Esfinge, Planalto de Gizé.
A
esfinge é uma estátua enorme que fica perto das pirâmides, no planalto de Gizé,
Egito, África. Praticamente todo mundo já ouviu falar, viu fotos ou jogou jogos
onde aparece uma criatura com corpo de leão e cabeça humana, que propõe um
enigma. Quem não resolve o enigma é morto pela esfinge.
Pois
então, essa estátua, chamada Grande Esfinge de Gizé, é a maior estátua
esculpida num único bloco de pedra. Foi aproveitado um penhasco que havia no
local, que depois foi coberto por blocos de pedra lisa.
A
esfinge que sempre aparece nos jogos tem a cabeça de uma mulher, mas, a esfinge
de Gizé parece que tem a cabeça de um homem. Alguns estudiosos dizem que ela
foi construída pelo mesmo faraó que fez a segunda maior pirâmide, Quefren, e
que a cabeça da esfinge é a cabeça desse faraó.
Então,
a esfinge tem o corpo de um leão e a cabeça humana. Entre as patas de leão,
existe uma laje de granito com uma inscrição que conta sobre um sonho que o
faraó Thutmose IV, que reinou na XVIII dinastia, teve.
Essa
laje é uma estela, chamada de Estela do Sonho e conta o seguinte: quando jovem,
Thutmose foi caçar e muito cansado, dormiu sob a sombra da esfinge. Ele então
sonhou com o deus sol Ra-Harakhte, que na forma da esfinge, lhe prometeu que se
ele limpasse toda a areia que cobria o monumento se tornaria faraó do Egito. E
foi exatamente isso que aconteceu.
O deus Aker da mitologia egípcia era sempre representado por dois leões que guardam os portões do além-túmulo.
Assim,
ficamos sabendo que, quando Thutmose IV reinou, a esfinge já estava bastante
coberta pela areia. Em 1816 o capitão Caviglia terminou a retirada da areia que
novamente cobria a esfinge e registrou que o corpo da estátua era revestido em
pedra e que provavelmente a esfinge tinha sido um dia, pintada com tinta
vermelha.
Então, onde está o mistério?
Em
primeiro lugar, ainda não se sabe com certeza, como o nariz da esfinge foi
arrancado. Há diversas teorias, mas como saber a verdade?
O
professor Robert Schoch, da Universidade de Boston, afirma que a esfinge é
muito mais velha do que diz a História oficial. Ele acha que a erosão que
existe no corpo do monumento não foi feita pelo vento ou pela areia, foi feita
sim pelas chuvas. Ora, então a esfinge seria pelo menos 2 mil e 500 anos mais
velha do que se pensa, quando no Egito havia muita vegetação e muitas chuvas.
Será?
Muitos
pesquisadores já fizeram estudos e acreditam que existem túneis e câmaras ainda
não escavados sob a esfinge. Será que algum deles esconde um grande mistério?
Segundo
a professora de egiptologia da Universidade Americana do Cairo, Salima Ikram,
já foram encontradas múmias, escondidas sob a axila esquerda e na parte de trás
da esfinge. De quem seriam essas múmias? Por que estavam dentro do monumento?
Onde estão agora?
Teria havido duas esfinges?
Nas
representações artísticas que fizeram, entretanto, as esfinges geralmente
aparecem aos pares. A estela que Tutmósis IV (c. 1401 a 1391 a.C.) mandou fixar
na frente do monumento, e que vemos ao lado numa foto do Canadian Museum of
Civilization Corporation (CMCC), é um bom exemplo disso. No relevo feito no
granito, a esfinge está assentada sobre uma construção complexa. Os arqueólogos
dizem que o palácio gravado na estela é representação do templo que existe até
hoje diante da esfinge. Entretanto, a forma do edifício representado na estela
é totalmente diferente do templo da esfinge. Além disso, as regras de
perspectivas usadas pelos artistas egípcios fariam com que eles colocassem o
templo diante da esfinge, como realmente ele está situado, e não abaixo dela.
Tais regras eram por demais rígidas e nenhum artista oficial se permitiria
divergir de realidade em tal medida.
Segundo
Shammaa, esta ideia de duas esfinges está bem representada na iconografia
egípcia e está bem de acordo com as crenças egípcias de como o universo foi
criado, as quais, fundamentalmente, se baseiam na dualidade e têm origem no
período pré-dinástico. O deus Atum criou Shu e Tefnut na forma de dois filhotes
de leão, um macho e uma fêmea, colocando cada um deles num dos extremos do
universo. Os antigos artesãos egípcios e os sacerdotes sempre os desenharam e
os descreveram vigiando os dois montes primevos interligados (akhet), os quais
com o Sol no meio formam a palavra hieroglífica para "horizonte".
Quando o Sol se punha, afirmava-se, o leão do ocidente pegava o Sol em suas
mandíbulas e o transportava pelo mundo subterrâneo, entregando-o, finalmente,
ao leão do oriente. Assim, depois de um período de escuridão, começava a
amanhecer. Estes dois leões simbolizavam o "ontem" e o
"amanhã". O disco solar da divindade se eleva entre os animais, os
quais eram responsáveis por vigiar os limites leste e oeste, apoiando a luta da
luz contra a escuridão, da ordem contra o caos, de Hórus contra Seth. A avenida
de esfinges com cabeças de carneiro defronte do primeiro pilone de Karnak e as
esfinges com cabeças humanas diante do templo de Luxor enfatizam esta
dualidade.
Embasado
nesse conceito religioso, Shammaa prossegue seu raciocínio afirmando que quando
nos colocamos diante da esfinge e vemos as três pirâmides atrás dela,
percebemos que há duas colinas, ou seja, duas construções de forma piramidal
semelhantes em altura e tamanho, conectadas por um vale de terra. Uma vista
aérea do complexo piramidal de Kéfrem confirmará que a calçada que liga o
templo mortuário ao templo do vale teve que desviar seu caminho para o sul para
evitar a esfinge já existente. A calçada termina no templo do vale,
desembocando no seu lado norte, não no meio, como de costume. Os operários
estavam tentando evitar outra estátua sagrada intocável no lado sul: a esfinge
desaparecida. Se consideramos o templo da esfinge e o templo de vale, podemos
deduzir que ambos são semelhantes no projeto, na altura, no desgaste, na erosão
e na destruição pelo tempo. O que parece é que havia um único templo dedicado à
adoração do horizonte, o santuário do deus-Sol. Com as obras posteriores o
templo foi dividido em duas partes iguais, cada uma dedicada a um dos leões.
Deve-se ter em mente que o granito rosa que reveste algumas partes do templo do
vale foi colocado décadas depois da construção do monumento. Este fato fica
demonstrado, sem sombra de dúvida, quando se observa como o granito está
embutido nas cavidades causadas pelo desgaste do tempo. Assim, raciocina
Shammaa, se há dois montes, dois templos que significam as duas extremidades
dos limites do mundo no leste e no oeste, e dois santuários do deus e um deles
(templo da esfinge) está guardado por uma esfinge de leão junto a ele, por que
então o segundo santuário do deus (templo do vale) não é protegido e vigiado da
mesma forma com uma esfinge a seu lado?
De leão ao ser antropomórfico.
O
deus Aker é descrito frequentemente como dois leões sentados e voltados para
lados opostos. Shammaa pensa que a esfinge tinha uma cabeça de leão antes de
ser refeita com cabeça de um faraó. Isto explicaria por que a cabeça humana da
esfinge é pequena em comparação ao corpo do leão. Os antigos egípcios jamais
incorreriam num erro tão primário da relação entre as proporções. O leão duplo
é uma manifestação de Shu e Tefnut. Os egípcios nunca protegeram apenas de um
lado qualquer avenida, entrada, templo ou tumba, porque isso seria contra o bom
senso da idéia de proteção, já que um lado do santuário de Atum ficaria exposto
ao perigo. Além disso, os dois leões no Livro dos Mortos são simbolos de
Osíris, de Rá e, às vezes, de Atum. A ausência de um deles provoca caos, crise
e uma grande desordem.
Se o
Sol precisa de dois leões para levá-lo do oeste para leste, e como a esfinge
existente está sentada exatamente na fronteira entre o deserto (nenhuma vida) e
a vegetação (vida), então, como a jornada do renascimento eterno do Sol poderia
ser completada se houvesse só um leão? Quem cuidaria desse transporte do oeste
para seu destino? Alcançar o objetivo da ressurreição do Sol é impossível, a
menos que haja dois leões. Os dois leões de perfil que ladeiam o horizonte são
as duas esfinges: uma atrás do templo da esfinge, a qual simboliza o limite
ocidental, e outra atrás do templo de vale, a qual simboliza o limite oriental
onde o Sol renascerá, da mesma maneira que a terra se torna verde no vale
devido à rica inundação do Nilo. Se olharmos de frente os dois animais da cena
desenhada de perfil, veremos dois leões que ladeiam a calçada que divide um
templo em dois. Veremos, ainda, ao fundo, duas pirâmides. A base de pirâmide de
Kéfren (c. 2520 a 2494 a.C.) foi esculpida no leito da rocha para criar, então,
a cena da monte primevo e o disco solar surge entre os dois monumentos para
completar a cena do Livro dos Mortos.
A
arte egípcia antiga sempre dependeu da harmonia entre a relação e a proporção
da cena. As formas devem ser simétricas. O resultado final produzido deve ser
harmonioso. Na escultura sempre um dogma de duplicidade dominou a construção
religiosa. Exemplos: a avenida dupla de esfinges com cabeças de carneiro de
Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) em Karnak, ou a de esfinges com cabeças humanas
de Nectanebo I (380 a 362 a.C.) no templo de Luxor. Duas estátuas sentadas
ladeiam as entradas dos templos. Um lado sempre é igual ao outro. A conclusão
que o autor tira de tais considerações é a de que a existência de uma segunda
esfinge no outro lado da calçada está além de qualquer dúvida. Portanto, ele
acredita que os restos da segunda esfinge ainda estão lá enterrados na areia,
ainda que possam se encontrar muito delapidados. Com relação à estela de
Tutmósis IV que aparece no topo desta página, Shammaa afirma que não se trata
de uma cena repetida em um espelho. Evidentemente o faraó está fazendo
oferendas para duas esfinges diferentes. Primeiro porque está usando coroas
diferentes: a coroa azul de guerra numa cena e o nemes na outra cena. Portanto,
trata-se de duas situações diferentes. Em segundo lugar, porque o faraó oferece
dois tipos de libações diferentes para cada cena, ou seja, ele não trata as
duas esfinges de maneira igual.
Seria esta a face original da Esfinge(s)?
Outro dos defensores da ideia de que
a esfinge de Gizé tenha tido uma companheira idêntica é Michael Poe, arqueólogo
formado em Los Angeles pela Universidade da Califórnia (UCLA). Apesar da assim
chamada Estela do Inventário informar que a esfinge já existia no tempo de
Kéops e que o faraó encontrou a esfinge em ruínas e mandou restaurá-la, pode
até ser que tal estela seja uma fraude piedosa daquela época, já que se trata
de um artefato datado da XXVI dinastia (664 a 525 a.C.).
Poe escreveu que não
temos qualquer evidência arqueológica de que Kéfren tenha mandado reparar a
esfinge. Ele explica que existem duas referências datadas do Império Médio (c.
2040 a 1640 a.C.), ou seja, de época muito posterior à construção do monumento.
Uma, encontrada num papiro fragmentário, diz que Kéfren encontrou a esfinge,
que seria mais antiga que ele, e modificou a face do colosso. Diz ainda que
havia outra esfinge, do outro lado do rio, voltada para esta que conhecemos.
Ambas estariam ali para representar a linha divisória entre o Egito Norte e o
Egito Sul. Tal informação foi corroborada por gregos, romanos e muçulmanos. A
segunda esfinge teria sido destruída entre os anos 1000 e 1200 da nossa era. A
outra referência do Império Médio informa que Kéfren construiu a esfinge de Gizé.
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