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domingo, 12 de setembro de 2010

CHARRUAS. UMA CULTURA AO SEU ENCONTRO.

CHARRUAS, ÍNDIOS DOS PAMPAS.

Autor: Luciano Pfeifer

Momento histórico

Os índios charruas habitaram em uma região que se estendia pelo: Rio Grande do Sul (Brasil), Entre Rios e parte de Corrientes (Argentina) e quase todo o Uruguai. Pesquisas arqueológicas revelam que essa população indígena assim como outras, de caçadores-coletores, deixaram vestígios da sua ocupação há mais de quatro mil anos. Os primeiros relatos documentados sobre essas tribos iniciam apenas com a chegada dos colonizadores europeus.



MONUMENTO AOS ÚLTIMOS CHARRUAS EM PRADO DE MONTEVIDEO (1938).

Segundo Kern (1997) os charruas pertenciam à raça pampeana; tinham estatura média variável entre 1,76m para os homens e 1,68m a 1,66m para as mulheres. Eram de constituição física normal que tinham membros bem conformados com pés e mãos relativamente pequenos. Dolicomorfos, de olhos amendoados pretos e olhar penetrante; o nariz variava entre aquilino e levemente achatado. Eram de cor morena acentuada; cabelos lisos, pretos, não muito abundantes assim como a barba, que era bastante rala. Os homens usavam o cabelo solto ou preso ao redor da testa por uma tira de couro; as mulheres usavam-no em trança ou raramente soltos.
Com o avanço da ocupação branca a população charrua realizou vários deslocamentos. Estima-se que os charruas, nessa época, seriam aproximadamente 1.100 indivíduos. Diferente de outros povos indígenas, eles não se deixaram conquistar pelas formas mais usuais de dominação dos colonizadores, como: os aldeamentos, a servidão por endividamento e a escravidão, apesar de já estarem fazendo parte do processo de colonização luso-espanhola nos três primeiros séculos até mais ou menos século XIX quando são um grupo indígena praticamente extinto.
Kern (1997) aponta que desde o século XVI os charruas foram atingidos pelos colonizadores com a introdução do gado eqüino e no século seguinte pelo bovino, que se tornaram os elementos de mudança da cultura. Por sua vez, a atuação missionária, segunda forma de penetração, instala-se no século XVII; são os mercedários, franciscanos e dominicanos, que não têm grandes resultados em termos de duração, talvez porque as áreas ocupadas pelos índios fossem impróprias para desenvolver um sistema colonizador de base agrícola..



OS CHARRUAS ERAM HABEÍS NA MONTARIA.

Com o tempo, os charruas passaram a ser cada vez mais solicitados pelos conquistadores para diferentes formas de trabalho, com destaque para o manejo de gado. Pouco a pouco os produtos dessa colonização vão se somando à cultura charrua e, ainda que continuassem caçadores, os índios passaram a ver nesse contato novas possibilidades a serem agregadas ao seu modo de vida e gradativamente vão se incorporando à economia da colônia.
Criada a dependência com o colonizador vários conflitos têm inicio, na maioria das vezes, motivados pelo roubo de gado que era usado pelos índios como caça e também comercializado nas estâncias portuguesas e espanholas. O que ocorre a seguir é a diminuição do seu território, cada vez mais ocupado pelo homem branco, e que terá como conseqüência o esfacelamento cultural e demográfico da população charrua.
No final do século XVIII e primeiras décadas do século XIX, diz Kern (1997), os espanhóis e portugueses ocuparam em definitivo o território indígena; proliferaram as estâncias de criação de gado, as cidades se fixaram e cresceram em número. Com isso a população indígena é empurrada para o interior, em espaço bastante reduzido. Não tendo desenvolvido nenhum sistema econômico produtivo e não estando disposta a aceitar o modo de vida dos colonizadores; pouco lhe sobrou a não ser se empregar com o branco no mercado clandestino de couros, nos conflitos de fronteira e também como peões de estâncias, fato que não agradava os caciques.



MEMBROS DE UMA FAMÍLIA CHARRUA.

O final da história pode ser resumido em dois combates de extermínio em 1831 e 1832 praticados por forças governamentais Uruguaias contra índios pampeanos. Os homens presos, maiores de doze anos, ou foram sacrificados ou levados até Montevidéu e postos à disposição de compainhas nacionais de navegação mercante. As mulheres, crianças e velhos, todos os prisioneiros foram levados e distribuídos em público entre os moradores da capital e de outras cidades.
Conforme conta a informação oral é provável que em algumas cidades do Rio Grande do Sul e do Uruguai ainda existam descendentes de um pequeno número de charruas que conseguiram escapar dos combates mas, incapazes de reconstituir seu modo de vida indígena.

Língua

Em seu livro Línguas Brasileiras, Rodrigues (1986) diz que os índios do Brasil não são um povo: são muitos povos, diferentes de nós e diferentes entre si. Cada qual tem usos e costumes próprios, com habilidades tecnológicas, atitudes estéticas, crenças religiosas, organização social e filosofia peculiares e por falarem línguas diferentes, resultantes de experiências de vida acumuladas e desenvolvidas em milhares de anos.
Como todas as demais, as línguas dos povos indígenas do Brasil são inteiramente adequadas à plena expressão individual e social em que tradicionalmente têm vivido esses povos. Embora diferentes, elas compartilham do que todas as quase seis mil línguas do mundo têm em comum: são manifestações da mesma capacidade de comunicar-se pela linguagem.
Em Nuevos elementos acerca de la lengua charrua, Rona (1964) demonstra o resultado de uma pesquisa feita a partir de documentos da antiga redução jesuítica de San Francisco de Borja, um dos sete povos das Missões Orientais, que situava-se onde é hoje a cidade brasileira de São Borja, no Rio Grande do Sul. Segundo alguns pesquisadores essa era a única redução formada por índios charrua enquanto as outras seis eram formadas por guaranis.
É por meio de uma análise de nomes próprios de um livro de óbitos da redução indígena que os indícios dessa língua são estudados. Esses nomes a seguir, possivelmente não guaranis são, supostamente charrua.

Apaguari, Ariuona, Ayare, Ayuare
Bará, Baré, Boroiu, Bropotari
Catire, Cacé, Cayuare, Curianá
Guayucari, Guapani, Guari, Guĭnaqué, Gŭrayú
Iuire
Mandaio, Morocanga
Odaitu
Romana
Vabaña, Vaboyaí, Yaycha


Ao iniciar a análise verifica-se que o nome Boroiu não pode ser guarani, primeiro porque a inicial deveria ser Mb__y não B__y logo porque em guarani não existe /i/ consoante nem semiconsoante intervocálica. Existe ainda a terminação iu como um segundo elemento. Essa partícula coincide com a palavra charrua iu (um) que figura no Códice Vilardebó onde a palavra Laiu (boleadeiras) também está registrada. Alguns nomes próprios guaranis contêm um elemento yú que significa amarelo, porém sua pronúncia é [žu] ou [džu]. Nesta mesma lista é encontrado o nome Mandaio, que também contém um /i/ consoante ou semiconsoante que, como dito, não existe no guarani.
Odaitu contém um fonema /d/ que tão pouco existe em guarani e o nome Bropotari, com seu grupo fonético /br/, inexistente não só em guarani como em todas as línguas indígenas sul-americanas, exceto nas línguas do tronco charrua que compreende diversas populações indígenas pampenas como: a minuano, a guenoa, a yaro, a chaná, bohane, mocoretá, timbú, mbegué entre outras. Todas essas línguas apresentam um grupo de consoante + /r/.

A seguir, são observados alguns nomes cujas terminações são __ari, __are ou __ani, __ane.
__ari: Apaguari, Bropotari, Cayuari, Guayucari, Guari;
__are: Ayare, Ayuare;
__ani: Guapani.

A freqüência com que este grupo de terminações ocorre indica que as mesmas ou são um sufixo ou um elemento fixo da língua charrua. Em sendo um sufixo, se trataria provavelmente de um sufixo gentílico. Estas circunstâncias dizem duas coisas. Primeiro, que essa língua teria um só fonema sonântico dento-alveolar /n/, do qual os sons [n], [r] e presumidamente [l] não são mais que alofones sem muito valor fonológico. Em segundo, este sufixo gentílico coincide exatamente com o encontrado nas denominações das tribos que formavam o complexo charrua. A mesma alternância de: __ane com __are, também encontrada nos documentos da Redução de San Francisco de Borja.
Um outro nome, Adapari, não só mostra a terminação __ari, além de conter o fonema /d/, que por si só bastaria para mostrar que não se trata de um nome guarani e por último dos nomes Bará e Baré, que mostram uma curiosa alternância entre um __á e um __é finais, acentuadas.
Serrano (1936) diz que o chaná, uma das línguas do tronco charrua era um idioma essencialmente nasal e gutural. Não possuía /f/, /ll/, /ñ/ nem /z/. Ela aponta que /j/ e /k/ são guturais. Sendo este último poderia não sê-lo quando está no princípio e no meio da palavra.
O /h/ antes de vogal se pronuncia aspirado como no inglês. Por exemplo nas palavras hek (boca) e nohan (cervo).
A numeração, parece não ter chegado além de oito. Os charrua contavam os dedos de ambas as mãos com os polegares recolhidos. Porém, com a influência colonizadora, se viram com a necessidade de contar até dez.

1- Iú um;
2- Sam dois;
3- Deti três;
4- Betúm quatro;
5- Betum-iú quatro e um (em outra mão);
6- Betúm-sam quatro e dois (em outra mão);
7- Betúm-deti quatro e três (em outra mão);
8- Betúm-artasam quatro duas vezes.


Investigações lingüísticas indicavam que o idioma dos charruas era uma língua isolada nos seus primórdios, mas não se pode dizer que com o passar do tempo os charruas não tenham feito empréstimos lingüísticos. Com o advento da colonização, o contato com o homem branco e com outras populações indígenas próximas, como os guaranis, foi cada vez maior. Ao longo dos três primeiros séculos de colonização, a mudança social e cultural no meio de vida das populações indígenas pampeanas se fez acompanhar também, de uma mudança lingüística.



NO PRIMEIRO CONTATO COM CAVALOS OS CHARRUAS DEMONSTRARAM SEU POTÊNCIAL

Sapir (1949) escreve que as línguas, raramente se bastam a si mesmas. As necessidades de intercâmbio põem os indivíduos que falam uma dada língua em contato direto ou indireto com os de línguas vizinhas ou culturalmente dominantes. O intercâmbio pode ser de relações amistosas ou hostis. Pode processar-se no plano corriqueiro dos negócios e do comércio ou consistir em empréstimos ou troca de bens espirituais - arte ciência ou religião. Seja qual for o grau de natureza do contato entre povos vizinhos, é uma regra suficiente para conduzir a uma espécie qualquer de influência lingüística.

Cultura e sociedade.

A cultura charrua revelou uma sociedade que, mesmo sofrendo com as transformações do mundo a seu redor, nunca perdeu a sua fama de invencíveis guerreiros que procuram conservar o seu estilo de vida contrário à submissão total, sendo este um dos fatores responsáveis pelo extermínio dessa população indígena enquanto grupo, ainda no início do século XIX.
Segundo Kern (1997) a organização social dos charrua tinha como base a família, possivelmente de linha paterna, sendo a poligamia bastante acentuada. Nesses grupos indígenas essa organização familiar era bastante frouxa, quer em termos de estabilidade, quer em relação à educação dos filhos dirigidas pelas inclinações individuais. O casamento absorvia a todos os homens em idade madura e as mulheres casavam tão logo tivessem alcançado a idade núbil. O autor diz ainda que essa mesma organização familiar servia como base para a organização política das aldeias. Os chefes de família formavam um Conselho de Aldeia que posteriormente evoluiu para o cacicado. Os caciques por sua vez tiveram muita representatividade e influência pelo número de índios à sua disposição e pelas negociações que realizavam com os colonos, pelos acordos e tratados de paz feitos com autoridades governamentais e de outras tribos.
As famílias moravam em pequenas cabanas conhecidas como choças que eram construídas pelas mulheres, sobre quem caiam todos os encargos domésticos. Essas choças com espaço suficiente para a família tinham a cozinha do lado de fora e o fogo na mesma ou nas proximidades era uma presença constante. Eram utilizadas basicamente para descanso e para a proteção contra os rigores do pampa.
As choças concentravam-se em forma de aldeia e estavam sujeitas as ordens dos seus caciques, ficando separadas por uma distância regular para que não faltasse o pasto necessário ao gado e à cavalhada. Cada uma dessas aldeias tinha um cemitério nas suas proximidades, que se transferia de acordo com a mobilização dos grupos.
Os charrua tinham um temperamento bastante retraído e sua vaidade se expressava basicamente nas pinturas faciais que diferenciavam uma tribo da outra e nos homens, pelas cicatrizes feitas intencionalmente nos próprios corpos para dar a conhecer o número de inimigos mortos.
Gennep (1984) diz que as mutilações são um meio de diferenciação definitiva, assim como outras: vestuário, máscaras, pinturas corporais que marcam ema diferenciação temporárias. São essas que vêm desempenhar considerável papel nos ritos de passagem porque se repetem a cada mudança na vida do indivíduo.
O autor comenta que num e noutro sexo a puberdade física é um momento muito difícil de datar, e esta dificuldade explica o fato de tão poucos etnógrafos e exploradores terem feito pesquisas a este respeito. Isto torna mais imperdoável ainda aceitar-se a expressão para designar o conjunto dos ritos , cerimônias, práticas de toda espécie que marcam nos diversos povos a passagem da infância à adolescência. Convém, portanto, distinguir a puberdade social da puberdade física, assim como se distingue o parentesco físico (consangüinidade) e o parentesco social, a maturidade física e a maturidade social (maioridade), etc.
Na organização social charrua as diferenças entre os sexos é bastante clara. Começavam com o nascimento e iam até a morte. Passado um tempo do nascimento o menino charrua recebia a insígnia viril o barbote ou tembetá, introduzido por sua mãe no lábio inferior. O tembetá somente era retirado para ser substituído por outro maior, de acordo com o próprio crescimento. A passagem para a idade adulta era marcada por uma grande cerimonia, os rostos eram pintados com traços e disposições diferentes para os dois sexos e grupos.
Kenr (1997) aponta que vários outros aspectos diferenciavam o sexo no dia-a-dia dos charrua. Até mesmo na maneira de montar o cavalo, em pêlo, entre os homens, enquanto as mulheres montavam sobre arreios bem simples. Na guerra quando o homem só possuía um cavalo, era ele quem montava, e sua mulher seguia-o a pé, carregando filhos e pertences.
O autor diz que a cultura espiritual dos charrua parece estar mais ligada ao curandeirismo. Os feiticeiros, geralmente em estado de transe pela absorção de ervas, de modo especial da erva-mate, atuavam nos mais variados momentos; diziam que sua força dominaria mesmo os elementos da natureza. Há poucas notícias a respeito de suas idéias religiosas. Em cerimônias, invocavam um ser superior que às vezes se lhes mostrava visível. Acreditavam igualmente, em um ser maléfico, de onde lhes vinham todas as desgraças. Parece que acreditavam na ressurreição da alma e, por dedução, na imortalidade da mesma.
A morte parece ter sido encarada como um fato natural. É certo porém, que não deixavam seu mortos insepultos, mesmo em situações de guerra. Todos, indistintamente, eram enterrados em covas rasa, coberta com pedras ou ramas. Sobre esses pequeno acúmulo eram colocadas as boleadeiras; a lança ficava plantada no lado oposto ao qual deixavam o cavalo.
O luto se destacou como a expressão mais representativa neste aspecto da vida dos charrua; sua importância era proporcional ao status do morto e implicavam obrigações diferenciadoras de sexo e parentesco. Se o morto era o pai, o marido, ou irmão que houvesse desempenhado chefia familiar, os filhos, viúva e irmãs casadas cortavam uma falange da mão, começando pelo dedo mínimo. Além disso faziam com a lança do morto vários cortes espalhados pelo corpo, ficando, depois, durante duas luas tristes, ocultos em casa, se alimentando apenas com determinados alimentos. Os maridos não faziam luto por suas mulheres, nem os pais por seus filhos.
Gennep (1984) fala que a primeira vista parece que nas cerimonias funerárias são os ritos de separação que devem ter o lugar mais importantes, sendo os ritos de margens e de agregação, ao contrário, pouco desenvolvidos.. Entretanto o estudo dos fatos mostra que as coisas são diferentes e que, ao contrário, os ritos de separação são pouco numerosos e muito simples, e que os ritos de margens têm uma duração e complexidade que chega às vezes a lhe dar uma espécie de autonomia. Finalmente, de todos os ritos funerários aqueles que agregam o morto ao mundo dos mortos são os mais elaborados e a eles é que se atribui a maior importância.
Todos esses aspectos da cultura charrua, somados ao seu caráter explicam os empecilhos para adaptarem-se à nova realidade dos colonizadores e por conseqüência as dificuldades de se manterem como um grupo.

VOCÊ QUER SABER MAIS?

http://ogergelim.blogspot.com

RODRIGUES, Ayron Dall’Igna. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Ed. Loyola, 1986.

SAPIR, Edward. A Linguagem: introdução ao estudo da fala. Tradução de J. Mattoso Camara Jr. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1980.

KERN, Arno A. Arqueologia Pré-Histórica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. Mercado Aberto 2º Edição, 1997.

RONA, José Pedro. Nuevos elementos de la lengua charrua. Montevidéu: Universidad de la Republica, 1964.

SERRANO, Antonio. Etnografia de la Antiga Provincia del Uruguai. Montevidéu: Parana, 1936.

GENNEP, Arnold Van. Os ritos de Passagem. Petrópolis, 1984.

sábado, 11 de setembro de 2010

SEMANA FARROUPILHA DE 14 A 20 DE SETEMBRO DE 2010

A proposta de trabalho para o tema de 2010 é representada através de três aspectos:



- Os ideais: explorar as razões que levaram os farroupilhas a se colocarem em posição antagônica ao Império. Questões como os altos impostos sobre a terra e sobre a produção de charque, a idéia de República e de Federalismo, o direito de escolher (eleger) os representantes políticos, o direito ao tratamento homogêneo entre os servidores militares.

- A cidadania: os farroupilhas enquanto cidadãos, com famílias, com propriedades, com direitos civis, com deveres de cidadãos. A questão da falta de escolas e do analfabetismo. A questão do trabalho campeiro. Destacar momentos de lazer e descontração com jogos, bailes, carreiras, e explorar a questão da religiosidade através da presença da Igreja católica nas questões políticas, dos casamentos e batizados.

- a Revolução: a decisão extrema de pegar em amas para fazer valer direitos cidadãos e para alcançar os ideais que os moviam. Mostrar a movimentação das tropas no território, destacar a vida nas três capitais farroupilhas.



LANCEIROS NEGROS



DESFILE DE MOVIMENTAÇÃO DAS TROPAS



ENCENAÇÃO DE REUNIÃO FARROUPILHA


Nesse contexto destacamos as figuras mais importantes da Revolução, tais como:


- Bento Gonçalves da Silva


- Antônio de Souza Netto


- José Gomes Vasconcelos Jardim


- Onofre Pires da Silveira Canto


- Joaquim Teixeira Nunes


- David Canabarro


- Antonio Vicente da Fontoura


- Domingos José de Almeida


- Manoel Lucas de Oliveira


- José Mariano de Matos


- Padre Francisco da chagas Martins de Ávila e Sousa


- Padre Hildebrando de Freitas Pedroso


Os estrangeiros:


- Giuseppe Maria Garibaldi


- Luigi Rosseti


- Tito Livio Zambecari


- John Pascoe Grenfell


O objetivo é mostrar tanto os aspectos revolucionários quanto os aspectos de cidadãos e suas famílias fazendo aparecer no cenário às mulheres que, de uma forma geral, são esquecidas pela historiografia.

Podemos trabalhar o desfile temático em 10 invernadas teatralizando:


1.A vida em família;


2.O trabalho: lida do campo e charqueadas;


3.A religiosidade: presença do padre, o casamento e o batizado;


4.As festas: um fandango, a chula, a tava e o truco;


5.Os ideais farroupilhas: assembléia provincial.


6.Apresentação dos líderes, com suas características;


7.Os estrangeiros engajados na idéia republicana;


8.A revolução: três capitais farroupilhas – Piratini, Caçapava do Sul e Alegrete;


9.A proclamação da república, a bandeira e o hino;


10.Os líderes e seus destinos no pós Revolução.


A SAGA FARROUPILHA


Saga Farrapa marcou o Rio Grande

As comemorações da Revolução Farroupilha - o mais longo e um dos mais significativos movimentos de revoltas civis brasileiros, envolvendo em suas lutas os mais diversos segmentos sociais - relembra a Guerra dos Farrapos contra o Império, de 1835 a 1845. O Marco Inicial ocorreu no amanhecer de 20 de setembro de 1835. Naquele dia, liderando homens armados, Gomes Jardim e Onofre Pires entraram em Porto Alegre pela Ponte da Azenha.

A data e o fato ficaram registrados na história dos sul-ro-grandenses como o início da Revolução Farroupilha. Nesse movimento revolucionário, que teve duração de cerca de dez anos e mostrava como pano de fundo os ideais liberais, federalistas e republicanos, foi proclamada a República Rio-Grandense, instalando-se na cidade de Piratini a sua capital.

Acontecendo-se a Revolução Farroupilha, desde o século XVII o Rio Grande do Sul já sediava as disputas entre portugueses e espanhóis. Para as lideranças locais, o término dessas disputas mereciam, do governo central, o incentivo ao crescimento econômico do Sul, como ressarcimemto às gerações de famílias que lutaram e defenderam o país. Além de isso não ocorrer, o governo central passou a cobrar pesadas taxas sobre os produtos do RS. Charque, couros e erva-mate, por exemplo,passaram a ter cobrança de altos impostos. O charque gaúcho passou a ter elevadas, enquanto o governo dava incentivos para a importação do Uruguai e Argentina.

Já o sal, insumo básico para a preparação do charque, passou a ter taxa de importação considerada abusiva, agravando o quadro. Esses fatores, somados, geram a revolta da elite sul-riograndense, culminando em 20 de setembro de 1835, com Porto Alegre sendo invadida pelos rebeldes enquanto o presidente da província, Fernando Braga, fugia do Rio Grande.

As comemorações do Movimento Farroupilha, que até 1994 restringiam-se ao ponto facultativo nas repartições públicas estaduais e ao feriado municipal em algumas cidades do Interior, ganharam mais um incentivo a partir do ano 1995. Definida pela Constituição Estadual com a data magna do Estado, o dia 20 de setembro passou a ser feriado. O decreto estadual 36.180/95, amparado na lei federal 9.093/95, de autoria do deputado federal Jarbas Lima (PPB/RS), especifica que "a data magna fixada em lei pelos estados federados é feriado civil".

VOCÊ QUER SABER MAIS?

http://www.semanafarroupilha.com.br

63ª Chama Crioula é acesa abrindo as festividades Farroupilhas no Estado.

DESFILE DAS DELEGAÇÕES DE VOLTA AO SINDICATO RURAL

Composta por três centelhas, o 63º acendimento da Chama Crioula ocorreu às 10h34min no sábado (14/08), no cais do porto de Itaqui, quando se uniram à chama acesa no município há 30 anos contínuos, uma centelha vinda da região das Missões, para representar os povos indígenas, e outra vinda da cidade argentina de La Cruz, alusiva à integração com o povo hermano. O Candeeiro Crioulo foi aceso após a fusão das três Chamas pelo Patrono da Semana Farroupilha 2010, Rodi Pedro Borghetti, e pela viúva de Orlando Degrazia, um dos integrantes do Grupo dos 8, Clori Degrazia. As 30 regiões tradicionalistas do Estado foram chamadas a acender seus candeeiros. De acordo com o coordenador da 3ª Região Tradicionalista, João Cezar Farias, cada região tem uma maneira particular de distribuir a centelha entre outros municípios e entidades. Mais de 1800 cavalarianos acompanharam a solenidade que marcou o início das festividades farroupilhas no Rio Grande do Sul. Pela primeira vez que o e evento teve um aspecto internacional, reunindo em um mesmo local o representantes do tradicionalismo, autoridades de Alvear, província de Corrientes da argentina, simbolizando um integração das culturas e povos latinos. A solenidade foi marcada ainda por uma homenagem ao chamado Grupo dos 8, reconhecido como os fundadores do tradicionalismo organizado. Uma pajada, declamada e composta pelo artista João Sampaio, intitulada "Os Oito de Ouro", além de um grupo de cavalarianos foram algumas das formas de reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelos tradicionalistas em 1947, ano de acendimento da primeira Chama Crioula no Rio Grande do Sul. O vice-presidente da Comissão Estadual dos Festejos Farroupilhas e Presidente do MTG, Oscar Fernande Gress, manifestou a importância do evento como um dos momentos mais importantes para o tradicionalismo organizado. Já o Patrono, Rodi Borghetti, lembrou a importância e a coragem daqueles jovens, em 1947, que acenderam pela primeira vez a chama do Candeeiro, retirando uma centelha da Pira da Pátria. O prefeito Gil Marques Filho, anfitrião do evento, saudou a todos os tradicionalista que participam do ato, representando suas regiões e agradeceu a comunidade que apoio a inicitiva de Itaqui sediar o maior evento do tradicionalismo gaúcho; clamou por uma atenção especial dos órgãos competentes para incentivarem mais a difusão da cultura riograndense.

HISTÓRIA DA CHAMA CRIOULA


O simbolismo do fogo é universal, encerra em si o poder e a força. Assim como na Semana da Pátria, também na Semana Farroupilha temos um fogo simbólico, a "Chama Crioula", aliás, esta tem origem primeira naquela: foi em 1947 que, pela vez primeira, ardeu um candeeiro crioulo.
A "Chama Crioula" representa a história, a tradição, a alma da sociedade gaúcha, construída ao longo de pouco mais de três séculos. Em torno dela construímos um ambiente de reverência ao passado, de culto aos feitos e fatos que nos orgulham, de reflexão sobre a sociedade que somos e a que queremos ser. Frente à chama, não fazemos festa, não bebemos, não dançamos. Nossa postura é de reverencia e de compenetração cívica.


VOCÊ QUER SABER MAIS?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

COMPANHEIROS HISTORIADORES ABREM O VERBO SOBRE A KGB NA ATUALIDADE.


A Era dos Assassinos — A Nova KGB e o Fenômeno Vladímir Putin
publicado em livro


Homenagem aos historiadores Yuri Felshtinsky e Vladímir Pribilovski. Que em prou da verdade e da história trabalharam incansavelmente para que este trabalho chegasse até você.



"A Era dos Assassinos — A Nova KGB e o Fenômeno Vladímir Putin" (Record, tradução de Marcelo Schild, 391 páginas), dos historiadores Yuri Felshtinsky e Vladímir Pribilovski, é um livro rico em revelações. Durante o debate entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos, o republicano John McCain disse: "Eu vi nos olhos de Putin três letras: KGB". Quem não se interessa pela história da Rússia pode pensar que se trata apenas de uma boa frase de efeito. Depois da leitura de "A Era dos Assassinos", o leitor concluirá que McCain resumiu a história do livro, ou seja, a história recente da Rússia.

Os historiadores mostram, com uma infinidade de informações, que a Kontora, como é conhecida a KGB (o novo nome é FSB, Serviço de Segurança Federal da Rússia), finalmente conseguiu conquistar o poder na Rússia. É a primeira vez, na história do país, que a corporação, a polícia secreta, detém o controle político e manda na economia. Opositores, sejam políticos ou empresários, são brutalmente assassinados e as investigações dão em nada. Cerca de 50 empresários e banqueiros foram assassinados desde que Putin assumiu o poder. Sob Stálin, a KGB, com outro nome, era forte, mas não tão forte quanto agora. Um dos méritos do livro é mostrar que Putin governa sob controle da KGB. Sua relativa autonomia pode ser comprovada apenas num campo: o gosto extremado e vaidoso por esportes. Putin (ou a KGB) não tem adversários, tem inimigos e, por isso, elimina-os de modo implacável. Alguns são mortos a tiros; outros, envenenados. A jornalista Anna Politkovskaya, que investigou a fundo a guerra da Tchetchênia e desmascarou as mentiras de Putin, foi assassinada. Os aliados de Putin sabiam que o presidente (hoje, primeiro-ministro, mas mandando no presidente Dmitri Medvedev, porque este não desafia a Kontora) detestava Politkovskaya. Resultado: se uniram e, no dia 7 de outubro de 2006, data do aniversário de Putin, mataram a brilhante e corajosa repórter. Tudo indica que os mandantes do crime são a FSB, Ramzan Kadirov e Umar Djabrailov.

O ex-tenente-coronel Alexander Litvinenko cometeu um crime grave do ponto de vista da KGB: traiu-a. Os traidores são assassinados pela Kontora, em geral de modo cruel. Litvinenko ousou denunciar que a corporação estava se preparando para matar o oligarca Boris Berezovski (o bilionário que tentou mandar no time do Corinthians). Foi preso e, para não morrer, exilou-se na Inglaterra. Acreditou que estava salvo. A KGB localizou-o e o envenenou com Polônio-210, veneno radiativo letal.

Sabe-se que outros jornalistas, intelectuais, políticos e empresários vão morrer. Basta se colocarem em oposição a alguma decisão do governo da KGB. A mídia é hoje quase que inteiramente controlada pelo governo de Putin-Medvedev. A Kontora mudou a legislação e a mídia, quando não está sob censura, é inteiramente controlada pela corporação.

Há outro aspecto pouco discutido a respeito de Putin. A corrupção de Stálin era moral (era perverso, sádico e pragmático) e teria morrido pobre (segundo os autores do livro, provavelmente envenenado). Putin e seu grupo, pelo contrário, são milionários, medularmente corruptos e adeptos da boa vida em tempo integral. A nova Nomenklatura extorque empresários e o próprio Estado. A esquerda brasileira, que fala tanto em privataria, deveria ler a história de como Putin privatiza estatais ou de como estatais privatizadas são retomadas de empresários. Não há segurança jurídica alguma e quem reclama morre ou tem de sair do país.

A deterioração moral chegou a tal ponto que o grupo de Putin é acusado até mesmo de envolvimento com o tráfico de cocaína. "As principais rotas de entrada de cocaína na Europa", segundo os autores do livro, passam pela Rússia. Eles revelam que 1.092 quilos de cocaína, provenientes da Colômbia, desapareceram nas mãos da KGB. Os traficantes de drogas russos mantêm relações cordiais com os aliados de Putin. São protegidos.

As olimpíadas de inverno de 2014 serão realizadas em Sochi e os aliados de Putin se tornaram proprietários dos melhores negócios da região. Como Putin convenceu o ex-presidente do Comitê Olímpico Internacional, o espanhol Juan Antonio Samaranch, a apoiar Sochi para sede das olimpíadas?

Felshtinsky e Pribiloviski revelam que, quando embaixador da Espanha na extinta União Soviética, Samaranch tinha o hábito de comprar antiguidades, atividade considerada ilegal, e, por isso, foi investigado pela KGB. Agentes da Kontora "ofereceram duas opções a Samaranch: ele poderia ser comprometido através de publicações de artigos na imprensa soviética e estrangeira detalhando suas atividades ilegais, o que, sem dúvida, encerraria sua carreira diplomática, ou poderia colaborar com a KGB como agente secreto. Samaranch escolheu a segunda opção".

Samaranch foi eleito presidente do COI, em grande parte, por ter obtido o apoio da KGB, que influenciou os países do Leste Europeu. Mais tarde, o "agente" espanhol retribuiu o favor, agora para Putin, e vetou outros países e concedeu à Rússia o direito de sediar as olimpíadas de inverso de 2014.

Os autores do livro avalizam a tese de que Lênin e sua mulher foram envenenados a mando de Stálin. Leia abaixo sobre a o crueza com que Putin tratou um de seus inimigos, Iuri Shutov.
O caso do inimigo de Putin


O texto a seguir foi extraído do livro "A Era dos Assassinos - A Nova KGB e o Fenômeno Vladímir Putin" (Editora Record), de Yuri Felshtinsky e Vladímir Pribilovski. O título do capítulo é "Iuri Shutov" (páginas 256, 257, 258, 259 e 260).

Ao contrário da descrição do hábito do presidente Putin de não se esquecer dos amigos, devemos comentar sobre como ele lida com os inimigos. Quando Putin se decide a "pôr fim em alguém", ele não descansa até atingir o objetivo.
Quando Putin começou a trabalhar para Sobtchak, em

terça-feira, 7 de setembro de 2010

OS PRIMÓRDIOS DAS LEIS.

Código de Hamurábi




Khammu-rabi ( também se translitera Hammurábi), rei da Babilônia no 18º século A.C., estendeu grandemente o seu império e governou uma confederação de cidades-estado.. Erigiu, no final do seu reinado, uma enorme "estela" em diorito, na qual ele é retratado recebendo a insígnia do reinado e da justiça do rei Marduk. Abaixo mandou escreverem 21 colunas, 282 cláusulas que ficaram conhecidas como Código de Hamurábi (embora abrangesse também antigas leis).
Muitas das provisões do código referem-se às três classes sociais: a do "awelum" (filho do homem" , ou seja, a classe mais alta, dos homens livres, que era merecedora de maiores compensações por injúrias - retaliações - mas que por outro lado arcava com as multas mais pesadas por ofensas); no estágio imediatamente inferior, a classe do "mushkenum", cidadão livre mas de menor ststus e obrigações mais leves; por último, a classe do "wardum", escravo marcado que no entanto, podia ter propriedade. O código referia-se também ao comércio (no qual o caixeiro viajante ocupava lugar importante), à família (inclusive o divórcio, o pátrio poder, a adoção, o adultério, o incesto), ao trabalho (precursor do salário mínimo, das categorias profissionais, das leis trabalhistas), à propriedade.
Quanto às leis criminais, vigorava a "lex talionis" : a pena de morte era largamente aplicada, seja na fogueira, na forca, seja por afogamento ou empalação. A mutilação era infligida de acordo com a natureza da ofensa.
A noção de "uma vida por uma vida" atingia aos filhos dos causadores de danos aos filhos dos ofendidos. As penalidades infligidas sob o Código de Hamurabi, ficavam entre os brutais excessos das punições corporais das leis mesopotâmica Assírias e das mais suaves, dos hititas. A codificação propunha-se a implantação da justiça na terra, a destruição do mal, a prevenção da opressão do fraco pelo forte, a propiciar o bem estar do povo e iluminar o mundo. Essa legislação estendeu-se pela Assíria, pela judéia e pela Grécia.

PRÓLOGO
"Quando o alto Anu, Rei de Anunaki e Bel, Senhor da Terra d dos Céus, determinador dos destinos do mundo, entregou o governo de toda humanidade a Marduk... quando foi pronunciado o alto nome da Babilônia; quando ele a fez famosa no mundo e nela estabeleceu um duradouro reino cujos alicerces tinham a firmeza do céu e da terra - por esse tempo de Anu e Bel me chamaram, a mim, Hamurabi, o excelso príncipe, o adorador dos deuses, para implantar a justiça na terra, para destruir os maus e o mal, para prevenir a opressão do fraco pelo forte... para iluminar o mundo e propiciar o bem-estar do povo. Hamurabi, governador escolhido por Bel, sou eu, eu o que trouxe a abundância à terra; o que fez obra completa para Nippur e Durilu; o que deu vida à cidade de Uruk; o que supriu água com abundância aos seus habitantes;... o que tornou bela a cidade de Borsippa;... o que enceleirou grãos para a poderosa Urash;... o que ajudou o povo em tempo de necessidade; o que estabeleceu a segurança na Babilônia; o governador do povo, o servo cujos feitos são agradáveis a Anunit".


I - SORTILÉGIOS, JUÍZO DE DEUS, FALSO TESTEMUNHO, PREVARICAÇÃO DE JUÍZES

1º - Se alguém acusa um outro, lhe imputa um sortilégio, mas não pode dar a prova disso, aquele que acusou, deverá ser morto.
2º - Se alguém avança uma imputação de sortilégio contra um outro e não a pode provar e aquele contra o qual a imputação de sortilégio foi feita, vai ao rio, salta no rio, se o rio o traga, aquele que acusou deverá receber em posse à sua casa. Mas, se o rio o demonstra inocente e ele fica ileso, aquele que avançou a imputação deverá ser morto, aquele que saltou no rio deverá receber em posse a casa do seu acusador.
3º - Se alguém em um processo se apresenta como testemunha de acusação e, não prova o que disse, se o processo importa perda de vida, ele deverá ser morto.
4º - Se alguém se apresenta como testemunha por grão e dinheiro, deverá suportar a pena cominada no processo.
5º - Se um juiz dirige um processo e profere uma decisão e redige por escrito a sentença, se mais tarde o seu processo se demonstra errado e aquele juiz, no processo que dirigiu, é convencido de ser causa do erro, ele deverá então pagar doze vezes a pena que era estabelecida naquele processo, e se deverá publicamente expulsá-lo de sua cadeira de juiz. Nem deverá ele voltar a funcionar de novo como juiz em um processo.

II - CRIMES DE FURTO E DE ROUBO, REIVINDICAÇÃO DE MÓVEIS

6º - Se alguém furta bens do Deus ou da Corte deverá ser morto; e mais quem recebeu dele a coisa furtada também deverá ser morto.
7º - Se alguém, sem testemunhas ou contrato, compra ou recebe em depósito ouro ou prata ou um escravo ou uma escrava, ou um boi ou uma ovelha, ou um asno, ou outra coisa de um filho alheio ou de um escravo, é considerado como um ladrão e morto.
8º - Se alguém rouba um boi ou uma ovelha ou um asno ou um porco ou um barco, se a coisa pertence ao Deus ou a Corte, ele deverá dar trinta vezes tanto; se pertence a um liberto, deverá dar dez vezes tanto; se o ladrão não tem nada para dar, deverá ser morto.
9º - Se alguém, a quem foi perdido um objeto, o acha com um outro, se aquele com o qual o objeto perdido é achado, diz: - "um vendedor mo vendeu diante de testemunhas, eu o paguei" - e o proprietário do objeto perdido diz: "eu trarei testemunhas que conhecem a minha coisa perdida" - o comprador deverá trazer o vendedor que lhe transferiu o objeto com as testemunhas perante às quais o comprou e o proprietário do objeto perdido deverá trazer testemunhas que conhecem o objeto perdido. O juiz deverá examinar os seus depoimentos, as testemunhas perante as quais o preço foi pago e aquelas que conhecem o objeto perdido devem atestar diante de Deus reconhecê-lo. O vendedor é então um ladrão e morrerá; o proprietário do objeto perdido o recobrará, o comprador recebe da casa do vendedor o dinheiro que pagou.
10º - Se o comprador não apresenta o vendedor e as testemunhas perante as quais ele comprou, mas, o proprietário do objeto perdido apresenta um testemunho que reconhece o objeto, então o comprador é o ladrão e morrerá. O proprietário retoma o objeto perdido.
11º - Se o proprietário do objeto perdido não apresenta um testemunho que o reconheça, ele é um malvado e caluniou; ele morrerá.
12º - Se o vendedor é morto, o comprador deverá receber da casa do vendedor o quíntuplo.
13º - Se as testemunhas do vendedor não estão presentes, o juiz deverá fixar-lhes um termo de seis meses; se, em seis meses, as suas testemunhas não comparecerem, ele é um malvado e suporta a pena desse processo.
14º - Se alguém rouba o filho impúbere de outro, ele é morto.
15º - Se alguém furta pela porta da cidade um escravo ou uma escrava da Corte ou um escravo ou escrava de um liberto, deverá ser morto.
16º - Se alguém acolhe na sua casa, um escravo ou escrava fugidos da Corte ou de um liberto e depois da proclamação pública do mordomo, não o apresenta, o dono da casa deverá ser morto.
17º - Se alguém apreende em campo aberto um escravo ou uma escrava fugidos e os reconduz ao dono, o dono do escravo deverá dar-lhe dois siclos.
18º - Se esse escravo não nomeia seu senhor, deverá ser levado a palácio; feitas todas as indagações, deverá ser reconduzido ao seu senhor.
19º - Se ele retém esse escravo em sua casa e em seguida se descobre o escravo com ele, deverá ser morto.
20º - Se o escravo foge àquele que o apreendeu, este deve jurar em nome de Deus ao dono do escravo e ir livre.
21º - Se alguém faz um buraco em uma casa, deverá diante daquele buraco ser morto e sepultado.
22º - Se alguém comete roubo e é preso, ele é morto.
23º - Se p salteador não é preso, o roubado deverá diante de Deus reclamar tudo que lhe foi roubado; então a aldeia e o governador, em cuja terra e circunscrição o roubo teve lugar, devem indenizar-lhe os bens roubados por quanto foi perdido.
24º - Se eram pessoas, a aldeia e o governador deverão pagar uma mina aos parentes.
25º - Se na casa de alguém aparecer um incêndio e aquele que vem apagar, lança os olhos sobre a propriedade do dono da casa, e toma a propriedade do dono da casa, ele deverá ser lançado no mesmo fogo.

III - DIREITOS E DEVERES DOS OFICIAIS, DOS GREGÁRIOS E DOS VASSALOS EM GERAL, ORGANIZAÇÃO DO BENEFÍCIO

26º - Se um oficial ou um gregário que foi chamado às armas para ir no serviço do rei, não vai e assolda um mercenário e o seu substituto parte, o oficial ou o gregário deverá ser morto, aquele que o tiver substituído deverá tomar posse da sua casa.
27º - Se um oficial ou um gregário foi feito prisioneiro na derrota do rei, e em seguida o seu campo e o seu horto foram dados a um outro e este deles se apossa, se volta a alcançar a sua aldeia, se lhe deverá restituir o campo e o horto e ele deverá retomá-los.
28º - Se um oficial ou um gregário foi feito prisioneiro na derrota do rei, se depois o seu filho pode ser investido disso, se lhe deverá dar o campo e horto e ele deverá assumir o benefício de seu pai.
29º - Se o filho é ainda criança e não pode ser dele investido, um terço do campo e do horto deverá ser dado à progenitora e esta deverá sustentá-lo.
30º - Se um oficial um ou gregário descura e abandona seu campo, o horto e a casa em vez de gozá-los, e um outro toma posse do seu campo, do horto e da casa; se ele volta e pretende seu campo, horto e casa, não lhe deverão ser dados, aquele que deles tomou posse e os gozou, deverá continuar a gozá-los.
31º - Se ele abandona por um ano e volta, o campo, o horto e a casa lhe deverão ser restituídos e ele deverá assumi-los de novo.
32º - Se um negociante resgata um oficial, ou um soldado que foi feito prisioneiro no serviço do rei, e o conduz à sua aldeia, se na sua casa há com que resgatá-lo, ele deverá resgatar-se; se na sua casa não há com que resgatá-lo, ele deverá ser libertado pelo templo de sua aldeia; se no templo de sua aldeia não há com que resgatá-lo, deverá resgatá-lo a Corte. O seu campo, horto e casa não deverão ser dados pelo seu resgate.
33º - Se um oficial superior foge ao serviço e coloca um mercenário em seu lugar no serviço do rei e ele parte, aquele oficial deverá ser morto.
34º - Se um oficial superior furta a propriedade de um oficial inferior, prejudica o oficial, dá o oficial a trabalhar por soldada, entrega o oficial em um processo a um poderoso, furta o presente que o rei deu ao oficial, aquele deverá ser morto.
35º - Se alguém compra ao oficial bois ou ovelhas, que o rei deu a este, perde o seu dinheiro.
36º - O campo, o horto e a casa de um oficial, gregário ou vassalo não podem ser vendidos.
37º - Se alguém compra o campo, o horto e a casa de um oficial, de um gregário, de um vassalo, a sua tábua do contrato de venda é quebrada e ele perde o seu dinheiro; o campo, o horto e a casa voltam ao dono.
38º - Um oficial, gregário, ou vassalo não podem obrigar por escrito nem dar em pagamento de obrigação à própria mulher ou à filha o campo, o horto e a casa do seu benefício.
39º - O campo, o horto e a casa, que eles compraram e possuem (como sua propriedade) podem ser obrigados por escrito e dadas em pagamento de obrigação à própria mulher e à filha.
40º - Eles podem vender a um negociante ou outro funcionário do Estado, seu campo, horto e casa. O comprador recebe em gozo e campo, o horto e a casa que comprou.
41º - Se alguém cercou de sebes o campo, o horto e a casa de um oficial, de um gregário ou de um vassalo e forneceu as estacas necessárias, se o oficial, o gregário ou o vassalo voltam ao campo, horto ou casa, deverão ter como sua propriedade as estacas que lhes foram dadas.

IV - LOCAÇÕES E REGIMEN GERAL DOS FUNDOS RÚSTICOS, MÚTUO, LOCAÇÃO DE CASAS, DAÇÃO EM PAGAMENTO

42º - Se alguém tomou um campo para cultivar e no campo não fez crescer trigo, ele deverá ser convencido que fez trabalhos no campo e deverá fornecer ao proprietário do campo quanto trigo exista no do vizinho.
43º - Se ele não cultiva o campo e o deixa em abandono, deverá dar ao proprietário do campo quanto trigo haja no campo vizinho e deverá cavar e destorroar o campo, que ele deixou ficar inculto e restituí-lo ao proprietário.
44º - Se alguém se obriga a por em cultura, dentro de três anos, um campo que jaz inculto, mas é preguiçoso e não cultiva o campo, deverá no quarto ano cavar, destorroar e cultivar o campo inculto e restituí-lo ao proprietário e por cada dez gan pagar dez gur de trigo.
45º - Se alguém dá seu campo a cultivar mediante uma renda e recebe a renda do seu campo, mas sobrevem uma tempestade e destrói a safra, o dano recai sobre o cultivador.
46º - Se ele não recebe a renda do seu campo, mas o dá pela terça ou quarta parte, o trigo que está no campo deverá ser dividido segundo as partes entre o cultivador e o proprietário.
47º - Se o cultivador, porque no primeiro ano não plantou a sua estância, deu a cultivar o campo, o proprietário não deverá culpá-lo; o seu campo foi cultivado e, pela colheita, ele receberá o trigo segundo o seu contrato.
48º - Se alguém tem um débito a juros, e uma tempestade devasta o seu campo ou destrói a colheita, ou por falta d'água não cresce o trigo no campo, ele não deverá nesse ano dar trigo ao credor, deverá modificar sua tábua de contrato e não pagar juros por esse ano.
49º - Se alguém toma dinheiro a um negociante e lhe concede um terreno cultivável de trigo ou de sésamo, incumbindo-o de cultivar o campo, colher o trigo ou o sésamo que aí crescerem e tomá-los para si, se em seguida o cultivador semeia no campo trigo ou sésamo, por ocasião da colheita o proprietário do campo deverá receber o trigo ou o sésamo que estão no campo e dar ao negociante trigo pelo dinheiro que do negociante recebeu, pelos juros e moradia do cultivador.
50º - Se ele dá um campo cultivável (de trigo) ou um campo cultivável de sésamo, o proprietário do campo deverá receber o trigo ou o sésamo que estão no campo e restituir ao negociante o dinheiro com os juros.
51º - Se não tem dinheiro para entregar, deverá dar ao negociante trigo ou sésamo pela importância do dinheiro, que recebeu do negociante e os juros conforme a taxa real.
52º - Se o cultivador não semeou no campo trigo ou sésamo, o seu contrato não fica invalidado.
53º - Se alguém é preguiçoso no ter em boa ordem o próprio dique e não o tem em conseqüência se produz uma fenda no mesmo dique e os campos da aldeia são inundados d'água, aquele, em cujo dique se produziu a fenda, deverá ressarcir o trigo que ele fez perder.
54º - Se ele não pode ressarcir o trigo, deverá ser vendido por dinheiro juntamente com os seus bens e os agricultores de quem o trigo foi destruído, dividirão entre si.
55º - Se alguém abre o seu reservatório d'água para irrigar, mas é negligente e a água inunda o campo de seu vizinho, ele deverá restituir o trigo conforme o produzido pelo vizinho.
56º - Se alguém deixa passar a água e a água inunda as culturas do vizinho, ele deverá pagar-lhe por cada dez gan dez gur de trigo.
57º - Se um pastor não pede licença ao proprietário do campo para fazer pastar a erva às ovelhas e sem o consentimento dele faz pastarem as ovelhas no campo, o proprietário deverá ceifar os seus campos e o pastor que sem licença do proprietário fez pastarem as ovelhas no campo, deverá pagar por junto ao proprietário vinte gur de trigo por cada dez gan.
58º - Se depois que as ovelhas tiverem deixado o campo da aldeia e ocupado o recinto geral à porta da cidade, um pastor deixa ainda as ovelhas no campo e as faz pastarem no campo, este pastor deverá conservar o campo em que faz pastar e por ocasião da colheita deverá responder ao proprietário do campo, por cada dez gan sessenta gur.
59º - Se alguém, sem ciência do proprietário do horto, corta lenha no horto alheio, deverá pagar uma meia mina.
60º - Se alguém entrega a um hortelão um campo para plantá-lo em horto e este o planta e o cultiva por quatro anos, no quinto, proprietário e hortelão deverão dividir entre si e o proprietário do horto tomará a sua parte.
61º - Se o hortelão não leva a termo a plantação do campo e deixa uma parte inculta, dever-se-á consignar esta no seu quinhão.
62º - Se ele não reduz a horto o campo que lhe foi confiado, se é campo de espigas, o hortelão deverá pagar ao proprietário o produto do campo pelos anos em que ele fica inculto na medida da herdade do vizinho, plantar o campo cultivável e restituí-lo ao proprietário.
63º - Se ele transforma uma terra inculta num campo cultivado e o restitui ao proprietário, ele deverá pagar em cada ano dez gur de trigo por cada dez gan.
64º - Se alguém dá o horto a lavrar a um hortelão pelo tempo que tem em aluguel o horto, deverá dar ao proprietário duas partes do produto do horto e conservar para si a terça parte.
65º - Se o hortelão não lavra o horto e o produto diminui, o hortelão deverá calcular o produto pela parte do fundo vizinho.

LACUNAS DE CINCO COLUNAS; CALCULAM EM 35 PARÁGRAFOS

Pertencem à lacuna os seguintes parágrafos deduzidos da biblioteca de Assurbanipal:
1 - Se alguém toma dinheiro a um negociante e lhe dá um horto de tâmaras e lhe diz: - "as tâmaras que estão no meu horto tomei-as por dinheiro": e o negociante não aceita, então o proprietário deverá tomar as tâmaras que estão no horto, entregar ao negociante o dinheiro e juros, segundo o teor de sua obrigação; as tâmaras excedentes que estão no jardim deverá tomá-las o proprietário.
2 - Se um inquilino paga ao dono da casa a inteira soma do seu aluguel por um ano e o proprietário, antes de decorrido o termo do aluguel, ordena ao inquilino de mudar-se de sua casa antes de passado o prazo, deverá restituir uma quota proporcional à soma que o inquilino lhe deu.
3 - Se alguém deve trigo ou dinheiro e não tem trigo ou dinheiro com que pagar, mas, possui outros bens, deverá levar diante dos anciãos o que está à sua disposição e dá-lo ao negociante. Este deve aceitar sem exceção.

V - RELAÇÕES ENTRE COMERCIANTES E COMISSIONÁRIOS

100º - Com os juros do dinheiro na medida da soma recebida, deverá entregar uma obrigação por escrito e pagar o negociante no dia do vencimento.
101º - Se no lugar onde foi não fechou negócio o comissionário, deverá deixar intato o dinheiro que recebeu e restituí-lo ao negociante.
102º - Se um negociante emprestou dinheiro a um comissionário para suas empresas e ele, no lugar para onde se conduz, sofre um dano, deverá indenizar o capital ao negociante.
103º - Se, durante a viagem, o inimigo lhe leva alguma coisa do que ele conduz consigo, o comissionário deverá jurar em nome de Deus e ir livre.
104º - Se um negociante confia a um comissionário, para venda, trigo, lã, azeite, ou outras mercadorias, o comissionário deverá fazer uma escritura da importância e reembolsar o negociante. Ele deverá então receber a quitação do dinheiro que dá ao mercador.
105º - Se o comissionário é negligente e não retira a quitação da soma que ele deu ao negociante, não poderá receber a soma que não é quitada.
106º - Se o comissionário toma dinheiro ao negociante e tem questão com o seu negociante, este deverá perante Deus e os anciãos convencer o comissionário do dinheiro levado e este deverá dar três vezes o dinheiro que recebeu.
107º - Se o negociante engana o comissionário pois que este restituiu tudo que o negociante lhe dera, mas, o negociante contesta o que o comissionário lhe restituiu, o comissionário diante de Deus e dos anciãos deverá convencer o negociante e este, por ter negado ao comissionário o que recebeu, deverá dar seis vezes tanto.


VI - REGULAMENTO DAS TABERNAS (TABERNEIROS PREPOSTOS, POLÍCIA, PENAS E TARIFAS)

108º - Se uma taberneira não aceita trigo por preço das bebidas a peso, mas toma dinheiro e o preço da bebida é menor do que o do trigo, deverá ser convencida disto e lançada nágua.
109º - Se na casa de uma taberneira se reúnem conjurados e esses conjurados não são detidos e levados à Corte, a taberneira deverá ser morta.
110º - Se uma irmã de Deus, que não habita com as crianças (mulher consagrada que não se pode casar) abre uma taberna ou entra em uma taberna para beber, esta mulher deverá ser queimada.
111º - Se uma taberneira fornece sessenta já de bebida usakami deverá receber ao tempo da colheita cinqüenta ka de trigo.


VII - OBRIGAÇÕES (CONTRATOS DE TRANSPORTE, MÚTUO)
PROCESSO EXECUTIVO E SERVIDÃO POR DÍVIDAS

112º - Se alguém está em viagem e confia a um outro prata, ouro, pedras preciosas ou outros bens móveis e os faz transportar por ele e este não conduz ao lugar do destino tudo que deve transportar, mas se apropria deles, dever-se-á convencer esse homem que ele não entregou o que devia transportar e ele deverá dar ao proprietário da expedição cinco vezes o que recebeu.
113º - Se alguém tem para com um outro um crédito de grãos ou dinheiro e, sem ciência do proprietário, tira grãos do armazém ou do celeiro, ele deverá ser convencido em juízo de ter tirado sem ciência do proprietário grãos do armazém ou do celeiro e deverá restituir os grãos que tiver tirado e tudo que ele de qualquer modo deu, é perdido para ele.
114º - Se alguém não tem que exigir grãos e dinheiro de um outro e fez a execução, deverá pagar-lhe um terço de mina por cada execução.
115º - Se alguém tem para com outro um crédito de grãos ou dinheiro e faz a execução, e o detido na casa de detenção morre de morte natural, não há lugar a pena.
116º - Se o detido na casa de detenção morre de pancadas ou maus tratamentos, o protetor do prisioneiro deverá convencer o seu negociante perante o tribunal; se ele era um nascido livre, se deverá matar o filho do negociante, se era um escravo, deverá pagar o negociante um terço de mina e perder tudo que deu.
117º - Se alguém tem um débito vencido e vende por dinheiro a mulher, o filho e a filha, ou lhe concedem descontar com trabalho o débito, aqueles deverão trabalhar três anos na casa do comprador ou do senhor, no quarto ano este deverá libertá-los.
118º - Se ele concede um escravo ou escrava para trabalhar pelo débito e o negociante os concede por sua vez, os vende por dinheiro, não há lugar para oposição.
119º - Se alguém tem um débito vencido, e vende por dinheiro a sua escrava que lhe tem dado filhos, o senhor da escrava deverá restituir o dinheiro que o negociante pagou e resgatar a sua escrava.


VIII - CONTRATOS DE DEPÓSITO

120º - Se alguém deposita o seu trigo na casa de outro e no monte de trigo se produz um dano ou o proprietário da casa abre o celeiro e subtrai o trigo ou nega, enfim, que na sua casa tenha sido depositado o trigo, o dono do trigo deverá perante Deus reclamar o seu trigo e o proprietário da casa deverá restituir o trigo que tomou, sem diminuição, ao seu dono.
121º - Se alguém deposita o trigo na casa de outro, deverá dar-lhe, como aluguel do armazém, cinco ka de trigo por cada gur de trigo ao ano.
122º - Se alguém dá em depósito a outro prata, ouro ou outros objetos, deverá mostrar a uma testemunha tudo o que dá, fechar o seu contrato e em seguida consignar em depósito.
123º - Se alguém dá em depósito sem testemunhas ou contrato e no lugar em que se fez a consignação se nega, não há ação.
124º - Se alguém entrega a outro em depósito prata, ouro ou outros objetos perante testemunhas e aquele o nega, ele deverá ser convencido em juízo e restituir sem diminuição tudo o que negou.
125º - Se alguém dá em depósito os seus bens e aí por infração ou roubo os seus bens se perdem com os do proprietário da casa, o dono desta, que suporta o peso da negligência, deverá indenizar tudo que lhe foi consignado em depósito e que ele deixou perder. Mas, o dono da casa poderá procurar os seus bens perdidos e retomá-los do ladrão.
126º - Se alguém, que não perdeu seus bens, diz tê-los perdido e sustenta falsamente seu dano, se ele intenta ação pelos seus bens, ainda que não tenham sido perdidos e pelo dano sofrido perante Deus, deverá ser indenizado de tudo que pretende pelo seu dano.

IX - INJÚRIA E DIFAMAÇÃO

127º - Se alguém difama uma mulher consagrada ou a mulher de um homem livre e não pode provar se deverá arrastar esse homem perante o juiz e tosquiar-lhe a fronte.


X - MATRIMÔNIO E FAMÍLIA, DELITOS CONTRA A ORDEM DA FAMÍLIA. CONTRIBUIÇÕES E DOAÇÕES NUPCIAIS E SUCESSÃO

128º - Se alguém toma uma mulher, mas não conclui um contrato com ela, esta mulher não é esposa.
129º - Se a esposa de alguém é encontrada em contato sexual com um outro, se deverá amarrá-los e lança-los nágua, salvo se o marido perdoar à sua mulher e o rei a seu escravo.
130º - Se alguém viola a mulher que ainda não conheceu homem e vive na casa paterna e tem contato com ela e é surpreendido, este homem deverá ser morto, a mulher irá livre.
131º - Se a mulher de um homem livre é acusada pelo próprio marido, mas não surpreendida em contato com outro, ela deverá jurar em nome de Deus e voltar à sua casa.
132º - Se contra a mulher de um homem livre é proferida difamação por causa de um outro homem, mas não é ela encontrada em contato com outro, ela deverá saltar no rio por seu marido.
133º - Se alguém é feito prisioneiro e na sua casa há com que sustentar-se, mas a mulher abandona sua casa e vai a outra casa; porque esta mulher não guardou sua casa e foi a outra, deverá ser judicialmente convencida e lançada nágua.
134º - Se alguém é feito prisioneiro de guerra e na sua casa não há com que sustenta-se e sua mulher vai a outra casa, essa mulher deverá ser absolvida.
135º - Se alguém é feito prisioneiro de guerra e na sua casa não há de que sustenta-se e sua mulher vai a outra casa e tem filhos, se mais tarde o marido volta e entra na pátria, esta mulher deverá voltar ao marido, mas os filhos deverão seguir o pai deles.
136º - Se alguém abandona a pátria e foge e depois a mulher vai a outra casa, se aquele regressa e quer retomar a mulher, porque ele se separou da pátria e fugiu, a mulher do fugitivo não deverá voltar ao marido.
137º - Se alguém se propõe a repudiar uma concubina que lhe deu filhos ou uma mulher que lhe deu filhos, ele deverá restituir àquela mulher o seu donativo e dar-lhe uma quota em usufruto no campo, horto e seus bens, para que ela crie os filhos. Se ela criou os seus filhos, lhe deverá ser dado, sobre todos os bens que seus filhos recebam, uma quota igual a de um dos filhos. Ela pode esposar o homem do seu coração.
138º - Se alguém repudia a mulher que não lhe deu filhos, deverá dar-lhe a importância do presente nupcial e restituir-lhe o donativo que ela trouxe consigo da casa de seu pai e assim mandá-la embora.
139º - Se não houve presente nupcial, ele deverá dar-lhe uma mina, como donativo de repúdio.
140º - Se ele é um liberto, deverá dar-lhe um terço de mina.
141º - Se a mulher de alguém, que habita na casa do marido, se propõe a abandoná-la e se conduz com leviandade, dissipa sua casa, descura do marido e é convencida em juízo, se o marido pronuncia o seu repúdio, ele a mandará embora, nem deverá dar-lhe nada como donativo de repúdio. Se o marido não quer repudiá-la e toma outra mulher, aquela deverá ficar como serva na casa de seu marido.
142º - Se uma mulher discute com o marido e declara: "tu não tens comércio comigo", deverão ser produzidas as provas do seu prejuízo, se ela é inocente e não há defeito de sua parte e o marido se ausenta e a descura muito, essa mulher não está em culpa, ela deverá tomar o seu donativo e voltar à casa de seu pai.
143º - Se ela não é inocente, se ausenta, dissipa sua casa, descura seu marido, dever-se-á lançar essa mulher nágua.
144º - Se alguém toma uma mulher e esta dá ao marido uma serva e tem filhos, mas o marido pensa em tomar uma concubina, não se lhe deverá conceder e ele não deverá tomar uma concubina.
145º - Se alguém toma uma mulher e essa não lhe dá filhos e ele pensa em tomar uma concubina, se ele toma uma concubina e a leva para sua casa, esta concubina não deverá ser igual à esposa.
146º - Se alguém toma uma esposa e essa esposa dá ao marido uma serva por mulher e essa lhe dá filhos, mas, depois, essa serva rivaliza com a sua senhora, porque ela produziu filhos, não deverá sua senhora vendê-la por dinheiro, ela deverá reduzi-la à escravidão e enumerá-la ente as servas.
147º - Se ela não produziu filhos, sua senhora poderá vendê-la por dinheiro.
148º - Se alguém toma uma mulher e esta é colhida pela moléstia, se ele então pensa em tomar uma segunda, não deverá repudiar a mulher que foi presa da moléstia, mas deverá conservá-la na casa que ele construiu e sustentá-la enquanto viver.
149º - Se esta mulher não quer continuar a habitar na casa de seu marido, ele deverá entregar-lhe o donativo que ela trouxe da casa paterna e deixá-la ir se embora.
150º - Se alguém dá à mulher campo, horto, casa e bens e lhe deixa um ato escrito, depois da morte do marido, seus filhos não deverão levantar contestação: a mãe pode legar o que lhe foi deixado a um de seus filhos que ela prefira, nem deverá dar coisa alguma aos irmãos.
151º - Se uma mulher que vive na casa de um homem, empenhou seu marido a não permitir a execução de um credor contra ela, e se fez lavrar um ato; se aquele homem antes de tomar mulher tinha um débito, o credor não se pode dirigir contra a mulher. Mas, se a mulher, antes de entrar na casa do marido, tinha um débito, o credor não pode fazer atos executivos contra o marido.
152º - Se depois que a mulher entra na casa do marido, ambos têm um débito, deverão ambos pagar ao negociante.
153º - Se a mulher de um homem livre tem feito matar seu marido por coisa de um outro, se deverá cravá-la em uma estaca.
154º - Se alguém conhece a própria filha, deverá ser expulso da terra.
155º - Se alguém promete uma menina a seu filho e seu filho tem comércio com ela, mas aquele depois tem contato com ela e é colhido, deverá ser amarrado e lançado na água.
156º - Se alguém promete uma menina a seu filho e seu filho não a conhece, se depois ele tem contato com ela, deverá pagar-lhe uma meia mina e indenizar-lhe tudo que ela trouxe da casa paterna. Ela poderá desposar o homem de seu coração.
157º - Se alguém, na ausência de seu pai, tem contato com sua progenitora, dever-se-á queimá-la ambos.
158º - Se alguém, na ausência de seu pai, é surpreendido com a sua mulher principal, a qual produziu filhos, deverá ser expulso da casa de seu pai.
159º - Se alguém, que mandou levar bens móveis à casa de seu sogro e deu o presente nupcial, volve o olhar para outra mulher e diz ao sogro: "eu não quero mais tomar tua filha", o pai da rapariga poderá reter tudo quanto ele mandou levar.
160º - Se alguém mandou levar bens móveis à casa de seu sogro e pagou o donativo nupcial, se depois o pai da rapariga diz: "eu não quero mais dar-te minha filha", ele deverá restituir sem diminuição tudo que lhe foi entregue.
161º - Se alguém mandou levar bens móveis à casa de seu sogro e pagou o donativo nupcial, se depois o seu amigo o calunia e o sogro diz ao jovem esposo: "tu não desposarás minha filha". ele deverá restituir sem diminuição tudo que lhe foi entregue e o amigo não deverá desposar a sua noiva.
162º - Se alguém toma uma mulher e ela lhe dá filhos, se depois essa mulher morre, seu pai não deverá intentar ação sobre seu donativo; este pertence aos filhos.
163º - Se alguém toma uma mulher e essa não lhe dá filhos, se depois essa mulher morre, e o sogro lhe restitui o presente nupcial que ele pagou à casa do sogro, o marido não deverá levantar ação sobre o donativo daquela mulher, este pertence à casa paterna.
164º - Se o sogro não lhe restitui o presente nupcial, ele deverá deduzir do donativo a importância do presente nupcial e restituir em seguida o donativo à casa paterna dela.
165º - Se alguém doa ao filho predileto campo, horto e casa e lavra sobre isso um ato, se mais tarde o pai morre e os irmãos dividem, eles deverão entregar-lhe a doação do pai e ele poderá tomá-la; fora disso se deverão dividir entre si os bens paternos.
166º - Se alguém procura mulher para os filhos que tem, mas não procura mulher ao filho impúbere e depois o pai morre, se os irmãos dividem, deverão destinar ao seu irmão impúbere, que ainda não teve mulher, além da sua quota o dinheiro para a doação nupcial e procurar-lhe uma mulher.
167º - Se alguém toma uma mulher e esta lhe dá filhos, se esta mulher morre e ele depois dela toma uma segunda mulher e esta dá filhos, se depois o pai morre, os filhos não deverão dividir segundo as mães; eles deverão tomar o donativo de suas mães mas dividir os bens paternos ente si.
168º - Se alguém quer renegar seu filho e declara ao juiz: "eu quero renegar meu filho", o juiz deverá examinar as suas razões e se o filho não tem uma culpa grave pela qual se justifique que lhe seja renegado o estado de filho, o pai não deverá renegá-lo.
169º - Se ele cometeu uma falta grave, pela qual se justifique que lhe seja renegada a qualidade de filho, ele deverá na primeira vez ser perdoado, e, se comete falta grave segunda vez, o pai poderá renegar-lhe o estado de filho.
170º - Se a alguém sua mulher ou sua serva deu filhos e o pai, enquanto vive diz aos filhos que a serva lhe deu: "filhos meus", e os conta entre os filhos de sua esposa; se depois o pai morre, os filhos da serva e da esposa deverão dividir conjuntamente a propriedade paterna. O filho da esposa tem a faculdade de fazer os quinhões e de escolher.
171º - Se, porém, o pai não disse em vida aos filhos que a serva lhe deu: "filhos meus", e o pai morre, então os filhos da serva não deverão dividir com os da esposa, mas se deverá conceder a liberdade à serva e aos filhos, os filhos da esposa não deverão fazer valer nenhuma ação de escravidão contra os da serva; a esposa poderá tomar o seu donativo e a doação que o marido lhe fez e lavrou por escrito em um ato e ficar na habitação de seu marido; enquanto ela vive, deverá gozá-la, mas deverá vendê-la por dinheiro. A sua herança pertence aos seus filhos.
172º - Se o marido não lhe fez uma doação, se deverá entregar-lhe o seu donativo e, da propriedade de seu marido, ela deverá receber uma quota como um filho. Se seus filhos a oprimem para expulsá-la da casa, o juiz deverá examinar a sua posição e se os filhos estão em culpa, a mulher não deverá deixar a casa de seu marido.
172º - Se a mulher quer deixá-la, ela deverá abandonar aos seus filhos a doação que o marido lhe fez, mas tomar o donativo de sua casa paterna. Ela pode desposar em seguida o homem de seu coração.
173º - Se esta mulher lá para onde se transporta, tem filhos do segundo marido e em seguida morre, o seu donativo deverá ser dividido entre os filhos anteriores e sucessivos.
174º - Se ela não pare de segundo marido, deverão receber o seu donativo os filhos do seu primeiro esposo.
175º - Se um escravo da Corte ou o escravo de um liberto desposa a mulher de um homem livre e gera filhos, o senhor do escravo não pode propor ação de escravidão contra os filhos da mulher livre.
176º - Mas, se um escravo da Corte ou o escravo de um liberto desposa a filha de um homem livre e depois de tê-la desposado, esta, com um donativo da casa paterna, se transporta para a casa dele, se ele tem posto sua casa, adquirido bens e em seguida aquele escravo morre, a mulher nascida livre poderá tomar o seu donativo e tudo que o marido e ela, desde a data do casamento, adquiriram deverá ser dividido em duas partes: uma metade deverá tomá-la o senhor do escravo, a outra metade a mulher livre para os seus filhos. Se a mulher livre não tinha um donativo, deverá dividir tudo que o marido e ela desde a data do casamento adquiriram em duas partes: metade deverá tomá-la e senhor do escravo, a outra a mulher livre para os seus filhos.
177º - Se uma viúva, cujos filhos são ainda crianças, quer entrar em uma outra casa, ela deverá entrar sem ciência do juiz. Se ela entra em uma outra casa, o juiz deverá verificar a herança da casa do seu precedente marido. Depois se deverá confiar a casa do seu precedente marido ao segundo marido e à mulher mesma, em administração, e fazer lavrar um ato sobre isto. Eles deverão ter a casa em ordem e criar os filhos e não vender os utensílios domésticos. O comprador que compra os utensílios domésticos dos filhos da viúva perde seu dinheiro e os bens voltam de novo ao seu proprietário.
178º - Se uma mulher consagrada ou uma meretriz, às quais seu pai fez um donativo e lavrou um ato sobre isso, mas no ato não ajuntou que elas poderiam legar o patrimônio a quem quisessem e não lhe deixou livre disposição, se depois o pai morre, os seus irmãos deverão receber o seu campo e horto e na medida da sua quota dar-lhe o trigo, azeite e leite e de modo a contentá-las. Se seus irmãos não lhes dão trigo, azeite e leite na medida de sua quota e a seu contento, dever-se-á confiar o campo e horto a um feitor que lhes agrade e esse feitor deverá mantê-las. O campo, o horto e tudo que deriva de seu pai deverá ser conservado por elas em usufruto enquanto viverem, mas não deverão vender e ceder a nenhum outro. As suas quotas de filhas pertencem a seus irmãos.
179º - Se uma mulher consagrada ou uma meretriz, às quais seu pai fez um donativo e lavrou um ato e acrescentou que elas poderiam alienar a quem lhes aprouvesse o seu patrimônio e lhes deixou livre disposição; se depois o pai morre, então elas podem legar sua sucessão a quem lhe aprouver. Os seus irmãos não podem levantar nenhuma ação.
180º - Se um pai não faz um donativo a sua filha núbil ou meretriz e depois morre, ela deverá tomar dos bens paternos uma quota como filha e gozar dela enquanto viver. A sua herança pertence a seus irmãos.
181º - Se um pai consagra a Deus uma serva do templo ou uma virgem e não lhes faz donativo, morto o pai, aquelas receberão da herança paterna um terço de sua quota de filha e fruirão enquanto viverem. A herança pertence aos irmãos.
182º - Se um pai não faz um donativo e não lavra um ato para sua filha, mulher consagrada a Marduk de Babilônia, se depois o pai morre, ela deverá ter designada por seus irmãos sobre a herança de sua casa paterna um terço da sua quota de filha, mas não poderá ter a administração. A mulher de Marduk pode legar sua sucessão a quem quiser.
183º - Se alguém faz um donativo à sua filha nascida de uma concubina e a casa, e lavra um ato, se depois o pai morre, ela não deverá receber parte nenhuma da herança paterna.
184º - Se alguém não faz um donativo a sua filha nascida de uma concubina, e não lhe dá marido, se depois o pai morre, os seus irmãos deverão, segundo a importância do patrimônio paterno, fazer um presente e dar-lhe marido.


XI - ADOÇÃO, OFENSAS AOS PAIS, SUBSTITUIÇÃO DE CRIANÇA

185º - Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como filho, este adotado não poderá mais ser reclamado.
186º - Se alguém adota como filho um menino e depois que o adotou ele se revolta contra seu pai adotivo e sua mãe, este adotado deverá voltar à sua casa paterna.
187º - O filho de um dissoluto a serviço da Corte ou de uma meretriz não pode ser reclamado.
188º - Se o membro de uma corporação operária, (operário) toma para criar um menino e lhe ensina o seu ofício, este não pode mais ser reclamado.
189º - Se ele não lhe ensinou o seu ofício, o adotado pode voltar à sua casa paterna.
190º - Se alguém não considera entre seus filhos aquele que tomou e criou como filho, o adotado pode voltar à sua casa paterna.
191º - Se alguém que tomou e criou um menino como seu filho, põe sua casa e tem filhos e quer renegar o adotado, o filho adotivo não deverá ir-se embora. O pai adotivo lhe deverá dar do próximo patrimônio um terço da sua quota de filho e então ele deverá afasta-se. Do campo, do horto e da casa não deverá dar-lhe nada.
192º - Se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz diz a seu pai adotivo ou a sua mãe adotiva: "tu não és meu pai ou minha mãe", dever-se-á cortar-lhe a língua.
193º - Se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz aspira voltar à casa paterna, se afasta do pai adotivo e da mãe adotiva e volta à sua casa paterna, se lhe deverão arrancar os olhos.
194º - Se alguém dá seu filho a ama de leite e o filho morre nas mãos dela, mas a ama sem ciência do pai e da mãe aleita um outro menino, se lhe deverá convencê-la de que ela sem ciência do pai e da mãe aleitou um outro menino e cortar-lhe o seio.
195º - Se um filho espanca seu pai se lhe deverão decepar as mãos.


XII - DELITOS E PENAS (LESÕES CORPORAIS, TALIÃO, INDENIZAÇÃO E COMPOSIÇÃO)

196º - Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho.
197º - Se ele quebra o osso a um outro, se lhe deverá quebrar o osso.
198º - Se ele arranca o olho de um liberto, deverá pagar uma mina.
199º - Se ele arranca um olho de um escravo alheio, ou quebra um osso ao escravo alheio, deverá pagar a metade de seu preço.
200º - Se alguém parte os dentes de um outro, de igual condição, deverá ter partidos os seus dentes.
201º - Se ele partiu os dentes de um liberto deverá pagar um terço de mina.
202º - Se alguém espanca um outro mais elevado que ele, deverá ser espancado em público sessenta vezes, com o chicote de couro de boi.
203º - Se um nascido livre espanca um nascido livre de igual condição, deverá pagar uma mina.
204º - Se um liberto espanca um liberto, deverá pagar dez siclos.
205º - Se o escravo de um homem livre espanca um homem livre, se lhe deverá cortar a orelha.
206º - Se alguém bate um outro em rixa e lhe faz uma ferida, ele deverá jurar : "eu não o bati de propósito", e pagar o médico.
207º - Se ele morre por suas pancadas, aquele deverá igualmente jurar e, se era um nascido livre, deverá pagar uma meia mina.
208º - Se era um liberto, deverá pagar um terço de mina.
209º - Se alguém bate numa mulher livre e a faz abortar, deverá pagar dez siclos pelo feto.
210º - Se essa mulher morre, se deverá matar o filho dele.
211º - Se a filha de um liberto aborta por pancada de alguém, este deverá pagar cinco siclos.
212º - Se essa mulher morre, ele deverá pagar meia mina.
213º - Se ele espanca a serva de alguém e esta aborta, ele deverá pagar dois siclos.
214º - Se esta serva morre, ele deverá pagar um terço de mina.


XIII - MÉDICOS E VETERINÁRIOS; ARQUITETOS E BATELEIROS
(SALÁRIOS, HONORÁRIOS E RESPONSABILIDADE)
CHOQUE DE EMBARCAÇÕES

215º - Se um médico trata alguém de uma grave ferida com a lanceta de bronze e o cura ou se ele abre a alguém uma incisão com a lanceta de bronze e o olho é salvo, deverá receber dez siclos.
216º - Se é um liberto, ele receberá cinco siclos.
217º - Se é o escravo de alguém, o seu proprietário deverá dar ao médico dois siclos.
218º - Se um médico trata alguém de uma grave ferida com a lanceta de bronze e o mata ou lhe abre uma incisão com a lanceta de bronze e o olho fica perdido, se lhe deverão cortar as mãos.
219º - Se o médico trata o escravo de um liberto de uma ferida grave com a lanceta de bronze e o mata, deverá dar escravo por escravo.
220º - Se ele abriu a sua incisão com a lanceta de bronze o olho fica perdido, deverá pagar metade de seu preço.
221º - Se um médico restabelece o osso quebrado de alguém ou as partes moles doentes, o doente deverá dar ao médico cinco siclos.
222º - Se é um liberto, deverá dar três siclos.
223º - Se é um escravo, o dono deverá dar ao médico dois siclos.
224º - Se o médico dos bois e dos burros trata um boi ou um burro de uma grave ferida e o animal se restabelece, o proprietário deverá dar ao médico, em pagamento, um sexto de siclo.
225º - Se ele trata um boi ou burro de uma grave ferida e o mata, deverá dar um quarto de seu preço ao proprietário.
226º - Se o tosquiador, sem ciência do senhor de um escravo, lhe imprime a marca de escravo inalienável, dever-se-á cortar as mãos desse tosquiador.
227º - Se alguém engana um tosquiador e o faz imprimir a marca de um escravo inalienável, se deverá matá-lo e sepultá-lo em sua casa. O tosquiador deverá jurar : "eu não o assinalei de propósito", e irá livre.
228º - Se um arquiteto constrói uma casa para alguém e a leva a execução, deverá receber em paga dois siclos, por cada sar de superfície edificada.
229º - Se um arquiteto constrói para alguém e não o faz solidamente e a casa que ele construiu cai e fere de morte o proprietário, esse arquiteto deverá ser morto.
230º - Se fere de morte o filho do proprietário, deverá ser morto o filho do arquiteto.
231º - Se mata um escravo do proprietário ele deverá dar ao proprietário da casa escravo por escravo.
232º - Se destrói bens, deverá indenizar tudo que destruiu e porque não executou solidamente a casa por ele construída, assim que essa é abatida, ele deverá refazer à sua custa a casa abatida.
233º - Se um arquiteto constrói para alguém uma casa e não a leva ao fim, se as paredes são viciosas, o arquiteto deverá à sua custa consolidar as paredes.
234º - Se um bateleiro constrói para alguém um barco de sessenta gur, se lhe deverá dar em paga dois siclos.
235º - Se um bateleiro constrói para alguém um barco e não o faz solidamente, se no mesmo ano o barco é expedido e sofre avaria, o bateleiro deverá desfazer o barco e refazê-lo solidamente à sua custa; o barco sólido ele deverá dá-lo ao proprietário.
236º - Se alguém freta o seu barco a um bateleiro e este e negligente, mete a pique ou faz que se perca o barco, o bateleiro deverá ao proprietário barco por barco.
237º - Se alguém freta um bateleiro e o barco e o prevê de trigo, lã, azeite, tâmaras e qualquer outra coisa que forma a sua carga, se o tabeleiro é negligente, mete a pique o barco e faz que se perca o carregamento, deverá indenizar o barco que fez ir a pique e tudo de que ele causou a perda.
238º - Se um bateleiro mete a pique o barco de alguém mas o salva, deverá pagar a metade do seu preço.
239º - Se alguém freta um bateleiro, deverá dar-lhe seis gur de trigo por ano.
240º - Se um barco a remos investe contra um barco de vela e o põe a pique, o patrão do barco que foi posto a pique deverá pedir justiça diante de Deus, o patrão do barco a remos, que meteu a fundo o barco a vela, deverá indenizar o seu barco e tudo quanto se perdeu.

XIV - SEQUESTRO, LOCAÇÕES DE ANIMAIS, LAVRADORES DE CAMPO, PASTORES, OPERÁRIOS. DANOS, FURTOS DE ARNEZES, DÁGUA, DE ESCRAVOS (AÇÃO REDIBITÓRIA, RESPONSABILIDADE POR EVICÇÃO, DISCIPLINA)

241º - Se alguém seqüestra e faz trabalhar um boi, deverá pagar um terço de mina.
242º - Se alguém aluga por um ano um boi para lavrar, deverá dar como paga, quatro gur de trigo.
243º - Como paga do boi de carga três gur de trigo ao proprietário.
244º - Se alguém aluga um boi e um burro e no campo um leão os mata, isto prejudica o seu proprietário.
245º - Se alguém aluga um boi e o faz morrer por maus tratamentos ou pancadas, deverá indenizar ao proprietário boi por boi.
246º - Se alguém aluga um boi e lhe quebra uma perna, lhe corta a pele cervical, deverá indenizar ao proprietário boi por boi.
247º - Se alguém aluga um boi e lhe arranca um olho, deverá dar ao proprietário uma metade do seu preço.
248º - Se alguém aluga um boi e lhe parte um chifre, lhe corta a cauda, e lhe danifica o focinho, deverá pagar um quarto de seu preço.
249º - Se alguém aluga um boi e Deus o fere e ele morre, o locatário deverá jurar em nome de Deus e ir livre.
250º - Se um boi, indo pela estrada, investe contra alguém e o mata, não há motivo para indenização.
251º - Se o boi de alguém dá chifradas e se tem denunciado seu vício de dar chifradas, e, não obstante, não se tem cortado os chifres e prendido o boi, e o boi investe contra um homem e o mata, seu dono deverá pagar uma meia mina.
252º - Se ele mata um escravo de alguém, dever-se-á pagar um terço de mina.
253º - Se alguém aluga um outro para cuidar do seu campo, lhe fornece a semente, lhe confia os bois, o obriga a cultivar o campo, se esse rouba e tira para si trigo ou plantas, se lhe deverão cortar aos mãos.
254º - Se ele tira para si a semente, não emprega os bois, deverá indenizar a soma do trigo e cultivar.
255º - Se ele deu em locação os bois do homem ou rouba os grãos da semente, não cultiva absolutamente o campo, deverá ser convencido e pagar por cento de gan, sessenta gur de trigo.
256º - Se a sua comunidade não paga por ele, dever-se-á deixá-lo naquele campo, ao pé dos animais.
257º - Se alguém aluga um lavrador de campo lhe deverá dar anualmente oito gur de trigo.
258º - Se alguém aluga um guarda de bois, seis gur de trigo por ano.
259º - Se alguém rouba do campo uma roda d'água, deverá dar ao proprietário cinco siclos.
260º - Se alguém rouba um balde para tirar água ou um arado deverá dar três siclos.
261º - Se alguém aluga um pastor para apascentar bois e ovelhas, lhe deverá dar oito gur de trigo por ano.
262º - Se alguém aluga um boi ou uma ovelha para ...
263º - Se ele é causa da perda de um boi ou de uma ovelha, que lhe foram dados, deverá indenizar o proprietário boi por boi, ovelha por ovelha.
264º - Se um pastor a quem são confiados bois e ovelhas para apascentar, o qual recebeu sua paga, segundo o pacto e fica satisfeito, reduz os bois e as ovelhas, diminui o acréscimo natural, deverá restituir as acessões e o produto segundo o teor de sua convenção.
265º - Se um pastor a quem foram confiados bois e ovelhas para apascentar, tece fraude, falseia o acréscimo natural do rebanho e o vende por dinheiro, deverá ser convencido e indenizar o proprietário dez vezes bois e ovelhas.
266º - Se no rebanho se verifica um golpe de Deus ou um leão os mata, o pastor deverá purgar-se diante de Deus e o acidente do rebanho deverá ser suportado pelo proprietário.
267º - Se o pastor foi negligente e se verifica um dano no rebanho, o pastor deverá indenizar o dano, que ele ocasionou no rebanho em bois ou ovelhas e dar ao proprietário.
268º - Se alguém aluga um boi para debulhar, a paga é vinte ka de trigo.
269º - Se alguém aluga um burro para debulhar, a paga e vinte ka de trigo.
270º - Se alguém aluga um animal jovem para debulhar, a paga é dez ka de trigo.
271º - Se alguém aluga bois, carros, e guardas, deverá dar cento e oitenta ka de trigo por dia.
272º - Se alguém aluga um carro apenas, deverá dar quarenta ka de trigo por dia.
273º - Se alguém aluga um lavrador mercenário, lhe deverá dar do novo ano ao quinto mês seis se por dia; do sexto mês até o fim do ano lhe deverá dar cinco se por dia.
274º - Se alguém aluga um operário, lhe deverá dar cada dia:
cinco se, de paga, pelo ...
cinco se, pelo tijoleiro.
cinco se, pelo alfaiate.
cinco se, pelo canteiro.
cinco se, pelo ...
cinco se, pelo ...
cinco se, pelo ...
quatro se, pelo carpinteiro.
quatro se, pelo cordoeiro.
quatro se, pelo ...
quatro se, pelo pedreiro.
275º - Se alguém aluga um barco a vela deverá dar seis se por dia como paga.
276º - Se ele aluga um barco a remos, dois se e meio por dia.
277º - Se alguém aluga um barco de sessenta gur, deverá dar um sexto de siclo, por dia em paga.
278º - Se alguém compra um escravo ou uma escrava e, antes que decorra um mês, eles são feridos do mal benu, ele deverá restituí-los ao vendedor e o comprador receberá em seguida o dinheiro que pagou.
279º - Se alguém compra um escravo ou uma escrava e outro propõe ação sobre eles, o vendedor é responsável pela ação.
280º - Se alguém em país estrangeiro compra um escravo ou uma escrava, se volta à terra e o proprietário reconhece o seu escravo ou a sua escrava, se o escravo ou escrava, são naturais do país, ele deverá restituí-los sem indenização.
281º - Se são nascidos em outro país, o comprador deverá declarar perante Deus o preço que ele pagou e o proprietário deverá dar ao negociante o dinheiro pago e receber o escravo ou a escrava.
282º - Se um escravo diz ao seu senhor : "tu não és meu senhor", será convencido disso e o senhor lhe cortará a orelha.

EPÍLOGO

"As justas leis que Hamurabi, o sábio rei, estabeleceu e (com as quais) deu base estável ao governo ... Eu sou o governador guardião ... Em meu seio trago o povo das terras de Sumer e Acad; ... em minha sabedoria eu os refreio, para que o forte não oprima o fraco e para que seja feita justiça à viúva e ao órfão ... Que cada homem oprimido compareça diante de mim, como rei que sou da justiça. Deixai-o ler a inscrição do meu monumento. Deixai-o atentar nas minhas ponderadas palavras. E possa o meu monumento iluminá-lo quanto à causa que traz, e possa ele compreender o seu caso. Possa ele folgar o coração (exclamando) "Hamurabi é na verdade como um pai para o seu povo; ... estabeleceu a prosperidade para sempre e deu um governo puro à terra. Quando Anu e Enlil (os deuses de Uruk e Nippur) deram-me a governar as terras de Sumer e Acad, e confiaram a mim este cetro, eu abri o canal. Hammurabi-nukhush-nish (Hamurabi-a-abundância-do-povo) que traz água copiosa para as terras de Sumer e Acad. Suas margens de ambos os lados eu as transformei em campos de cultura; amontoei montes de grãos, provi todas as terras de água que não falha ... O povo disperso se reuniu; dei-lhe pastagens em abundância e o estabeleci em pacíficas moradias".

VOCÊ QUER SABER MAIS?

Prado, Antonio Orlando De almeida, Código de Hamurabi - Lei das XII Tábuas, Editora Conceito.