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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

B'nai B'rith?

Gombin é uma cidade judaica da Polônia que foi dizimada pelo nacional-socialismo. Todavia, na foto, de 1935(!) vemos um grupo de "sobreviventes" reunido em Chicago, Estados Unidos. Interessante é que a foto do grupo é encimada pelo tradicional Símbolo maçônico do esquadro e compasso com a letra "G" no centro.
Fonte: SHULMAN, A. (Secretary-Editor). Gomblin. The Life and Desruction of a Jewish Town in Poland. New York: Gombiner Society, 1969. A foto é da página 123.


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Poema-Canção das Águias

Canção das Águias

Plínio Salgado.*

Eleva-te no azul! Corta-o, serena e forte...
Rasga o seio à amplidão! Embriaga-te no arrojo
do vôo triunfal! Deixa que estruja o Norte,
que o mar rebente em fúria e levante do bojo
as potências revéis e as ciladas da morte!
Atira-te no espaço!

E, se um dia, singrando os céus, vieres de rôjo,
rôtas as asas de aço,
ferido o coração, a alma descrente,
não te abata o cansaço,
do oceano, atro e fatal, não te sorva a torrente...
Grita, forceja, anseia e combate impoluta!
Morre a lutar!
Morre na luta!
Mas, antes de morrer, tenta ainda voar!

(Transcrito da pág. 5 do "Poemario da Vida Heróica" – Rio de Janeiro – Livraria Clássica Brasileira – 1955 – 39 págs. Coleção "Águia Branca".)

* Plínio Salgado tinha 22 anos quando escreveu esta Poesia.

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Cascudo não renegou seu passado Integralista .


Luiz Gonzaga Cortez*



Diversos veículos de comunicação social do país, nos dois últimos anos, principalmente em 1999, em função do seu centenário do nascimento e do quarto centenário de Natal, publicaram reportagens, entrevistas e artigos diversos sobre o escritor natalense Luiz da Câmara Cascudo, um dos monumentos da cultura norte-rio-grandense.

E por ter sido uma figura de proa da inteligência da terra, Cascudo, que não era gênio, presunçoso, antipático nem vivia com o rei na barriga, como muitos intelectuais conterrâneos, foi uma figura ímpar, simples, modesto e digno. E dentro dessa dignidade, há um detalhe honestíssimo que não pode ser maculado por ninguém: ele jamais renegou a ideologia integralista.

Os intelectuais potiguares que participaram da Ação Integralista Brasileira (AIB) - a versão cabocla do fascismo italiano, fundada pelo escritor e advogado Plínio Salgado, em 1932(1) - e que tiveram atuação mais destacada foram Luis da Câmara Cascudo, Manuel Rodrigues de Melo, Otto de Brito Guerra, Antonio Soares de Araújo Filho, Edmundo de Melo Lima, Valdemar de Almeida, Hélio Galvão e José Augusto Rodrigues, entre outros. Nenhum deles renegou o seu passado integralista, ideologia que reunia cristianismo, nacionalismo, indianismo, estatismo(2)o e respeito aos direitos humanos, sob o lema de "Deus, Pátria e Família".

Mussolini e Hitler tinha admiradores nas fileiras da AIB em todo o país, principalmente nas regiões sul e sudeste.(3) Mas Cascudo, que não foi anti-semita nem espião nazista, jamais negou que era um ex-integralista, jamais renegou a ideologia fascista brasileira e não se têm provas (um rumor, um boato ou uma soprada no ouvido de alguém sério) de que tenha tocado fogo nos livros, jornais, revistas, camisas, emblemas e dísticos integralistas.

Foi a partir do final de 1998 que começaram a surgir declarações, atribuídas a um filho do grande escritor, de que Cascudo tinha renegado o integralismo e se arrependido de ter vestido camisa verde. Veja bem, caro leitor, somente mais de doze anos depois da morte de Cascudo é que surgiram essas frágeis versões. Em vida, na época em que estavam vivos o dr. Otto Guerra, dr. Clóvis Travassos Sarinho, Manuel Rodrigues, Hélio Galvão e Manuel Genésio, quem se atreveu a dizer que Cascudo tinha queimado os documentos e livros integralistas? Ninguém. Na verdade o que Cascudo abjurou (não confundir com renegou) foi à maçonaria. Nos anos 30/40, Cascudo foi forçado pela Igreja Católica a abjurar a maçonaria, pois caso contrário, não receberia o título de Comendador, concedido pelo Vaticano, que, na época, mantinha relações estreitíssimas com o Duce Benito Mussolini.

Quem duvidar, fineza procurar o professor José Melquíades, que está aí vivíssimo para confirmar e detalhar esse episódio. E mais: na década de 50, quase 20 anos após a extinção da AIB, quando os ex-integralistas(4) estavam reagrupados no Partido de Representação Popular-PRP, também criado por Plínio Salgado, Câmara Cascudo, apesar de afastado da militância política (não se filiou ao PRP), assinava os jornais integralistas Idade Nova e A Marcha. Cascudo não gostava de críticas descabidas ao integralismo, principalmente de pessoas que não tinham lido nada sobre a ideologia de Plínio Salgado. "Jamais renegou os seus princípios e não negava a sua condição de ex-integralista", escreveu o falecido médico Clóvis T. Sarinho (Fatos, Episódios e Datas que a memória gravou, Editora Nordeste, 1991, Natal, páginas 183 e 184).

Na série de reportagens que publiquei no Diário de Natal, a partir de 01 de julho de 1984, “A Pequena História do Integralismo no RN”, mais tarde republicadas em livro editado pela Fundação José Augusto e Clima, cometi o deslize de escrever que o dr. Otto Guerra tinha declarado que Cascudo tinha renegado o integralismo. O dr. Otto mandou uma carta de desmentido, publicada na edição de "O Poti" de 08.07.1984, p.10, da qual extraio o seguinte trecho: "...Minha segunda retificação prende-se ao escritor Luís da Câmara Cascudo, antigo e dedicado "Chefe Provincial" do integralismo no Rio Grande do Norte, durante algum tempo. Nunca o ouvi renegar o seu passado integralista, nem tenho provas disso. Num dos seus livros - "Viajando o Sertão"- ele fala abertamente na sua filiação integralista. Note-se que esse livro foi reeditado faz pouco tempo e Cascudo não alterou ou retirou uma linha do que antes escrevera. Seria pois grave injustiça de minha parte atribuir ao meu velho amigo e mestre, a quem tanto devo na minha formação cultural, uma atitude que desconheço".

Eduardo Maffei(5), escritor paulista, já falecido, esteve em minha modesta residência em março de 1987 e disse-me que admirava muito Cascudo e um dos motivos que lhe causava mais admiração era que ele ainda tinha idéias integralistas (Maffei conheceu-o em Recife, em abril de 1940). Câmara Cascudo foi um dos intelectuais expoentes da Ação Integralistas Brasileira. Escreveu artigos para as publicações integralistas A Ofensiva, Panorama e Anauê, entre outras, na década de 30, até a extinção da AIB, em novembro de 1937.


Alguns desses artigos estão reunidos no livro "Câmara Cascudo, jornalista integralista", publicado pelo Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que, segundo o escritor Itamar de Souza, é obra indispensável para se conhecer o lado político de Luiz da Câmara Cascudo.(6)

* Luiz Gonzaga Cortez é Jornalista e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

Notas do Blog "Integralismo e História":

1) O Integralismo não é a versão cabocla do fascismo, isso é desconhecimento ou preconceito do Autor. Plínio Salgado era Jornalista e não advogado.

2) O exame atento de Documentos Oficiais Integralistas, como o “Manifesto de Outubro”, as “Diretrizes Integralistas”, o “Manifesto Programa de 1936”, entre outros, demonstra cabal e insofismavelmente que o Integralismo jamais foi estatista.

3) Hitler e Mussolini tinham admiradores em todo o Brasil, mas, onde eles menos proliferavam era justamente nas fileiras da AIB. O Integralismo desenvolvia um trabalho de integrar na Pátria Brasileira os filhos e netos de alemães e italianos, o que desagradava principalmente os hitleristas.

4) O Autor comete um equívoco muito comum, o de achar que Integralista é apenas aquele que militou na Acção Integralista Brasileira. Na verdade, Integralista é todo aquele que é adepto do Integralismo. Assim, ex-Integralista é apenas aquele que deixou de seguir a Doutrina do Integralismo e adotou uma outra posição política (liberalismo, anarquismo, comunismo, etc.).

5) Depoimento insuspeito, pois, o sr. Eduardo Maffei era um comunista militante.


6) No início de 2008, encontrei nos meus guardados o Artigo acima, infelizmente, sem indicações de procedência. Mesmo assim, considerei-o esclarecedor e de publicação indispensável. Posteriormente, consegui contatar seu ilustre Autor, que generosa e democraticamente, autorizou por e-mail tal publicação. Agora reedito-o, pois, é de grande importância a sua ampla difusão. Recentemente descobri que uma versão ampliada deste artigo está publicada em Livro cuja leitura tomamos a liberdade de sugerir: CORTEZ, Luiz Gonzaga. "Câmara Cascudo, o Jornalista Integralista". [2. ed.]. São Paulo: Edições GRD, 2002.

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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Como Estudar Plínio Salgado.

Humberto Pergher*

O artista ao modelar o barro para dele extrair uma estátua, não só deixa em sua superfície estampados seus traços digitais, muito mais que isso concretiza na obra a sua idéia e personifica nela seu próprio ser de tal maneira, que esta passa a ser seu retrato mais ou menos fiel conforme a perfeição da obra. Através dela entra-se em contato com a riqueza interior, a vibratividade e euritimia do artista e do homem, para com ele sentir as mesmas emoções.

Pode-se ainda entrar em contato, em comunhão íntima de paixões e idéias pela simples visão do artista, ouvindo-o falar especialmente quando à riqueza de vibração aliar uma espontaneidade de expressão oral e mímica; quando à cadência e ao fluir ligeiro do verbo aliar a agudeza de olhar que magnetiza; quando à grandiosidade e profundidade de idéias, quando a sonoridade da voz e intensidade de emoções, à majestosa estruturação do período aliar, paradoxalmente, uma incompreensível pequenez física talhada duramente pela adversidade e pela luta.

Pois esta visão íntima do homem em sua diáfana transparência esta simbólica vivência de idéias e emoções, esta aterradora pequenez do homem frente ao espírito já a experimentaram todos quantos ouviram uma conferencia de Plínio Salgado. Despe-se imediatamente o espírito do ouvinte de quantos atavios por ventura se ache emaranhado e em sua original candura entra em união intelectual com o conferencista, para sorver gota a gota, o néctar que este destila, modicamente, de início; em ritmo crescente, logo após; e, por fim, em torrentes incontidas ocupando o intelecto e a sensibilidade do ouvinte de maneira tão completa que o tempo perde seu valor. Aqui, mais que em qualquer parte, manifesta-se a pequenez do homem ante o infinito e sua grandeza no finito.

Entrechoque da grandiosidade das idéias com a violência dos sentimentos despertados nos espíritos, busca escape emotivo nos vibrantes aplausos e nas palmas espontâneas de quantos auditórios travem contato íntimo com o espírito de Plínio Salgado. Não há necessidade de anterior conhecimento da vida deste escritor, nem tão pouco de suas idéias, de suas lutas, de seu sofrimento em ver sua Pátria, que deseja grande, pujante e cristã, tão amesquinhada, traída tantas vezes, e cada vez mais enfraquecida em suas forças vitais. É suficiente ver sua pessoa, fisicamente pequena e abatida, transformar-se subitamente em um gigante que domina completamente toda uma multidão pela grande e eloqüente cadência de seu verbo, para sentir com o orador um amor imenso por esta terra que é nossa, uma dor pungente pela desdita que a abate, e a necessidade imperiosa de lutar pela sua re-cristianização, único meio de salvá-la e fazê-la feliz.

É suficiente este contacto auditivo - visual – intelectual - emocional para ter-se o homem todo em toda sua riqueza, em toda a sua grandeza intelectual e moral. Então se compreende sua incrível obstinação em lutar, mesmo que seja sozinho, em sacrificar sua grande vocação para a literatura e “recomeçar mil vezes se for preciso para salvar o Brasil”.

Entretanto, muito restrito é o número dos que podem, por este contato direto assimilar os ensinamentos de Plínio Salgado. A grande maioria dos brasileiros deve fazê-lo pela leitura de suas obras embora em todas as suas obras esteja, em sua totalidade, o homem que dedicou sua vida à causa de Cristo e do Brasil, devido à predominância de um dos aspectos de sua doutrina, poderia o leitor ser levado a um conhecimento parcial e, por isto mesmo, falho, do homem e de seu pensamento.

Pela obra se chega ao autor e pelo autor se compreende a obra.

Por onde se vê ser necessário um conhecimento biográfico do autor para melhor compreensão de sua obra. Urge situá-lo em sua época, no meio em que vive, para conhecer quais as influências do ambiente sobre ele e as suas reações. É necessário saber qual a sua formação religiosa, qual sua adaptação social, para melhor compreender e interpretar as idéias mestras de sua doutrina.

No caso do autor da “Vida de Jesus”, torna-se indispensável saber de seu espírito profundamente cristão, conhecer os laços afetivos que o ligam ao Brasil desde os seus ternos anos, quando num ambiente familiar essencialmente cristão aprendeu a amar a Deus e à sua Pátria. Conhecida sua biografia e tendo presente estes fatores fundamentais, pode-se começar o estudo de seu pensamento sociológico e filosófico pela leitura de suas primeiras obras, os romances “O Estrangeiro”, “O Esperado”, “O Cavaleiro de Itararé”, e a “Voz do Oeste”, nos quais procede a um largo estudo social do homem do interior paulistano, em páginas de rara sensibilidade artística e profundo senso objetivo, cônscio do papel do literato no aprimoramento da sociedade.

Nestes seus romances estão lançados os princípios de toda sua doutrina sociológica, política e filosófica. As inúmeras obras que se seguiram são desenvolvimentos dos princípios anteriormente esboçados. O leitor das obras de Plínio Salgado terá sempre presente o espírito profundamente cristão do autor voltado para a realidade brasileira, esperançoso de ver o Brasil cumprir sua missão histórica da qual se fez para sempre o mesmo incansável batalhador, durante sua vida e após ela na duração de seus escritos. Porém, de todas as obras de Plínio Salgado é na “Vida de Jesus”; que mais alto se ergueu seu gênio. Neste livro uni-se a piedade cristã a alma do artista, o espírito do pensador e a visão do homem público para burilar incontestavelmente a maior pérola da literatura brasileira. Na “Vida de Jesus”, os moços brasileiros têm a obra prima do artista, do sociólogo, do cristão, onde a identificação do autor se faz em cada linha e onde seu pensamento se concretizou para a eternidade.

É este Plínio Salgado fervorosamente cristão e perdidamente brasileiro que deve ser compreendido em primeiro lugar e está sempre presente ao estudioso de suas obras e de seus escritores. Só assim haverá a perfeita compreensão em sua honestidade intelectual, em sua sensibilidade profundamente humana, em seu ardor apostólico, na crueza apocalíptica de sua analise social do nosso tempo e na certeza absoluta dos superiores destinos do Brasil.

* Publicado originalmente em “A Marcha”, 12/02/1954, e posteriormente reproduzido no Vol. VIII da “Enciclopédia do Integralismo”.

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6 de dezembro de 1976 – No exílio, morre João Goulart.


Doze anos depois de ter deixado o Brasil para se asilar no Uruguai, o ex-Presidente João Goulart regressou, conduzido pela família e amigos que, chorando, seguiram em automóveis a caminhonete que levava os restos mortais para São Borja, sua terra natal. Jango morreu de infarto, aos 47 anos de idade, no quarto de sua fazenda, na fronteira entre Uruguai e Argentina, após ter comido churrasco e tomado chimarrão, na hora do jantar. Na hora em que sentiu a dor no peito, estava em companhia da esposa, que gritou pedindo ajuda do capataz Júlio Vieira, o qual nada pode fazer para ajudar o patrão.

Tudo aconteceu de forma rápida e vertiginosa na vida do fazendeiro e político gaúcho João Goulart, um homem de temperamento afeito à calmaria do campo, longe do qual sempre pareceu desambientado. Aos 13 anos já ajudava seu pai a transportar gado na fazenda da família. Vinte anos depois, começou a se envolver com política e rapidamente chegou à Presidência da República, assumindo o governo após a renúncia de Jânio Quadros.

Seu governo foi marcado por uma crise política e social sem precedentes, a qual resultou em sua trágica deposição, em abril de 1964. Por ser identificado como um político de tendência comunista, Jango sofreu grande oposição das altas camadas do Exército que tramaram um golpe de Estado que enterrou a democracia no Brasil, restabelecida apenas vinte anos depois.

João Goulart

Fazendeiro de terras em três países viveu os últimos anos amargando o exílio, com a certeza de ter sido personagem central nos momentos mais dramáticos da história do Brasil na segunda metade do século. Segundo a família, Jango recusava-se a retornar ao Brasil “pelos fundos”, ou seja, pela fronteira gaúcha, com a condição de viver internado em São Borja. Pretendia descer no Rio de Janeiro e, só então, ir para o Sul. Inicialmente, descartava a hipótese de um retorno enquanto a maioria dos outros exilados não pudesse voltar. Nos últimos meses de vida, Goulart procurava saber se poderia retornar ao Brasil. Morreu com a garantia de que não poderia.

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Em 1964 - Marcha da Família com Deus Em 1964 – Goulart foge e militares tomam o poder no Brasil Em 1989 – No centenário da República, Brasil vai às urnas

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A roda: a maior invenção tecnológica.

A roda: a primeira grande invenção da humanidade

Alberto Cury Nassour Engenheiro de Materiais

Num trecho de linha férrea próximo da cidade de Paris, apenas um zumbido indica a passagem de um trem de passageiros a quase 300 quilômetros por hora. Numa estradinha de terra batida numa fazenda do interior mineiro, uma estrutura barulhenta de carro de bois passa a menos de 5 quilômetros por hora, produzindo um ranger quase sonolento provocado pelo atrito entre a roda de madeira e o eixo de apoio. A única semelhança entre esses dois acontecimentos, converge talvez, para o fato de simplesmente andarem sobre rodas.

Mais depressa, mais devagar, milhões de rodas, pequenas ou grandes, funcionam em todo o mundo, transformando a vida em movimento. Um dos principais indicadores do progresso consumista de um país, costuma ser medido pela facilidade com que seus habitantes podem se locomover e transportar os produtos de seu trabalho ou para seu consumo. Em outras palavras: quantas rodas esse país faz girar e com qual rapidez?

A diferença que a roda, considerado como sendo o maior invento fundamental da história, trouxe para o destino humano é incalculável. Um pouco de matemática ajudará a explicar tal façanha. Um homem adulto e treinado percorre num dia de caminhada, cerca de 30 quilômetros, e a carga máxima que consegue carregar é cerca de 40 quilos, além do seu próprio peso. Com a domesticação de animais, por volta de 5.000 a.C., a capacidade de carga no lombo de bestas aumentou para 100 quilos. A tração animal aumentou ainda mais a capacidade de carga para 1.200 quilos puxados por uma carreira de bois. Acredita-se que os egípcios usaram de artifícios como grandes roletes de madeira para transportar por quilômetros, os enormes blocos de granito e de pedra para a construção das pirâmides, inventando também o que se chama hoje de rota de transportes, ou simplesmente estradas.

Na verdade, a invenção da roda é motivo de discussão entre os grandes historiadores de todos os tempos. Alguns sustentam que essa peça de tamanha simplicidade, foi a maior criação do homem estudando o movimento do astro Sol, como se ele rodasse ao redor da Terra. Por terem sido fabricadas em madeira, as primeiras rodas já foram certamente destruídas pela ação do tempo.

Sem a roda, o homem não iria muito longe. As quatro principais fontes de energia que o homem utiliza para sua existência são fundamentadas na roda: a água, a energia elétrica, o animal e o vento. O simples carrinho de mão inventado pelos chineses, cerca de 200 a.C., conduz sete vezes mais carga e passageiros do que o ombro humano. A bicicleta criada na França em 1645, permitia velocidades até três vezes maiores do que a de um homem caminhando pausadamente.

Além de revolucionar os meios de transportes, a roda possibilitou outro grande salto para a tecnologia – o movimento controlado por rotação. Na Mesopotâmia, há milhares de anos, os primeiros discos de madeira usados pelo homem para trabalhar o barro, talvez tenha sido uma das primeiras criações empregando a roda no sentido explícito da palavra. No século XIV, apareceram simultaneamente em diferentes regiões da Europa, como França e Inglaterra, as primeiras rodas de tecelagem enxertadas com finas agulhas para desfiar o algodão. Desde então, novos engenhos baseados no mesmo princípio não pararam de surgir, porém, cada vez mais complexos. Aproveitando a descoberta de que uma roda de maior diâmetro leva mais tempo para dar uma volta completa do que uma roda pequena, o homem também descobriu a teoria da velocidade centrípeta. Inventaram-se os relógios com rodas dentadas que até hoje encantam as mais belas catedrais do mundo todo; as máquinas a vapor; a locomotiva e o automóvel.

Rodas e revoluções andam juntas há muito tempo. Numa era de colossais conquistas tecnológicas entre 8.000 e 5.000 a.C., na faixa de países semi-áridos entre os rios Nilo, localizado na África e Ganges, na Ásia, o homem inventou o arado, o barco à vela, os processos de fundição de ferramentas, jóias e o calendário solar. Todos estes inventos baseados no princípio da roda. A primeira indicação da figura de uma roda registrada numa placa de argila, auxiliando um meio de transporte humano foi na Suméira em 3.500a.C.

Atualmente, as rodas de bicicleta já são feitas de alumínio, kevlar ou fibra de carbono. É o homem rinventando a invenção. Após a descoberta da roda pelos sumérios, a notícia se espalhou. Gregos, romanos e egípcios há mais de 2.000 a.C. criaram então novos modelos, com raios ao invés de uma placa de tábuas, para conduzir suas bigas de guerra e revestidas com pedaços de metal fundido para resistirem aos fortes impactos provocados pelas colisões. Enfim, sempre foram modificando a idéia original conforme suas necessidades e abrindo largos espaços para o uso da roda no seu cotidiano. Os celtas, por exemplo, modificaram os carros romanos e inventaram o sistema de eixo dianteiro giratório, capazes de dar maior direção em curvas menos angulosas. O Renascimento, movimento de revolução nas artes, ciências, medicina e literatura que ocorreu por toda a Europa no século XV, fez surgir os famosos cabriolés, diligências de tração animal com cabine fechada para conduzir a aristocracia européia e protegê-la do mau tempo ou da poeira das rudimentares estradas de terra.

Por volta de 1850, começava o declínio da tração animal e iniciava-se a era da tração a vapor, reescrevendo o papel da roda. Não demorou muito, inventou-se então as rodas fabricadas totalmente de ferro forjado no final do século XIX. Barcos a vapor e locomotivas, além de servirem de meios de transporte de carga, eram o fascínio de milhares de bens-aventurados da época. No início do século XX, o veterinário inglês John Boyd Dunlop criou o primeiro aro pneumático. Nada mais era do que um aro metálico revestido com uma câmara de couro costurado e cheio de ar, o qual servia para amenizar os sacolejos provocados pelas rodas de ferro sobre as estradas de pedra, que imediatamente foram introduzidos nos veículos automotivos fabricados por Henry Ford.

O cinema mostrou toda a força dessa invenção no lendário filme "Tempos Modernos", de 1936, brilhantemente estrelado por Charlie Chaplin. Daquela época até os dias atuais a roda nunca mais parou de movimentar a humanidade.

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