terceiro Reich
alemão (o Primeiro Reich foi o Sacro Império Romano-Germânico; e o Segundo,
o da unificação alemã conquistada por Bismarck em 1870).
O terror nazista
Senhor absoluto do poder, Hitler anulou a Constituição de 1919,
instituiu a censura e suspendeu os direitos e as garantias civis. Membros da
Gestapo, a polícia secreta alemã, e das SS, tropa de elite nazista, passaram a
perseguir, prender e torturar líderes religiosos, ciganos, homossexuais,
judeus, líderes sindicais, comunistas e opositores em geral. Alcoólatras,
doentes mentais e deficientes físicos eram internados à força e submetidos a
cirurgias de esterilização. Muitos intelectuais, cientistas e artistas
contrários ao nazismo viram-se obrigados a exilar-se no exterior, como o físico
Albert Einstein (1879-1955), o dramaturgo Bertolt Brecht (1898-1956), o
escritor Thomas Mann (1875-1955), e muitos outros. Os que decidiam permanecer
corriam o risco de ser enviados a campos de concentração. Em 1933 havia nesses
campos 40 mil presos políticos. A partir de 1934, o anti-semitismo tornou-se
política oficial do Estado. Os judeus não podiam mais trabalhar em órgãos
públicos, seus bens foram confiscados e eles ficaram proibidos de se casar com
pessoas consideradas arianas. Além do terror, a propaganda sob os cuidados do
ministro Joseph
Goebbels (1897-1945) teve
papel fundamental para a consolidação do nazismo. A ideologia nazista era
transmitida por meio de documentários cinematográficos, programas de rádio,
pôsteres e cartazes. Os comícios de Hitler, que reuniam milhares de pessoas,
eram minuciosamente preparados para demonstrar a grandeza do Führer e do povo
alemão. Essa doutrinação também envolvia as crianças na sala de aula. Desde
pequenas, elas aprendiam a ter orgulho de pertencer à raça ariana e a venerar e
prestar obediência ao Führer. Com a recuperação econômica do país, a
popularidade do regime cresceu. Essa recuperação foi obtida pela intervenção do
Estado, que promoveu a realização de obras públicas, impulsionou a indústria de
armamentos e estabeleceu formas de planejamento econômico. Grandes capitalistas
internacionais e nacionais também ajudaram financeiramente o governo nazista.
Entusiasmado com o
crescimento econômico, Hitler passou a violar as determinações do Tratado de
Versalhes, que pôs fim a Primeira Guerra Mundial: remilitarizou a Alemanha e
colocou em prática uma política expansionista. Abria caminho, assim, para a
Segunda Guerra Mundial.
Juventude doutrinada
Os meninos eram alistados aos 10 anos de idade:
depois de passar por certas provas esportivas, entravam no Deutsch Jungvolk
(Jovem Povo Alemão) por um período de quatro anos, ao longo do qual seus
progressos físicos e ideológicos eram registrados em cademetas. Já as meninas,
aos 10 anos entravam nas Jungmädel (Jovens virgens). No primeiro ano, meninos e
meninas deviam estudar os “Deuses e heróis dos germanos”; no segundo, os
“grandes alemães" (de Frederico, o Grande, a Bismarck); no terceiro,
"Vinte anos de combate pela Alemanha” (os “anos de luta” do nazismo) no
quarta, enfim, “Adolf Hitler e seus companheiros de luta” Aos 14 anos, os
jovens entravam nas Juventudes Hitleristas; aos 18, outras estruturas do
partido os esperavam: Frente do Trabalho, SA ou SS. A formação ideológica dos
14 aos 18 anos prosseguia por melo de cursos versando desde"o combate pelo
Reich” até a “obra do Führer: Esses temas eram difundidos também pelas
transmissões radiofônicas dedicadas à juventude.
A suástica, uma espécie de cruz com os braços
voltados para a direita foi adotada como emblema oficial do partido nazista e
do Terceiro Reich. Ela foi criada séculos antes de Cristo, na Índia, por uma
civilização indo-européia (os arianos), da qual, na concepção do nazismo, os
alemães seriam descendentes.