PESQUISE AQUI!

sexta-feira, 11 de março de 2011

El Dorado - Em busca dos antigos mistérios Amazônicos

Gravura de Roland Stevenson. Representando tribos do El Dorado

Texto de Dalton Delfini Maziero


Em entrevista exclusiva, o pesquisador e artista Roland Stevenson nos revela fatos surpreendentes sobre o mito do El Dorado. A descoberta de uma estrada inca em plena floresta brasileira, o saque sistemático de estrangeiros ao nosso patrimônio cultural e a comprovação da existência do lendário lago Parime, são apenas algumas das polêmicas desta matéria. Seria o ouro inca, proveniente do Brasil? Seria o El Dorado, mais do que uma lenda?

1) Sua nacionalidade é chilena. O que o motivou a mudar-se para o Brasil, em especial o Amazônas?

Desde pequeno, aos 10 anos de idade, tive a sorte de ser influenciado por colegas de bairro que praticavam excursionismo, e a poucos quilômetros de nossa casa em Santiago, eleva-se a Cordilheira dos Andes. Não obstante, no Chile faz muito frio, e não faltou ocasião em que perdido na neve das montanhas, sonhei com um clima tropical.

2) Como foi seu primeiro contato com o mito do El Dorado?

Foi um impacto incrível quando me deparei com os índios yanomani em 1979, observando que alguns deles possuíam rostos semelhantes aos quêchuas do Peru. Então me assaltou a idéia de que talvez a lenda do El Dorado tivesse fundamento histórico, e os yanomani alguma relação apesar dos 1400 km de distância do Império Inca.

3) Você alega que o lendário Lago Parime, que margeava o El Dorado e aparece nos mapas dos séculos XVI e XVII, existiu realmente. Essa tese já foi aceita pelos geólogos?

Sim, está absolutamente comprovado. Três geólogos brasileiros não tem a menor dúvida da sedimentação lacustre do solo do lavrado (planície). A área esteve submersa desde que a ruptura Graben do Tacutú se comunicava com o Atlântico, tendo começado a se extinguir
por volta de uns 700 anos atrás, provocado por um processo chamado epirogénese positivo, de elevação constante da superfície. Os nomes desses geólogos são Gert Woeltje do DNPM (Departamento Nacional de Pesquisas Minerais) do AM; Frederico Guimarães Cruz da SEMACT (Secretaria Especial do Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia) de Presidente Figueiredo, AM; e Salomão Cruz, hoje Deputado Federal em Brasília, DF.

4) Parece existir uma confusão histórica entre o lago Parime e o Guatavita, na Colômbia. Você poderia esclarecer isso?

Sim, existe uma grande confusão, e a culpa disso é dos historiadores do Brasil, que não se interessam em renovar seus dados, mantendo informações dos séculos passados, quando havia poucos conhecimentos técnicos e geográficos. O primeiro explorador a mencionar um lago como referência ao El Dorado, foi Gonzalo Pizarro, que empreendeu em 1541 a famosa expedição a sua procura, disfarçado pelo interesse da especiaria da canela. Do contrário não haveria colaboração dos indígenas. Nenhum dos outros aventureiros como Quesada, Benalcazar ou Federman, falaram do lago na época. Contudo, entre 1538/39 solidificou-se na Colômbia a existência de um grande caminho que penetrava na imensidão da floresta amazônica, direcionada para o leste dos Andes, o qual situava-se a 600 km de Bogotá, exatamente no limite entre Equador e Colômbia. É possível que a informação do lago foi arrancada sob tortura ao coletor de ouro do norte (Equador), de nome Rumunháui, quem confessaria que a 70 dias de viagem por aquele caminho...e devemos lembrar que os incas andavam 20 km por dia..., isto é 1400 km até as serras do Pico da Neblina no Brasil, onde achariam o início das fontes auríferas dessa civilização, embora o ponto principal estaria junto ao grande lago de Roraima.
Oficialmente, foi divulgado que Ruminháui morrera sem confessar a localização, fato compreensivo pelo excesso de concorrentes sedentos de ouro. Gonzalo Pizarro fracassou no intento de alcançar as fontes auríferas, mas conseguiu avançar 900 km, chegando até a Bacia de Uaupés no Brasil, segundo contam as lendas indígenas. Da mesma forma, seu patrício Francisco de Orellana (1542) tentava descobri-la por via fluvial.
Passaram-se 28 anos de silêncio e desânimo ante tanta dificuldade, até que em 1570 surgiram novas informações de sua localização, desta vez provenientes de índios aruak, que orientavam o governador de Marguerita, no Caribe. Diziam que depois das nascentes do rio Orenoco, no outro lado das serras (Pacaraima) existia um enorme lago rodeado de montanhas riquíssimas em ouro e pedras preciosas. Iniciava-se assim, uma nova corrida em busca desse sítio fabuloso, que pelas novas indicações situava-se no Brasil.
Para infortúnio dos exploradores, o referido lago jamais foi visto, embora agora sabemos que apesar de passarem até por cima dele, nunca o detectaram, achando somente as planícies secas do seu leito, hoje transformado em campos de pastagens.
O primeiro a confundir essa história foi Alexandre Von Humboldt em 1800, que após longa expedição pelo rio Orenoco na Venezuela, foi impedido de entrar no Brasil, e num desabafo pelo bloqueio, escreveu que o lago citado por Hariot e Hondius eram apenas uma ilusão. Depois, na Colômbia, decidiu que o pequeno lago Guatavita, devido a lenda do "Homem Dourado" que se banhava coberto em pó de ouro, seria o pivô da história. Sem saber que a região carece completamente de potencial aurífero, comparado a Roraima que está entre as maiores do mundo.

Mapa por Roland Stevenson.

5) Além do lago Parime, você encontrou indícios de um antigo caminho pré-colombiano na região do Amazônas. Como foi essa descoberta?


Em 1977 comecei as pesquisas no Alto Rio Negro, onde fomos em busca das fortificações de pedras a que alguns escritores se referiam, a exemplo de Barbosa Rodrigues. Conseguimos localizá-las através de guias indígenas. Tratava-se de restos de muros de pedras que os nativos brasileiros não costumam utilizar, tornando-se para nós um grande mistério, pois seus vestígios achavam-se invariavelmente a cada 20 km, situados paralelamente à linha equatorial, cerca de uns 60 km. O enigma começou a se desvendar quando achamos próximo de uma delas o petroglifo de uma lhama, animal de carga dos povos andinos. Ao estudar as características deste camelídeo, reparamos que ele caminha somente 20 km por dia, negando-se a continuar além disso. Então, as fortificações eram pousadas de descanso dos viajantes, dispostas em função do rendimento das lhamas. Tratava-se evidentemente de um caminho extinto, apagado pela floresta, exceto os Tambos como chamam as pousadas no Peru. Em contato com diversas tribos da Bacia do Uaupés, ouvimos as lendas a respeito deste caminho, contada pelos velhos de boca em boca através das gerações. Curiosamente todos os grupos indígenas coincidiam com a mesma narrativa, especialmente entre os Dessana, Pirá-tapuya e Tukano, chamando-a de Nhamíni-wi. Explicavam ser um grande caminho que alcançava as montanhas dos Andes, ou a "casa da noite", onde obscurece o sol. Por ele transitavam numerosos "soldados", carregando pesadíssimas caixas contendo "insetos de ouro". Tais caixas não podiam ser abertas porque eram oferendas para que o sol não apagasse. Mas os índios desobedeceram abrindo-as, e o sol se apagou durante vários dias.
Toda essa história parece-nos a lembrança do último capítulo da existência do caminho, quando os espanhóis invadiram o Peru, exigindo o resgate de Atahualpa, representante do Sol. O carregamento de ouro transportado por Ruminháui não chegou ao destino justamente pelo assassinato de Atahualpa. Os insetos de ouro referidos na lenda, seriam simplesmente peças confeccionadas pelos ourives da época, que copiavam a natureza, como borboletas, besouros, aranhas, pássaros, macaquinhos, etc.
O destino do grande caminho para o ocidente nos Andes, já estava resolvido, mas qual era sua origem? De onde vinha procedente do leste? Os tukanos explicavam que ele iniciava-se no "lago branco", ou "lago de leite", axpekõ-dixtara, na língua deles.

6) Foi localizada alguma peça pré-colombiana que ajude a comprovar suas teses?

Creio que as principais peças encontradas que reforçam essa tese, são quatro armas incaicas, achadas em áreas de garimpo de Roraima, consistindo em pedras de 8 pontas e uma de 6, com um buraco no centro para colocar um cabo, afim de quebrar a cabeça do inimigo. Trata-se da borduna mais usual da civilização inca. Este achado muda a história da América, pois até agora foi um mistério a origem do ouro saqueado pelos espanhóis em 1532, no Peru. Apoderaram-se de 6 toneladas de peças auríferas só em Cajamarca e mais do dobro em Cusco. Na época não existiam minas significativas que justificassem tanto ouro no Peru. Inclusive esse foi um dos motivos que fez surgir a lenda do El Dorado.

7) Seria correto afirmar que o El Dorado foi um cemitério pré-colombiano, ou estaria mais para um depósito de ouro?

O El Dorado não era o cemitério, mas os arredores da ilha Maracá, que foi habitada por milhares de indígenas. A especulação de casas de ouro e muros de cristal ficou por conta dos expedicionários que precisavam de verbas para continuarem suas buscas. Contudo, os espanhóis e ingleses tinham fé, porque os indígenas da Guiana usavam adornos auríferos. A escolha da ilha como cemitério, é porque os indígenas tem a superstição de que os espíritos dos mortos não atravessavam a água, especialmente se os rios possuem cachoeiras e corredeiras que fazem barulho, sendo esse o conceito geral dos nativos da região.

8) Quais as fontes históricas que o levaram a desenvolver sua tese?

Todos os expedicionários do final do século XVI acabaram convergindo a Roraima em sua busca, na época considerada como parte da grande Guiana. As fontes históricas principais que indicam tratar-se do lendário lago Manoa ou Parime são, via Orenoco: Berrio (1584); pelo norte, rio Caroni: Berrio (1591), Maraver e Vera (1593) e Raleigh (1595); pelo leste, rio Essequibo: Keymis (1596); e finalmente pelo sul, rio Branco: Roe (1611). Fora isso, as coordenadas indicadas por Juan de Salas (1570) são perfeitas, pois no outro lado das serras que hoje chamamos de Pacaraima, onde nasce o rio Caroni, só existe o lavrado de Roraima.

9) Como tem sido a recepção da população de Manaus e dos meios de comunicação de sua cidade em relação a pesquisa do El Dorado?

Decepcionante, tomado com arraigado preconceito. Quem procura o El Dorado é louco. Não querem saber se existem ou não fundamentos históricos. E na minha profissão como artista plástico, acham tratar-se de uma tática publicitária para vender quadros. A culpa disso em parte se deve a que alguns amazonenses pagam para que se divulgue serem eles os melhores do mundo. Então, se aparece um atrevido dizendo que descobriu Manoa, já pode se imaginar o resultado. Porém, olhando o assunto com visão profunda, parece tudo formar parte de uma história romântica, pois se desde o começo todos concordassem,
perderia a graça...

10) E como tem sido a recepção do meio científico e acadêmico às suas descobertas?

Quando o arqueólogo Gregory Deyermenjian fez as publicações nos EUA sobre a descoberta do lago, tivemos a tremenda surpresa de que existia uma campanha internacional contra nossas pesquisas, pois esses jornais foram ameaçados e intimados a não apoiar nosso trabalho pela Royal Geographic Society, da Inglaterra...inclusive temos o fax enviado pelo diretor Mr. John Hemming..., sob pena de não mais lhes colaborar com matérias, além de desprestigiá-los. Falava barbaridades caluniosas a meu respeito. Deste modo, compreendemos a reação contraditória dos jornais brasileiros, que negavam-se a divulgar a descoberta.
O caso remonta a 1987, quando anunciei a possível descoberta do Manoa, indicando que provavelmente o lendário El Dorado se localizaria a ocidente do lago, conforme os mapas de Hondius e Hariot, onde hoje se encontra a ilha Maracá. Um mês depois de meu anúncio, a ilha Maracá foi interditada para pesquisas do "meio ambiente" pela Royal Geographic Society, em convênio com o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). O curioso era que somente os ingleses podiam entrar na ilha. Aos brasileiros era permitido pesquisar somente no lavrado, a partir da ponta da ilha. Existiam sim, "fiscais" brasileiros...era ridículo o controle com tantos britânicos...mais de 200...e umas poucas canoas para todos, além de que, para chegar ao centro da ilha, precisa-se uma expedição de 5 dias com acesso somente por navegação dos dois braços do rio Uraricuera.
Depois de investigar o movimento da ilha e escutar o próprio vigia que fazia o policiamento fluvial de Maracá, conhecido como "Amazônas". Seu nome é Walquimar Felix de Souza, que relatou que os ingleses tiravam toneladas e mais toneladas de material hermeticamente embalado, enviado de avião para a Guiana inglesa e daí para Inglaterra. Existem testemunhas também dos numerosos caixotes que sempre aguardavam embarque no aeroporto de Boa Vista...inclusive quando houve intenções de inspecioná-las, até o Itamaratí se opôs ao exame.
Indagando ao vigia da ilha sobre o conteúdo das caixas, ele expressou desconhecê-lo, porém calculava que seria ouro pelo excessivo peso delas, pois precisavam numerosas pessoas para carregá-las e tendo muito cuidado no transporte porque eram coisas delicadas. O INPA alegou depois que se tratava de terra para análise na Inglaterra. Mas tantas toneladas durante um ano? E ainda delicada? Aliás, o resultado dessas análises nunca retornou ao Brasil, como também nenhum estudo considerável e útil, exceto alguns folders insignificantes que justificassem os Cz$ 14 milhões (dinheiro de março de 1987) gastos no projeto só pelo Governo Federal, segundo explicava o diretor do INPA, cientista Herbert Schubartem, em 1988.
O INPA também esclareceu que as cargas seriam animais empalhados. Mas tantas toneladas assim? Então se trataria da maior matança do século, fugindo a norma da preservação. Igualmente continham herbários dissecados e insetos, mas nunca vi insetos e folhas tão pesados!
Ante tanta ingenuidade, decidi denunciar os ingleses nos jornais, especialmente pelo fato de que seu diretor John Hemming não era um naturalista e sim um historiador.
Ele escreveu um livro, "Em busca do El Dorado", onde na página 203 descreve nitidamente que numa ilha do lago eram enterrados os defuntos com todos seus pertences auríferos. No ato que fiz a denúncia, revelando tudo nos jornais, os 200 ingleses desapareceram do mapa, abandonando o Brasil, talvez pensando que as autoridades tomariam alguma providência, mas não aconteceu absolutamente nada. E nem eu fui processado por calúnia, conforme se chegou a divulgar. Foi fácil livrar-se de um louco visionário...
Futuramente, daqui a algumas gerações, quando os museus da Inglaterra mostrarem o que foi levado da ilha, constará que John Hemming foi o descobridor material dos objetos, mas não o espiritual, porque cientificamente eu fui o primeiro a anunciar a descoberta, e se alguém registrar estes acontecimentos, os ingleses ficarão como estratégicos huaqueros (ladrões de túmulos), o que aliás, já eram antes disso, como aconteceu no Egito, Gibraltar, Canadá, Peru...

11) Então, toda a imprensa estrangeira foi contra suas descobertas? Não houve reação favorável?

Houve reações muito boas, sim, especialmente se não existe o preconceito. Qualquer protesto ou contestação surge somente pela falta de conhecimento. Desde modo, quando o jornal The Herald (Flórida, EUA) dedicou seu suplemento dominical às pesquisas, o arqueólogo consultado expressou que as lhamas não poderiam sobreviver na Amazônia para vir buscar os minérios pelo caminho pré-colombiano. Contrariando sua contestação, existe em Manaus um criador de lhamas na fazenda São Salvador, km 16 da BR 010. Elas estão perfeitamente aclimatadas, e todos os anos são expostas nas exposições agropecuárias.
Em 1988 fiz uma exposição de arte e pesquisas em Viña del Mar, no Chile, tendo uma excelente acolhida pelos jovens, que achei muito abertos às novas propostas, tanto que o principal jornal do Chile, El Mercurio, dedicou sua revista de Domingo às descobertas. O Brasil não fica por menos na classe jovem, pois recentemente a Universidade do Amazônas fez uma exposição sobre meu trabalho, tendo uma excelente receptividade, embora não faltou algum protesto pelo fato de eu não possuir um diploma acadêmico. Para equilibrar essa falha, apresentei um painel com minhas distinções em que constam três prêmios em concursos mundiais e dois nacionais, além dos regionais. Aliás, sou o único artista de Manaus que possui essa qualificação.

12) Você poderia citar alguns dos profissionais, nacionais e estrangeiros, que já trabalharam na sua equipe?

Os profissionais que posso citar foram, desde o começo, o missionário Casimiro Beksta, professor de antropologia aplicada do CENESC (Centro de Estudos do Comportamento Humano) de Manaus, a quem cito com muito carinho porque teve a paciência de me orientar todos esses anos dos problemas antropológicos da Amazônia.
Depois a arqueóloga carioca Arminda Souza, na época funcionária do SPHAN (Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Porém, influenciada pelo preconceito dos "especialistas" de Manaus, sobre minhas pesquisas não convencionais, especialmente na busca do "ilusório" lago do El Dorado, preferiu ficar de fora, perdendo a chance de figurar para a posteridade histórica do Brasil, como participante da grande descoberta de Manoa.
Também desde o começo, vinha me orientando o geólogo Frederico Guimarães Cruz, na época funcionário do DNPM de Manaus. Já em 1986 trocávamos opiniões sobre uma grande mancha escura existente em Roraima, detectada pelos mosaicos aéreos do RADAMBRASIL. Pelo que indagamos se trataria dos vestígios de um lago. Frederico frisou que para isso deveria haver marcas d'água nas rochas. Assim, nos primeiros dias de janeiro de 87, lancei-me a investigar. Tendo como resultado o já citado encontro com os sinais do nível d'água do grande lago, embora isto achava-se na terra mesmo e não nas rochas. O Dr. Fredi é um homem de caráter e personalidade, jamais se importou com o preconceito do povo, tanto que me honrou fazendo o prefácio de meu livro. Em função disso, quando o Brasil conseguir romper a barreira do desconhecimento, ele será lembrado como participante da descoberta desse lago extinto, o lendário Manoa.
Em 1987, entrou o geólogo roraimense Salomão Cruz, irmão do governador Getúlio Cruz, na época. O Dr. Salomão era diretor da CODESAIMA, tornando-se um ativo colaborador, fornecendo-nos uma toyota da empresa para pesquisas. Seus conhecimentos da região ajudou-nos significativamente ao afirmar de forma categórica a constituição lacustre do lavrado, não tendo dúvidas de que a área esteve submersa. Embora não havia conhecimento de quantos lagos se trataria. Coube a nós, com altímetro na mão, percorrer centenas de km, seguindo as marcas do nível da água até a Guiana, constatando que pertencia somente a um lago, independente das diferenças estruturais do solo.
A seguir foi a vez do geólogo Gert Woeltye, na época professor da FUA (Fundação Universidade do Amazônas), assim como funcionário do DNPM de Manaus. Quem percorreu o lavrado de Roraima junto com numerosos alunos, fazendo aula in-loco sobre a extinção do lago. Tivemos a honra de que todos seus dados técnicos sobre o lago, foram inseridos em nosso livro.
O último profissional participante foi o arqueólogo norte-americano Gregory Deyermenjian, que nos acompanhou numa expedição a Roraima em 1997, constatando os problemas geológicos e históricos de Roraima. No retorno aos EUA, fez uma palestra no centro principal do Explorer Club em Nova York, e Expedition News de Connecticut.
13) Além de sua equipe, existe alguma outra interessada na região, seja ela nacional ou não?

Não existe equipes interessadas, exceto pessoas independentes que leram meu livro, assim vieram me acompanhar nas expedições dois norte-americanos, um alemão, um canadense, dois italianos, um espanhol e uma equipe de TV chilena, todos com profissões diferentes, desde cineastas até aventureiros. Ano passado houve muito interesse da Discovery Channel sediada na Flórida, porém o propósito "murchou", provavelmente porque devem ter pedido informações a Royal Geographic Society, que são os patronos internacionais da Discovery.
Em 1994 veio a TV nacional do Chile, do programa "El Mirador", em função da publicação do jornal Folha de São Paulo (27/05/93) que lançou uma reportagem de um louco chileno...eu...que procurava o El Dorado na Amazônia, frisando que a comunidade científica de Manaus (o INPA), ironizava meu trabalho. Assim, a TV chilena veio correndo a filmar seu patrício que buscava o "sonho do El Dorado". No começo fiquei animado porque seria a oportunidade de mostrar fundamento histórico no assunto. Mas foi grande a minha decepção ao ver que eles desejavam mesmo o SONHO, negando-se a filmar qualquer prova que representasse a realidade. Assim, descartaram as marcas d'água do lago nas serras, como também as centenas de petroglifos da ilha Maracá. Por minha insistência, entrevistaram o geólogo Salomão Cruz em Boa Vista, que deu numerosos argumentos científicos sobre a existência do lago, mas isso tudo foi eliminado.
Outra tentativa de filmar os vestígios do lago foi com a TV Amazônas Canal 5, em 1993. Consegui convencer de sua realidade ao diretor Sr. Felipe Daou. Porém quando chegamos na área, o câmera da equipe se negou a filmar alegando que aquilo não prestava para TV, revelando todo o preconceito que existia sobre mim. Para piorar a situação, a malária estava manifestando-se no meu organismo. Fiquei sem ânimo para discutir. Portanto, perdemos a viagem, as despesas com hotel, etc...e o que foi pior, fiquei desprestigiado perante o diretor da TV. Estava "confirmado" que eu "sonhava".

14) Quais as principais dificuldades que tem encontrado para a realização de suas expedições?

O preconceito e a falta de dinheiro. Felizmente sou um bom pintor, e os lucros tenho investido em pesquisas. Assim, durante 20 anos financiei minhas próprias expedições. Nunca procurei patrocínio, pois quem iria financiar a busca de uma "fantasia"? Porém, com as dificuldades econômicas que o país está passando, já não posso mais me dar ao luxo de pagar viagens, de modo que esta última expedição de fevereiro foi financiada por um norte-americano, e a anterior por dois italianos e um canadense.


15) Isso vem de encontro a minha próxima pergunta. Você é um excelente pintor, então suas obras ajudam de certa forma seu trabalho de pesquisa...

Sim! A arte tem me ajudado enormemente nas pesquisas. Sem ela jamais teria feito essas descobertas. Tudo começou com os yanomami, quando desenhava centenas de rostos, reparando que os antropólogos estavam errados ao defini-los como uma raça única, geneticamente "pura", em circunstâncias que possuem quatro tipos humanos diferentes e integrados em épocas distintas, se estudarmos os protótipos que colonizaram a América.
A verdade é que a análise anatômica das feições indígenas é um campo inexplorado pela antropologia, pois a classificação dos grupos tribais no Brasil baseia-se na glotologia (língua). Porém os silvícolas são nômades e adotam as línguas alheias da região onde se mudam, alguns até várias vezes como aconteceu com os baníwas do rio Içana. Outro método de distinção é a cultura, material ou espiritual, mas estas, do mesmo modo que a língua, podem ser adotadas, impostas ou perdidas. A terceira fórmula é a mais perfeita, que consiste nos teste de DNA, porém nada é infalível, pois para ser satisfatória é necessário testar em laboratório milhares de indivíduos e ainda podem orientar errado se trata-se de migrações onde não nasceram.

16) Em 1994, você publicou o livro "Uma Luz nos Mistérios Amazônicos", atualmente esgotado. Fale-nos mais sobre esse trabalho.

O livro foi o prêmio de publicação no concurso de História da SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus), ganho em 1988. Porém, pensando na posteridade, é bom que se conheça a verdade, pois a comissão julgadora me deu o segundo lugar inicialmente, porque a obra fugia da temática histórica, incluindo geologia e antropologia. Mas pergunto, como ia explicar a existência do lago sem os dados geológicos? Ou como ia esclarecer a origem dos nativos amazônicos sem informações étnicas?
O leitor precisa saber que todos os aventureiros, pesquisadores, cronistas, etc, que escreveram sobre o Amazônas, basearam-se numa rápida expedição de dias, semanas ou meses, falando muito e estudando pouco. Assim, nossas investigações com mais de 20 anos, devem estar bem perto da verdade.

17) Em 1997, você fundou o "Parime Expedition - Centro de Pesquisas Etno-históricas". Quais os objetivos dessa instituição?

A "Parime Expedition" ficou parada quando percebi que a instituição viraria um órgão turístico, que não é a modalidade que me interessa. Para essa finalidade, um dos norte-americanos que me acompanhou na última expedição, Mark DeMaraville, que trabalha com turismo, começará a trazer na próxima temporada, pacotes turísticos para grupos que desejem conhecer onde ficava o lendário lago do El Dorado. Assim, os norte-americanos ficarão conhecendo a realidade histórica antes que os brasileiros, lamentavelmente. O mesmo acontecerá com a segunda edição do meu livro, pois recentemente tenho visitado numerosas empresas e todas se manifestaram impossibilitadas de patrocinar uma nova impressão, exceto se fosse sobre o "Boi Bumbá", que aliás já fizeram na minha frente duas grandes obras. Não nego a beleza das festas, mas não houve um critério que preservasse a cultura original indígena.
O norte-americano DeMaraville...que também é bibliotecário de Massachusett... opinou que nosso livro "Uma Luz nos Mistérios Amazônicos" é a melhor obra já feita no mundo sobre o
El Dorado. Respeito muito sua opinião como bibliotecário, mas só posso lamentar que não vai ser impresso no Brasil.

18) Uma última pergunta. Você foi um dos precursores no Brasil, da técnica de investigação conhecida como 'morfologia somática". Do que consiste essa técnica?

Pratico desenho da figura humana desde que tinha 4 anos de idade, portanto fazem 63 anos, e comecei profissionalmente quando tinha 12, em 1947, fazendo rostos publicitários para a Fonck Propaganda no Chile. O que desejo transmitir é que uma vida inteira retratando feições, me possibilitam enxergar coisas que uma mente comum é incapaz de ver. Por exemplo, numa caveira, detecto toda a anatomia superficial. Do mesmo modo, o rosto de um indígena me conta todo seu passado, as miscigenações, os climas onde morou, as migrações, etc. Se isso for aliado ao estudo dos povos que habitaram o planeta, resulta fácil entender suas ligações.
Quando há mais de 20 anos comecei minhas pesquisas antropológicas, detectei logo que os primeiros colonizadores da América eram negros, assunto que foi tomado como um disparate. Recentemente, os arqueólogos de São Paulo admitem agora como se fosse descoberto por eles. Minha tese dos paleoíndios serem negróides foi apresentada publicamente no concurso de História da SUFRAMA em 1988.
Muitas pessoas me perguntam porque não tiro um diploma como antropólogo, mas a minha formação vai além disso, não posso recuar numa qualificação superada. Não existe diploma para 60 anos de prática.

“Dalton Delfini Maziero é historiador, maquetista, expedicionário e idealizador do site Arqueologiamericana. Dedica-se atualmente, à construção de maquetes arqueológicas e instalação de espaços culturais”.

Você quer saber mais?

http://www.arqueologiamericana.com.br/artigos/artigo_01.htm


http://www.yurileveratto.com/articolo.php?Id=34

Nenhum comentário:

Postar um comentário