Julius
Evola em 1940. Imagem: Maçonaria Estudos Críticos.
(...)
Parece que esta maçonaria se organizou de forma positiva no período dos rumores
rosa-crucianos e da sucessiva partida dos verdadeiros Rosa-cruzes da Europa.
Elias Ashmole, que parece ter desenvolvido um papel fundamental na organização
da primeira maçonaria inglesa, viveu entre 1617 e 1692. Apesar disso, segundo a
maioria, a maçonaria em sua forma atual de associação semi-secreta militante
não remonta além de 1700(4) - em 1717 houve a inauguração da Grande Loja de
Londres. Como antecedentes positivos, não apenas imaginados, a maçonaria teve
sobretudo as tradições de determinadas corporações medievais, nas quais os
elementos principais da arte de construir, de edificar, eram simultaneamente
assumidos segundo um significado alegórico e iniciático. Assim, a
"construção do Templo" poderia tornar-se sinônimo da própria
"Grande Obra"^iniciática, o desbastamento da pedra bruta em pedra
quadrada podia aludir ao dever preliminar de formação interna, e assim por
diante. Pode-se pensar que até o começo do século XVIII a maçonaria conservou
esses caráter iniciático e tradicional, de modo a, aludindo ao desempenho de
uma ação interior, ter sido chamada de "operativa"(5). Foi em 1717
que, com a referida inauguração da Grande Loja de Londres e com o aparecimento
da assim chamada "maçonaria especulativa" continental, verificou-se o
suplantamento e a inversão de polaridades, de que falamos. Como
"especulação", de fato valeu aqui a ideologia iluminista,
enciclopedista e racionalista, junto com uma correspondente, desviada interpretação
dos símbolos, e a atividade da organização concentrou-se decididamente no plano
político-social, mesmo utilizando prevalentemente a tática da ação indireta e
manobrando com influências e sugestões, cuja origem primeira era difícil
determinar.
Pretende-se
que essa transformação se tenha verificado somente em algumas lojas e que
outras tenham conservado seu caráter iniciático e operativo mesmo depois de
1717. Efetivamente, esse caráter pode ser encontrado nos ambientes maçônicos a
que pertenceram um Martinez de Pasqually, um Claude de St. Martin e o próprio
Joseph de Maistre. Mas deve-se observar que também esta mesma maçonaria entrou,
por outro motivo, numa fase de degenerescência, e nada pôde contra a afirmação
da outra pela qual, acabou sendo assimilada. Tampouco houve qualquer ação da
maçonaria que teria permanecido iniciática para protestar e desautorizar a
outra, para condenar sua atividade político-social e para impedir que, em toda
parte, ela tivesse validade própria e oficialmente como maçonaria.
Referindo-se,
portanto, à maçonaria "especulativa", nela os vestígios iniciáticos
permanecem limitados a uma estrutura ritual que, especialmente na maçonaria do
rito escocês, teve caráter inorgânico e sincretístico, devido aos muitos graus
além dos três primeiros (os únicos que têm alguma conexão efetiva com as
precedentes tradições corporativas), tendo sido recolhidos símbolos das
tradições iniciáticas mais variadas, visivelmente para dar a impressão de ter
reunido a herança de todas elas. Assim, nesta maçonaria, também encontramos
vários elementos da iniciação cavaleiresca, do hermetismo e da Rosa-cruz: nela
aparecem "dignidades" como a de "Cavaleiro do Oriente ou da
Espada", "Cavaleiro do Sol", "Cavaleiro das duas
Águias", "Príncipe Adepto", "Dignitário do Sagrado
Império", "Cavaleiro Kadosh (isto é, em hebraico, "Cavaleiro
Sagrado"), equivalente a "Cavaleiro Templar", "Príncipe
Rosa-cruz". Em geral - e este é o ponto que tem um significado todo
especial - há uma ambição, particularmente por parte da maçonaria do rito
escocês, de reportar-se justamente à tradição templar. Pretende-se, desta
forma, que pelo menos sete de seus graus sejam de origem templária, além do
30º, que tem, explicitamente, a designação de "Cavaleiro Templar num
grande número de lojas. Uma das jóias do grau supremo de toda a hierarquia
(33º) - uma cruz teutônica - traz a sigla J.B.M., que é explicada, na maioria
das vezes, com as iniciais de Jacopus Burgundus Molay, que foi ´último Grande
Mestre da Ordem do Templo, e "De Molay" aparece também como uma
"palavra de passe" desse gau, quase como se os que são iniciados nele
fossem buscar de volta a dignidade e função do chefe da Ordem gibelina
destruída. De resto, a maçonaria escocesa pretende ter muito de seus elementos
transmitidos por uma organização mais antiga, chamada "Rito de
Heredom". Esta expressão é traduzida por vários autores maçônicos por
"ritos dos herdeiros", numa clara alusão aos herdeiros dos
Templários. A lenda corresponde é que os poucos Templários sobreviventes ter-se-iam
retirado para a Escócia, onde se colocaram sob a proteção de Robert Bruce e
foram reunidos por este numa organização iniciática preexistente, de origem
corporativa, que então assumiu o nome de "Grande Loja Real de
Heredom".
É fácil
perceber o alcance que essas referências teriam em relação específica
com aquilo que chamamos de "herança do Graal", caso elas tivessem um
fundamento real: forneceriam à maçonaria um título de ortodoxia tradicional.
Mas, na realidade, as coisas são muito diferentes.
Trata-se
aqui de uma usurpação, não de uma continuação; antes com isso constata-se uma
inversão da tradição precedente. Isso resulta de maneira característica
considerando em seu complexo exatamente o mencionado grau 30º do rito escocês,
que em algumas lojas tem como palavra de ordem: "A revanche dos
Templários". A "lenda" que se refere a isso retoma o motivo
mencionado anteriormente: os Templários que teriam encontrado refúgio em
determinadas organizações secretas inglesas, criaram nelas este grau com a intenção
de reorganizar Ordem e cumprir assim a sua vingança. Ora, a inversão já
explicada do gibelinismo não poderia encontrar uma expressão mais clara do que
nesta explicação do ritual: "A vingança dos templários abateu-se sobre
Clemente V não no dia em que seus ossos foram atirados ao fogo pelos
Calvinistas da Provença, mas sim no dia em que Lutero levantou metade da Europa
contra o Papado em nome dos direitos da consciência. E a vingança abateu-se
sobre Felipe o Belo, não no dia em que seus restos foram atirados entre os
destroços de São Dionísio por uma turba em delírio, e nem mesmo no dia em que o
último descendente revestido do poder absoluto saiu do Templo, que se
transformara em prisão de Estado, para subir ao patíbulo, mas, sim no dia em
que a Constituinte francesa proclamou diante dos tronos os direitos do homem e
do cidadão"(6). O fato de o nível do plano do indivíduo - o
"homem" e o "cidadão" - acabar descendo até as massas
anônimas e dos seus dirigentes mascarados, resulta de uma história relacionada
com o ritual de vários graus - no Rito Escocês do Supremo Conselho da Alemanha
ela aprecia no 4º grau, chamado do "mestre secreto". Trata-se da
história de Hiram, o construtor do Templo de Jerusalém que, diante de rei
sacral Salomão demonstra ter sobre as massas um poder tão prodigioso que
"o rei, famoso por seu um dos maiores Sábios, descobriu que, além da sua,
havia uma força maior, uma força que no futuro descobrirá o próprio vigor,
exercerá uma soberania maior do que a sua (de Salomão). Essa força é o povo (das
Volk)". E acrescenta-se: "Nos, maçons do rito escocês, vemos em
Hiram a personificação da Humanidade". O rito, tornando-os "Mestres
secretos" deveria proporcionar aos iniciantes maçons a mesma natureza de
Hiram: isto é, deveria troná-los partícipes desse misterioso poder de mover a
humanidade como povo, como massa, poder que abalaria o próprio poder do rei
sacral simbólico.
Quanto a ao grau especificamente templar (30º), deve-se observar ainda em seu rito de confirmação a associação do elemento iniciático com o elemento subversivo antitradicional, o que dará necessariamente ao primeiro o caráter de uma efetiva contra-iniciação nos casos em que o próprio rito não se reduz a uma cerimônia vazia, mas coloque em movimento forças sutis. No grau em questão, o iniciado que derruba as colunas do Templo e pisoteia a cruz, sendo admitido, depois disso, ao Mistério da escada ascendente e descendente com sete degraus, é aquele que deve jurar vingança e concretizar ritualmente tal juramento golpeando com um punhal a Coroa e a Tiara, isto é, os símbolos do duplo poder tradicional, da autoridade real e da pontifícia, exprimindo com isso nada mais do que o sentido de quanto a maçonaria, como força oculta da subversão mundial, propiciou ao mundo moderno, partindo da preparação da revolução Francesa e da constituição da democracia americana e passando pelos movimentos de 1848, chegando até à Primeira Guerra Mundial, à revolução turca, à revolução da Espanha e a outros acontecimentos análogos. Onde, no ciclo do Graal, como vimos, a realização iniciática é concebida de tal maneira que assume o empenho de fazer com que o rei ressurja, no rito agora indicado tem-se exatamente o oposto; há a contrafação de uma iniciação que está ligada com o juramento (às vezes com a fórmula: "Vitória ou morte") de atingir ou desestabilizar toda forma de autoridade superior.
De qualquer maneira, para os nossos objetivos, o lado essencial destas considerações é indicar o ponto em que a "herança do Graal" e de tradições iniciáticas análogas pára e onde, deixando de lado eventuais sobrevivências de nomes e símbolos, não se pode mais constatar nenhuma filiação legítima destas. No caso específico da maçonaria moderna, de um lado o seu confuso sincretismo, o caráter artificial da hierarquia da maioria de seus graus - caráter que aparece claramente mesmo a um profano -, a banalidade das exegeses correntes, moralistas, sociais e racionalistas aplicadas a vários elementos retomados, tendo em si um conteúdo efetivamente esotérico - tudo isso levaria a fazer ver nela um exemplo típico de organização pseudo-iniciática(7). Mas, considerando, por outro lado, a "direção da eficácia" da organização com referência aos elementos observados anteriormente e à sua atividade evolucionária, surge a sensação exata de se estar diante de uma força que, no que diz respeito ao espírito, age contra o espírito: uma força obscura, exatamente da anti-tradição e de contra-iniciação. E então é bem possível que os seus rituais sejam menos inofensivos do
Quanto a ao grau especificamente templar (30º), deve-se observar ainda em seu rito de confirmação a associação do elemento iniciático com o elemento subversivo antitradicional, o que dará necessariamente ao primeiro o caráter de uma efetiva contra-iniciação nos casos em que o próprio rito não se reduz a uma cerimônia vazia, mas coloque em movimento forças sutis. No grau em questão, o iniciado que derruba as colunas do Templo e pisoteia a cruz, sendo admitido, depois disso, ao Mistério da escada ascendente e descendente com sete degraus, é aquele que deve jurar vingança e concretizar ritualmente tal juramento golpeando com um punhal a Coroa e a Tiara, isto é, os símbolos do duplo poder tradicional, da autoridade real e da pontifícia, exprimindo com isso nada mais do que o sentido de quanto a maçonaria, como força oculta da subversão mundial, propiciou ao mundo moderno, partindo da preparação da revolução Francesa e da constituição da democracia americana e passando pelos movimentos de 1848, chegando até à Primeira Guerra Mundial, à revolução turca, à revolução da Espanha e a outros acontecimentos análogos. Onde, no ciclo do Graal, como vimos, a realização iniciática é concebida de tal maneira que assume o empenho de fazer com que o rei ressurja, no rito agora indicado tem-se exatamente o oposto; há a contrafação de uma iniciação que está ligada com o juramento (às vezes com a fórmula: "Vitória ou morte") de atingir ou desestabilizar toda forma de autoridade superior.
De qualquer maneira, para os nossos objetivos, o lado essencial destas considerações é indicar o ponto em que a "herança do Graal" e de tradições iniciáticas análogas pára e onde, deixando de lado eventuais sobrevivências de nomes e símbolos, não se pode mais constatar nenhuma filiação legítima destas. No caso específico da maçonaria moderna, de um lado o seu confuso sincretismo, o caráter artificial da hierarquia da maioria de seus graus - caráter que aparece claramente mesmo a um profano -, a banalidade das exegeses correntes, moralistas, sociais e racionalistas aplicadas a vários elementos retomados, tendo em si um conteúdo efetivamente esotérico - tudo isso levaria a fazer ver nela um exemplo típico de organização pseudo-iniciática(7). Mas, considerando, por outro lado, a "direção da eficácia" da organização com referência aos elementos observados anteriormente e à sua atividade evolucionária, surge a sensação exata de se estar diante de uma força que, no que diz respeito ao espírito, age contra o espírito: uma força obscura, exatamente da anti-tradição e de contra-iniciação. E então é bem possível que os seus rituais sejam menos inofensivos do