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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Símbolos religiosos pagãos, mitos e representações.

Pelo senso comum, quando alguém deseja indicar que certas afirmações ou crenças são inverídicas, é corriqueiro usar expressões como "isso não passa de um mito". Podemos adiantar, porém, que mitos e mitologias não são sinônimos de ilusão ou mentiras. Joseph Campbell nos diz que "o mito é a expressão da resposta total do homem a seu encontro com a realidade e o esforço subseqüente para assegurar a própria existência significativamente em face dessa realidade"*. Esse "encontro com a realidade", mencionado por Campbell é também o encontro com a tragédia humana de perceber-se mortal e, além disso, nos primórdios das comunidades humanas, deparar-se com a necessidade de matar para poder se alimentar e sobreviver. As figuras arquetipais decorrentes desse processo envolvem ritos de passagem, hierarquizações, sacralizações, entre outros modos de lidar com o mundo ao redor, garantir a sobrevivência, estabelecer divisões de tarefas em sociedade e construir um sentido de ordem perante um aparente caos na existência. Assim é que, através de inúmeros processos práticos tanto quanto imaginários, aliados às transformações históricas e a (re)construções culturais, as sociedades conferem poder a determinados grupos, estigmatizam outros, constróem cidades, delimitam seu espaço, conferem significado, destróem-se mutuamente ou elevam-se em grandes obras e avanços a partir de utopias. Muitas das bases de todas essas questões são míticas.

O mito está presente nas mais diversas religiões, sejam elas as que se afirmam "históricas", decorrentes da historicidade da tradição hebraica, sejam as "arcaicas" (entendendo este termo como "herdeiras de tradições a-históricas", e não como "ultrapassadas"). Ele está presente, com a mesma potência, nas visões laicas, seculares, das ideologias políticas, com os líderes carismáticos de grandes movimentos político-ideológicos. Idem, quanto aos candidatos em regimes democráticos, cujas propagandas eleitorais figuram como "salvadores", "escolhidos", "heróis", "vítimas", seres ungidos ou elevados a tal categoria num discurso que mescla rito, mito e alusões à liberdade oriundas de visões humanistas. Mesmo aqueles que a princípio não procuram associar sua imagem à religião recebem do coletivo a "aura" de seres "olimpianos", nas palavras de Edgar Morin, acima dos comuns mortais. "Olimpianos" são as celebridades, com seus estilos de vida exóticos, inatingíveis econômica ou até intelectualmente pelas massas. São aqueles cujas mansões assemelham-se a parques de diversões, que viajam pelo mundo a qualquer momento por lazer, que têm inúmeros casos amorosos, todos eles públicos, criticados, mas invejados por uma coletividade que endossa culturalmente essa discrepância. Nas propagandas comerciais, não-raro o uso de celebridades que nada entendem de um dado assunto é o suficiente para conquistar consumidores e credibilidade. Ainda nas propagandas, recordando Roland Barthes, a "brancura total" de sabões em pó, a limpeza, seu caráter imaculado, puro, luminoso, dificilmente não é associado à mesma pureza dos santos ou à perfeição dos deuses. O agente de limpeza é o "herói" que mata ou dissipa o "mal", na forma da sujeira, das impurezas. A Luz do heróico produto químico contra as trevas dos fluidos corporais e do ambiente.

Como dito inicialmente, o mito está longe de ser exclusivamente um entretenimento para as horas vagas, o que ainda assim já seria muita coisa. O mito é algo que nos permeia a cada momento, seja em nossa vida cotidiana, seja em situações de vulto político.

Aqui em História, imagem e narrativas já publicamos vários artigos cujos assuntos, se não giravam diretamente em torno de mitos, recebiam deles bases importantes. Vale a pena conferir nossas edições anteriores. A edição número 11 apresenta dois artigos que discutem historicamente elementos relevantes das mitologias e culturas nórdicas: suas representações visuais, na forma de adornos, esculturas, desenhos etc., e expressões guerreiras como as dos Berserkir, que certamente inspiraram produções literárias contemporâneas na forma de heróis poderosos ou na forma de assassinos incontroláveis.

Além de nosso tradicional olhar sobre formas visuais-narrativas (quadrinhos, cinema etc.) e sobre aspectos historiográficos, este número traz também um estudo sobre a pintura mural de Diego Rivera e outro sobre algumas das obras de Henri Matisse. Em ambos tem-se um convite ao deleite nos trabalhos de grandes mestres da pintura.

Carlos Hollanda - editor
Doutorando - PPGAV - Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (EBA-UFRJ)
Mestre em História Comparada (PPGHC-UFRJ)


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http://www.historiaimagem.com.br/

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