Os primeiros sesmeiros
Os primeiros sesmeiros (agricultores
que recebiam doações de terras da coroa portuguesa com o obejtivo
de cultivá-las) que se radicaram nesta região, estabeleceram-se,
onde hoje fica Viamão, Cosme da Silveira e Ávila e Antônio de
Sousa Fernandes, sendo que os demais, em campos de Capivari. O
historiador Gen. Borges Fortes cita o nome de Sousa Fernandes,
referindo-se aos primeiros povos de Gravataí. A sesmaria de
Francisco Pinto Bandeira circundava o Morro de Sapucaia, e a de Sousa
Fernandes estava localizada nos campos entre este cerro e o de
Itacolomi. Posteriormente apareceram outros sesmeiros em 1738 a 1797,
1756 a sesmaria da “Figueira” foi comprada por Domingos Gomes
Ribeiro, essa sesmaria viria a ser conhecida por Barro Vermelho. Em
1784 era proprietária dessas terras Dona Maria Eufrásia
Quintanilha, sendo adquirida posteriormente pela família Paim de
Andrade. No mesmo ano de 1784, João Garcia Dutra ficou proprietário
da Sesmaria dos Ferreiros que se estendia até o Passo da Cavalhada.
Por ocasião da demarcação da
fronteira, resolveram as autoridades adquirir uma área suficiente de
terra, para nela, aldear os silvícolas das raças Tapes e Guaranis,
comandados pelo Gen. Gomes Freire de Andrades. A área escolhida foi
um rincão, em local alto e vistoso, distante uma milha e meia do rio
Gravataí. Era dividida pelos arroios Barnabé e Ferreiros, e pelo
rio Gravataí.
Primeira capela e igreja
De 1760 a 1761, construiu-se a
primeira capela em solo gravataiense, sendo curada a partir de 21 de
dezembro de 1761. O padre Bernardo Lopes da Silva foi o indicado para
ser o seu capelão. Tornou-se paróquia, em 1772, a Capela de Nossa
Senhora dos Anjos. Em 1765, já aqui assentados os silvícolas,
oriundos de Rio Pardo, encontramos os primeiros registros de batismo.
No mesmo local onde se encontra a atual matriz, construiu-se o
segundo templo, por ordem do governador José Marcelino de
Figueiredo, em 1774. O material de construção e os serventes eram
fornecidos pela Caixa dos Bens das Famílias Rurais. Tal casa de Deus
possuía as mesmas dimensões da atual matriz, mas sem torres.
Fundamentos da Aldeia
No dia 08 de abril de 1763, chegava
ao rincão o Capitão e Dragão Antônio Pinto Carneiro, conduzindo
uma leva de 1.000 índios, procedentes de Rio Pardo, sendo
originários dos Sete Povos das Missões. Antônio Pinto Carneiro
lançou os fundamentos da Aldeia. Aqui, havia uma modesta capela,
existindo já índios agrupados.
Governo de José Marcelino de
Figueiredo
Em 23 de abril de 1769, foi
empossado governo do continente, no Arraial de Viamão, José
Marcelino de Figueiredo, fazendo da Aldeia uma organização
exemplar, agora, contando com 2.712 almas. Prédios públicos são
construídos, os índios são matriculados; manda abrir a primeira
rua; contrói alguns prédios públicos. Os índios forma radicados
no plantio do trigo e árvores frutíferas. Três moinhos são
construídos, para substituir os pilões. Ordena a construção de
uma olaria, suprindo as necessidades da Aldeia e parte do mercado do
Porto dos Casais, hoje, Porto Alegre, fornecendo tijolos e telhas.
Institui a primeira igreja. Mandou também construir teares para os
índios tecerem seus vestuários. Em 1770, é fundada uma escola,
destinada a instruir os meninos indígenas, tendo como professor
Antônio José de Alencastro, primeiro professor público no Rio
Grande do Sul. Em 1778, há a criação de um educandário para o
ensino das meninas: Escola Mirante das Recolhidas das Servas de
Maria. Nas escolas os indígenas não podiam falar o guarani, somente
o português, e, com isso, diluiu-se uma rica bagagem cultural, haja
vista que a língua, deixada pelos indígenas, se não proibida,
teria-nos legado um vocabulário mais farto, tornando possível um
maior aprofundamento no que tange às nossas raízes. Em 1795, a
Aldeia desmembrou-se da Freguesia de Viamão, passando à categoria
de Freguesia, sendo anexadas as terras à direita do rio Gravataí,
desde a nascente até a foz. É importante lembrar que a agricultura
dos povos guaranis concentrava-se na Costa do Itacolomi, a exemplo
dos povos missioneiros, que concentravam suas culturas, separadas das
moradias.
Primeira Rua de Gravataí
A Rua Anápio Gomes, cujo nome foi
oficializado em 1966, em homenagem ao ex-prefeito e filho deste
município, foi aberta por ocasião da criação da Povoação de
Nossa Senhora dos Anjos da Aldeia, em 1769, por ordem do governador
José Marcelino de Figueiredo, para dar organização e feição
urbanística ao povoado de indígenas trazidos de Rio Pardo, segundo
documentos à Capela de Viamão e de Rio Grande. Inicialmente, foi
chamada de Rua Primeira, depois de Rua da Direita. Assim foi
oficializado o nome de Rua da Direita, como aparece nos documentos
oficiais, até a Proclamação da República. Até a década de 20,
esta rua foi chamada de “Rua de Baixo”. Alguns a chamavam de “Rua
do Seu Lessa ou Rua do Cássio”. Convém lembrar que Seu Lessa foi
o primeiro juiz municipal. A rua só passou a ser chamada Marechal
Floriano Peixoto, pela população, após sua remodelação, iniciada
pelo prefeito José Loureiro da Silva, quando Gravataí perdeu as
características de Aldeia: casas de beirais baixos e ruas
lamacentas.
Nossa Igreja Matriz e sua história
Após a igreja sem torres, foi
construída a atual. Apesar das preocupações do vigário e da
iminência de desabamento, só em 1855, o presidente João Lins
Vieira Cansansão do Sinimbu, atendendo ao fato de que a população
da Aldeia promovera entre si uma subscrição que rendera 15 contos
de réis para a construção da nova igreja, resolve empreender a
obra por arrematação. Finalmente, em 1887/1888, a Irmandade
contrata com João Cariboni a conclusão da obra, inclusive a
cobertura das torres. Nessa mesma ocasião, os dois sinos foram
instalados no alto da torre esquerda. Cabe aqui referir que a
tradição trouxe até nós que os dois sinos de nossa matriz foram
trazidos das Missões, por José Ângelo da Fonseca, numa viagem de
carreta de bois que durou seis meses.
Instalação da Vila
O progresso do povoado era
incessante. Por isso, através de uma lei de 11 de julho 1880, o
presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Sr.
Henrique de Ávilla, elevou a Aldeia dos Anjos para a categoria de
Vila. E em 23 de outubro de 1880 declarada a nova vila com o nome de
Nossa Senhora dos Anjos de Gravatahy.
Meios de transportes coletivos- tração
animal
Marcelino Costa, residente em
Gravataí, na Rua Anápio Gomes possuía uma empresa de carros de
tração animal, fazendo transporte de passageiros a Porto Alegre.
Eram duas carruagens de quatro rodas. Segunda, quarta e sábado eram
os dias escolhidos para as viagens. Tais carruagens eram conhecidas
por diligências ou breques. Existiam na década de 1920. As
diligências de quatro rodas transportavam seis passageiros, e as de
duas rodas, dois passageiros. As passagens eram caríssimas, e a
viagem durava, ida e volta, seis horas, devido ao lastimável estado
de trafegabilidade das estradas.
Transporte coletivo – primeiros
ônibus
Quem teve iniciativa, visando ao
aprimoramento do transporte coletivo, em Gravataí, foi a Empresa
Reis e Costa, de Gomercindo Reis e de Olinto Costa, em 1924. Na
década de 1930, havia a Empresa Gravataiense, com ônibus verdes,
contendo listra marrom. Os ônibus eram abertos, com bancos inteiros
e com estribo nas laterais, tendo uma cobertura de lona para
proteger as pessoas da chuva. O ponto de saída dos ônibus era na
atual Rua Cônego Pedro Wagner coma Rua Dr. José Loureiro da Silva.
O ponto de chegada era o canto esquerdo do Mercado Público, na Av.
Borges de Medeiros, esquina com a Voluntários da Pátria, em Porto
Alegre. No local de chegada, existia um café onde se reuniam os
passageiros. Quando alguém queria ir a Porto Alegre, mandava um
recado ao motorista o qual ia buscar a pessoa em casa, sendo as
viagens feitas duas vezes por semana. Depois dos dois primeiros
ônibus, passou a circular a Empresa Gravataiense. Seus ônibus eram
verdes com listras marrons. Na década de 1940, quando houve o
racionamento de gasolina, devido a crise do Petróleo causada pela
Segunda Guerra Mundial, a Empresa Gravataiense tinha alguns ônibus
movidos a gasogênio. Gerado do carvão de lenha, possuía dois tubos
feitos de latão que e5ram colocados na traseira do carro. No
primeiro tubo, era colocado o carvão e, através de uma mecha de
pano ou algodão embebido em álcool, era aceso o carvão. O gás,
filtrado do segundo tubo, ia diretamente ao motor para mover o carro.
Escola Dom Feliciano: marco cultural
de Gravataí
Os moradores da Aldeia dos Anjos
fizeram um pedido à Superiora-Geral da Congregação das Irmãs do
Imaculado Coração de Maria, objetivando nela ser fundado um
colégio. Três irmãs foram enviadas para Gravataí: Maria Matilde,
Maria Marta e Maria Gertrudes. O embrião dessa potência cultural,
que é hoje a Escola Dom Feliciano, estava germinando e toda a
comunidade gravataiense estava sendo conclamada a colaborar com uma
tão feliz ideia como demonstra muito bem o seguinte convite:
“Realizar-se-á, em Gravatahy, no salão “Padre Vargas”, da
Aliança Cathólica, no dia 18/07/1925, às 20 horas, levado pelo
corpo cênico Parochial, grande festival, em benefício das obras do
Collégio Parochial “Dom Feliciano”. O grande festival aconteceu
lentamente, mas decididamente, debruçado no horizonte cultural
gravataiense, estava surgindo o Dom Feliciano.
O Sr. Antônio Cardoso de Jesus
muito gentilmente ofereceu um prédio no qual começou a funcionar a
Escola ( Primário). Em 1926, o vigário Cônego Pedro Wagner,
ardoroso batalhador da causa do ensino e da educação em Gravataí,
conseguiu um prédio próprio para o tranquilo funcionamento da
Escola, não tendo sido firmado qualquer contrato de aluguel. Aos 2
de março de 1926, iniciaram as aulas com bom número de alunos
internos e externos.
Antigo Porto das Canoas
O Porto das Canoas ficava no rio
Gravataí, ainda hoje é possível identificar o local onde ficava o
porto, os alicerces das tulhas e depósitos, assim como as muretas
onde as embarcações atracavam, as margens do porto no local hoje
conhecido como Passo das Canoas. O Porto das Canoas foi de grande
utilidade para o transporte da produção do Município, desde tempos
remotos. Dentre as embarcações que utilizavam esse porto, temos
conhecimento das “gasolinas”, tanto para o transporte coletivo
como para o de carga. Havia também os “lanchões”, sendo barcos
tocados a vara. Pelas gasolinas, eram transportados produtos como
farinha de mandioca, polvilho, sendo receitas básicas do Município.
Também eram transportados melaço, rapadura, tijolos e telhas pelas
gasolinas. A produção de farinha era comprada pelos comerciantes e
depositada em grandes casarões que eram denominados de “tulhas”.
Após era levada até o porto, em carretas, puxadas por bois, e, em
carroças, puxadas por cavalos. Dava acesso ao Porto a primeira rua
de Gravataí, partindo-se da Praça Floriano Peixoto. Os carreteiros,
que traziam farinha e polvilho do interior, sesteavam, soltava os
bois e faziam fogo no chão, na Praça Borges de Medeiros, não sendo
cortada, como hoje, pela Rua Osvaldo Aranha. Nas gasolinas de
transporte coletivo, eram transportados passageiros que iam a Porto
Alegre ou vinham de Porto Alegre à Vila Nossa Senhora dos Anjos. As
autoridades de Porto Alegre, e até os médicos, quando vinham a
Gravataí, do Porto das Canoas, eram conduzidas nas diligências até
o centro. As gasolinas traziam mercadorias para os comerciantes que
tinham depósitos no Porto das Canoas como Pedro Dutra, Acácio
Soares, Ary Tubbs e outros. Também havia, como embarcação, uma
pequena barca de madeira que, através de um arame preso nas
laterais, fazia com que se pudesse atravessar o rio, chegando ao lado
de Viamão. Tal barca era puxada manualmente. As “gasolinas”, que
serviam ao transporte coletivo, também recebiam nomes como :
“Gasolina Nilza”, de propriedade do Sr. Lalau; a “Gasolina
Gomes”, de transporte de carga, pertencia ao Sr. Alcides Gomes, e a
“Gasolina Vitória”, de transporte de carga, pertencente ao Sr.
Pequeno Revessa.
Engenhos, Alambiques e Moinhos
Nos primórdios da nossa economia,
houve grande número de engenhos, moinhos e alambiques no nosso
Município. Os engenhos eram movidos por tração animal. Garapa é o
nome que se dá ao líquido que escorre da cana moída. Após, é
colocada no forno, em grande tacho, para a fabricação do melado
que, batido em tachos, é transformado em rapadura, feita em formas
de madeira. Quando pronta, a rapadura é empalhada, com palha de
milho, sendo amarrada com tiras de bananeira ou palha de milho. O
Alambique é o lugar onde se fabrica a cachaça, sendo a água
destilada da garapa, através do uso da serpentina. A garapa é
fervida, e o líquido que forma a cachaça é extraído através da
serpentina, gerando três tipos de aguardente: forte, média e
moderada. Quanto aos moinhos graneleiros, tivemos alguns no
Município, mandatos construir pelo governador José Marcelino de
Figueiredo. Alguns eram movidos por tração animal; outros, por roda
d’água. Antes de ir ao moinho, o milho era debulhado e sempre
torrado em casa. No moinho, passava pela mó, saindo, após, a
farinha. Moído o milho, pagava-se a moagem. A mecanização da
lavoura, as terras gastas e o êxodo rural encarregaram-se de fazer
diluir, quase que totalmente, tais afazeres no seio da população
gravataiense.
Em 1930 termina a era dos intendentes
e começa a época dos prefeitos nomeados.
João Cândido Machado, Tenente e
Coronel, foi o primeiro Prefeito nomeado de Gravataí (1930-1931),
precedendo a brilhante administração do Dr. José Loureiro da Silva
(1931-1936). O ano de 1931 marcou o início de uma nova fase
econômica para Gravataí, motivada pela nomeação do Prefeito José
Loureiro da Silva, prefito nomeado, que veio dar uma vida nova ao
Município com sua profícua administração. Efetuou reformas nas
velhas casas de beirado baixo, melhorou as ruas que eram empoeiradas,
no verão, e barrentas, no inverno, e a Vila, que antes era iluminada
deficientemente pelo motor a querosene, de corrente contínua,
instado no fundo do quartel velho, onde hoje fica a Junta Militar. O
prefeito José Loureiro da Silva, o grande administrador que
remodelou e urbanizou a Vila.
A Atafonas e as Farinhadas
A cultura da mandioca teve
participação ativa na economia do Município, fornecendo a farinha
de mandioca e o polvilho. Para a obtenção da farinha de mandioca,
inclusive a já torrada, utilizava-se as atafonas, sendo moinhos
manuais ou movidos por cavalgaduras. As atafonas aqui existentes eram
de tração animal, movidas por bovinos, equinos ou muares. A
mandioca era trazida por carretas de tração bovina, sendo raspada
manualmente com pequenas facas apoiadas num banquinho. Após, era
levada ao tremonhado (em moenda ou moinho, utensílio que apara o
grão triturado, a farinha)., ao rodízio e, depois, era levada à
prensa para extrair o líquido. As prensas eram de madeira, e os
tipitis eram de taquara. Da massa da mandioca, extraía-se o
polvilho.
Você quer saber mais?
ROSA, Jorge. História de Gravataí.
EDIGAL: Gravataí, 1987.