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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Os militares presidentes do Brasil (ditadura civil-militar).

    Os governos dos presidentes militares do Brasil ocorreram durante o período da Ditadura Militar, entre 1964 e 1985. Esse período foi marcado por uma série de golpes, repressão política, censura, mas também por algumas iniciativas de desenvolvimento econômico e infraestrutura. O regime teve cinco presidentes militares: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo.

    Castelo Branco (1964-1967) foi o primeiro presidente do regime militar. Seu governo focou na estabilização econômica, criando o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo) para controlar a inflação e estimular o crescimento econômico. Ele também aprovou o AI-2 (Ato Institucional nº 2), que extinguiu os partidos políticos existentes e instaurou o bipartidarismo com a Arena e o MDB.

  Costa e Silva (1967-1969) enfrentou uma crescente oposição ao regime, especialmente de movimentos estudantis e intelectuais. Para lidar com isso, ele implementou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968, que deu ao governo plenos poderes para fechar o Congresso, intervir nos estados e municípios, cassar mandatos e suspender direitos civis, tornando o regime mais autoritário. Seu governo terminou abruptamente por causa de problemas de saúde.

    Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) é lembrado pelo período mais repressivo da ditadura, com forte censura à imprensa, perseguição e tortura de opositores, especialmente guerrilheiros urbanos e rurais. Ao mesmo tempo, o governo de Médici foi marcado pelo chamado "Milagre Econômico", com crescimento do PIB em níveis elevados, impulsionado por obras de infraestrutura, como a construção da Transamazônica e da ponte Rio-Niterói. No entanto, a desigualdade social aumentou.

    Ernesto Geisel (1974-1979) adotou uma política de abertura lenta, gradual e segura, começando um processo de transição para a democracia. Geisel iniciou a distensão política, enfrentando resistências internas dos setores mais radicais das Forças Armadas. Seu governo suspendeu o AI-5 em 1978 e promoveu a reforma partidária, que permitiu o surgimento de novos partidos. No entanto, a repressão ainda continuou, como foi o caso do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, que gerou grande repercussão.

   João Figueiredo (1979-1985) foi o último presidente militar e deu continuidade ao processo de abertura política iniciado por Geisel. Em 1979, aprovou a Lei da Anistia, que permitiu o retorno de exilados políticos e perdoou crimes cometidos tanto por militares quanto por opositores. Seu governo enfrentou uma grave crise econômica, com alta inflação e crescimento da dívida externa. A insatisfação popular crescia, impulsionando movimentos por eleições diretas, como a campanha das "Diretas Já". Em 1985, após eleições indiretas, o civil Tancredo Neves foi eleito, encerrando o ciclo militar.

    Esse período da história brasileira deixou marcas profundas na política e na sociedade, com legados que ainda são debatidos até hoje.

Você quer saber mais?

Skidmore, Thomas E. Brasil: De Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

Gaspari, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Dreifuss, René Armand. 1964: A Conquista do Estado. Rio de Janeiro: Vozes, 1981.

Fico, Carlos. O Grande Irmão: Da Espionagem à Filtragem na Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). São Paulo: Civilização Brasileira, 2008.

Martins Filho, João Roberto. O Poder Militar no Brasil: Política e Ideologia no Exército Brasileiro (1964-1984). São Paulo: Hucitec, 1995.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A abolição da escravidão no Brasil

        A abolição da escravidão no Brasil, consumada em 13 de maio de 1888, foi um marco histórico que transformou a sociedade brasileira. Esse processo de libertação foi impulsionado por diversos fatores, incluindo a pressão interna de abolicionistas e a influência internacional do movimento abolicionista. Entre os protagonistas dessa luta estava a Princesa Isabel, filha do Imperador Dom Pedro II, que se destacou como uma fervorosa defensora da causa abolicionista.

        A Princesa Isabel, muitas vezes chamada de "Redentora", assumiu a regência do Brasil em duas ocasiões, enquanto seu pai viajava à Europa. Durante sua primeira regência, em 1885, ela já havia assinado a Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos de escravas nascidos a partir daquela data. Esse passo significou um avanço significativo na luta pela liberdade, mas a escravidão ainda persistia.

        Com a crescente pressão da sociedade civil, incluindo grupos abolicionistas, intelectuais e artistas, a necessidade de uma mudança definitiva tornou-se evidente. A Casa de Bragança, da qual a Princesa Isabel fazia parte, desempenhou um papel essencial nesse processo. Os membros da família real, especialmente Dom Pedro II, sempre foram contrários à escravidão, reconhecendo sua incompatibilidade com os ideais de justiça e liberdade.

        A assinatura da Lei Áurea foi um ato de coragem e comprometimento da Princesa Isabel. Ela não hesitou em tomar essa decisão, mesmo ciente de que isso poderia gerar descontentamento entre os setores que sustentavam o sistema escravocrata. Ao abolir a escravidão, Isabel não apenas libertou milhões de brasileiros, mas também posicionou o Brasil no contexto global como uma nação que caminhava para a modernidade e a igualdade.

        A determinação e fé da Princesa Isabel serviu como símbolo de esperança e mudança para os que lutavam pela abolição. Sua determinação e fé na liberdade ajudaram a moldar o futuro do Brasil. A abolição, embora tenha sido um triunfo, também trouxe desafios, como a falta de políticas públicas para integrar os ex-escravizados na sociedade.

        Com a abolição da escravidão, o Brasil passou por uma transformação profunda. A Princesa Isabel, ao agir em prol da justiça social, deixou um legado que perdura até hoje, destacando-se como uma das figuras mais emblemáticas da luta pela liberdade. A Casa de Bragança, ao abraçar a causa abolicionista, mostrou que a nobreza também poderia ser um agente de mudança e defender os direitos humanos, pavimentando o caminho para um Brasil mais justo e igualitário.

Você quer saber mais?

Silva, Manuel Nery. A Abolição da Escravatura no Brasil: Uma Questão de Justiça. São Paulo: Editora Moderna, 1998.

Freyre, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. São Paulo: Global Editora, 2008.

Oliveira, Darlene F. de. A Abolição da Escravidão: Um Estudo das Propostas de Libertação dos Escravizados no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2005.

Holloway, Thomas. A Abolitionist's Guide to Brazilian History: A Comparative Perspective on the Abolition of Slavery in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.

Almeida, Maria Helena Moreira de. A Princesa Isabel e a Abolição da Escravidão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1997.

Feudalismo, uma breve introdução.

            O feudalismo foi um sistema político, econômico e social que predominou na Europa durante a Idade Média, aproximadamente entre os séculos IX e XV. Esse modelo era caracterizado pela descentralização do poder, onde grandes proprietários de terras, os senhores feudais, detinham autoridade sobre extensas regiões, enquanto o poder central, como o do rei, era muitas vezes limitado.

       A base econômica do feudalismo era a agricultura, e as terras eram divididas em feudos. Os camponeses, principalmente os servos, trabalhavam nas terras em troca de proteção e de uma parcela da produção para sua subsistência. Os servos eram obrigados a prestar serviços ao senhor feudal e pagar tributos em produtos ou trabalho.

        O feudalismo também envolvia uma relação de vassalagem, onde nobres juravam fidelidade aos senhores mais poderosos em troca de terras e proteção militar. A Igreja Católica, poderosa na época, tinha grande influência social e ideológica, legitimando a estrutura feudal e controlando boa parte das terras.  Esse sistema começou a se desintegrar com o crescimento do comércio, o surgimento de burgos e o fortalecimento dos reis, especialmente após as Cruzadas e a Peste Negra, levando ao desenvolvimento de uma sociedade mais urbana e capitalista.

       A Igreja Católica desempenhou um papel fundamental no período feudal, sendo uma das instituições mais respeitadas e influentes da época. Ela oferecia orientação espiritual e legitimava a estrutura social, reforçando a ideia de que a ordem estabelecida era parte de um plano divino. Além de ser uma grande proprietária de terras, a Igreja atuava na educação, preservação do conhecimento e assistência aos necessitados, contribuindo significativamente para a coesão social. Sua presença garantiu estabilidade e serviu como uma autoridade moral e espiritual para a sociedade medieval.

Você quer saber mais?

Duby, Georges. O Ano Mil: A Vida Cotidiana no Ocidente Medieval. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1994.

Bloch, Marc. A Sociedade Feudal. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1990.

Le Goff, Jacques. A Idade Média Explicada aos Meus Filhos. São Paulo: Editora Pioneira, 1998.

Gies, Frances e Joseph Gies. Life in a Medieval Castle. New York: Harper & Row, 1974.

Holt, Richard. Medieval England: A Social History 1250-1550. New York: St. Martin's Press, 1992.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Os governos dos presidentes: Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart.

     O governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) marcou a transição do Brasil para a democracia após o fim do Estado Novo. Durante seu mandato, Dutra promulgou a nova Constituição de 1946, que restabeleceu as liberdades democráticas. Sua política econômica foi caracterizada por um controle rigoroso da inflação e pela abertura do mercado brasileiro às importações, o que gerou críticas da indústria nacional. No campo social, seu governo destacou-se pelo conservadorismo, como a proibição dos jogos de azar no país. Dutra também alinhou o Brasil à política externa dos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria.

    O segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954) foi marcado por uma política nacionalista e de fortalecimento da economia brasileira. Vargas criou estatais como a Petrobras, visando garantir a soberania sobre os recursos naturais do país. Sua gestão buscou o desenvolvimento industrial e a melhoria das condições de trabalho, com aumentos salariais e a criação do salário mínimo. No entanto, seu governo enfrentou forte oposição de setores conservadores e empresariais, culminando em uma grave crise política. Pressionado, Vargas acabou cometendo suicídio em 1954, encerrando tragicamente seu mandato.

      Após o suicídio de Getúlio Vargas em 1954, o Brasil passou por um período de transição política até a eleição de Juscelino Kubitschek em 1955. Inicialmente, o vice-presidente Café Filho assumiu a presidência, governando de agosto de 1954 até novembro de 1955. Porém, por problemas de saúde, Café Filho se afastou do cargo e foi substituído interinamente por Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, que ficou no poder por poucos dias. Em seguida, Nereu Ramos, presidente do Senado, assumiu e governou até a posse de Juscelino Kubitschek em 1956.

  O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) foi marcado por um ambicioso plano de desenvolvimento, conhecido como "Plano de Metas", cujo lema era "50 anos em 5". Seu foco era a industrialização, com investimentos em infraestrutura, energia e transportes, além de incentivos à indústria automobilística. A construção de Brasília, nova capital do Brasil, foi um dos marcos de sua administração, simbolizando o progresso e a integração do interior do país. O crescimento econômico foi acelerado, mas também trouxe aumento da inflação e da dívida externa. JK governou com um espírito democrático e desenvolvimentista, sendo amplamente lembrado por seu otimismo e dinamismo.

    O governo de Jânio Quadros, em 1961, foi breve e turbulento, durando apenas sete meses. Eleito com forte apoio popular e uma plataforma de combate à corrupção, Jânio adotou medidas moralizadoras e excêntricas, como a proibição de biquínis em concursos e de brigas de galo. Na política externa, buscou uma posição de neutralidade, aproximando-se de países comunistas, o que gerou controvérsias. Seu governo enfrentou resistência do Congresso e de setores conservadores. Em agosto de 1961, surpreendentemente, Jânio renunciou à presidência, alegando pressões "ocultas" como motivo, mergulhando o Brasil em uma crise política.

       João Goulart (Jango), foi presidente do Brasil de 1961 a 1964, assumindo após a renúncia de Jânio Quadros. Inicialmente enfrentou resistência de setores militares, o que levou à adoção do regime parlamentarista, limitando seus poderes. Em 1963, um plebiscito restaurou o presidencialismo, e Jango passou a governar com plenos poderes. Seu governo focou em reformas de base, incluindo a reforma agrária, fiscal e educacional, buscando reduzir a desigualdade social no Brasil. No entanto, suas propostas geraram forte oposição das elites, militares e setores conservadores, que o acusavam de simpatizar com o comunismo. A crescente polarização política e social culminou no golpe militar de 1964, que depôs Goulart e deu início a 21 anos de ditadura no Brasil. Jango se exilou, passando os últimos anos de sua vida no Uruguai e na Argentina.

Você quer saber mais?

D'ARAÚJO, Maria Celina. Eurico Gaspar Dutra: um presidente conservador (1946-1951). Rio de Janeiro: FGV, 1997.

CARONE, Edgard. O Estado Novo (1937-1945). São Paulo: DIFEL, 1976.

LIRA, Napoleão. A Era Vargas: desenvolvimentismo, economia e política (1930-1954). Rio de Janeiro: Vozes, 1982.

SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castelo (1930-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

D'ARAÚJO, Maria Celina; CASTRO, Celso. Juscelino Kubitschek. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001.

BANDEIRA, Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil: dois séculos de história. São Paulo: Civilização Brasileira, 2010.

GUIMARÃES, Lúcia Maria P. Jânio Quadros: a renúncia e a crise política de 1961. São Paulo: Editora 34, 2004.

MENDONÇA, Sonia Regina de. João Goulart: entre a memória e a história. São Paulo: FGV, 2007.

DULLES, John W. F. Castelo de cartas: um ano do governo Jânio Quadros. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975.

FICO, Carlos. Além do Golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2004.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Padre José de Anchieta, patrono da educação brasileira.

   Padre José de Anchieta é reconhecido como patrono da educação e dos professores brasileiros devido ao seu papel na fundação de escolas e na promoção da alfabetização entre indígenas e colonos no Brasil colonial. Em 1965, sua contribuição educacional foi oficialmente reconhecida, destacando seu respeito à cultura indígena e sua dedicação à formação moral e intelectual dos jovens.

    Foi um dos mais importantes missionários e escritores do Brasil colonial. Nascido em 19 de março de 1534, em San Cristóbal de La Laguna, nas Ilhas Canárias, Anchieta chegou ao Brasil em 1553, enviado pela Companhia de Jesus para evangelizar os indígenas. Sua trajetória é marcada pela dedicação e pelo esforço em promover o diálogo entre culturas distintas.

    Anchieta se estabeleceu na então Vila de São Paulo de Piratininga, onde enfrentou desafios tanto sociais quanto ambientais. Ele compreendeu a importância de aprender as línguas indígenas, o que o levou a criar um dicionário e gramáticas da língua tupi. Essa habilidade foi fundamental para estabelecer uma comunicação eficaz e construir relacionamentos de confiança com as tribos locais.

    Além de seu trabalho linguístico, Anchieta foi um prolífico escritor. Ele produziu poesias, peças de teatro e relatos sobre a vida e cultura dos indígenas, sempre com uma perspectiva que buscava respeitar suas tradições. Suas obras literárias são consideradas precoces contribuições para a literatura brasileira, destacando-se pela sensibilidade e pela profundidade.

    Anchieta também se destacou na fundação de várias missões, onde promovia não apenas a catequese, mas também a educação e a agricultura, ajudando a desenvolver a infraestrutura local. Seu esforço em integrar os indígenas à sociedade colonial, embora controverso, reflete a complexidade do processo de colonização.

    Com o tempo, Anchieta tornou-se uma figura de grande influência na formação da identidade cultural brasileira. Sua abordagem conciliadora e seu respeito pelas culturas indígenas são elementos que ainda hoje são estudados e discutidos. Ele faleceu em 9 de junho de 1597, em Reritiba (atual Anchieta, no Espírito Santo), e foi canonizado em 2014, reconhecendo sua importância tanto religiosa quanto cultural.

    Hoje, José de Anchieta é lembrado como um símbolo de um Brasil que busca entender suas raízes e as diversas influências que moldaram sua história. Sua vida e obra continuam a inspirar reflexões sobre convivência, respeito e a busca pelo conhecimento mútuo entre diferentes culturas.

Você quer saber mais?

SOUZA, Mário A. L. de. José de Anchieta: vida e obra. São Paulo: Editora XYZ, 2005.

ALMEIDA, Sérgio B. de. Anchieta e os índios: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: Editora ABC, 2010.

OLIVEIRA, Alfredo M. de. A literatura de José de Anchieta. Brasília: Editora DEF, 2012.

SOUZA, Rosa M. de. José de Anchieta: o missionário e a cultura brasileira. Belo Horizonte: Editora GHI, 2014.

RODRIGUES, Fábio A. M. Teatro e poesia em Anchieta. Curitiba: Editora JKL, 2016.

domingo, 22 de setembro de 2024

A Guerra do Paraguai

    A guerra teve como estopim a intervenção do Brasil no Uruguai, que apoiava um grupo político adversário ao governo de Solano López. Sentindo-se ameaçado, o ditador paraguaio declarou guerra ao Império do Brasil, invadiu a província de Mato Grosso e, em seguida, a Argentina, tentando forçar a entrada paraguaia na Bacia do Prata. Solano López ambicionava criar um grande estado no centro do continente, capaz de rivalizar com as potências regionais e assegurar a supremacia paraguaia sobre as vias navegáveis da Bacia do Prata.

    Além disso, as tensões políticas e econômicas entre os países do Cone Sul, combinadas com as disputas territoriais e a busca por influência, contribuíram para o agravamento do conflito. A formação da Tríplice Aliança, unindo Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, foi uma resposta coordenada para conter as ambições expansionistas de López e restaurar o equilíbrio de poder na região. Para o Brasil, a defesa da Bacia do Prata era crucial para manter a integridade de seu território e garantir o livre acesso às rotas comerciais que sustentavam seu desenvolvimento econômico.   

 A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi o maior e mais sangrento conflito da América do Sul, e o Império do Brasil, sob o governo de D. Pedro II, teve um papel decisivo na vitória da Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai. O governo imperial brasileiro se destacou pela capacidade de mobilizar recursos e liderar uma coalizão que derrotou o Paraguai e impediu que a região fosse tomada por um ditador com ambições expansionistas.

    O conflito começou em um cenário de tensão geopolítica na Bacia do Prata, uma área de grande importância estratégica e econômica. Composta pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, a Bacia do Prata era essencial para o comércio e a navegação, ligando as regiões interiores do continente ao Oceano Atlântico. O controle dessas rotas fluviais significava o domínio sobre o comércio de mercadorias, especialmente a exportação de produtos agrícolas. Para o Império do Brasil, assegurar a livre navegação na Bacia do Prata era vital para manter o desenvolvimento econômico e a estabilidade na região.

    O Paraguai, liderado pelo ditador Francisco Solano López, via o domínio da Bacia do Prata como uma oportunidade de expansão territorial e de evitar o isolamento econômico. López temia que o Paraguai fosse sufocado pelas potências vizinhas e, para evitar isso, decidiu enfrentar o Brasil e a Argentina, invadindo territórios brasileiros na província de Mato Grosso e argentinos na província de Corrientes. A agressão paraguaia levou o Brasil a declarar guerra, formando, junto com Argentina e Uruguai, a Tríplice Aliança para enfrentar a ameaça.

    O governo de D. Pedro II foi fundamental para a mobilização das forças militares brasileiras. O imperador, apesar de não ser um entusiasta da guerra, compreendeu a necessidade de defender a soberania nacional e a estabilidade regional. Sob sua liderança, o Brasil organizou o maior esforço militar de sua história até então, enviando mais de 150 mil soldados ao front e mobilizando a Marinha para garantir o controle dos rios estratégicos. D. Pedro II acompanhou de perto o desenrolar do conflito, enviando emissários e apoiando moralmente as tropas.

A Bacia do Prata era crucial não apenas pela navegação, mas também por sua importância estratégica para o equilíbrio de poder na região. O Brasil precisava garantir que a influência paraguaia não se expandisse e ameaçasse seus territórios do sul. A vitória brasileira, portanto, foi um triunfo não apenas militar, mas também diplomático e econômico. Com a derrota de Solano López e a destruição de seu exército, o Brasil assegurou a livre navegação na Bacia do Prata e consolidou sua posição como a principal potência regional.

    As consequências do conflito foram profundas para todos os envolvidos. O Paraguai, que iniciou a guerra com ambições grandiosas, sofreu uma devastação completa. Cerca de 60% de sua população morreu, e o país foi praticamente destruído. Para o Brasil, a guerra trouxe um alto custo humano e financeiro, mas também fortaleceu o prestígio do Império. A vitória consolidou a autoridade de D. Pedro II, mostrando que o Brasil era capaz de defender seus interesses e de liderar nações em prol da estabilidade regional. O conflito acelerou algumas modernizações no exército e na marinha brasileiras, além de ter incentivado debates sobre a cidadania e o papel do governo na mobilização de recursos.

    Em resumo, a Guerra do Paraguai foi um marco para o Império do Brasil. Sob a liderança de D. Pedro II, o país defendeu sua soberania, garantiu o equilíbrio de poder na Bacia do Prata e se afirmou como a principal potência sul-americana. Apesar dos custos e das dificuldades, a vitória na guerra consolidou o Brasil como um Estado capaz de proteger seus interesses e de desempenhar um papel central na política regional.

Você quer saber mais?

DORATIOTO, Francisco. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

LOPES, Nei; KRAUSZ, Joel Rufino dos Santos. Paraguai: a guerra dos povos. São Paulo: Editora Moderna, 1996.

DONATO, Hernâni. Dicionário das batalhas brasileiras. São Paulo: Editora Ibrasa, 1996.

TELES, José Cardoso. Guerra do Paraguai: uma tragédia americana. Porto Alegre: Editora Sulina, 1970.

LEUCHARS, Chris. To the Bitter End: Paraguay and the War of the Triple Alliance. Westport: Greenwood Press, 2002.