Abade Charles Michel de L’Epée (1712-1789).
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Prof°
Gaspar Scangarelli: professor
de LIBRAS, Surdo, Formado de Educação Física na Ulbra e letras/LIBRAS na UFSC,
pólo UFSM. Proficiência de LIBRAS pelo MEC.
A História da Educação dos Surdos data de cerca de 400
anos, sendo que nos seus primórdios havia pouca compreensão da psicologia do
problema, e os indivíduos deficientes eram colocados em asilos ou mortos,
retirados do convívio da sociedade.
No passado, os surdos eram considerados incapazes de ser
ensinados, por isso eles não frequentavam escolas. As pessoas surdas,
principalmente as que não falavam, eram excluídas da sociedade, sendo proibidas
de casar, possuir ou herdar bens e viver como as demais pessoas. Assim,
privadas de seus direitos básicos, ficavam com a própria sobrevivência
comprometida.
Na Roma não perdoavam os surdos porque achava que eram
pessoas castigadas ou enfeitiçadas, a questão era resolvida por abandono ou com
a eliminação física – jogavam os surdos em rio Tiger. Só se salvavam aqueles
que do rio conseguiam sobreviver ou aqueles cujos pais os escondiam, mas era
muito raro – e também faziam os surdos de escravos obrigando-os a passar toda a
vida dentro do moinho de trigo
empurrando a manivela.
Na Grécia, os surdos eram considerados inválidos e muito
incômodo para a sociedade, por isto eram condenados à morte – lançados abaixo
do topo de rochedos de Taygéte, nas águas de Barathere - e os sobreviventes
viviam miseravelmente como escravos ou
abandonados só.
O abade Charles Michel de L’Epée é uma pessoa muito
conhecida na história de educação dos surdos, (1712-1789) conheceu duas irmãs
gêmeas surdas que se comunicavam através de gestos, iniciou e manteve contato
com os surdos carentes e humildes que perambulavam pela cidade de Paris,
procurando aprender seu meio de comunicação e levar a efeito os primeiros
estudos sérios sobre a língua de sinais. Procurou instruir os surdos em sua
própria casa, com as combinações de língua de sinais e gramática francesa
sinalizada denominado de “Sinais metódicos”.
Abade Charles Michel de L’Epée fundou a primeira escola
pública para os surdos “Instituto para Jovens Surdos e Mudos de Paris” e
treinou inúmeros professores para surdos. O abade colocou as regras sintáticas
e também o alfabeto manual inventado pelo Pablo Bonnet e esta obra foi mais
tarde completada com a teoria pelo abade Roch-Ambroise Sicard.
Em Hartford,1814, nos Estados unidos, o reverendo Thomas
Hopkins Gallaudet (1787-1851) observava as crianças brincando no seu jardim
quando percebeu que uma menina, Alice Gogswell, não participava das
brincadeiras por ser surda e era rejeitada das demais crianças. Gallaudet ficou
profundamente tocado pelo mutismo da Alice e pelo fato de ela não ter uma
escola para freqüentar, pois na época não havia nenhuma escola de surdos nos
Estados Unidos.
Gallaudet tentou ensinar-lhe pessoalmente e juntamente
com o pai da menina, o Dr. Masson Fitch Gogswell, pensou na possibilidade de
criar uma escola para surdos.
Thomas_Gallaudet
O americano Thomas Hopkins Gallaudet parte à Europa para
buscar métodos de ensino aos surdos. Na Inglaterra, o Gallaudet foi conhecer o
trabalho realizado por Braidwood, em escola “Watson’s Asylum” (uma escola onde
os métodos eram secretos, caros e ciumentamente guardados) que usava língua
oral na educação dos surdos, porém foi impedido e recusaram-lhe a expor a
metodologia, não tendo outra opção o Gallaudet partiu para a França onde foi
bem acolhido e impressionou-se com o método de língua de sinais usado pelo
abade Sicard.
Thomas Hopkins Gallaudet volta à América trazendo o
professor surdo Laurent Clerc, melhor aluno do “Instituto Nacional para Surdos
Mudos”, de Paris. Durante a travessia de 52 dias na viagem de volta ao Estados
Unidos, Clerc ensinou a língua de sinais para Gallaudet que por sua vez lhe
ensinou o inglês. Thomas H. Gallaudet, junto com Clerc fundou em Hartford, 15
de abril, a primeira escola permanente para surdos nos Estados Unidos, “Asilo
de Connecticut para Educação e Ensino de pessoas Surdas e Mudas”. Com o sucesso
imediato da escola levou à abertura de outras escolas de surdos pelos Estados
Unidos, quase todos os professores de surdos já eram usuários fluentes em
língua de sinais e muitos eram surdos também.
Em 1864 foi fundado a primeira universidade nacional para
surdos “Universidade Gallaudet” em Washington – Estados Unidos, um sonho de
Thomas Hopkins Gallaudet realizado pelo filho do mesmo, Edward Miner Gallaudet
(1837-1917).
Em 6 até 11 de setembro de 1880 realizou-se Congresso
Internacional de Surdo- Mudez, em Milão – Itália, onde o método oral foi votado
o mais adequado a ser adotado pelas escolas de surdos e a língua de sinais foi
proibida oficialmente alegando que a mesma destruía a capacidade da fala dos
surdos, argumentando que os surdos são “preguiçosos” para falar, preferindo a
usar a língua de sinais. O Alexander Graham Bell teve grande influência neste
congresso. Este congresso foi organizado, patrocinado e conduzido por muitos
especialistas ouvintes na área de surdez, todos defensores do oralismo puro (a
maioria já havia empenhado muito antes de congresso em fazer prevalecer o
método oral puro no ensino dos surdos). Na ocasião de votação na assembléia
geral realizada no congresso todos os professores surdos foram negados o
direito de votar e excluídos, dos 164 representantes presentes ouvintes, apenas
5 dos Estados Unidos votaram contra o oralismo puro.
Alexander
Graham Bell (1847-1922).
Entre os anos 1870 e 1890, o Alexander Grahan Bell
publicou vários artigos criticando casamentos entre pessoas surdas, a cultura
surda e as escolas residenciais para surdos, alegando que são os fatores o
isolamento dos surdos com a sociedade. Ele era contra a língua de sinais
argumentando que a mesma não propiciavam o desenvolvimento intelectual dos
surdos.
Um pouco antes (1857), o professor francês E. Huet,
professor surdo com experiência de mestrado e cursos em Paris, e partidário de
L'Epée, que usava o Método Combinado, veio para o Brasil, a convite de D. Pedro
II, para fundar a primeira escola para meninos surdos de nosso país: Imperial
Instituto de Surdos Mudos, hoje, Instituto Nacional de Educação de Surdos
(INES), mantido pelo governo federal, e que atende, em seu Colégio de
Aplicação, crianças, jovens e adultos surdos, de ambos os sexos. A partir de
então, os surdos brasileiros passaram a contar com uma escola especializada
para sua educação e tiveram a oportunidade de criar a Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS), mistura da Língua de Sinais Francesa com os sistemas de
comunicação já usados pelos surdos das mais diversas localidades.
Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Fundado em 26/09/1857.
Edouard Huet
Depois de vários fracassos cometidos na Educação de
Surdos através do método oralista de ensino, em contraste com a eficácia do uso
da LIBRAS e após diversos movimentos em todo o mundo a favor do uso da Língua
de Sinais na Educação, foi que o Brasil oficializou a LIBRAS através da Lei
10.436 de 24 de abril de 2002; como instrumento de comunicação eficaz aos
Surdos, surgindo então o Método Bilíngüe de Ensino, que envolve simultaneamente
o uso de duas línguas: LIBRAS
COMO PRIMEIRA LÍNGUA E A LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA NO APRENDIZADO
DOS ALUNOS SURDOS.
Em 1960 Willian Stokoe publicou “Linguage Structure: na
Outline of the Visual Communication System of the American Deaf” afirmando que
ASL é uma língua com todas as
características da língua oral. Esta publicação foi uma semente de todas as
pesquisas que floresceram em Estados Unidos e na Europa.
Hoje com mais 450 alunos se formaram o curso de
letras/libras que vai valorizar a língua brasileira de sinais em nove pólos da
UFSC e irão incluir o currículo de libras nas diversas instituições para
divulgar a importância de LIBRAS para as pessoas ouvintes e acabar com
preconceitos e barreiras.
William
Stokoe
CULTURA
SURDA
A cultura surda tem em seus fundamentos a importância do
contato entre as pessoas surdas com a sua Língua de Sinais com outros surdos, nós nos entendemos como
uma comunidade surda, esta, sendo uma minoria, possui elementos que se diferem
muito daqueles a quem chamamos de ouvintes, as pessoas que ouvem.
Os surdos têm encontros em festas de associação onde
fazem amizades e participam deste local para desenvolver sua autoestima, pois a
maioria dos surdos provém de famílias ouvintes não usuárias da língua de
sinais.
LÍNGUA
DE SINAIS
A língua de sinais é a forma de comunicação dos surdos.
Embora muitas pessoas acreditem que fazer gestos, mímica ou dramatizações seja
língua de sinais porque acha é limitada, não tem conhecimento, incapaz de
transmitir idéias abstratas. Também há pessoas acreditam que a língua de sinais
é o português feitos com as mãos, um conjuntos de gestos que interpretam as
línguas orais, isso é mito.
Embora cada língua de sinais tenha sua própria estrutura
gramatical, surdos de pais diferente falam diferente línguas, como as pessoas
ouvintes.
Mas os surdos de países diferentes comunicam-se
facilmente através gestos, classificação, icônicos, expressões faciais que se
assemelham coisas representadas.
A língua de sinais exige o contato com outros surdos que
a utilizam, ou a realização de um curso formal para ser aprendida. Cada país
tem a sua própria língua de sinais. A língua de sinais NÃO é universal. Dentro
de um único país, há variações da língua por regiões, é o que chamamos de
variações linguísticas.
Ela é diferente em cada lugar do mundo, assim como as
línguas orais e, por isso, em nosso país se chama Língua Brasileira de Sinais –
LIBRAS. É reconhecida cientificamente,
como um sistema linguístico de comunicação gestual-visual, com estrutura
gramatical própria, oriunda das comunidades surdas brasileiras. É uma língua
natural, formada por regras morfológicas, sintáticas, semânticas e pragmáticas
próprias, diferente da Língua Portuguesa.
A Língua Portuguesa, no caso do Brasil, é considerada a
segunda língua dos surdos. Por isso a escrita dos surdos é diferente, eles
aprendem a Língua Portuguesa como estrangeiros.
VARIAÇÕES
LINGÜÍSTICAS
Existem diversas comunidades surdas em diferentes
regiões, onde, cada grupo possui o seu nível linguístico. Além de que cada grupo
possuí um vocabulário específico, podendo ser culto ou coloquial dependendo do
nível de ensino dos usuários, este aspecto também é semelhante à língua
portuguesa que possui estas variações. Por isso o mais importante é conviver
com os surdos a fim de se aprender mediante o contexto e buscar conhecimento
destas variações linguísticas melhorando o seu desempenho no uso da LIBRAS.
Prof°
Gaspar Scangarelli: professor
de LIBRAS, Surdo, Formado de Educação Física na Ulbra e letras/LIBRAS na UFSC,
pólo UFSM. Proficiência de LIBRAS pelo MEC.
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