A
abordagem se liga ao romance NETTO PERDE SUA ALMA, seu processo de transposição
para roteiro cinematográfico e o trabalho de co-direção , com Beto Souza, bem
como o trabalho de montagem do filme.
O
general brasileiro Antônio de Souza Netto, ferido durante a Guerra do Paraguai
(1861-1866), é recolhido ao Hospital Militar de Corrientes, Argentina. Percebe
que ali acontecem coisas estranhas e uma noite recebe a visita do ex-escravo
sargento Caldeira - antigo companheiro - e juntos lembram guerras e rebeliões,
amigos e inimigos, amores e desafetos. Rememoram o passado comum durante a
rebelião republicana no sul do Brasil, conhecida como Guerra dos Farrapos
(1835-1845); a Proclamação da República Rio-Grandense e a revolta dos soldados
negros, após a guerra, quando acontece um trágico encontro entre Netto,
Caldeira e o jovem Milonga - um escravo alistado na Corpo de Lanceiros Negros.
Netto recorda também o exílio em Piedra Sola, no Uruguai, onde conviveu com os
fantasmas do passado, e descobriu o amor, com Maria Escayola.
Agora
na cama do hospital, Netto se depara com mais um desafio: vingar o capitão de
los Santos. Naquela noite de surpreendentes revelações, unidos por um terrível
segredo, os dois veteranos enfrentam a derradeira batalha.
Tabajara
Ruas
autor do romance e co-diretor
autor do romance e co-diretor
Como
funciona a licença poética?
Muitas
pessoas já devem ter se deparado com o seguinte termo para explicar o motivo
por certo comentário dentro da literatura ou até mesmo da vida cotidiana: isto
foi uma licença poética.
Mas
será que você sabe ao certo o que vem a ser uma licença poética e como ela
funciona? Pois para ajudá-lo a responder a estas perguntas, nós vamos mostrar
em detalhes como funciona uma licença poética, para acabar com qualquer dúvida
que possa surgir.
O que é?
Antes
de qualquer coisa, é importante procurar entender o que é uma licença poética,
portanto, nós vamos esclarecer este termo de modo direto para que não haja
qualquer tipo de mal entendido.
Uma
licença poética nada mais é do que uma incorreção de linguagem que é permitida
dentro do contexto da poesia, sendo que ela também é aplicada em outros campos
literários e também fora dele.
A
licença poética sempre surge por meio de afirmações, opiniões, teorias e também
de situações que simplesmente não seriam aceitáveis se estivessem fora do
chamado contexto do campo da literatura.
Erros Propositais
A
licença poética se faz presente como uma espécie de erro proposital que o
poeta/autor lança mão para fazer com que um determinado ponto seja reforçado e
ganhe luz.
Este
recurso não mostra o desconhecimento do autor para com determinado tema, mas
sim, demonstra, em muitos casos, que ele realmente domina o tema em questão, ao
ponto de ser capaz de usá-lo de modo aparentemente indevido apenas para
reforçar um ponto de vista.
Exemplos de licenças poéticas
Agora
que você já sabe o que são e como são aplicadas as licenças poéticas, nós vamos
dar alguns exemplos de licenças poéticas que mostram claramente como elas podem
ser mais comuns do que se imagina.
No
trecho: “Gostaria agora de escrever um livro. Usaria o idioma das larvas
incendiadas…”, fica evidente que o autor Manoel de Barros não acreditava que de
fato havia um idioma de larvas, mas ele usou este recurso para reforçar uma
crítica à forma como muitas pessoas usavam o idioma, tal como larvas.
Na
música também vemos poesia, não é mesmo? Pois é nela que também vemos a
presença da licença poética, como no trecho a seguir: “Meu coração já não bate,
só apanha…”.
Neste
trecho de uma música de Arnaldo Antunes, fica claro que o compositor não
acredita exatamente que o seu coração apanhe de fato, mas ele usa esta licença
poética para reforçar o quanto está acostumado mais a sofrer na vida afetiva do
que a ter alegrias.
De acordo com o filme Netto foi
mostrado como herói aos olhos do autor e diretor.
Porém a hoistória contradiz essa
postura,quando relata dizendo que com numerosa baixa de soldados e Bento
Gonçalves exilado os então escravocratas Davi Canabarro e Netto.
Batalha
de Porongos: covardia, traição, falsidade
A
Revolução Farroupilha foi a mais longa revolta republicana contra o Império
escravocrata e centralizador brasileiro. Os grandes e poderosos proprietários
de terras gaúchos, sentindo-se desfavorecidos pelas leis federais,
principalmente pelos impostos considerados excessivos, entram em negociações
com o governo regencial. Tais negociações, consideradas insatisfatórias, criam
um crescente estado de tensão até o rompimento definitivo e a declaração de
guerra, em 20 de setembro de 1835.
Depois
do combate travado em Bagé, conhecido como “a Batalha do Seival”, em que as
forças imperiais foram surpreendente e rotundamente derrotadas, surge um
movimento político dissidente e separatista. Com sua radicalização é proclamada
a independência e criada a República Rio-Grandense frente ao Império do Brasil,
propondo uma República Federativa às demais províncias que viessem a separar-se
do Império e assumissem a forma republicana.
Capa do livro "Neto perde sua alma".
Para
lutar por “um país independente” foi necessário juntar as tropas dos generais
que aderiram à causa e assim foi formado o “exército farroupilha” liderado pelo
Gen. Bento Gonçalves. Na verdade, os verdadeiros protagonistas dessa luta foram
os negros, os índios, os mestiços e os brancos pobres que lutaram de forma
abnegada pela recém criada República e por espaços de liberdade, buscando um
futuro melhor para si e para os seus. Entre os generais está um abolicionista
convicto, Antônio de Souza Netto, que não só coloca a libertação dos escravos
como um dos “ideais farroupilha” como propõe a participação dos negros na luta
dos farrapos. Num primeiro momento a idéia é rejeitada. Porém, em 4 de outubro
de 1836”, depois da “Derrota de Fanfa”, em que Bento Gonçalves foi preso e o
exército farroupilha teve excessivas baixas, eles não vacilaram em libertar os
escravos que, em troca, se engajaram no exército farroupilha. Assim foi criada
a unidade militar que ficou conhecida como os Lanceiros Negros.
Nesse
corpo de Lanceiros
Negros só havia brancos entre os oficiais superiores. Os
negros eram os melhores domadores de cavalos da província. Suas lanças eram
maiores do que as ordinárias, os rostos pretos como azeviche. Seus corpos
robustos e a sua perfeita disciplina os tornavam o terror dos imperiais. A
participação decisiva dos Lanceiros Negros foi ressaltada pelo republicano
Giuseppe Garibaldi – “herói dos dois mundos” – em sua biografia escrita por
Alexandre Dumas: “soldados
de uma disciplina espartana, que com seus rostos de azeviche e coragem
inquebrantável, punham verdadeiro terror ao inimigo” ou ainda
“…mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, …em cujas fileiras
aprendi a desprezar o perigo e combater dignamente pela causa sagrada das
nações…” (GARIBALDI,Giuseppe, em FAGUNDES, M. Calvet, História da Revolução Farroupilha.
EDUCS.1989.p. 9).
Depois
de lutarem, durante dez anos, não por dinheiro ou impostos, mas pela
liberdade, no dia
14 de novembro de 1844 foram miseravelmente traídos no mais vergonhoso episódio
dessa guerra, conhecido como “O Massacre de Porongos”.
Desarmados, por seu comandante Canabarro, esses homens foram traiçoeiramente
entregues a sanha historicamente genocida de Caxias.
Duque
de Caxias: resolvendo a questão dos negros em armas
A
“Traição de Porongos” e o Massacre dos Lanceiros Negros
Como
explicar aos brasileiros tamanha covardia e a baixeza moral perpetradas por
dois homens, David Canabarro e Duque de Caxias, ambos idolatrados como “heróis”
pela historiografia oficial – um deles até considerado “patrono do Exército” –
durante a chamada Revolução Farroupilha? Os historiadores oficiais criaram
deliberadamente imagens falsas de Porongos procurando não macular “seus”
heróis. Entretanto, a hediondez dos acontecimentos só nos permite uma coisa:
não a explicação, mas a revelação da verdade, baseada em documentos oficiais
que ficaram escondidos por décadas e só agora revelados.
As
crescentes dificuldades enfrentadas pela nova República e as disputas políticas
na região do Prata, preocupantes para as autoridades do Império, impuseram às
duas partes negociações de paz. Uma vitória militar decisiva dos farrapos sobre
o exército imperial, comandado pelo então Barão de Caxias, tornara-se cada vez
mais inviável. Por parte do Império era importante terminar logo a luta e
buscar uma paz negociada, pois tudo indicava a inevitabilidade da luta com os
vizinhos platinos. Mas para as duas partes era importante resolver a questão
dos negros em armas.
Os revoltosos haviam prometido liberdade aos negros que lutavam no exército
farroupilha e com isso a Corte Imperial não concordava. Era um perigo para os
escravocratas brasileiros um grande número de negros armados. E se
eles, agora bastante coesos, procurassem asilo no Uruguai e a partir daí
continuassem a guerra com táticas de guerrilhas, fazendo do território uruguaio
seu santuário? Isso levaria à guerra e “poderia provocar graves problemas com a
Argentina de Juan Rosas” (LEITMAN Spencer, Negros Farrapos: hipocrisia racial no sul do Brasil no
séc. XIX e DACANAL José, A Revolução Farroupilha: história e interpretação.
Porto Alegre: Mercado Aberto.1985. p. 72)
Pelo
lado dos farrapos, Bento Gonçalves foi afastado da liderança, e os novos
líderes, David Canabarro e Antônio Vicente da Fontoura, ambos escravocratas,
negociavam a paz com Caxias. A promessa de liberdade para os combatentes negros
depois de 10 anos de abnegadas e vitoriosas lutas deles nas batalhas pesava
muito nas negociações.
General
David Canabarro: acordo
Foi
neste contexto que aconteceu, na madrugada de 14 de novembro de 1844, o “Massacre de Porongos” em
que os Lanceiros
Negros – previamente desarmados por Canabarro e separados
do resto das tropas – foram atacados de “surpresa” e dizimados pelas tropas
imperiais comandadas pelo Cel. Francisco Pedro de Abreu (o Moringue), através
de um conluio entre o barão (mais tarde duque) de Caxias e o gen. Canabarro
para se livrarem dos negros
em armas e poderem finalmente assinar a Paz de Ponche
Verde. “Traição de Porongos,
que mais foi a matança de um só lado do que peleja, dispersou a principal força
republicana e manifestou morta a rebelião. (…) Em Porongos pois, a revolução
expirou. Foi daí que seguiu-se o entabulamento das negociações, que deram
tranqüilidade ao Rio Grande do Sul” (ARARIPE, Tristão de
Alencar. Guerra civil
no Rio Grande Do Sul: memória acompanhada de documentos lida no Instituto
Histórico Geográfico do Brasil. Porto Alegre, CORAG, 1986, p.211).
“Caxias confiava no poder do ouro. Com
poderes ilimitados e verbas consideráveis para sobrepor-se aos “obstáculos
pecuniários” que surgissem ao negociar com os líderes farrapos, ele tentou um
acordo com David Canabarro, o principal general farrapo, para terminar a
guerra. De comum acordo decidiram destruir parte do exército de Canabarro,
exatamente seus contingentes negros, numa batalha pré-arranjada, conhecida como
“Surpresa de Porongos” em 14 de Novembro de 1844” (LEITMAN,
Spencer. Negros
Farrapos …Idem p. 75)
Em
suas instruções secretas a Moringue, o comandante da operação, Caxias,
orientou-o no sentido de poupar brancos e índios, que poderiam ser úteis para
futuras lutas.
Cópia
integral dessas “instruções secretas” encontra-se no Arquivo Histórico do Rio Grande
do Sul e nela está afirmado: Reservado: “Senhor
Cel. Francisco Pedro de Abreu (…) Regule V.S. suas marchas de maneira que no
dia 14, às duas horas da madrugada possa atacar as forças ao mando de Canabarro
que estará neste dia no cerro dos Porongos (…) Suas marchas devem ser o mais
ocultas que possível seja, inclinando-se sempre sobre a sua direita, pois posso
afiançar-lhe que Canabarro e Lucas ajustaram ter as suas observações sobre o
lado oposto. No conflito, poupe o sangue brasileiro o quanto puder,
particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa
pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro. A relação justa é das pessoas a
quem deve dar escapula, se por casualidade caírem prisioneiros. Não receie a
infantaria inimiga, pois ela há de receber ordem de um ministro de seu general
em chefe para entregar o cartuchame sob o pretexto de desconfiarem dele. Se
Canabarro ou Lucas forem prisioneiros, deve dar-lhes escapula de maneira que
ninguém possa nem levemente desconfiar, nem mesmo os outros que eles pedem que
não sejam presos (…) 9 de novembro de 1844.Barão de Caxias”
[AHRS. Anais do Arquivo
Histórico do Rio Grande do Sul-Volume 7. Porto Alegre, 1963.
P.30/31].