PESQUISE AQUI!

quarta-feira, 18 de maio de 2016

O Colosso de Rodes



Foram necessários 12 anos para construir a estátua

por Maria Carolina Cristianini

A palavra “colosso” não dá nome a uma das Sete Maravilhas da Antiguidade por acaso. Estátua de Hélios, o deus grego do Sol, o Colosso de Rodes tinha 32 metros de altura, o mesmo que um prédio de dez andares. O monumento foi construído para comemorar a vitória dos gregos da ilha de Rodes contra o rei macedônico Demétrio I, que tentou invadi-la em 305 a.C.

A estátua levou provavelmente 12 anos para ficar pronta – sua construção começou em 294 a.C. O escultor Chares, da cidade de Lindos, idealizou o projeto usando como referência outras estátuas do mesmo deus. Todo feito em bronze, o monumento foi erguido nas proximidades do porto e permaneceu em pé pouco tempo, até 225 a.C., quando um terremoto o destruiu. Ali ficou em ruínas até que os árabes invadiram Rodes, no ano de 654, desmontaram as peças quebradas e as venderam.

Vida breve

Monumento ficou em pé menos de 60 anos

1. Pé no mármore

O Colosso foi construído sobre uma base de mármore de 3 metros de altura. As primeiras partes a serem fixadas da estátua, claro, foram os pés, que eram ocos, e os tornozelos. De acordo com relatos do matemático Philon de Bizâncio, 8 toneladas de ferro foram usadas na construção – as vigas do material sustentavam a estrutura interna.

2. Caneleira de pedra

A estrutura da estátua era também mantida por colunas de pedra, que envolviam as vigas de ferro das pernas. Cada um dos pilares de pedra tinha cerca de 1,5 metro de diâmetro. O escultor queria evitar que o Colosso perdesse o equilíbrio e tombasse – por isso adicionou mais peso às porções mais baixas da estátua.

3. Montanha artificial

Para facilitar a construção, os operários fizeram rampas de terra e madeira ao redor da estátua. Cerca de 13 toneladas de bronze foram usadas no revestimento do monumento. Cada placa de bronze tinha que ser cuidadosamente fundida e martelada no formato certo. Elas eram então levadas até a posição correta na estátua por cordas e um sistema de roldanas.

4. Ajuda dos inimigos

O ferro e o bronze utilizados na construção da estátua foram provavelmente obtidos com a fundição e venda dos armamentos deixados pelos inimigos na invasão frustrada. Há também a possibilidade de existirem na ilha minas de cobre, estanho (base para o bronze) e ferro – a maior parte deste material foi usada em vigas nas pernas do monumento e em barras diagonais colocadas a partir da barriga da estátua.

5. Braço de ferro

Partes ocas da estátua, como os braços, foram preenchidas com uma mistura de entulho e pedras. Embora não exista registro preciso sobre a aparência do Colosso, ele provavelmente segurava um manto com a mão esquerda, usava uma coroa e tinha a mão direita sobre os olhos (que representava o direcionamento de seus raios de luz).

6. Operário padrão

Por causa da altura do monumento, é provável que grande parte do bronze tenha sido esculpida nas rampas de terra construídas pelos operários. Não há registro sobre o número de trabalhadores – calcula-se que centenas foram contratados também com o dinheiro da venda dos armamentos e objetos abandonados pelos invasores.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

100 Erros comuns em Redação





Erros gramaticais e ortográficos devem, por princípio, ser evitados. Alguns, no entanto, como ocorrem com maior frequência, merecem atenção redobrada. Veja os cem mais comuns do idioma e use esta relação como um roteiro para fugir deles.

1. "Mal cheiro", "mau-humorado". Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar.

2. "Fazem" cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.

3. "Houveram" muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais.

4. "Existe" muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam ideias.

5. Para "mim" fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.

6. Entre "eu" e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti.

7. "Há" dez anos "atrás". Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás.

8. "Entrar dentro". O certo: entrar em. Veja outras redundâncias: Sair fora ou para fora, elo de ligação, monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido.

9. "Venda à prazo". Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a palavra moda: Salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos: A salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter.

10. "Porque" você foi? Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado: Por que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por que razão você se atrasou. Porque é usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado.

11. Vai assistir "o" jogo hoje. Assistir como presenciar exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou) à população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes.

12. Preferia ir "do que" ficar. Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. É preferível segue a mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória.

13. O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas denúncias. Não existe o sinal entre o predicado e o complemento: O prefeito prometeu novas denúncias.

14. Não há regra sem "excessão". O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: "paralizar" (paralisar), "beneficiente" (beneficente), "xuxu" (chuchu), "previlégio" (privilégio), "vultuoso" (vultoso), "cincoenta" (cinquenta), "zuar" (zoar), "frustado" (frustrado), "calcáreo" (calcário), "advinhar" (adivinhar), "benvindo" (bem-vindo), "ascenção" (ascensão), "pixar" (pichar), "impecilho" (empecilho), "envólucro" (invólucro).

15. Quebrou "o" óculos. Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: Meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.

16. Comprei "ele" para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandou-me.

17. Nunca "lhe" vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o ama.

18. "Aluga-se" casas. O verbo concorda com o sujeito: Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim que se evitam acidentes. / Compram-se terrenos. / Procuram-se empregados.

19. "Tratam-se" de. O verbo seguido de preposição não varia nesses casos: Trata-se dos melhores profissionais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta-se com os amigos.

20. Chegou "em" São Paulo. Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo.

21. Atraso implicará "em" punição. Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará punição. / Promoção implica responsabilidade.

22. Vive "às custas" do pai. O certo: Vive à custa do pai. Use também em via de, e não "em vias de": Espécie em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão.

23. Todos somos "cidadões". O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres.

24. O ingresso é "gratuíto". A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo.

25. A última "seção" de cinema. Seção significa divisão, repartição, e sessão equivale a tempo de uma reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, sessão do Congresso.

26. Vendeu "uma" grama de ouro. Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, etc.

27. "Porisso". Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de.

28. Não viu "qualquer" risco. É nenhum, e não "qualquer", que se emprega depois de negativas: Não viu nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Nunca promoveu nenhuma confusão.

29. A feira "inicia" amanhã. Alguma coisa se inicia, se inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã.

30. Soube que os homens "feriram-se". O que atrai o pronome: Soube que os homens se feriram. / A festa que se realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções subordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. / Quando se falava no assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga. / Depois o procuro.

31. O peixe tem muito "espinho". Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O "fuzil" (fusível) queimou. / Casa "germinada" (geminada), "ciclo" (círculo) vicioso, "cabeçário" (cabeçalho).

32. Não sabiam "aonde" ele estava. O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos?

33. "Obrigado", disse a moça. Obrigado concorda com a pessoa: "Obrigada", disse a moça. / Obrigado pela atenção. / Muito obrigados por tudo.

34. O governo "interviu". Intervir conjuga-se como vir. Assim: O governo interveio. Da mesma forma: intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc.

35. Ela era "meia" louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga.

36. "Fica" você comigo. Fica é imperativo do pronome tu. Para a 3.ª pessoa, o certo é fique: Fique você comigo. / Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui.

37. A questão não tem nada "haver" com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você.

38. A corrida custa 5 "real". A moeda tem plural, e regular: A corrida custa 5 reais.

39. Vou "emprestar" dele. Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordância: Pediu emprestadas duas malas.

40. Foi "taxado" de ladrão. Tachar é que significa acusar de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano.

41. Ele foi um dos que "chegou" antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sempre vibravam com a vitória.

42. "Cerca de 18" pessoas o saudaram. Cerca de indica arredondamento e não pode aparecer com números exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram.

43. Ministro nega que "é" negligente. Negar que introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide para a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa.

44. Tinha "chego" atrasado. "Chego" não existe. O certo: Tinha chegado atrasado.

45. Tons "pastéis" predominam. Nome de cor, quando expresso por substantivo, não varia: Tons pastel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é o normal: Ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas.

46. Lute pelo "meio-ambiente". Meio ambiente não tem hífen, nem hora extra, ponto de vista, mala direta, pronta entrega, etc. O sinal aparece, porém, em mão-de-obra, matéria-prima, infra-estrutura, primeira-dama, vale-refeição, meio-de-campo, etc.

47. Queria namorar "com" o colega. O com não existe: Queria namorar o colega.

48. O processo deu entrada "junto ao" STF. Processo dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do (e não "junto ao") Guarani. / Cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não "junto aos") leitores. / Era grande a sua dívida com o (e não "junto ao") banco. / A reclamação foi apresentada ao (e não "junto ao") Procon.

49. As pessoas "esperavam-o". Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-nos.

50. Vocês "fariam-lhe" um favor? Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do presente, futuro do pretérito (antigo condicional) ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca "imporá-se"). / Os amigos nos darão (e não "darão-nos") um presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo "formado-me").

51. Chegou "a" duas horas e partirá daqui "há" cinco minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias.

52. Blusa "em" seda. Usa-se de, e não em, para definir o material de que alguma coisa é feita: Blusa de seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira.

53. A artista "deu à luz a" gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado dizer: Deu "a luz a" gêmeos.

54. Estávamos "em" quatro à mesa. O em não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na sala.

55. Sentou "na" mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador.

56. Ficou contente "por causa que" ninguém se feriu. Embora popular, a locução não existe. Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu.

57. O time empatou "em" 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por.

58. À medida "em" que a epidemia se espalhava... O certo é: À medida que a epidemia se espalhava... Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na medida em que elas existem.

59. Não queria que "receiassem" a sua companhia. O i não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no e que precede a terminação ear: receiem, passeias, enfeiam).

60. Eles "tem" razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem.

61. A moça estava ali "há" muito tempo. Haver concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia (fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia (fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do indicativo.)

62. Não "se o" diz. É errado juntar o se com os pronomes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz (não se diz isso), vê-se-a, etc.

63. Acordos "políticos-partidários". Nos adjetivos compostos, só o último elemento varia: acordos político-partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econômico-financeiras, partidos social-democratas.

64. Fique "tranquilo". O u pronunciável depois de q e g e antes de e e i exige trema: Tranquilo, consequência, linguiça, aguentar, Birigui.

65. Andou por "todo" país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos.

66. "Todos" amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas as contradições do texto.

67. Favoreceu "ao" time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão favoreceu os jogadores.

68. Ela "mesmo" arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia.

PESQUISA QUANTITATIVA E QUALITATIVA



As pesquisas quantitativa e qualitativa se definem a partir da abordagem do problema formulado, visando à checagem das causas atribuídas a ele.


Na escolha do tema do trabalho a ser desenvolvido, sabe-se que seu foco de estudo, seu objeto de análise, partirá, necessariamente, de um problema. Imaginemos que você decida compreender o fenômeno da falta de interesse dos alunos em relação a uma determinada disciplina. Obviamente que você terá de escolher qual será o método que utilizará para checar as causas envolvidas nessa problemática. Afirma-se, dessa forma, que, dependendo da abordagem do problema, a pesquisa pode se classificar como quantitativa ouqualitativa.

Continuemos, pois, aproveitando os exemplos práticos. Suponhamos que a intenção do pesquisador seja medir, quantificar, o grau de satisfação dos habitantes de uma determinada cidade no que se refere à administração do prefeito atual. Para tanto, ele teria de optar pela pesquisa quantitativa, haja vista que ela se traduz por tudo aquilo que pode ser quantificável, ou seja, ele iria traduzir em números as opiniões e informações para então obter a análise dos dados e, posteriormente, chegar a uma conclusão.

Partindo do princípio de que essa modalidade requer o uso de estatísticas e de recursos, como, por exemplo, percentagens, média, mediana, coeficiente de correlação, entre outros, como o objetivo é o de apurar as opiniões explícitas dos entrevistados, o questionário representa um dos meios mais eficazes para testar de forma precisa as hipóteses levantadas. Por meio de questões do tipo “fechadas”, apresenta-se um conjunto de alternativas de respostas no intuito de se obter aquela que melhor representa o ponto de vista da pessoa entrevistada. Ao delinear de forma precisa e clara o que se deseja, tal procedimento garante uniformidade de entendimento por parte dos entrevistados, o que contribui para a eficácia, a precisão e a padronização dos resultados.

Mediante tais postulados, consideram-se relevantes alguns procedimentos, entre eles:

* Quais serão os objetivos a serem alcançados com a pesquisa?

* A população e a amostragem já se encontram definidas?

* Os questionários foram elaborados a partir de um critério estruturado, com base em perguntas claras e objetivas?

* O campo da coleta de dados já foi definido, ou seja, qual o local escolhido para aplicar o teste: nas residências, em um ambiente público, em uma empresa?

* Processamento dos dados (tabulação): as informações colhidas fornecem base suficiente para que sejam analisadas?

* Todos esses pressupostos, uma vez materializados, contribuirão para que a apresentação dos resultados se dê de forma precisa.

A pesquisa qualitativa é traduzida por aquilo que não pode ser mensurável, pois a realidade e o sujeito são elementos indissociáveis. Assim sendo, quando se trata do sujeito, levam-se em consideração seus traços subjetivos e suas particularidades. Tais pormenores não podem ser traduzidos em números quantificáveis.

Voltemos ao primeiro exemplo citado, cuja intenção é analisar as causas do desinteresse dos alunos em relação a uma determinada disciplina. Certamente que todo esse processo contará com a participação mais efetiva do pesquisador, ou seja, ele terá que observar o fenômeno mais de perto, isto é, deslocar-se para a escola e presenciar as aulas daquele professor regente da disciplina em questão. No caso do questionário aplicado aos alunos, é claro que opiniões irão divergir – dada a individualidade do ser humano.

Com base nesses princípios, afirma-se que a pesquisa qualitativa tem um caráter exploratório, uma vez que estimula o entrevistado a pensar e a se expressar livremente sobre o assunto em questão. Na pesquisa qualitativa, os dados, em vez de serem tabulados, de forma a apresentar um resultado preciso, são retratados por meio de relatórios, levando-se em conta aspectos tidos como relevantes, como as opiniões e comentários do público entrevistado.

Pesquisa acadêmica, pesquisa básica e pesquisa aplicada em duas comunidades cientificas.



Simon Schwartzman

(termos de referência de pesquisa, não publicado, janeiro de 1979)

O problema geral

O relacionamento entre pesquisa acadêmica, pesquisa básica e pesquisa aplicada é uma das questões fundamentais de política científica e tecnológica em todas as áreas de conhecimento. Essencialmente, esta questão tem a ver com as motivações do pesquisador e com o destino, ou a apropriação social dos frutos de seu trabalho. Para efeito desta pesquisa, entenderemos por "pesquisa acadêmica" aquela que tem por motivação a descoberta de fenômenos empíricos importantes, que possam avançar o conhecimento em determinado campo, de acordo com o consenso da comunidade de especialistas. Por "pesquisa aplicada" entenderemos aquela que tem um resultado prático visível em termos econômicos ou de outra utilidade que não seja o próprio conhecimento; e por "pesquisa básica" aquela que acumula conhecimentos e informações que podem eventualmente levar a resultados acadêmicos ou aplicados importantes, mas sem fazê-lo diretamente.

A questão do relacionamento entre as diversas formas de pesquisa científica tende a ser colocada usualmente de forma abstrata, como oposição entre dois modelos alternativos de entender e justificar o trabalho científico. O primeiro modelo privilegia a pesquisa acadêmica, como aquela mais capaz de levar ao desenvolvimento intelectual e à criatividade dos cientistas, o que levaria ao desenvolvimento dá pesquisa aplicada como sub-produto; o segundo privilegia a pesquisa aplicada, vendo nela a forma de vincular o trabalho científico com as necessidades econômicas e sociais e entendendo a pesquisa mais acadêmica como simples investimento necessário ao melhor encaminhamento dos trabalhos aplicados.

A confrontação abstrata entre estes dois modelos tende a ignorar a realidade com a qual trabalham os cientistas, que é sempre o resultado de uma combinação entre demandas, expectativas e aspirações nem sempre coincidentes ou convergentes. Cientistas são chamados a fazer pesquisas acadêmicas, a dar aulas em cursos de graduação e pós-graduação, se preocupam em contribuir para atividades socialmente relevantes, zelam por suas carreiras profissionais, e buscam trabalhos que lhes dêem rendimentos satisfatórios. Nem todas estás atividades são necessariamente convergentes: dar aulas tira tempo de pesquisa, a pesquisa acadêmica pode favorecer o reconhecimento profissional do cientista (e, por conseguinte, sua carreira a longo prazo) mas afastá-lo de trabalhos socialmente mais relevantes e melhor remunerados, e assim por diante.

O reconhecimento desta complexidade, diversidade e diferenciação da atividade científica não deve levar ao abandono dos esforços por entender e explicar o que ocorre a partir de um contexto conceitual mais sistemático e ordenado. A estratégia que utilizaremos para isto será a de considerar os dois modelos indicados acima como dois "tipos ideais" que possam servir de parâmetros para a análise; a eles acrescentaremos um terceiro, menos freqüente na literatura de sociologia da ciência, mas bastante importante, que é o modelo da ciência como atividade tecno-burocrática.

Teoria: Três modelos de ação.

Os modos alternativos de pensar a questão acima estão relacionados com dois "modelos ideais" , ou tipos ideais, a respeito da natureza do trabalho científico. Tipos ou modelos ideais, como sabemos, são " construtos" teóricos ou conceituais que tratam de reconstruir a lógica da ação humana em determinado campo de atividade a partir de seus valores e objetivos explícitos, que são depois levados a suas ultimas conseqüências lógicas. Os tipos ideais não descrevem a realidade empírica, mas permitem que sejam estabelecidos padrões de comparação e avaliação entre situações concretas e estes modelos. Mais ainda, ao partir de valores e objetivos explícitos, eles permitem entender o sentido da ação, a partir da qual situações historicamente concretas podem ser avaliadas.

I - O modelo ideal mais comumente difundido na sociologia da ciência é o da "Republica da Ciência", ou da "cidade" científica. Neste modelo, a atividade científica e essencialmente uma atividade voltada para a busca do conhecimento, com um sistema de prêmios, recompensas e punições baseado no maior ou menor sucesso nesta busca. As razões pelas quais as pessoas buscam o conhecimento são irrelevantes para o modelo: o que importa é que o conhecimento seja algo cuja posse seja considerada importante em si mesmo, e não para outros fins. A aferição da qualidade e propriedade deste conhecimento exige existência de um grupo de pessoas que tenha condição de avaliar a correção e a relevância dos conhecimentos adquiridos. Estas pessoas formam uma comunidade científica que funciona como uma corporação em suas relações com o resto dá sociedade: elas definem as regras de acesso e exclusão à comunidade e desenvolvem sua hierarquia interna de valores, prestígio e autoridade. Elas controlam suas próprias instituições - centros de pesquisa, revistas especializadas, institutos - e distribuem internamente seus recursos.

Internamente, estas comunidades são uma república meritocrática; todo o sistema de estratificação interna e distribuição de recursos é baseado em critérios de mérito intelectual, e para que isto possa ser feito existe um amplo mercado de circulação de informações. É pela disseminação dos resultados de seu trabalho que o cientista se apropria do prestígio e das demais recompensas a ele associadas que seu trabalho possa merecer. Para que este mercado possa funcionar, é necessário que exista um certo consenso dentro da comunidade a respeito do que é um trabalho científico importante ou não, e de quais são os critérios de aferição de qualidade e veracidade. Este consenso é muitas vezes referido na literatura como "paradigma", que tem sido utilizado na literatura especializada para caracterizar o conjunto de conhecimentos, metodologia, padrões dê trabalho, critérios de qualidade e supostos básicos que caracterizam uma área de conhecimento científico determinada. Dentro desta visão, um paradigma não é simplesmente uma teoria científica (como à física eisteniana, por exemplo), mas implica também um conjunto de pessoas reais trabalhando a partir de seus supostos mais gerais.

A questão sobre os diferentes tipos e modalidades de paradigmas não nos interessa neste contexto. O que e importante é a idéia de que pessoas que se dedicam à atividade científica se vinculam a comunidades relativamente reduzidas de colegas, dentro das quais são conhecidas, aonde estabelecem seu reconhecimento como profissionais, aonde aprendem o que sabem e formam novos especialistas. São estas comunidades que dão consistência e continuidade às tradições científicas, sem as quais a atividade de pesquisa não pode se desenvolver. Sociólogos da ciência tem se referido a estas comunidades como "colégios invisíveis" que, ainda que não estabelecidos formalmente, são a base para a organização e continuidade do trabalho científico.

O teorema fundamental que decorre deste modelo ideal é que a atividade científica é necessariamente uma atividade livre e auto-regulada, e que qualquer interferência em sua liberdade e mecanismos de auto-regulação significa necessariamente um prejuízo para a qualidade do trabalho científico. As conseqüências deste tipo de teorema para a área de política científica são fáceis de imaginar.

II - O segundo modelo ideal pode ser denominado de "modelo do progresso técnico". O principal axioma deste modelo e que a atividade científica, como qualquer outra forma de conhecimento humano, tem por objetivo resolver problemas práticos e utilitários vividos pelas sociedades em suas diversas etapas ou formas de desenvolvimento. A dissociação que historicamente possa ocorrer entre a pesquisa científica e a tecnologia deve ser entendida, nesta perspectiva, como processos de alienação que pode no máximo mascarar, mas não eliminar, o relacionamento necessário entre conhecimento e sua utilização social. Assim, o modelo da "República da Cincia" não seria senão uma manifestação ideológica da dissociação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, que seria uma das características das sociedades classistas. A sociologia do conhecimento deveria, de acordo com este modelo, ter condições de estabelecer as vinculações causais entre o conhecimento gerado por uma sociedade e suas características de organização social e econômica

Na medida em que o aspecto "mascarado' e encoberto da dissociação entre a ciência e a tecnologia, por um lado, e o desenvolvimento econômico e o progresso técnico, por outro, seja explicitado, esta dissociação perde sua razão de ser. O pesquisador escolherá sua área e seu tema de pesquisa em função de sua utilidade social, e esta utilidade determinará sua recompensa. Esta recompensa, ou remuneração, pode consistir tanto em prestígio e poder social quanto em remuneração financeira em função da utilidade do produto do conhecimento. O produto do conhecimento tem, por definição, um valor de mercado que pode ser estimado e que transcende seu mero "valor de uso" como conhecimento em si. Ele pode, assim, ser trocado por outros valores - na forma de licença, royaltíes, ou exploração monopolística de seus produtos. A relação do cientista com seu produto depende, essencialmente, da organização mais geral do sistema produtivo. Em sociedades pouco industrializada, o pesquisador pode explorar seu trabalho como empresário individual, beneficiando-se de suas invenções ou patentes individuais. Em sociedades capitalistas mais complexas, o pesquisador é como um trabalhador assalariado, cujo produto é apropriado por sua empresa.

Em resumo, o tipo ideal do "progresso técnico" vê o trabalho científico como parte da atividade econômica e produtiva mais geral. As implicações da adoção deste modelo para a determinação de uma política científica, e para a organização do trabalho de pesquisa, são também fáceis de antever.

III - O terceiro modelo, finalmente, vê a atividade científica essencialmente como parte das atividades complexas das grandes organizações contemporâneas. Sua referencia histórica não é a ciência artesanal, indívidualizada, nem a tecnologia do inventor isolado, mas as grandes organizações técnico-científicas contemporâneas. Segundo esta concepção, a atividade científica moderna se dá cada vez mais no contexto de uma complexidade técnica crescente, com uma divisão do trabalho que se aproximaria , em muitos casos, a que ocorreu na indústria com a passagem da produção artesanal à produção em série. A vinculação necessária do cientista ou pesquisador a grandes sistemas organizacionais teria feito com que os dois modelos anteriores se tornassem obsoletos. No contexto contemporâneo da big science, o cientista deixaria de ser um agente isolado, e passaria a se comportar de forma semelhante à dos que participam dás grandes organizações complexas contemporâneas. O axioma fundamental deste modelo é a concepção de Galbraith a respeito dás tecno-estruturas das grandes organizações modernas, que tende a ser adotado por todos os que se dedicam à teoria das organizações: a idéia que ás organizações tendem normalmente a crescer e a se fortalecer, estabelecendo para isto o máximo controle possível das variáveis exógenas que possam afetá-las.

Nestas organizações, a motivação do trabalho do pesquisador não seria condicionada nem pelas expectativas de seu grupo de iguais, a comunidade, nem pela lucratividade e potencialidade prática de seu trabalho, mas pela apreciação que a própria organização possa fazer deste trabalho. Ora isto depende, essencialmente, dos objetivos da organização. Instituições voltadas para a produção industrial, por exemplo, tenderiam a sancionar trabalhos mais aproximados ao modelo de progresso técnico, enquanto que instituições mais especificamente de pesquisa tenderiam a valorizar trabalhos mais próximos ao modelo acadêmico. Grandes instituições governamentais de orientação tecnológica, no entanto - ás chamadas tecno-burocracias - são ás que tipificam melhor este modelo. Institutos de energia atômica, centros de pesquisa espacial, institutos nacionais de pesquisa agro-pecuária, institutos de pesquisa médica, etc., são instituições que tendem a surgir em quase todos os países, financiadas pelos respectivos governos, mantidas à parte dos sistemas universitários e industriais, e nas quais a grande ciência se desenvolve com toda sua pujança. Estas instituições são o ambiente mais propício ao desenvolvimento da chamada "ciência básica", ainda que este não seja, evidentemente, a única forma de trabalho científico que permitem.

Duas comunidades científicas

O trabalho empírico principal da pesquisa consistirá no estudo de duas comunidades científicas contemporâneas no Brasil, a de genética e a de física de estado sólido. O problema da delimitação da amostra a ser pesquisada está intimamente relacionado com os três modelos de organização da atividade científica discutidos acima.

Essencialmente, o problema consiste em definir qual o sistema maior que integra os cientistas isolados em uma unidade social mais ampla. O modelo acadêmico postula que este sistema maior e a comunidade científica, ou seja, a rede informal de conhecimentos, troca de informações e apreciações mútuas que une e estrutura os cientistas de determinada especialidade. O modelo do progresso técnico postula que a unidade mais significativa é a unidade produtiva, que se subdivide de acordo com as normas da divisão social do trabalho, dentro da qual sê dá a atividade científica. O modelo técnico-burocrático postula que a unidade de análise mais importante é a organização.

O que a pesquisa procura determinar é exatamente em que medida estes três modelos ideais existem e funcionam de fato ou não. Para isto, a estratégia de pesquisa consistirá em supor a existência de uma comunidade científica definida a partir de um procedimento operacional qualquer, que delimite com clareza um conjunto de pessoas que trabalhem em diversos institutos, universidades, centros de pesquisa, más que mantenham certos vínculos e contatos institucionais e intelectuais informais. Uma vez definidos os grupos, a pesquisa tratará de determinar em que medida elas realmente se adaptam ao modelo acadêmico de estruturação, ou se aproximam aos outros dois. (Em princípio, qualquer um dos três princípios organizativos poderia ser tomado como ponto de partida).

Genética e Física do Estado Sólido parecem duas áreas de pesquisa científica especialmente adequadas para este tipo de estudo. Ambas são áreas cientificamente avançadas, e exigem dos pesquisadores uma formação científica sólida e um trabalho acadêmico de qualidade. Ao mesmo tempo, são áreas de aplicabilidade potencial muito grande. A genética, na produção de variedades, no controle de doenças transmissíveis, e mais recentemente, com o desvendamento do código genético, na própria criação de novas espécies economicamente relevantes. A Física do Estado Sólido e uma área de grandes aplicações na área de eletrônica, computação, e tantas outras. Finalmente, ambas são áreas que tem no Brasil grupos científicos bem constituídos e dinâmicos.

A diversidade entre estás duas áreas não impede que elas sejam estudadas com o mesmo enfoque, de tal maneira que seja possível examinar como cada uma destas comunidades se constitui, e de que maneira elas lidam com a questão do relacionamento entre o trabalho aplicado o trabalho acadêmico e a pesquisa básica, em seus diversos contextos institucionais.

A humanidade terá um futuro?



Extraído de “Has man a future?” de Bertrand Russell

            O pessimista poderia argumentar: Por que tentar preservar a espécie humana? Não deveríamos antes nos alegrar à perspectiva de um fim para a imensa carga de  sofrimento, e ódio, e medo, que tem até agora enegrecido a vida do Homem? Não deveríamos contemplar com alegria um novo futuro para nosso planeta, pacífico, dormindo tranquilo finalmente, depois de chegar ao fim do longo pesadelo de miséria e horror?

            A qualquer estudante de História que contemple o terrível registro de loucura e crueldade que tem constituído a maior parte da vida da humanidade até agora, tais perguntas devem ocorrer em momentos de compreensão. Talvez esse exame possa tentar-nos a concordar com um fim, por mais trágico e definitivo que seja, para uma espécie tão incapaz de sentir alegria.

            Mas o pessimista tem somente metade da verdade e, a meu ver, a metade menos importante. O Homem não tem apenas a capacidade para a crueldade e o sofrimento, mas possui também potencialidades de grandeza e esplendor, realizadas até agora em grau diminuto, porém evidenciando o que poderia ser a vida num mundo mais livre e mais feliz.  Se o Homem permitir a si mesmo crescer em toda a sua estatura, o que poderá conseguir está além da nossa imaginação. A pobreza, a doença e a solidão tornar-se-iam raros infortúnios. Uma razoável esperança de felicidade poderia dissipar a noite de medo na qual tantos agora vagam perdidos. 

Sofistas


Os sofistas eram considerados mestres da retórica e da oratória, acreditavam que a verdade é múltipla, relativa e mutável. Protágoras foi um dos mais importantes sofistas.

Na Grécia Antiga, haviam professores itinerantes que percorriam as cidades ensinando, mediante pagamento, a arte da retórica às pessoas interessadas. A principal finalidade de seus ensinamentos era introduzir o cidadão na vida política. Tudo o que temos desses professores são fragmentos e citações e, por isso, não podemos saber profundamente sobre o que eles pensavam. Aquilo que temos de mais importante a respeito deles foi aquilo que disseram seus principais adversários teóricos, Platão e Aristóteles.

Eles eram chamados de sofistas, termo que originalmente significaria “sábios”, mas que adquiriu o sentido de desonestidade intelectual, principalmente por conta das definições de Aristóteles e Platão. Aristóteles, por exemplo, definiu a sofística como "a sabedoria (sapientia) aparente mas não real”. Para ele, os sofistas ensinavam a argumentação a respeito de qualquer tema, mesmo que os argumentos não fossem válidos, ou seja, não estavam interessados pela procura da verdade e sim pelo refinamento da arte de vencer discussões, pois para eles a verdade é relativa de acordo com o lugar e o tempo em que o homem está inserido.

O contexto histórico e sociopolítico é importante para que se compreenda o papel e o pensamento dos sofistas para a sociedade grega. Embora Anaxágoras tenha sido o filósofo oficial de Atenas na época do regime de Péricles, não havia um sistema público de ensino superior, então jovens que podiam pagar por instrução recorriam aos sofistas a fim de se prepararem para as dificuldades que enfrentariam na vida adulta. Uma delas, imposta pelo exercício da democracia, era a dificuldade de resolver divergências pelo diálogo tendo em vista um interesse comum. O termo “sofista” não corresponde, portanto, a uma escola filosófica e sim a uma prática. Mesmo assim, podemos elencar algumas caracterizações comuns aos sofistas:

a) Oposição entre natureza (phýsis) e cultura (nómos): Pelo que sabemos, podemos dizer que a maior parte dos sofistas tinha seu interesse filosófico concentrado nos problemas do homem e da natureza. Isso significa que aquilo que é dado por natureza não pode ser mudado, como a necessidade que os homens têm de se alimentar. O que é dado por cultura pode ser mudado, como, por exemplo, aquilo que os homens escolhem como alimento. Ou seja, todos nós precisamos da alimentação para continuarmos vivos, mas na China, a carne dos cães pode fazer parte do cardápio e, na Índia, o homem não pode se alimentar da carne bovina, pois a vaca é considerada um animal sagrado.

b) Relativismo. Para os sofistas, tudo o que se refere à vida prática, como a religião e a política, era considerado fatores culturais, logo podiam ser modificados. Dessa forma, colocavam as normas e hábitos em dúvida quanto à sua pertinência e legitimidade. Como eles eram relativistas, suas questões podiam ser levadas para o seguinte sentido: as leis estabelecidas são pertinentes para essa cidade ou precisam ser mudadas?

c) A existência dos deuses. Para os sofistas, é mais provável que os deuses não existam, mas eles não rejeitam completamente a existência, como Platão, por exemplo. Portanto, eles são mais próximos do agnosticismo do que do ateísmo. A diferença entre os sofistas e aqueles que acreditavam nos deuses – e a educação grega esteve, no início, ligada à existência e interferência dos deuses nos destinos da humanidade – é que eles preferiam não se pronunciar a respeito. Mas, se os deuses existissem, eles não teriam formas e pensamentos humanos.

d) A natureza da alma. A definição de alma para os sofistas é de uma natureza passiva e podia ser modelada pelo conhecimento que vem do exterior. Isso é muito importante para a prática que eles exerciam, pois, se as pessoas possuem almas passivas, elas podem ser convencidas de qualquer discurso proferido de forma encantadora. Por isso, era preciso lapidar a técnica a fim de levar as pessoas a pensarem de um modo que favoreça o orador, ou seja, aquele que está falando para o público. A resistência que alguma pessoa oferece a algo que é dito não seria proveniente da capacidade de refletir ou questionar e sim era decorrência da inabilidade discursiva do orador.

e) Rejeitam questões metafísicas. Os sofistas estavam bastante empenhados em resolver questões da vida prática da pólis. Aquilo que contribuiria para uma vida melhor com os outros ou para atender às necessidades imediatas era o centro de suas preocupações. Por concentrarem seus esforços para pensar naquilo que consideravam útil, questões como a origem do seres, a vida após a morte e a existência dos deuses, ou seja, questões de ordem metafísica, eram rejeitadas.

f) A habilidade de argumentar, mesmo se as teses fossem contraditórias, também era um de seus fundamentos. Apesar da dura crítica feita a eles, o trabalho dos sofistas respondia a uma necessidade da época: com o desenvolvimento e a consolidação da democracia na Atenas do século V a.C., era imprescindível desenvolver a habilidade de argumentar em público, defender suas próprias ideias e convencer a maior parte da assembleia a concordar com aquilo que os beneficiaria individualmente.

g) Antilógica. Uma estratégia de ensino comum aos sofistas era ensinar os jovens a defenderem uma posição para, em seguida, defenderem seu oposto. Essa técnica argumentativa foi chamada de antilógica e foi criticada por Platão e Aristóteles por corromper os jovens com a prática da mentira. Historiadores contemporâneos, no entanto, consideram essa técnica como uma atividade característica do espírito democrático por respeitar a existência de opiniões diferentes (cf. CHAUÍ, Marilena).

Os mais conhecidos sofistas foram Protágoras de Abdera (c. 490-421 a.C.), Górgias de Leontinos (c. 487-380 a.C.), Hípias de Élis, Isócrates de Atenas, Licofron, Pródicos e Trasímaco. Vamos agora conhecer um dos mais importantes, Protágoras.
Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”

Um dos responsáveis para que Protágoras se tornasse um dos mais conhecidos sofistas foi Platão, que dedicou a ele uma obra, o que mostra que o filósofo, mesmo sem concordar com o sofismo, respeitou o pensamento de Protágoras ao ponto de se dedicar a elaborar objeções. Além de ensinar a arte do debate aos jovens em suas muitas visitas a Atenas (lembre-se de que os sofistas eram professores itinerantes, isto é, não residiam em um lugar específico), foi nomeado por Péricles para redigir a constituição de uma colônia ateniense (cf. KENNY, Anthony).

No diálogo Teeteto, Platão traz um importante pensamento de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”. Isso significa, em outras palavras, que se uma pessoa pensa que uma coisa é verdade, tal coisa é a verdade para ela. Ou seja, a verdade é subjetiva e relativa, não objetiva e absoluta. Por exemplo, se uma pessoa está com febre, ela pensa que a temperatura do ambiente está baixa, mesmo que ela esteja em Fortaleza e os termômetros apontem 38 graus.

Como não há uma verdade objetiva a ser considerada, a verdade sempre seria relacionada aos indivíduos. Em relação à crença nos deuses (como sabemos, a sociedade grega era politeísta), o relativismo tem a consequência de que não há uma crença mais correta do que a outra, todas devem ser respeitadas, pois o homem não pode saber nada a respeito dos deuses, se existem ou como são. Quando diz isso, Protágoras se aproxima do agnosticismo. Em suas palavras, que chegaram a nós por Diogenes Laertios:

“No que diz respeito aos deuses, não posso ter a certeza de que existem ou não, ou de como eles são; pois entre nós e o conhecimento deles há muitos obstáculos, quer a dificuldade do assunto, quer a pouca duração da vida humana”.

Diogenes Laertios, ao criticar Protágoras, nota que sua obra foi queimada em praça pública por atenienses que acreditavam que ele corrompia a juventude e ironiza, dizendo que ele foi o primeiro homem a dizer que em relação a qualquer assunto há duas afirmações contraditórias. Depois, Platão objetou que se todas as crenças são verdadeiras, a crença de que nem todas as crenças são verdadeiras também é verdadeira.