Fortaleza de Kuélap.
Os antigos
Chachapoyas, eram inimigos mortais dos poderosos Incas, eles arrancavam a
cabeça das pessoas e eram famosos por sua crueldade. Os Chachapoyas
desapareceram de repente no século XVI. Neste texto exploraremos uma das
culturas mais incríveis e menos conhecidas do mundo, e revelaremos como estes
poderosos guerreiros desapareceram.
Os
chachapoyas transformaram as florestas de altitude, entre 2.000 m e 3.000 m, em
vastas áreas de cultivo – por causa da região montanhosa e húmida em que
viviam, ganharam o apelido de “guerreiros das nuvens”.
Tinham
fama de ser um povo alto, belo e de pele clara, e construíram grandes cidades
fortificadas na selva. Por causa de algumas dessas características, surgiu a
lenda de que eles teriam ascendência europeia, a qual aparentemente não tem
nenhum fundamento na realidade.
Ao
longo do século XV, uma série de conflitos fez com que o nascente Império Inca
subjugasse os chachapoyas. Por isso, quando os espanhóis invadiram o Peru, os
muitos dos “guerreiros das nuvens” deram seu apoio aos europeus, facilitando a
derrota dos incas.
O
domínio espanhol, no entanto, trouxe pouquíssimas vantagens para os
chachapoyas, que perderam sua independência política do mesmo jeito e sofreram
muito com epidemias trazidas pelo invasor europeu. Calcula-se que, depois de
200 anos sob a Coroa espanhola, a população desse povo tenha se reduzido a só
10% do total pré-colombiano.
Muralhas de Kuélap.
O
principal vestígio arqueológico dos chachapoyas é a grande fortaleza de Kuélap,
conhecida como a "Machu Picchu do norte", que recebe poucos
visitantes por ser de difícil acesso.
O
nordeste andino peruano ainda não está nos grandes roteiros turísticos
internacionais, embora nada lhe falte para entrar nesse circuito. Bastaria que
o governo e mais empreendedores turísticos levassem a sério o seu potencial.
Paisagens grandiosas, natureza única e restos arqueológicos fascinantes se
combinam com estradas de ótima qualidade, boa comida e gente acolhedora. Mas, é
obvio que visitar o departamento de Amazonas, no norte do Peru, requer mais
tempo que fazer o tradicional circuito que leva a Cusco e Machu Picchu e,
eventualmente, ao Lago Titicaca.
Os
Incas foram os romanos de América do Sul. Devido à interrupção provocada pelos
conquistadores espanhóis, seu enorme império durou pouco, cerca de cinco
séculos. Machu Picchu foi construída no século XV, quando os espanhóis já
estavam nas portas do império. Os Incas dominaram por bem ou por força a muitos
povos, bem mais antigos e desenvolvidos do que eles. Dentre estes, estão os
Chachapoyas que reinavam sobre grande parte da Amazônia Alta, na bacia do rio
Marañon, principalmente nos atuais departamentos peruanos de Amazonas e San
Martín. Esta foi uma cultura muito avançada, originada mais de 2.000 anos antes
de serem derrotados pelos Incas. Eram conhecidos como os “guerreiros das
nuvens”, pois, além de serem grandes combatentes viviam num ambiente onde as
neblinas são frequentes, floresta da nevoas, como é característico da Amazônia
Andina alta.
Embora
menos estudada que outras culturas, já se encontraram muitos sítios
arqueológicos Chachapoyas. Os mais conhecidos são a fortaleza (cidadela) de
Kuélap, em Amazonas e a cidade do Gran Pajaten, dentro do Parque Nacional Abiseo,
em San Martín. Esta última, em plena selva, é de difícil acesso, mas, a
primeira é fácil de visitar. Situada sobre um morro isolado a 3.000 metros de
altitude dominando o vale do rio Utcubamba, Kuélap foi construída provavelmente
no século VIII para defender a região contra o império Wari, que se expandiu
antes que o Inca.
Chega-se
a Kuélap por uma estrada que circunda montanhas elevadas, com vistas
magníficas, nas quais ainda se pode apreciar remanescentes das florestas de
neblina que até alguns séculos atrás dominavam toda a região e que agora foram
substituídas por pastagens “naturais”, vegetação secundária arbustiva e um
pouco de agricultura. Os antigos peruanos, como os da atualidade, não se
destacaram por proteger as florestas e, na base do fogo, destruíram milhões de
hectares de florestas dessa região. Hoje, a gente acredita que é natural essa
paisagem desnuda, ainda bela e verde. Mas não é.
Cidadela
Kuélap
está relativamente bem conservada. Estende-se sobre cerca de 600 metros de
comprimento e dispõe de três plataformas superpostas que suportam uns 400
recintos. Suas muralhas externas chegam a 20 m de altura e tem apenas três
entradas muito estreitas para facilitar a defesa. Uma delas tem paredões que se
elevam a 10 metros de cada lado. Há edifícios sobre a plataforma principal
realmente extraordinários. Em especial, um deles tem formato de um curioso cone
invertido, cuja função não foi esclarecida. As casas são todas redondas,
dotadas de silos, pedras para moenda de grãos e fogões. Muitas ostentam
decorações feitas com o mesmo tipo de pedra com que foram construídas. Uma
caraterística especial da cultura dos Chachapoyas são as máscaras funerárias e
o costume de instalar os restos funerários em cavidades nas paredes quase
verticais de montanhas.
Além
das ruínas, a região oferece mais atrativos. Exibe grande diversidade de
orquídeas e aves engalanam as paisagens. Sobram as cachoeiras. Uma delas, a de
Gocta, é a mais alta do Peru, com 560 metros de queda livre. Se fossem
consideradas todas as etapas dos seus saltos seria a quinta mais alta do mundo.
Ela pode ser vista a partir de uma pequena localidade situada num platô rodeado
de montanhas que formam um perfeito anfiteatro, ou melhor, um estádio completo
e monumental. Quando chove, o que é frequente, pode-se observar umas 20
cachoeiras simultâaneas. No meio deste espetáculo, localiza-se uma pousada de
ótima qualidade que serve de base para apreciar Kuélap e outros lugares nos
arredores.
Culturas
ancestrais
Kuélap
e Gocta estão a mais de mil quilômetros de Lima. É longe, mas, seguindo a
Panamericana Norte, outro benefício é passar pelos domínios dos Mochica e
Chimu, duas das mais importantes culturas pré-hispânicas do Peru, mais
avançadas e artísticas do que Incas. Se o visitante dispor de um pouco mais de
tempo, pode também visitar também Caral, a cidade mais antiga das Américas,
anterior inclusive às mexicanas. A cultura Caral precedeu todas as outras no
Peru. Em Trujillo, desenterraram-se pirâmides que pelo seu volume são maiores
que as egípcias e que exibem pinturas coloridas em alto relevo. Outras ruínas
podem ser visitadas em Lambayeque, dentre elas as famosas tumbas mochica dos
senhores de Sipam e Sicam, no meio de uma floresta protegida semidesértica. Museus
de categoria internacional existem em cada um desses locais.
E
tão importante como descobrir a cultura pré-hispânica peruana é apreciar a
culinária da Costa Norte do Peru que é única e, para muitos, melhor que a
cozinha sofisticada dos chefs de Lima ... além de custar uma fração do preço.
Onde
se sai da Panamericana e se entra na Interoceânica Norte, o deserto costeiro
entre Lima e Olmos é lindo, com extensas áreas de colinas coloridas. Os Andes
estão sempre perto, de modo que o deserto exibe paisagens variadas. Com
frequência, a estrada passa pertinho do mar. Impressionam os estreitos e vales
costeiros densamente cultivados, que interrompem o deserto. O desgelo dos
nevados andinos em consequência das mudanças climáticas aumentou a área, antes
desértica, e agora dedicada à agricultura intensiva. Para quem fizer a viagem
dirigindo, é preciso atenção, pois, apesar das boas estrada, é preciso aceitar
as regras irregulares e um tanto excêntricas próprias da maior parte dos
choferes peruanos.
É
provável que em breve o governo do Peru melhore o aeroporto das cidades de
Bagua ou de Chachapoyas, próximos aos locais descritos. O resultado seria sem
dúvida promover o turismo internacional na região. Porém, visitá-la agora
oferece a vantagem da descoberta, da tranquilidade e da intimidade com a
natureza e com o passado.
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