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terça-feira, 27 de abril de 2010

CALDEIRÃO DE SANTA CRUZ DO DESERTO

Caldeirão de Santa Cruz do Deserto

ESTE POST SÓ FOI POSSÍVEL GRAÇAS AOS NOSSOS AMIGOS DA SOS DIREITOS HUMANOS. PEDIMOS AOS AMIGOS E COLEGAS QUE DIVULGUEM ESSE POST.

Dr. Otoniel Ajala Dourado
OAB/CE 9288 – 55 85 8613.1197
Presidente da SOS - DIREITOS HUMANOS
Editor-Chefe da Revista SOS DIREITOS HUMANOS
Membro da CDAA da OAB/CE
www.sosdireitoshumanos.org.br
sosdireitoshumanos@ig.com.br
http://twitter.com/REVISTASOSDH



O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi um dos movimentos messiânicos que surgiu nas terras no Crato, Ceará. A comunidade era liderada pelo paraibano de Pilões de Dentro, José Lourenço Gomes da Silva, mais conhecido por beato José Lourenço.
No Caldeirão, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor da comunidade e recebiam uma quota da produção. A comunidade era pautada no trabalho, na igualdade e na Religião.

História

Sítio Baixa Dantas

José Lourenço trabalhava com sua família em latifúndios no sertão da Paraíba. Decidiu migrar para Juazeiro do Norte, onde conheceu Padre Cícero e ganhou sua simpatia e confiança. Em Juazeiro conseguiu arrendar um lote de terra no sitio Baixa Dantas, no município do Crato. Com bastante esforço de José Lourenço e os demais romeiros, em pouco tempo a terra prosperou, e eles produziram bastante cereais e frutas. Diferente das fazendas vizinhas, na comunidade toda a produção era dividida igualmente.


Beato José Lourenço e o jornalista Hidelbrando Espínola

José Lourenço tornou-se líder daquele povoado, e se dedicou à religião, à caridade e a servir ao próximo. Mesmo analfabeto, era ele quem dividia as tarefas e ensinava agricultura e medicina popular. Para o sítio Baixa Dantas eram enviados, por Padre Cícero, assassinos, ladrões e miseráveis, enfim, pessoas que precisavam de ajuda para trabalhar e obter sua fé. Após o surgimento da Sedição de Juazeiro, da qual José Lourenço não participou, suas terras foram invadidas por jagunços. Com o fim da revolta, José Lourenço e seus seguidores reconstruíram o povoado.
Em 1921, Delmiro Gouveia presenteou Padre Cícero com um boi, chamado Mansinho, e o entregou aos cuidados de José Lourenço. Os inimigos de Padre Cícero, se aproveitaram disso espalhando boatos de que as pessoas estariam adorando o boi como a um Deus. Por conta disso, o boi foi morto e José Lourenço foi preso a mando de Floro Bartolomeu, tendo sido solto por influência de Padre Cícero alguns dias depois.
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto
Em 1926, o sítio Baixa Dantas foi vendido e o novo proprietário exigiu que os membros da comunidade saíssem das terras. Com isso, Padre Cícero resolveu alojar o beato e os romeiros em uma grande fazenda denominada Caldeirão dos Jesuítas, situada no Crato, onde recomeçaram o trabalho comunitário, criando uma sociedade igualitária que tinha como base a religião. Toda a produção do Caldeirão era dividida igualmente, o excedente era vendido e, com o lucro, investia-se em remédios e querosene.
No Caldeirão cada família tinha sua casa e órfãos eram afilhados do beato. Na fazenda também havia um cemitério e uma igreja, construídos pelos próprios membros. A comunidade chegou a ter mais de mil habitantes. Com a grande seca de 1932, esse número aumentou, pois lá chegaram muitos flagelados. Após a morte de Padre Cícero, muitos nordestinos passaram a considerar o beato José Lourenço como seu sucessor.
Devido a muitos grupos de pessoas começarem a ir para o Caldeirão e deixarem seus trabalhos árduos, pois viam aquela sociedade como um paraíso, os poderosos, a classe dominante, começaram a temer aquilo que consideravam ser uma má influência.
Balas caindo do céu
Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero, que falecera em 1934, a fazenda foi invadida, destruída, e os sertanejos divididos, ressurgindo novamente pela mata em uma nova comunidade, a qual em 11 de maio foi invadida novamente, mas dessa vez por terra e pelo ar, quando aconteceu um grande massacre, com o número oficial de 400 mortos. Foi a primeira ação de extermínio do Exército Brasileiro, e Polícia Militar do Estado do Ceará.
Acontecera o primeiro ataque aéreo da história do Brasil. Os familiares e descendentes dos mortos nunca souberam onde encontra-se os corpos, pois o Exército Brasileiro e a Polícia Militar do Ceará nunca informaram o local da vala coletiva na qual os seguidores do Beato foram enterrados. Presumi-se que a vala coletiva encontram-se no Caldeirão ou na Mata dos Cavalos, na Serra do Cruzeiro (região do Cariri).


MORTOS DEVIDO AO ATAQUE AÉREO


O Beato

José Lourenço fugiu para Pernambuco, onde morreu aos 74 anos, de peste bubônica, tendo sido levado por uma multidão para Juazeiro, onde foi enterrado no cemitério do Socorro.

Caldeirão hoje

Da época da Irmandade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, exitem ainda a capela branca, que tem como padroeiro Santo Inácio de Loyola, ao lado da ermida, duas casas, um muro de laje de um velho cemitério, um cruzeiro e no alto as ruínas da residência do beato José Lourenço.
Atualmente, 47 famílias revivem o sonho coletivo de produção idealizado por José Lourenço, num sítio denominado Assentamento 10 de Abril, a 37 km do centro do Crato. No local encontram-se 47 casas, sendo que 44 de alvenaria e uma escola, porém sem ostentar a grandeza atingida pelo então Caldeirão do beato José Lourenço .
As famílias residentes mantém uma horticultura orgânica (couve, coentro, cenoura, macaxeira, alface, pimentão e espinafre estão entre as hortaliças cultivadas) e uma lavoura para auto-abastecimento. Parte dos homens também mantém um produtivo apiário, que contribui para os rendimentos do grupo.

A ONG SOS Direitos Humanos entrou com uma Ação Civil Pública no ano de 2008 na Justiça Federal do Ceará, contra o Governo Federal do Brasil e Governo do Estado do Ceará, requerendo que o Exército Brasileiro a) torne público o local da vala coletiva, b) realize a exumação dos corpos, c) identifique as vítimas via exames de DNA, d) enterre os restos mortais de forma digna, e) idenize no valor de R$ 500 mil, todos os familiares das vítimas e os remanescentes, f) inclua na história oficial, à título pedagógico, a história do massacre / chacina / genocídio do Sítio da Santa Cruz do Deserto, ou Sítio Caldeirão. A pedido do Ministério Público Federal da cidade de Juazeiro do Norte/Ceará, a ação foi extinta sem julgamento de mérito pelo juiz da 16ª Vara Federal de Juazeiro do Norte/Ceará. A ONG SOS DIREITOS HUMANOS, inconformada com a decisão, recorreu ao egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região em RecifePernambuco, requerendo que a ação seja julgada o mérito porque a) o crime cometido contra a comunidade do Sítio Caldeirão é de lesa humanidade, e portanto, imprescritível. A ONG "SOS DIREITOS HUMANOS" no ano de 2009, denunciou o Brasil à OEA - Organização dos Estados Americanos, por crime de desaparecimento forçado de pessoas e para que seja obrigada a informar a localização da COVA COLETIVA com as 1000 vítimas do Sítio Caldeirão. A ONG "SOS DIREITOS HUMANOS" considera o SÍTIO CALDEIRÃO como o Araguaia do Ceará, uma vez que os militares mataram 1000 pessoas e após, enterraram em COVA COLETIVA em lugar desconhecido da MATA CAVALOS, em cima da Chapada do Araripe. A ONG "SOS DIREITOS HUMANOS" está pedindo auxílio à entidades internacionais para que a COVA COLETIVA seja encontrada, bem como, de geólogos, geofísicos e arqueólogos para identificar a localização da cova coletiva.

Em 1986 o cineasta Rosemberg Cariry, realizou um documentário rico em depoimentos de sobrevintes do massacre. Caldeirão é um movimento considerado como uma outra Canudos.
A Cia. do Tijolo, grupo artístico, apresenta ainda (2010) espetáculo que conta a história do Caldeirão, e exalta também Patativa do Assaré, poeta nascido no nordeste brasileiro.

Setecentos mortos, bombardeio aéreo com três aviões do Ministério da Guerra, incêndios e destruição de casas, espancamento de crianças, mulheres e velhos, saques; e ainda, luta corporal de populares usando facões, ferrões e cacetes contra soldados da polícia bem protegidos; mulheres enfrentando homens do Exército armados de fuzis, homens furando cerco de rajada de metralhadoras, execução de prisioneiros, fuzilamento, são mais 300 corpos de trabalhadores rurais estendidos, numa das maiores resistências das populações do campo nordestino contra os proprietários rurais latifundiários. Donos das terras, igreja, polícia e governo unidos para destruir a vontade do povo de trabalhar, criar seus filhos e vencer com liberdade.
Estamos falando das comunidades de Caldeirão e Pau de Colher, nos anos de 1930, envolvendo sertanejos principalmente do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia. O palco da luta e da resistência do povo trabalhador, duas regiões nordestinas: Serra do Araripe, Ceará, e médio São Francisco, Bahia. Duas áreas que atraíram milhares de homens — famílias — cansados da exploração, da miséria e da injustiça do latifúndio e do Estado. Foram para lá com a certeza e a consciência de dias melhores, sem saber que a classe dominante agiria sem dó ou piedade, usando todas as suas forças, tentando apagar para sempre o que seria uma sociedade justa - o início do desenvolvimento social da região e a libertação dos trabalhadores.


MILITARES QUE PARTICIPARAM DO CONFLITO


No museu histórico do Ceará, no centro de Fortaleza, prédio que até a década de 1970 abrigou a Assembléia Legislativa do Estado, existem apenas três peças que lembram o povo do Caldeirão: A bandeira da comunidade, três reproduções fotográficas publicadas em jornal da época e uma espingarda aparentemente não muito manuseada, ao lado de um machado. Esses objetos ocupam a sala em memória a Padre Cícero Romão Batista — fundador da cidade de Juazeiro do Norte, Ceará — onde está a batina do religioso e outras valiosas lembranças de suas ações na região do Cariri.

Desaparecimento

Uma citação transcrita no livro "Cultura Brasileira", do economista e historiador cearense Aristides Braga, colhida do museu (ver boxe), não é mais encontrada. Um funcionário afirma que não existe. É o trecho do depoimento da sobrevivente do Caldeirão, Marina Gurgel. É tudo que existe de mais de 10 anos do esforço de um povo para produzir na terra seca independente dos caprichos e humilhação dos patrões, e, pelo menos mais três de acirrada luta para resistir a repressão da classe dominante que não permitia aquele desafio. A bandeira, intocada em um armário com vidro tem manchas de sangue, provando que os ideais eram fortes, e resistiu o máximo que pode, com honra, o sangue e o suor daquela gente.

No museu também não se é permitido fotografar, segundo a administradora — somente filmagem pagando-se uma taxa de R$ 2,00 — pois "o flash danifica as peças", argumenta. Em todo caso, e todos os detalhes, percebe-se a falta de vontade ou desinformação em relembrar um acontecimento dos mais marcantes da história regional. "O maior espetáculo social que o Ceará ofereceu para o Brasil", diz o jornalista Hidelbrando Espínola, repórter do então jornal "Correio do Ceará", na época do movimento, que entrevistou José Lourenço, o líder do Caldeirão.

O Jornal "Correio do Ceará", dos Diários Associados, o mais atuante durante aquele período, também fechou suas portas e com o seu fim o valioso arquivo fotográfico — inclusive registros do Caldeirão e das pessoas envolvidas no seu extermínio — foram para a calçada do prédio quando o grupo vendeu o patrimônio, em Fortaleza. Livraram-se da guarda de registros que estimulam, em qualquer época, a resistência do povo. Outros documentos importantes (relatórios e jornais da época) no arquivo público ou biblioteca central do Estado, conforme historiadores, "sumiram" não deixando rastro dos anos em que a classe dominante — latifundiários — mais temeu a queda do seu prestígio, numa tentativa de apagar da memória das novas gerações a história verdadeira da luta do oprimido contra o opressor.

"O beato organizou tudo... era eficiente, despertou a comunidade e foi perseguido pelo latifúndio...". Aos 87 anos de idade, o advogado e jornalista Hidelbrando Espínola, em sua casa, no bairro da Aldeota, mantendo nada menos do que 30 mil livros, distribuídos, em cada compartimento (sala, quartos e serviço) por área (sociologia, movimentos populares brasileiros, golpe de 64, filosofia, marxismo, Padre Cícero, Lampião, Canudos e Caldeirão, etc.) lembra com objetividade a experiência socialilizante encabeçada pelo beato.

José Lourenço, o Beato, como era conhecido, "foi fabuloso... fabricou máquinas, tratou a terra, plantou e colheu grãos, frutas e verduras" comenta Hidelbrando. "Todos lá tinham a sua função e a disciplina era a regra para tudo, uma organização social que não tinha igual", lembra, e acrescenta: "A verdade é o seguinte: os proprietários de terra estavam preocupados com o desenvolvimento da comunidade... eles estavam perdendo mão-de-obra porque os trabalhadores seguiam para o sítio".

O jornalista esteve como repórter no Caldeirão dias após o massacre que uniu a Polícia Militar do Ceará e o Exército. Já não era mais o símbolo da prosperidade da região. Segundo ele, José Lourenço foi autorizado a voltar ao local totalmente devastagrandes instantes do movimento de massa por uma sociedade melhor contra a exploração secular das classes dominantes no sertão nordestino". Destaca-se na apresentação do livro "De Caldeirão a Pau de Colher: A guerra dos caceteiros", do geólogo e pesquisador baiano Ruy Bruno Bacelar de Oliveira. Para o Estado elitista, que tem instrumentos e paga seus contadores de história tentando apagar da memória popular todo o vestígio desses movimentos, a ação foi fruto do "fanatismo, misticismo e religiosidade agressiva dos sertanejos".

"As elites preocupavam-se com o fato do Caldeirão vir repetir Canudos ou Contestado. Os fazendeiros do Cariri não encontravam braços para o trabalho nas fazendas. Havia um êxodo em direção ao Caldeirão", registra Ruy Bruno Barcelar no seu livro. As duas comunidades — na Bahia e no Ceará — tinham o mesmo objetivo, a mesma filosofia social de vida e de trabalho. Ambas surgiram na mesma época (veja matéria). As duas foram exterminadas numa ação do aparato do grande latifúndio, ou seja, polícia, igreja, vigarista político, imprensa e exército: "a chacina de Pau de Colher foi o mais brutal quadro da tragédia vivida no sertão baiano". Na serra houve execução sumária de prisioneiros, registra o livro.

"O Caldeirão, Chapadas do Araripe e Pau de Colher representam os três últimos grandes gritos de liberdade da gente do Nordeste contra latifúndios e burguesia que ainda hoje continuam no poder", diz Bacelar. Assim como Canudos, em 1887/l897, Caldeirão e Pau-de-Colher "devem ser vistos pelo lado sócio-econômico que também tinha sua força religiosa", opina o professor Aristides Braga. As elites e o governo quiseram contar a história desses movimentos sociais escondendo o seu lado objetivo, ou seja, a consciência de classe dos trabalhadores destituídos da terra, vítimas do sistema, e contrários a uma organização social arcaica e ineficiente, erguida nos moldes feudais.

Prosperidade


Em um terreno seco do solo cearense, doado pelo Padre Cícero, José Lourenço fundou uma produtiva comunidade, que, aliás, vinha alimentando os Salesianos (arroz, farinha, feijão, carne, rapadura, frutas e legumes e outros gêneros para os frades) antes da invasão, pois o Beato acreditava que assim afastaria a ameaça de perder o local. Doze casas de moradia, uma de engenho, dois açudes, um cercado com quatro mil e 12 braças, com mais de um mil tarefas de algodão, quatro tarefas de cana-de-açúcar, 10 cancelões de madeira, e centenas de árvores frutíferas. Além do mais, centenas de animais, vacas, cavalos, jumentos, porcos, galinhas, marrecos, patos e outros. Na época da invasão, os armazéns da propriedade estavam lotados de algodão, milho, feijão, arroz, rapadura e farinhas. Inúmeras máquinas e outros objetos importados que serviam aos trabalhadores. Este era o Sítio Caldeirão, em 1938.


A vez de Pau de Colher

Com a destruição, Pau de Colher se tornou a irmandade mais importante depois do Caldeirão. No princípio, início dos anos de 1930, os beatos não tinham interesse no desenvolvimento agrícola da região, como no Caldeirão. Pau de Colher era o ponto de recrutamento, treinamento e doutrinamento dos trabalhadores que seguiam para Caldeirão, no Ceará. Ali aprendiam a conviver em grupo, adaptando-se às normas rígidas da irmandade. Depois da morte de Padre Cícero, as pessoas começaram a se mudar para Pau de Colher, atraídos pela água e pelos ensinamentos dos beatos. Pau de Colher passou a ser um lugar onde se reuniam necessitados, flagelados e pequenos posseiros. O lugar começou a barrar a ida de nordestinos para São Paulo, conta o livro do geólogo Ruy Bacelar. Chegou a vez de acabar com Pau de Colher. Temendo uma nova sociedade tipo Canudos e apoiado pela imprensa e os políticos, o governo da Bahia, pede ajuda aos estados do Ceará e Pernambuco para destruir a comunidade. Na época, o próprio Presidente da República, através do seu Ministro da Justiça, Francisco Campos, intimou todos os interventores a extinguir a ferro e fogo todos os movimentos revolucionários e também o cangaço, na pessoa do seu chefe, Lampião. Conforme o livro "De Caldeirão a Pau de Colher", Getúlio Vargas usou a expressão, "acabem com eles a todo preço senão serão destituídos".(...)

Para Ruy Bacelar, os três movimentos (Caldeirão, Serra do Araripe e Pau de Colher) são formas de lutas contra o tipo de estrutura social existente, onde famílias poderosas controlam os meios de produção, são donas dos recursos naturais e criam uma monstruosa organização social que, ao longo da história, sufocaram todos os gritos de liberdade das massas despossuídas. "O fanatismo que os animava era revolucionário e alimentava a esperança de mudanças para um mundo melhor. O ódio contra as classes dominantes, o entusiasmo na vida comunitária, levaram todos eles a deflagrarem um fluxo de atividade econômica, usando meios de produção revolucionários para a época", explica em seu livro.


O beato pede a Padre Cícero

José Lourenço, paraibano (tem relato que seria pernambucano), depois de ser preso e solto por pregar em praça pública, recebeu de Padre Cícero a terra nua, sem nenhuma benfeitoria, no pé da serra. Com pouco tempo, já havia mais de 400 casas, erguida uma capela e uma população de três mil pessoas. Eram trabalhadores de vários estados nordestinos, que passaram a produzir, educar seus filhos e alimenta-los.

O Caldeirão ficou auto-suficiente. Sua fama crescia e já influenciava outras cidades, porque lá o progresso atingia também a área de artesanato, confecção de redes, roupas, calçados, etc. Todas as ferramentas necessárias para o trabalho eram feitas na própria comunidade. Os produtos excedentes eram vendidos em Juazeiro e no Crato. "Ninguém se considerava dono de alguma coisa. Os meios de produção eram coletivos", relatam os remanescentes.

Maria de Maio nasceu no Caldeirão, conta: "Eu vivia lá. Ia gente que o Padrim Cícero sempre mandava. Gente pra trabalhar lá. Quando chegava em Juazeiro umas pessoas, que não tinha trabalho, ia trabalhar lá". E foi assim que a comunidade criou fama no Nordeste, cresceu, recebendo gente de todos municípios. O ódio dos fazendeiros era grande, pois tinham que solicitar trabalhadores a José Lourenço. O comércio de Juazeiro estava declinando. As populações rurais de todo o Nordeste, nos anos de 1920/30, eram as que mais sofriam com a crise econômica que reinava no mundo.

A igreja e os latifúndios — dominantes — já não se entendiam e o povo trabalhador tomou a iniciativa de guiar os seus próprios destinos. Portanto, experiências como Caldeirão e Pau de Colher minavam os sertões. Vários outras iniciativas floresciam em outros estados como no Piauí, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba. Os beatos, como Severino Tavares, um dos mais influentes, depois de José Lourenço, percorriam as cidades pregando e recrutando adeptos. Reunia multidões nas praças. O Cariri já concentrava muita gente em torno de Padre Cícero. As comunidades foram se formando com o mesmo objetivo e mantendo estreito relacionamento através da comunicação dos beatos.


A destruição


PADRE CÍCERO


Os salesianos, após a morte de Padre Cícero, requerem na Justiça a posse do Sítio Caldeirão, alegando herança feita por ele. Alguns historiadores registram que os Salesianos não gostavam do Padre Cícero. No entanto, estava decretado o fim da experiência. Os salesianos conseguem na Justiça, em Fortaleza, a desocupação da área. Antes de qualquer ação, os órgãos de segurança mandam agente para obter informações. Temiam que na comunidade houvesse muitas armas. Segundo Hidelbrando Espínola, a comunidade já esta infiltrada de informantes, e havia "uma pessoa dos órgãos de segurança que atuava como líder".

Os registros dão conta de que a ordem de destruição do Caldeirão partiu do Presidente Vargas. A ação foi coordenada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado e pela Região Militar. No comando o Chefe de Polícia, Capitão Cordeiro Neto, e o Delegado do Dops, Tenente do Exército José Góes de Campos Barros. "Eles subiram a colina", lembra o jornalista. A força militar chega ao sítio e os moradores assistem a destruição. Casas são incendiadas e não a tempo de levar nem os pertencer pessoais. Alguns beatos transmudaram-se e olhavam com muito ódio o capitão Bezerra e seu filho, à frente das ordens. Mulheres grávidas ou ainda amamentando crianças choraram e arrumavam em carros de bois os poucos pertences, narra.


AS ORDENS PARA DESTRUIÇÃO DO CALDEIRÃO PARTIRAM DE GETÚLIO VARGAS


MARINA GURGEL

"Eu num sei o que foi de fizeram esta perseguição, porque agente num tava matando, num tava roubando, num tava fazendo mal. Tava trabalhando e rezando. Ai, por isso fomos perseguido e sentenciado à morte, ninguém sabe, quem é Deus, né! O que tenho a dizer é isto... tava no Caldeirão cantando e rezando e tão feliz, trabalhando e comendo. Sem ninguém precisar pedir nada pra ninguém, porque tudo tinha, nada faltava, tudo era comum. O que era de um era de todos e ai quando dava fé uma perseguição".

Do Livro Cultura Brasileira, de José


Na serra


Dias depois, acontece o segundo bombardeio aéreo sobre civis na história do Brasil. (O primeiro foi em 1912, Contestado). As tropas já estavam em Juazeiro. À frente, o mesmo comando sob as ordens do Governo Federal. No relato do jornalista e escritor Jader de Carvalho, morreram cerca de mil pessoas, entre velhos, mulheres e crianças. A imprensa, com a censura do DIP — Departamento de Imprensa e Propaganda — do Governo Vargas, quase nada publicou. Houve execução sumária de prisioneiros. Mais de cem foram executados por um cabra que "tinha um enorme chapéu à cabeça e um punhal à mão: Ele sangrava as pessoas, uma a uma, indagando, antes em tom zombeteiro: - Então você não sabe quem matou o capitão Bezerra, hein?", segundo Jader. Hidelbrando lembra que, dias depois, ainda viam-se as chamas do bombardeio.

Facão e cacete


SOBREVIVENTES DO MASSACRE


Em Pau-de-Colher, as mulheres lutaram desesperadamente. Saiam das trincheiras, seguidas dos filhos, em direção aos soldados, com cacete na mão. Eram facilmente cortadas ao meio pelos tiros de metralhadoras. Um grupo delas avançou sobre um destacamento que tinha tomado uma cacimba, e todas foram metralhadas. Conforme relato de Optado Gueiros, Tenente que comandou o atraque, de acordo com a imprensa baiana, os corpos apodreciam no chão. Foram vários dias de luta. O chão estava tomado de sangue e pedaços de òrgãos humanos em toda parte. Eram mais de 400 corpos. Os soldados evitavam a luta corporal e venciam facilmente a batalha com o uso do fogo das metralhadoras."

domingo, 25 de abril de 2010

CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO NO BRASIL

Campos de concentração no Ceará

Devido ao infeliz acobertamento do governo sobre esses acontecimentos as informações são raras em livros, jornais e na rede. A maior fonte aina são os raros sobreviventes de onde se pode coletar um valioza fonte oral de história como a dos campos de concentração no Ceará — ou mais conhecidos como os currais do governo — foram locais de apoio e alojamento para as vítimas das secas de 1915 e 1932.

As secas e os governos brasileiros


CASARÕES AONDE OS TRENS LEVAVAM OS REFUGIADOS DA SECA

Os períodos de estiagem que fazem parte do clima do Nordeste brasileiro despertaram (e despertam) a atenção dos governantes desde a época do Império de D. Pedro II. E, por sua vez, estes reagiram com planos e projetos nas áreas de engenharia, social e política, tentando assim amenizar as conseqüências das secas tanto para as populações diretamente afetadas (os flagelados), bem como as classes políticas locais.
Um exemplo na área social foram as ações durante a seca de 1877–1879. Nesta, o governo do império incentivou a migração de uma grande parte da população do Ceará para a Amazônia e outras regiões. Com esta campanha, os migrantes cearenses agilizaram o Primeiro Ciclo da Borracha. Essa campanha se repete na seca de 1943, desta vez coordenada e centalizada por uma instância federal, o Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia — SEMTA, com o apoio financeiro dos Acordos de Washington, e assim agilizou o Segundo Ciclo da Borracha.
Como exemplo da ações na área de engenharia temos a iniciativa de D. Pedro II, que depois da seca de 1877 envia uma equipe de engenheiros para a região nordestina para estudar as possibilidades de projetos de engenharia com a intenção de amenizar as conseqüências das secas. Os resultados desses estudos, realizados por engenheiros brasileiros e ingleses, indicaram a construção de barragens ou açudes. Um bom exemplo disto é o projeto da construção do Açude do Cedro, uma obra que foi iniciada pelo primeiro governo republicano de Deodoro da Fonseca e finalizada na gestão de Afonso Pena.
A criação do Instituto de Obras Contra as Secas (IOCS), atual Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), em 1909 por Nilo Peçanha é uma das respostas governamentais ao fenômeno da seca. Os campos de concentração no Ceará ou os "currais do governo", foram reações governamentais executadas nas secas de 1915 e 1932 no estado do Ceará.

A seca do quinze


MORTOS ERAM JOGADOS NA BEIRA DOS TRILHOS

A seca de 1915 foi o cenário para obras escritas como o livro O Quinze, de Raquel de Queiroz, bem com para a implatação do primerio campo de concentração no Ceará, no Alagadiço, ao oeste de Fortaleza. No Alagadiço, estima-se um ajuntamento de 8 mil pessoas, cuidadas com alguma comida e sob a vigília de soldados. A razão para o uso desta estratégia foi os temores de invasões e saques dos flagelados da seca em Fortaleza — isso já acontecera na seca de 1877, quando sertanejos famintos invadiram a capital cearense, atemorizando a população urbana. Esse campo foi desfeito e as vítimas foram dispersadas em 18 de dezembro do mesmo ano. Durante essa seca, muitos cearenses também migraram para a Amazônia.

A seca de 1932

Na seca de 1932 o nordeste brasileiro sofria com as conseqüências da estiagem, mas também vivia um momento hitórico próprio dentro da era de Getúlio Vargas; Lampião e seu bando centralizavam as atenções dos políticos; as oligarquias políticas do Nordeste mudavam de nomes: Padre Cícero ainda tinha influência política e milagrosa para os sertanejos e a irmandade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto atraia centenas de flagelados para os arredores de Crato, no Ceará. Com o temor da intensa invasão de flagelados para Fortaleza — e para outras grandes cidades do Ceará — a estratégia dos Currais do Governo mais uma vez foi implantada, só que desta vez não somente em Fortaleza, mas também em cidades com alguma estrutura básica e com estações de trens. Além dos campos de concentração na capital da Terra da Luz, um no já conhecido Alagadiço e um outro no noroeste da capital, no Pirambu (ou Campo do Urubu como ficou conhecido), foram instalados outros em Crato, em Cariús, Ipu, Quixadá, Quixeramobim e Senador Pompeu. Os sertanejos ali alojados recebiam algum cuidado e comida, e podiam trabalhar nas frentes de obras, sempre sob a vigilância de soldados. Estima-se que cerca de 73 000 flagelados foram confinados nesses campos onde as condições eram desumanas, o que resultou em inúmeras mortes. Ainda durante essa seca, flagelados cearenses foram enviados para o combate nas trincheiras da Revolução de 1932 em São Paulo.

Você quer saber mais?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal

quinta-feira, 22 de abril de 2010

JOAQUIM JOSÉ DA SILVA CHAVIER (TIRADENTES)

TIRADENTES: O Primeiro Grande Mártir da Independência do Brasil



TIRADENTES ( Joaquim José da Silva Xavier) (1746-1792), é considerado o grande mártir da independência do nosso país. Nasceu na Fazenda do Pombal, entre São José ( hoje Tiradentes) e São João del Rei, Minas Gerais. Seu pai era um pequeno fazendeiro. Tiradentes não fez estudos das primeiras letras de modo regular. Ficou órfão aos 11 anos; foi mascate, pesquisou minerais, foi médico prático. Tornou-se também conhecido, na sua época, na então capitania, por sua habilidade com que arrancava e colocava novos dentes feitos por ele mesmo, com grande arte. Sobre sua vida militar, sabe-se que pertenceu ao Regimento de Dragões de Minas Gerais. Ficou no posto de alferes, comandando uma patrulha de ronda do mato, prendendo ladrões e assassinos.

Em 1789 o Brasil-Colônia começava a apresentar algum progresso material. A população crescia, os meios de comunicação eram mais fáceis a exportação de mercadorias para a metrópole aumentava cada vez mais. Os colonos iam tendo um sentimento de autonomia cada vez maior, achando que já era tempo de o nosso país fazer a sua independência do domínio português.
Houve então em Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, no Estado de Minas Gerais, uma conspiração com o fim de libertar o Brasil do jugo português e proclamar a República. Uma das causas mais importantes do movimento de Vila Rica foi a independência dos Estados Unidos, que se libertara do domínio da Inglaterra em 1776, e também o entusiasmo dos filhos brasileiros que estudaram na Europa, de lá voltando com idéias de liberdade.
Ainda nessa ocasião não era boa a situação econômica da Capitania de Minas, pois as Minas já não produziam muito ouro e a cobrança dos impostos ( feita por Portugal) era cada vez mais alta.

O governador de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, resolveu lançar a derrama, nome que se dava à cobrança dos impostos. Por isso, os conspiradores combinaram que a revolução deveria irromper no dia em que fossem cobrados esses impostos. Desse modo, o descontentamento do povo, provocado pela derrama, tornaria vitorioso o movimento.
A conjuração começou a ser preparada. Militares, escritores de renome, poetas famosos, magistrados e sacerdotes tomaram parte nos planos de rebelião. Os conspiradores pretendiam proclamar uma república, com a abolição imediata da escravatura, procedendo à construção de uma universidade, ao desenvolvimento da educação para o povo, além de outras reformas sociais de interesse para a coletividade.



Uma das primeiras figuras da Inconfidência foi Tiradentes. O movimento revolucionário ficou apenas em teoria, pois não chegou a se realizar. Em março de 1789, o coronel Joaquim Silvério dos Reis, que se fingia amigo e companheiro, traiu-os, denunciando o movimento ao governador.
Tiradentes achava-se , nessa ocasião no Rio de Janeiro. Percebendo que estava sendo vigiado, procurou esconder-se numa casa da rua dos Latoeiros, atualmente Gonçalves Dias, sendo ali preso. O processo durou 3 anos, sendo afinal lida a sentença dos prisioneiros conjurados. No dia seguinte uma nova sentença modificava a anterior, mantendo a pena de morte somente para Tiradentes.
Tiradentes foi enforcado a 21 de abril de 1792, no Largo da Lampadosa, Rio de Janeiro. Seu corpo foi esquartejado, sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, arrasaram a casa em que morava e declararam infames os seus descendentes.

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segunda-feira, 19 de abril de 2010

DIA DO ÍNDIO

História do Dia do Índio

Comemoramos todos os anos, no dia 19 de Abril, o Dia do Índio. Esta data comemorativa foi criada em 1943 pelo presidente Getúlio Vargas, através do decreto lei número 5.540. Mas porque foi escolhido o 19 de abril?

Origem da data


GUERREIROS TUPÍS

Para entendermos a data, devemos voltar para 1940. Neste ano, foi realizado no México, o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Além de contar com a participação de diversas autoridades governamentais dos países da América, vários líderes indígenas deste contimente foram convidados para participarem das reuniões e decisões. Porém, os índios não compareceram nos primeiros dias do evento, pois estavam preocupados e temerosos. Este comportamento era compreensível, pois os índios há séculos estavam sendo perseguidos, agredidos e dizimados pelos “homens brancos”.
No entanto, após algumas reuniões e reflexões, diversos líderes indígenas resolveram participar, após entenderem a importância daquele momento histórico. Esta participação ocorreu no dia 19 de abril, que depois foi escolhido, no continente americano, como o Dia do Índio.

Comemorações e importância da data

Neste dia do ano ocorrem vários eventos dedicados à valorização da cultura indígena. Nas escolas, os alunos costumam fazer pesquisas sobre a cultura indígena, os museus fazem exposições e os minicípios organizam festas comemorativas. Deve ser também um dia de reflexão sobre a importância da preservação dos povos indígenas, da manutenção de suas terras e respeito às suas manifestações culturais.
Devemos lembrar também, que os índios já habitavam nosso país quando os portugueses aqui chegaram em 1500. Desde esta data, o que vimos foi o desrespeito e a diminuição das populações indígenas. Este processo ainda ocorre, pois com a mineração e a exploração dos recursos naturais, muitos povos indígenas estão perdendo suas terras.

Índios no Brasil


ÍNDIO DA TRIBO XÍNGU

Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus à América havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegava 5 milhões de nativos, aproximadamente. Estes índios brasileiros estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco lingüístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis (região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques (Amazônia) e caraíbas (Amazônia).
Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o território brasileiro, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.

A sociedade indígena na época da chegada dos portugueses.


ÍNDIOS GUARANI

O primeiro contato entre índios e portugueses em 1500 foi de muita estranheza para ambas as partes. As duas culturas eram muito diferentes e pertenciam a mundos completamente distintos. Sabemos muito sobre os índios que viviam naquela época, graças a Carta de Pero Vaz de Caminha (escrivão da expedição de Pedro Álvares Cabral ) e também aos documentos deixados pelos padres jesuítas.
Os indígenas que habitavam o Brasil em 1500 viviam da caça, da pesca e da agricultura de milho, amendoim, feijão, abóbora, bata-doce e principalmente mandioca. Esta agricultura era praticada de forma bem rudimentar, pois utilizavam a técnica da coivara (derrubada de mata e queimada para limpar o solo para o plantio).
Os índios domesticavam animais de pequeno porte como, por exemplo, porco do mato e capivara. Não conheciam o cavalo, o boi e a galinha. Na Carta de Caminha é relatado que os índios se espantaram ao entrar em contato pela primeira vez com uma galinha.
As tribos indígenas possuíam uma relação baseada em regras sociais, políticas e religiosas. O contato entre as tribos acontecia em momentos de guerras, casamentos, cerimônias de enterro e também no momento de estabelecer alianças contra um inimigo comum.
Os índios faziam objetos utilizando as matérias-primas da natureza. Vale lembrar que índio respeita muito o meio ambiente, retirando dele somente o necessário para a sua sobrevivência. Desta madeira, construíam canoas, arcos e flechas e suas habitações (oca). A palha era utilizada para fazer cestos, esteiras, redes e outros objetos. A cerâmica também era muito utilizada para fazer potes, panelas e utensílios domésticos em geral. Penas e peles de animais serviam para fazer roupas ou enfeites para as cerimônias das tribos. O urucum era muito usado para fazer pinturas no corpo.

A organização social dos índios


GUERREIROS CAIAPO

Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.
Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.
A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprender desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o indiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem pratica e vinculada a realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.
Os contatos entre indígenas e portugueses
Como dissemos, os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu trabalho.
O canto que se segue foi muito prejudicial aos povos indígenas. Interessados nas terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. Para tomar as terras, chegavam a matar os nativos ou até mesmo transmitir doenças a eles para dizimar tribos e tomar as terras. Esse comportamento violento seguiu-se por séculos, resultando no pequenos número de índios que temos hoje.
A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu serviço. A cultura indígena era considera pelo europeu como sendo inferior e grosseira. Dentro desta visão, acreditavam que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os índios seguirem a cultura européia. Foi assim, que aos poucos, os índios foram perdendo sua cultura e também sua identidade.

Canibalismo

Algumas tribos eram canibais como, por exemplo, os tupinambás que habitavam o litoral da região sudeste do Brasil. A antropofagia era praticada, pois acreditavam que ao comerem carne humana do inimigo estariam incorporando a sabedoria, valentia e conhecimentos. Desta forma, não se alimentavam da carne de pessoas fracas ou covardes. A prática do canibalismo era feira em rituais simbólicos.

Religião Indígena


OCAS EM CONSTRUÇÃO

Cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados. Porém, todas as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas. O pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos chegavam a enterrar o corpo dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do cadáver ficavam os objetos pessoais. Isto mostra que estas tribos acreditavam numa vida após a morte.

Principais etnias indígenas brasileiras na atualidade e população estimada.

Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara (7.700).
Fonte: Funai (Fundação Nacional do Índio).

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domingo, 18 de abril de 2010

100 ANOS DE TANCREDO NEVES


TANCREDO NEVES

Tancredo nasceu em São João Del Rey no dia 4 de março de 1910. Foi deputado federal, senador e governador de Minas. Também fez parte do gabinete ministerial de Getúlio Vargas - no período democrático - e ocupou o cargo de primeiro-ministro no curto período parlamentarista que o Brasil teve, no início dos anos 60, no governo de João Goulart.
Tido como político conciliador e hábil articulador político, ele ocupava o cargo de governador de Minas pela segunda vez quando lançou-se candidato a presidente. Foi eleito no dia 15 de março de 1985, pela via indireta, no Colégio Eleitoral. Seria o sucessor do general João Baptista de Figueiredo, o último representante da dinastia de militares que se sucederam no poder desde 1964, e havia enorme expectativa em torno do governo que chefiaria.
Com a posse marcada para 15 de março, ele ainda estava compondo seu ministério quando foi vítima de uma infecção generalizada, que o levaria à morte 31dias depois. Seu vice era José Sarney, oriundo do PDS, antigo partido de sustentação da ditadura. As multidões que saíram às ruas para a despedida final, em São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, foram o atestado do trauma que a morte representou para a chamada Nova República.
Passados 25 anos e cinco presidentes, um dos quais apeado do poder por um processo de impeachment, a memória dos 50 anos da carreira política de Tancredo parece cada vez mais reduzida ao período de transição democrática, quando participou da campanha pelas eleições diretas e, em seguida, foi ao Colégio Eleitoral.



"Os jovens não sabem quem ele foi e os mais velhos estão restritos às imagens das Diretas Já. Só quem conhece a história do Brasil sabe quem ele foi realmente", diz Andrea Neves, neta mais velha de Tancredo e principal articuladora das comemorações do centenário.
Para ela, o avô deveria ser lembrado como um intransigente defensor da ordem e dos princípios democráticos. Ao falar sobre o assunto é capaz de arrolar em minutos mais de uma dezena de episódios marcantes da história em que o avô mostrou fidelidade a esse princípios. Um exemplo: "Na eleição do marechal Castelo Branco, no Congresso, só dois deputados votaram contra. Um foi meu avô."


COLÉGIO ELEITORAL

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quinta-feira, 8 de abril de 2010

TUAREGUES: A FÚRIA DO DESERTO.

Perdidos entre seis países



Quem pensa que tribos percorrendo o deserto do Saara em camelos ou cavalos e morando em tendas é coisa do passado ou de livros de ficção está muito enganado.

Os tuaregues, povo de origem berbere – raça que habitava o norte da África antes da invasão árabe, no século XII –, ainda mantêm muitos de seus hábitos. Seminômades, habitam temporariamente em tendas e viajam pela região em camelos ou cavalos.

Os antigos 'senhores do deserto' foram um dos primeiros povos a se fixar no Saara.

Hoje, vivem dispersos e enfrentam a repressão dos governos dos países que habitam.

Os tuaregues do deserto do Saara estão espalhados atualmente em seis países: Argélia, Burkina Fasso, Líbia, Mali, Níger e Nigéria. Com a independência destes, eles acabaram virando minoria. Isso tem uma explicação. No passado, membros das etnias dos atuais governantes desses países serviam como escravos para as tribos tuaregues. Após a independência, eles passaram a ser perseguidos pelo governo. Em 1986, os tuaregues foram expulsos da Argélia e, em 1990, obrigados a sair da Líbia, refugiando-se em Níger e em Mali.
Para piorar, os tuaregues habitam áreas de extração

de petróleo e urânio, o que os coloca em posição contrária aos interesses econômicos de grupos que exploram esses recursos naturais. Muitas vezes, principalmente na década de 1990, os tuaregues lutaram contra exércitos oficiais. Na maioria desses embates, perderam de forma arrasadora.

Não há um censo para verificar o número oficial de habitantes do deserto, mas estima-se que hoje existam cerca de 1 milhão de tuaregues, a maior parte vivendo na Argélia e em Mali.

Piratas do deserto



No passado, os tuaregues eram conhecidos como os piratas do deserto. Munidos de lanças, espadas e escudos, eles cobravam uma espécie de pedágio de quem passasse por seus domínios. O Saara já foi uma importante rota de comércio, por onde transitavam caravanas de todos os tamanhos – algumas até com 12 mil camelos –, transportando ouro, escravos e outros bens preciosos. O domínio dos tuaregues sobre o mar de areia acabou no princípio do século, quando foram subjugados pelos franceses. Hoje em dia, a pirataria foi substituída pelo comércio de sal. A agricultura de subsistência e a criação de pequenos rebanhos de caprinos também são praticadas.

Cultura preservada


Os tuaregues conservam com poucas alterações sua cultura – incluindo a religião islâmica, a língua (dialetos do idioma berbere, como o tamahak e o tamajek) e uma divisão social que lembra a do feudalismo. Existem nobres (imajeghan) e servos (imghad, que fazem o serviço doméstico) e uma camada intermediária (imrad) equivalente à dos vassalos. Os servos não podem ser vendidos e, se maltratados, podem mudar de senhor – um vexame para o nobre abandonado. Há também artesãos, sacerdotes e, no passado, escravos, em geral negros.



A escrita tuaregue, chamada tifinagh, deriva do antigo alfabeto líbio e permite três maneiras de escrever: da esquerda para a direita, da direita para a esquerda e de baixo para cima.

Os tuaregues são monogâmicos e, contrariando a regra de outros povos muçulmanos, há igualdade de direitos entre homens e mulheres. Tapar o rosto, aliás, é obrigatório para homens em mais ocasiões do que para mulheres.



Representantes da nobreza podem se casar com servos – pois estes também possuem puro sangue tuaregue –, mas não com os vassalos, que são mestiços. É comum o noivo pagar pela noiva, mas ela tem liberdade para aceitá-lo ou não. E – as feministas vão adorar esta – uma esposa insatisfeita pode oficialmente arranjar um amante.

Além de levar a tiracolo citações do Corão, o livro sagrado do islamismo, os tuaregues se protegem espiritualmente com talismãs e amuletos, presos à roupa e aos camelos. Esses objetos (feitos à base de couro, metais ou pedras preciosas) são, em geral, confeccionados pelas mulheres.


Leandro Claudir é Acadêmico de História pela Universidade Luterana do Brasil, Técnico em Informática pela QI Escolas e Faculdades. Habilitado em Liderança de Círculos de Controle de Qualidade Empresarial pelo Sesi. 

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VÁZQUEZ-FIGUEROA, Alberto. "Tuaregue". Algés: DIFEL- Difusão Editorial SA, 1981.

VÁZQUEZ-FIGUEROA, Alberto. Los ojos Del Tuareg. México D.F. : Random House Español, 2000.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A CIVILIZAÇÃO MAIA

Maias



A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, notável por sua língua escrita (único sistema de escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo), pela sua arte, arquitetura, matemática e sistemas astronômicos. Inicialmente estabelecidas durante o Período pré-clássico (2000 a.C. a 250 d.C.), muitas cidades maias atingiram o seu mais elevado estado de desenvolvimento durante o Período clássico (250 d.C. a 900 d.C.), continuando a se desenvolver durante todo o período pós-clássico, até a chegada dos espanhóis. No seu auge, era uma das mais densamente povoadas e culturalmente dinâmicas sociedades do mundo.
A civilização maia divide muitas características com outras civilizações da Mesoamérica, devido ao alto grau de interação e difusão cultural que caracteriza a região. Avanços como a escrita, epigrafia e o calendário não se originaram com os maias; no entanto, sua civilização se desenvolveu plenamente. A influência dos Maias pode ser detectada em países como Honduras, Guatemala, El Salvador e na região central do México, há mais de 1000 km da área Maia. Muitas influências externas são encontrados na arte e arquitetura Maia, o que acredita-se ser resultado do intercâmbio comercial e cultural, em vez de conquista externa direta. Os povos maias nunca desapareceram, nem na época do declínio no Período Clássico, nem com a chegada dos conquistadores espanhóis e a subsequente colonização espanhola das Américas. Hoje, os maias e seus descendentes formam populações consideráveis em toda a área antiga maia e mantém um conjunto distinto de tradições e crenças que são o resultado da fusão das ideologias pré-colombianas e pós-conquista (e estruturado pela aprovação quase total do catolicismo romano). Muitas línguas maias continuam a ser falados como línguas primárias ainda hoje; o Rabinal Achí, uma obra literária na língua achi, declarada uma obra-prima do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2005.

História



Descobertas arqueológicas mostram que os maias começaram a edificar sua arquitetura cerimonial há 3000 anos. Entre os estudiosos, há um certo desacordo sobre os limites e diferenças entre a civilização maia e a cultura mesoamericana pré-clássica vizinha dos olmecas. Os olmecas e os maias antigos parecem ter-se influenciado mutuamente.
Os monumentos mais antigos consistem em simples montículos remanescentes de tumbas, precursoras das pirâmides erguidas mais tarde.
Eventualmente, a cultura olmeca ter-se-ia desvanecido depois de dispersar a sua influência na península de Iucatã, na Guatemala e em outras regiões.
Os maias construíram as famosas cidades de Tikal, Palenque, Copán e Calakmul, e também Dos Pilas, Uaxactún, Altún Ha, e muitos outros centros habitacionais na área. Jamais chegaram a desenvolver um império embora algumas cidades-estado independentes tenham formado ligas temporárias, associações e mesmo rápidos períodos de suserania. Os monumentos mais notáveis são as pirâmides que construíram em seus centros religiosos, junto aos palácios de seus governantes. Outros restos arqueológicos muito importantes são as chamadas estelas (os maias as chamam de tetún, ou "três pedras"), monolitos de proporções consideráveis que descrevem os governantes da época, sua genealogia, seus feitos de guerra e outros grandes eventos, gravados em caracteres hieroglíficos.
Os maias tinham economia preponderantemente agrícola embora praticassem ativamente o comércio em toda a Mesoamérica e possivelmente para além desta. Entre os principais produtos do comércio estavam o jade, o cacau, o sal e a obsidiana.

Decadência

Nos séculos VIII e IX a cultura maia clássica entrou em decadência, abandonando a maioria das grandes cidades e as terras baixas centrais. A guerra, doenças, inundações e longas secas, ou ainda a combinação destes fatores são freqüentemente sugeridos como os motivos da decadência.
Existem evidências de uma era final em que a violência se expandia: cidades amplas e abertas foram então fortemente guarnecidas por muradas, às vezes visivelmente construídas às pressas. Teoriza-se também com revoltas sociais em que classes campesinas acabaram se revoltando contra a elite urbana nas terras baixas centrais.
Os estados maias pós-clássicos também continuaram prosperando nos altiplanos do sul. Um dos reinos maias desta área, Quiché, é o responsável pelo mais amplo e famoso trabalho de historiografia e mitologia maias, o "Popol Vuh".
A conquista pelo império espanhol
Os territórios maias foram absorvidos durante o processo de expansão do império asteca por volta do século XV.
Por fim, no ano de 1519, Hernán Cortez inicia a conquista do território asteca, incluindo as regiões anteriormente pertencentes aos maias.
Algumas cidades ofereceram uma grande e feroz resistência; a última cidade estado não foi subjugada pelos espanhóis senão em 1697.

Panorama das descobertas



Cristóvão Colombo, que tomou posse da ilhota (San Salvador) em nome da Coroa de Castela em 12 de outubro de 1492 e vagou pelas ilhas do Haiti, Cuba e Jamaica, julgava tratar-se das costas ocidentais de Cipango (Japão) e Catai (China). De retorno, a mercadoria mais interessante que trouxe foram habitantes das terras ocidentais, os índios Caraíbas (vendeu 509 deles em Sevilha em 1495 e seu irmão vendeu 300 no ano seguinte em Cádiz) que pela sua nudez e modos logo denunciaram não pertencerem aos reinos das índias, havendo até quem dissesse que nem mesmo descendentes de Adão eram.
Assim, logo se alastrou o preceito de que se chegara apenas nas antilhas ou seja, terra inculta e inóspita a caminho das Índias, razão por que, em 1506, Juan Dias de Solis e Vicente Yáñez Pinzón, quando chegaram ao México, no extremo norte do Iucatã, julgaram tratar-se apenas de mais outra ilha.
Nem no sôfrego desembarque emergencial de um punhado de sobreviventes de uma expedição de Vasco Nuñes de Balboa, em 1511, nas costas do México, nem a chegada de Ponce de León em 1513, mais ao norte, na Flórida, deram notícia dos Maias, que continuaram ignorados mesmo de Fernando Cortez quando se apoderava do Império Asteca no México Central a partir de 1519.

Primeiro contato



Foi somente em 4 de março de 1517 que a flotilha comandada por Francisco Hernandes de Córdoba – que estava à cata de índios para os escravizar nas fazendas de Cuba) –, fugindo a uma tempestade que já durava dois dias, aportou no norte do Iucatã e logo foi assediada por algumas canoas repletas de maias vestidos em túnicas de algodão e (em razão de suas aparências) os espanhóis logo lhes atribuíram mais razão que os habitantes de Cuba.
As sólidas e grandiosas construções ("casas de cal y canto"), visíveis do mar, inspiraram o nome que os espanhóis deram ao lugar: "Gran Cairo" que evocava a cultura islamita da qual os ibéricos eram tradicionais adversários (recorrentemente chamavam as pirâmides de mesquitas). Tratava-se do primeiro contacto entre as duas civilizações.
Entendendo-se por sinais, os espanhóis aceitaram o convite e desembarcaram no dia seguinte e, após duas horas de marcha continente adentro, foram surpreendidos pelo ataque dos maias no qual, já de início, sucumbiram 15 espanhóis. E sucumbiriam todos, se não fora o uso dos mosquetes que, mais pelo barulho que pelo efeito fatal, pôs os atacantes em fuga.
Nos conta Bernal Diaz de Castilho em sua obra História da Conquista da Nova Espanha, que ficaram horrorizados pelo grande número de ídolos de argila, uns com cabeças monstruosas, mulheres de grande estatura, todos em cenas e gestos diabólicos e que …Gonzales, o padre da expedição, passou os cinco dedos em diversos deles e confiscou todo o ouro que encontrou.
Apresando dois maias, a expedição se fez ao mar novamente e navegou a oeste e sul até chegar na atual Campeche cujas duas grandes torres visíveis ao longe do mar inspiraram o nome Punta de las Mujeres dado ao local.
Aí os espanhóis horrorizaram-se, pois o sacerdote local acabara de praticar um sacrifício, e as paredes, assim como os cabelos do sacerdote, estavam ensopados de sangue (e era preceito rigoroso que não se os podia limpar). O mal estar deve ter ficado explícito e o sacerdote, convocando um grande número de guerreiros, fez os espanhóis entenderem que não eram benvindos: acenderam uma pequena fogueira deram a entender que se eles não se fossem até o fogo se extinguir, iria haver violência.
Cautelosa a tripulação retirou-se e rumou mais para o sul até Champoton onde desembarcaram pois a provisão de água dos navios tinha se acabado e era necessário renová-la. Tentando encher suas pipas e vasilhas num poço do maias, estes os hostilizaram e atacaram por dias a fio, flexando-os a distância do fio das espadas e dos tiros de mosquetes, que já não os assustavam.
Sem outra alternativa, os espanhóis romperam o cerco e fugiram em direção aos navios, abandonando as vasilhas de água. Na fuga, os batéis emborcaram e os espanhóis seguiram meio a nado, meio agarrados aos escombros, e depois foram resgatados.
Da centena de homens do início da expedição, neste embate cinqüenta foram mortos e os que não tiveram suas gargantas cortadas com espadas de madeira encravadas de sílex foram capturados para servirem a futuros sacrifícios, e todos os demais ficaram feridos a exceção de um único soldado que surpreendentemente saiu ileso.
O próprio cronista Bernal Diaz de Castilhos, então com 25 anos, havia levado três flechadas, e o chefe da expedição, Hernandes de Córdoba, veio a falecer das complicações dos ferimentos daqueles combates.
Feitos ao mar sem água potável, com pesadas baixas mas com um punhado de ouro, estes primeiros conquistadores foram o estopim para futuras expedições de outros tantos aventureiros. Assim se iniciava a conquista dos estados maias.

Redescoberta dos maias



As colônias espanholas americanas estavam muito afastadas do mundo exterior, e as ruínas das grandes cidades antigas eram pouco conhecidas exceto pelos locais.
Entretanto, em 1839, o explorador americano John Lloyd Stephens, escutando notícias de ruínas perdidas nas selvas, visitou Copán, Palenque, e outras localidades acompanhado do arquiteto e desenhista Frederick Catherwood.
Seu diário de viagem ilustrado sobre as ruínas incendiaram um forte interesse pela região e sua gente promovendo a assimilação do vínculo com a cultura maia entre os dirigentes locais.
A maioria da população rural contemporânea da Guatemala e Belize é maia por descendência e idioma primário; em áreas rurais do México ainda existe uma cultura maia.
Ciência e tecnologia

Urbanismo

Ainda que as cidades maias estivessem dispersas na diversidade da geografia da Mesoamérica, o efeito do planejamento parecia ser mínimo; suas cidades foram construídas de uma maneira um pouco descuidada, como ditava a topografia e declive particular. A arquitetura maia tendia a integrar um alto grau de características naturais. Por exemplo, algumas cidades existentes nas planícies de pedra calcária no norte do Iucatã se converteram em municipalidades muito extensas enquanto que outras, construídas nas colinas das margens do rio Usumacinta, utilizaram os declives e montes naturais de sua topografia para elevar suas torres e templos a alturas impressionantes. Ainda assim prevalece algum sentido de ordem, como é requerido por qualquer grande cidade.
No começo da construção em grande escala, geralmente se estabelecia um alinhamento com as direções cardinais e, dependendo do declive e das disponibilidades de recursos naturais como água fresca (poços ou cenotes), a cidade crescia conectando grandes praças com as numerosas plataformas que formavam os fundamentos de quase todos os edifícios maias, por meio de calçadas chamadas sacbeob (singular sacbe).
No coração das cidades maias existiam grandes praças rodeadas por edifícios governamentais e religiosos, como a acrópole real, grandes templos de pirâmides e ocasionalmente campos de jogo de bola. Imediatamente para fora destes centros rituais estavam as estruturas das pessoas menos nobres, templos menores e santuários individuais. Entretanto, quanto menos sagrada e importante era a estrutura, maior era o grau de privacidade. Uma vez estabelecidas, as estruturas não eram desviadas de suas funções nem outras eram construídas, mas as existentes eram freqüentemente reconstruídas ou remodeladas.
As grandes cidades maias pareciam tomar uma identidade quase aleatória, que contrasta profundamente com outras cidades da Mesoamérica como Teotihuacán em sua construção rígida e quadriculada.
Ainda que a cidade se dispusesse no terreno na forma em que a natureza ditara, se punha cuidadosa atenção à orientação dos templos e observatórios para que fossem construídos de acordo com a interpretação maia das órbitas das estrelas. Afora os centros urbanos constantemente em evolução, existiam os lugares menos permanentes e mais modestos do povo comum.
O desenho urbano maia pode descrever-se singelamente como a divisão do espaço em grandes monumentos e calçadas. Neste caso, as praças públicas ao ar livre eram os lugares de reunião para as pessoas. Por esta razão, o enfoque no desenho urbano tornava o espaço interior das construções completamente secundário. Somente no período pós-clássico tardio, as grandes cidades maias se converteram em fortalezas que já não possuíam, a maioria das vezes, as grandes e numerosas praças do período clássico.

Sistema de escrita



O sistema de escrita maia (geralmente chamada hieroglífica por uma vaga semelhança com a escrita do antigo Egito, com o qual não se relaciona) era uma combinação de símbolos fonéticos e ideogramas. É o único sistema de escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo.
As decifrações da escrita maia têm sido um longo e trabalhoso processo. Algumas partes foram decifradas no final do século XIX e início do século XX (em sua maioria, partes relacionadas com números, calendário e astronomia), mas os maiores avanços se fizeram nas décadas de 1960 e 1970 e se aceleraram daí em diante de maneira que atualmente a maioria dos textos maias podem ser lidos quase completamente em seus idiomas originais. Lamentavelmente, os sacerdotes espanhóis, em sua luta pela conversão religiosa, ordenaram a queima de todos os códices maias logo após a conquista.
Assim, a maioria das inscrições que sobreviveram são as que foram gravadas em pedra e isto porque a grande maioria estava situada em cidades já abandonadas quando os espanhóis chegaram.
Os livros maias, normalmente tinham páginas semelhantes a um cartão, feitas de um tecido sobre o qual aplicavam uma película de cal branca sobre a qual eram pintados os caracteres e desenhadas ilustrações. Os cartões ou páginas eram atadas entre si pelas laterais de maneira a formar uma longa fita que era dobrada em zigue-zague para guardar e desdobrada para a leitura.
Atualmente restam apenas três destes livros e algumas outras páginas de um quarto, de todas as grandes bibliotecas então existentes. Freqüentemente são encontrados, nas escavações arqueológicas, torrões retangulares de gesso que parecem ser restos do que fora um livro depois da decomposição do material orgânico.
Relativamente aos poucos escritos maias existentes, Michael D. Coe, um proeminente arqueólogo da Universidade de Yale disse:
Nosso conhecimento do pensamento maia antigo representa só uma minúscula fração do panorama completo, pois dos milhares de livros nos quais toda a extensão dos seus rituais e conhecimentos foram registrados, só quatro sobreviveram até os tempos modernos (como se toda a posteridade soubesse de nós, baseados apenas em três livros de orações e "El Progreso del Peregrino).


Livros maias• Chilam Balam
• Popol Vuh, (que significa livro da reunião ou comunidade, considerado a Biblia maia)
• Rabinal Achí
• Anais dos Caqchiqueles
• Códices maias

Matemática



Os maias (ou seus predecessores olmecas) desenvolveram independentemente o conceito de zero (de fato, parece que estiveram usando o conceito muitos séculos antes do velho mundo), e usavam um sistema de numeração de base 20.
As inscrições nos mostram, em certas ocasiões, que trabalhavam com somas de até centena de milhões. Produziram observações astronômicas extremamente precisas; seus diagramas dos movimentos da Lua e dos planetas se não são iguais, são superiores aos de qualquer outra civilização que tenha trabalhado sem instrumentos óticos. Ao encontro desta civilização com os conquistadores espanhóis, o sistema de calendários dos maias já era estável e preciso, notavelmente superior ao calendário gregoriano, muitas vezes reformado depois disto.

Cultura

Artes

Muitos consideram a arte maia da Era Clássica (200 a 900 d.C.) como a mais sofisticada e bela do Novo Mundo antigo. Os entalhes e relevos em estuque de Palenque e a estatuária de Copán são especialmente refinados, mostrando uma graça e observação precisa da forma humana, que recordaram aos primeiros arqueólogos da civilização do Velho Mundo, daí o nome dado à era.
Somente existem fragmentos da pintura avançada dos maias clássicos, a maioria sobrevivente em artefatos funerários e outras cerâmicas. Também existe uma construção em Bonampak que tem murais antigos e que, afortunadamente, sobreviveram a um acidente desconhecido até hoje.
Com as decifrações da escrita maia se descobriu que essa civilização foi uma das poucas nas quais os artistas escreviam seu nome em seus trabalhos.

Religião



Pouco se sabe a respeito das tradições religiosas dos maias, a religião ainda não é completamente entendida por estudiosos. Assim como os astecas e os incas, os maias acreditavam na contagem cíclica natural do tempo. Os rituais e cerimônias eram associados a ciclos terrestres e celestiais que eram observados e registrados em calendários separados. Os sacerdotes maias tinham a tarefa de interpretar esses ciclos e fazer um panorama profético sobre o futuro ou passado com base no número de relações de todos os calendários. A purificação incluia jejum, abstenção sexual e confissão. A purificação era normalmente praticada antes de grandes eventos religiosos. Os maias acreditavam na existência de três planos principais no cosmo: a Terra, o céu e o submundo.
Os maias praticavam a sacrificação de humanos e animais como forma de renovar ou estabelecer relações com o mundo dos deuses. Esses rituais obedeciam diversas regras. Normalmente, eram sacrificados pequenos animais, como perus e codornas, mas nas ocasiões muito exepcionais (tais como adesão ao trono, falecimento do monarca, enterro de algum membro da família real ou períodos de seca) aconteciam sacrificíos de humanos. Acredita-se que crianças eram muitas vezes oferecidas como vítimas sacrificiais porque os maias acreditavam que essas eram mais puras.
Os deuses maias não eram entidades separadas como os deuses gregos. Também não existia a separação entre o bem e do mal e nem a adoração de somente um deus regular, mas sim a adoração de vários deuses conforme a época e situação que melhor se aplicava para aquele deus.

Arquitetura

A arquitetura maia abarca vários milênios; ainda assim, mais dramática e facilmente reconhecíveis como maias são as fantásticas pirâmides escalonadas do final do período pré-clássico em diante. Durante este período da cultura maia, os centros de poder religioso, comercial e burocrático cresceram para se tornarem incríveis cidades como Chichén Itzá, Tikal e Uxmal. Devido às suas muitas semelhanças assim como diferenças estilísticas, os restos da arquitetura maia são uma chave importante para o entendimento da evolução de sua antiga civilização.

Materiais de construção

Um aspecto surpreendente das grandes estruturas maias é a carência de muitas das tecnologias avançadas que poderiam parecer necessárias a tais construções. Não há notícia do uso de ferramentas de metal, polias ou veículos com rodas. A construção maia requeria um elemento com abundância, muita força humana, embora contasse com abundância dos materiais restantes, facilmente disponíveis.
Toda a pedra usada nas construções maias parece ter sido extraída de pedreiras locais; com maior freqüência era usada pedra calcária, que, ainda que extraída e exposta, permanecia adequada para ser trabalhada e polida com ferramentas de pedra, só endurecendo muito tempo depois.
Além do uso estrutural de pedra calcária, esta era usada em argamassas feitas do calcário queimado e moído, com propriedades muito semelhantes às do atual cimento, geralmente usada para revestimentos, tetos e acabamentos e para unir as pedras apesar de, com o passar do tempo e da melhoria do acabamento das pedras, reduzirem esta última técnica, já que as pedras passaram a se encaixar quase perfeitamente. Ainda assim o uso da argamassa permaneceu crucial em alguns tetos de postes e vergas sobre portas e janelas (dintel).
Quando se tratava das casas comuns, os materiais mais usados eram as estruturas de madeira, adobe nas paredes e cobertura de palha, embora tenham sido descobertas casas comuns feitas de pedra calcária, senão total mas parcialmente. Embora não muito comum, na cidade de Comalcalco, foram encontrados ladrilhos de barro cozido, possivelmente solução encontrada para o acabamento em virtude da falta de depósitos substanciais de boa pedra.

Processo de construção

Todas as evidências parecem sugerir que a maioria dos edifícios foi construída sobre plataformas aterradas cuja altura variava de menos de um metro, no caso de terraços e estruturas menores, a até quarenta e cinco metros, no caso de grandes templos e pirâmides. Uma trama inclinada de pedras partia das plataformas em pelo menos um dos lados, contribuindo para a aparência bi-simétrica comum à arquitetura maia. Dependendo das tendências estilísticas que prevaleciam na área e época, estas plataformas eram construídas de um corte e um aterro de entulhos densamente compactado. Como no caso de muitas outras estruturas, os relevos maias que os adornavam, quase sempre se relacionavam com o propósito da estrutura a que se destinavam. Depois de terminadas, as grandes residências e os templos eram construídos sobre as plataformas. Em tais construções, sempre erguidas sobre tais plataformas, é evidente o privilégio dado ao aspecto estético exterior em contra-ponto à pouca atenção à utilidade e funcionalidade do interior.
Parece haver um certo aspecto repetitivo quanto aos vãos das construções nos quais os arcos (como curvas) são raros, mas freqüentemente retos, angulados ou imbricados, tentando mais reproduzir a aparência de uma cabana maia, do que efetivamente incrementar o espaço interior. Como eram necessárias grossas paredes para sustentar o teto, alguns edifícios das épocas mais posteriores utilizaram arcos repetidos ou uma abóbada arqueada para construir o que os maias denominavam pinbal, ou saunas, como a do Templo da Cruz em Palenque. Ainda que completadas as estruturas, a elas iam-se anexando extensos trabalhos de relevo ou pelo menos reboco para aplainar quaisquer imperfeições. Muitas vezes sob tais rebocos foram encontrados outros trabalhos de entalhes e dintéis e até mesmo pedras de fachadas. Comumente a decoração com faixas de relevos era feita em redor de toda a estrutura, provendo uma grande variedade de obras de arte relativas aos habitantes ou ao propósito do edifício. Nos interiores, e notadamente em certo período, foi comum o uso de revestimentos em reboco primorosamente pintados com cenas do uso cotidiano ou cerimonial.
Há sugestão de que as reconstruções e remodelações ocorriam em virtude do encerramento de um ciclo completo do calendário maia de conta larga, de 52 anos. Atualmente, pensa-se que as reconstruções eram mais instigadas por razões políticas do que pelo encerramento do ciclo do calendário, já que teria havido coincidência com a data da assunção de novos governantes. Não obstante, o processo de reconstrução em cima de estruturas velhas é uma prática comum. Notavelmente, a acrópole de Tikal, parece ser a síntese de um total de 1500 anos de modificações arquitetônicas.

• Plataformas cerimoniais

Estas eram comumente plataformas de pedra calcária com muros de menos de quatro metros de altura onde se realizavam cerimônias públicas e ritos religiosos. Construídas nas grandes plataformas, eram ao menos realçadas com figuras talhadas em pedra e às vezes tzompantli ou uma estaca usada para exibir as cabeças das vítimas geralmente os derrotados nos jogos de bola mesoamericanos.

• Palácios

Grandes e geralmente muito decorados, os palácios geralmente ficavam próximos do centro das cidades e hospedavam a elite da população. Qualquer palácio real grande ou ao menos que tivesse várias câmaras ou erguido em vários níveis, tem sido chamado de acrópole. Tais construções consistiam de várias pequenas câmaras ou pelo menos um pátio interno, parecendo propositadas a servirem de residência a uma pessoa ou pequeno grupo familiar decorada como tal.
Os arqueólogos parecem estar de acordo em que muitos palácios são também o lugar de muitas tumbas mortuárias. Em Copán, debaixo de 400 anos de remodelações posteriores, se descobriu a tumba de um de seus antigos governantes e a acrópole de Tikal parece ter sido o lugar de vários sepultamentos do final do período pré-clássico e início do clássico.
Existe, no entanto, alguns arqueólogos que afirmam serem os palácios locais não muito prováveis para a morada da elite governante, uma vez que tais moradas mostram-se demasiadamente infestadas de morcegos e um tanto quanto desconfortáveis; sugerindo - assim - ser um espécie de mosteiro ou quartéis para as comunidades sacerdotais. Nessa linha de pensamento, contudo, caímos em uma outra rua sem saída: não existem comprovações da existência de ordens eclesiásticas ou monásticas nos tempos clássicos. Concluir, portanto, que fossem moradas das classes governamentais - neste contexto - é a solução mais viável; o que não impede a existência de diversas teorias sobre a origem e a função de tais palácios.

• Grupos E

Os estudiosos têm denominado de "Grupo E" à freqüentemente encontrada formação de três pequenas construções, sempre situadas a oeste das cidades, tratando-se de um intrigante mistério a sua recorrência.
Estas construções sempre incluem pelo menos uma pequena pirâmide-templo a oeste da praça principal que tem sido aceita como observatório devido ao seu preciso posicionamento em relação ao Sol, quando observado da pirâmide principal nos solstícios e equinócios. Outras teses sugerem que sua localização reproduz ou pelo menos se relaciona com a história da criação do universo segundo a mitologia maia, posto que vários de seus adornos a ela, freqüentemente, se referem.

• Pirâmides e templos

Com freqüência os templos religiosos mais importantes se encontravam em cima das pirâmides maias, supostamente por ser o lugar mais perto do céu. Embora recentes descobertas apontem para o uso extensivo de pirâmides como tumbas, os templos raramente parecem ter contido sepulturas. A falta de câmaras funerárias indica que o propósito de tais pirâmides não é servir como tumbas e se as encerram isto é incidental.
Pelas íngremes escadarias, se permitia aos sacerdotes e oficiantes o acesso ao cume da pirâmide onde havia três pequenas câmaras com propósitos rituais. Os templos sobre as pirâmides, a mais de 70 metros de altura, como em El Mirador, de onde se descortinava o horizonte ao longe, constituíram estruturas impressionantes e espetaculares, ricamente decoradas. Comumente possuíam uma crista sobre o teto, ou um grande muro que, teorizam, poderia ter servido para a escrita de sinais rituais para serem vistos por todos.
Como eram ocasionalmente as únicas estruturas que excediam a altura da selva, as cristas sobre os templos eram minuciosamente talhadas com representações dos governantes que se podiam ver de grandes distâncias. Debaixo dos orgulhosos templos estavam as pirâmides que eram, em última instância, uma série de plataformas divididas por escadarias empinadas que davam acesso ao templo.

• Observatórios astronômicos

Os maias foram excepcionais astrônomos e mapearam as fases e cursos de diversos corpos celestes, especialmente da Lua e de Vênus.
Muitos de seus templos tinham janelas e miras demarcatórias (e provavelmente outros aparatos) para acompanhar e medir o progresso das rotas dos objetos observados. Templos arredondados, quase sempre relacionados com Kukulcán, são talvez os mais descritos como observatórios pelos mais modernos guias turísticos de ruínas, mas não há evidências que o seu uso tinha exclusivamente esta finalidade.
Em vários templos sobre pirâmides foram encontradas marcações de miras que indicam que observações astronômicas também foram feitas dali.

• Campos de jogo de bola

Um aspecto do estilo de vida mesoamericano é o seu jogo de bola ritual e seus campos ou estádios, que foram construídos por todo o império maia em grande escala.
Estes estádios normalmente situavam-se nos centros das cidades. Tratava-se de espaços amplos entre duas laterais de plataformas ou rampas escalonadas paralelas, em forma de "I" maiúsculo direcionado para uma plataforma cerimonial ou templo menor. Tais campos foram encontrados na maioria das cidades maias, exceto nas menores.

Você quer saber mais?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal

terça-feira, 30 de março de 2010

A GLÓRIA DA AMÉRICA CENTRAL

Astecas


Pirâmide do Sol

Os astecas (1325 até 1521; a forma azteca também é usada) foram uma civilização mesoamericana, pré-colombiana, que floresceu principalmente entre os séculos XIV e XVI, no território correspondente ao atual México.
• Na sucessão de povos mesoamericanos que deram origem a essa civilização destacam-se os toltecas, por suas conquistas civilizatórias, florescendo entre o século X e o século XII seguidos pelos chichimecas imediatamente anteriores e praticamente fundadores do Império Asteca com a queda do Império Tolteca. O idioma asteca era o nahuatl. Os astecas foram derrotados e sua civilização destruída pelos conquistadores espanhóis, comandados por Fernando Cortez.


História


Pirâmide da Lua

O controle político do populoso e fértil vale do México ficou confuso após 1100. Gradualmente, os astecas, uma tribo do norte, assumiram o poder depois de 1200. Os astecas eram um povo indígena da América do Norte, pertencente ao grupo nahua. Os astecas também podem ser chamados de mexicas (daí México). Migraram para o vale do México (ou Anahuác) no princípio do século XIII e assentaram-se, inicialmente, na maior ilha do lago de Texcoco (depois todo drenado pelos espanhóis), seguindo instruções de seus deuses para se fixarem onde vissem uma águia pousada em um cacto, devorando uma cobra.
A partir dessa base formaram uma aliança com duas outras cidades – Texcoco e Tlacopán – contra Atzcapotzalco, derrotaram-no e continuaram a conquistar outras cidades do vale durante o século XV, quando controlavam todo o centro do México como um Império ou Confederação Asteca, cuja base econômico-política era o modo de produção tributário. No princípio do século XVI, seus domínios se estendiam de costa a costa, tendo ao norte os desertos e ao sul o território maia.
Os astecas, que atingiram alto grau de sofisticação tecnológica e cultural, eram governados por uma monarquia eletiva, e organizavam-se em diversas classes sociais, tais como nobres, sacerdotes, guerreiros, comerciantes e escravos, além de possuírem uma escrita pictográfica e dois calendários (astronômico e litúrgico).
Ao estudar a cultura asteca, deve-se prestar especial atenção a três aspectos: a religião, que demandava sacrifícios humanos em larga escala, particularmente ao Deus da guerra, Huitzilopochtli; a tecnologia avançada, como a utilização eficiente das chinampas (ilhas artificiais construídas no lago, com canais divisórios) e a vasta rede de comércio e sistema de administração tributária.
O império asteca era formado por uma organização estatal que se sobrepôs militarmente a diversos povos e comunidades na Meso-América. Segundo Jorge Luis Ferreira, os astecas possuíam uma superioridade cultural e isso justificaria sua hegemonia política sobre as inúmeras comunidades nestas regiões, o que era argumentado por eles mesmos.
No período anterior a sua expansão os astecas estavam no mesmo estágio cultural de seus vizinhos de outras etnias. Por um processo muito específico, numa expansão rápida, passaram a subjugar, dominar e tributar os povos das redondezas, outrora seus iguais. É importante lembrar estes aspectos pelo fato de terem se tornado dominantes por uma expansão militar, e não por uma suposta sofisticação cultural própria e autônoma. Apesar de sacrifícios humanos serem uma prática constante e muito antiga na Mesoamérica, os astecas se destacaram por fazer deles um pilar de sua sociedade e religião. Segundo mitos astecas, sangue humano era necessário ao sol, como alimento, para que o astro pudesse nascer a cada dia. Sacrifícios humanos eram realizados em grande escala; algumas centenas em um dia só não era incomum. Os corações eram arrancados de vítimas vivas, e levantados ao céu em honra aos deuses. Os sacrifícios eram conduzidos do alto de pirâmides para estar perto dos deuses e o sangue escorria pelos degraus. A economia asteca estava baseada primordialmente no milho, e as pessoas acreditavam que as colheitas dependiam de provisão regular de sangue por meio dos sacrifícios.
Durante os tempos de paz, "guerras" eram realizadas como campeonatos de coragem e de habilidades de guerreiros, e com o intuito de capturar mais vítimas. Eles lutavam com clavas de madeira para mutilar e atordoar, e não matar. Quando lutavam para matar, colocava-se nas clavas uma lâmina de obsidiana.
Sua civilização teve um fim abrupto com a chegada dos espanhóis no começo do século XVI. Tornaram-se aliados de Cortés em 1519. O governante asteca Moctezuma II considerou o conquistador espanhol a personificação do Deus Quetzalcóatl, e não soube avaliar o perigo que seu reino corria. Ele recebeu Cortés amigavelmente, mas posteriormente o tlatoani foi tomado como refém. Em 1520 houve uma revolta asteca e Moctezuma II foi assassinado. Seu sucessor, Cuauhtémoc (filho do irmão de Montezuma), o último governante asteca, resistiu aos invasores, mas em 1521 Cortés sitiou Tenochtitlán e subjugou o império. Muitos povos não-astecas, submetidos à Confederação, se uniram aos conquistadores contra os astecas.

A Sociedade



A sociedade asteca era rigidamente dividida. O grupo social dos pipiltin (nobreza) era formada pela família real, sacerdotes, chefes de grupos guerreiros — como os Jaguares e as Águias — e chefes dos calpulli. Podiam participar também alguns plebeus (macehualtin) que tivessem realizado algum ato extraordinário. Tomar chocolate quente (xocoatl) era um privilégio da nobreza. O resto da população era constituída de lavradores e artesãos. Havia, também, escravos (tlacotin).
Havia, na ordem, começando do plano mais baixo:
• Escravos
• maceualli ou calpulli (membro do clã)
• artesãos e comerciantes
• pochtecas (grandes comerciantes)
• sacerdotes, dignitários civis e militares.

O imperador



Os imperadores astecas em língua Nahuatl eram chamados Hueyi Tlatoani ("O Grande Orador"), termo também usado para designar os governantes das altepetl (cidades). Os imperadores astecas foram os maiores responsáveis tanto pelo crescimento do império, como para a decadência do mesmo. Ahuizotl, por exemplo, foi ao mesmo tempo o imperador mais cruel e o responsável pela maior expansão do império. Já Montezuma II (ou Moctezuma II), tendo sido um imperador justo e pacifico, foi também fraco em suas decisões, permitindo que os espanhóis entrassem em seus domínios, mesmo após a circulação de histórias de que estes teriam massacrado tribos, abalando fatalmente a solidez de seu império, e finalmente degenerando na sua extinção.
A sucessão dos imperadores astecas não era hereditária de pai para filho, sendo estes eleitos por um consenso entre os membros da nobreza.

A religião



Eram politeístas (acreditavam em vários deuses) e acreditavam que se o sangue humano não fosse oferecido ao Sol, a engrenagem do mundo deixaria de funcionar.
Os sacrifícios eram dedicados a:
• Huitzilopochtli ou Tezcatlipoca: o sacrificado era colocado em uma pedra por quatro sacerdotes, e um quinto sacerdote extraía, com uma faca, o coração do guerreiro vivo para alimentar seu Deus;
• Tlaloc: anualmente eram sacrificadas crianças no cume da montanha. Acreditava-se que quanto mais as crianças chorassem, mais chuva o Deus proveria.
No seu panteão havia centenas de deuses. Os principais eram vinculados ao ciclo solar e à atividade agrícola. Observações astronômicas e estudo dos calendários faziam parte do conhecimento dos sacerdotes.
O Deus mais venerado era Quetzalcóatl, a serpente emplumada. Os sacerdotes formavam um poderoso grupo social, encarregado de orientar a educação dos nobres, fazer previsões e dirigir as cerimônias rituais. A religiosidade asteca incluía a prática de sacrifícios. Segundo o divulgado pelos conquistadores o derramamento de sangue e a oferenda do coração de animais e de seres humanos eram ritos imprescindíveis para satisfazer os deuses, contudo se considerarmos a relação da religião com a medicina encontraremos um sem número de ritos.
Há referências a um Deus sem face, invisível e impalpável, desprovido de história mítica para quem o rei de Texoco, Nezaucoyoatl, mandou fazer um templo sem ídolos, apenas uma torre. Esse rei o definia como "aquele, graças a quem nós vivemos".

A medicina

A antropologia médica situa o conhecimento mítico-religioso como forma de racionalidade médica se este se constitui como um sistema lógico e teoricamente estruturado, que preencha como condições necessárias e suficientes os seguintes elementos:
• Uma morfologia (concepção anatômica);
• Uma dinâmica vital ( "fisiologia");
• Um sistema de diagnósticos;
• Um sistema de intervenções terapêuticas;
• Uma doutrina médica (cosmologia).
Pelo menos parcialmente, o sistema asteca preenche tais requisitos. Apresenta-se como teoricamente estruturado, com formação específica (o aprendizado das diversas funções da classe sacerdotal), o relativo conhecimento de anatomia (comparado com sistemas etnomédicos de índios dos desertos americanos ou florestas tropicais) em função, talvez, da prática de sacrifícios humanos mas não necessariamente dependente dessa condição. Há evidências que soldavam fraturas e punham talas em ossos quebrados.
A dinâmica vital da relação tonal (tonalli) – nagual (naualli) ou explicações do efeito de plantas medicinais são pouco conhecidos, contudo o sistema de intervenções terapêuticas através de plantas medicinais, dietas e ritos são evidentes. A doutrina médica tradicional por sua vez, também não é bem conhecida.
No sistema diagnóstico encontramos quatro causas básicas: Introdução de corpo estranho por feitiçaria; Agressões sofridas ao duplo (nagual); Agressões ou perda do tonal; e influências nefastas de espíritos (ares). Em relação a esse conjunto de patologias, os deuses representavam simultaneamente uma categoria de análise de causa e possibilidade de intervenção por sua intercessão. Tlaloc estava associado aos ares e doenças do frio e da pele (úlceras e lepra) e hidropsia; Ciuapipiltin às convulsões e paralisia; Tlazolteotl às doenças do amor que inclusive causavam a morte (tlazolmiquiztli ); Ixtlilton curava as crianças; Lume, ajudava as parturientes; Xipe Totec era o responsável pelas oftalmias.

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