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domingo, 1 de dezembro de 2024

As Nove Cruzadas

Primeira Cruzada (1096-1099): Lançada após o apelo do Papa Urbano II, foi uma tentativa de recuperar Jerusalém dos muçulmanos. A cruzada terminou com a tomada da cidade e a fundação dos reinos cristãos no Levante.

Segunda Cruzada (1147-1149): Lançada em resposta à queda de Edessa, um dos reinos cristãos. Apesar do apoio papal, fracassou, com os cruzados sendo derrotados pelos muçulmanos na Síria.

Terceira Cruzada (1189-1192): Conhecida como a Cruzada dos Reis, liderada por Ricardo Coração de Leão, Filipe Augusto e Frederico I Barbarossa. Apesar de vitórias em batalhas, não conseguiu retomar Jerusalém, que ficou sob controle de Saladino.

Quarta Cruzada (1202-1204): Originalmente planejada para reconquistar Jerusalém, desviou-se para Constantinopla, onde os cruzados saquearam a cidade, enfraquecendo o Império Bizantino e alterando o equilíbrio político.

Quinta Cruzada (1217-1221): Focada no Egito, onde os cruzados tentaram conquistar o Cairo para enfraquecer os muçulmanos. O fracasso foi marcado por uma retirada desorganizada e pela morte de líderes militares.

Sexta Cruzada (1228-1229): Liderada pelo imperador Frederico II, que negociou a devolução pacífica de Jerusalém aos cristãos, sem confrontos armados, o que foi visto com desconfiança pela Igreja.

Sétima Cruzada (1248-1254): Liderada pelo rei Luís IX da França, que tentou conquistar o Egito, mas foi derrotado e feito prisioneiro. Após ser libertado, ele organizou a oitava cruzada.

Oitava Cruzada (1270): Também liderada por Luís IX, esta cruzada foi dirigida contra Tunes, na África do Norte. No entanto, Luís IX morreu de doença, e a expedição fracassou, marcando o fim das grandes cruzadas.

Nona Cruzada (1271–1272): Geralmente considerada a última, liderada por Eduardo I da Inglaterra. Foi uma campanha menor e sem resultados expressivos.

Além dessas, houve movimentos menores, como a Cruzada das Crianças (1212) e outras cruzadas no Leste Europeu e na Península Ibérica, voltadas contra grupos como os cátaros e os eslavos pagãos.

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

O papel da mulher na Grécia, Roma e na Idade Média

 Na Grécia e Roma antigas, o papel da mulher era amplamente restrito ao domínio privado, com poucas exceções. Na Grécia, as mulheres de classes altas, como as atenienses, eram excluídas da vida pública e da política, sendo seu papel voltado essencialmente para o cuidado da casa e dos filhos. Elas recebiam educação em algumas situações, mas com foco em tarefas domésticas e na formação moral e ética para serem boas esposas e mães. Já em Esparta, as mulheres tinham mais liberdade, podendo praticar atividades físicas e até exercer influência na vida política, embora ainda fossem limitadas em muitos aspectos. Em Roma, as mulheres tinham um status um pouco mais elevado, podendo herdar bens e participar de cultos religiosos. No entanto, sua presença na política era muito restrita, com poucas mulheres exercendo influências notáveis, como as esposas de imperadores.

Durante a Idade Média, o papel das mulheres foi moldado fortemente pela Igreja Católica, que as via como responsáveis pela moralidade e educação dentro do lar. O casamento era considerado sua principal função, e muitas mulheres da nobreza eram responsáveis por gerir propriedades e comandar terras, especialmente quando seus maridos estavam ausentes ou faleciam. Embora as mulheres da nobreza tivessem algum poder, as da classe trabalhadora estavam geralmente confinadas ao lar ou ao trabalho manual, muitas vezes dentro de contextos familiares. As mulheres também desempenhavam papéis importantes nos conventos, onde podiam estudar, ensinar e exercer influência religiosa, algumas até fundando ordens monásticas. Apesar das limitações sociais e religiosas, mulheres de todas as classes demonstraram resiliência e uma capacidade de adaptação, seja em sua esfera doméstica ou em papéis mais públicos, como líderes espirituais ou patronas de artes e cultura.

Você quer saber mais?

POMERANZ, Renato. Mulheres na Antiguidade: Entre o Público e o Privado. São Paulo: Editora Unesp, 2017.

BROWN, Peter. A Ascensão do Cristianismo: Como uma Seita de Pescadores se Tornou a Religião do Império Romano. Rio de Janeiro: Editora Record, 2012.

LARRINGTON, Carolyne. Women and Writing in Medieval Europe: A Sourcebook. Londres: Routledge, 1999.

O conflito entre Israel e a Palestina

O conflito entre Israel e Palestina é uma das disputas mais complexas e prolongadas do século XX e continua a impactar a política internacional. A origem do conflito remonta ao final do século XIX e início do século XX, quando o movimento sionista, liderado por judeus que buscavam um lar nacional, começou a ganhar força. Após séculos de perseguições e discriminação, a criação do Estado de Israel, em 1948, foi vista como uma oportunidade de os judeus finalmente estabelecerem uma nação segura. Contudo, essa criação foi acompanhada pelo deslocamento de milhares de palestinos e pela rejeição de muitos países árabes, gerando um histórico de tensões.

Israel, desde sua fundação, enfrentou ameaças existenciais, sendo atacado por países árabes em várias guerras. Apesar disso, a nação judeu demonstrou uma resiliência notável, superando desafios de segurança e isolamento. O país se transformou em uma potência tecnológica e econômica, sendo um exemplo de democracia no Oriente Médio, com uma sociedade que valoriza os direitos humanos, embora também enfrente críticas pela ocupação de territórios palestinos e pela construção de assentamentos.

No entanto, a história de Israel também é marcada por um esforço constante de busca pela paz. Desde os Acordos de Oslo na década de 1990 até iniciativas mais recentes, Israel tem mostrado disposição para negociar, mas encontra dificuldades devido à falta de um parceiro palestino unificado e comprometido. A população judaica tem sido vítima de antissemitismo e violência, com ataques terroristas constantes de grupos extremistas, como o Hamas. Assim, enquanto a busca por paz continua, a defesa de Israel é muitas vezes vista como uma luta pela preservação de um Estado livre e seguro para o povo judeu, que tem um direito legítimo à autodeterminação.

Você quer saber mais?

SHLAIM, Avi. A Muralha de Ferro: Israel e o Mundo Árabe. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

LORDE, Israel. O Conflito Israel-Palestina: Uma História Contada de Ambos os Lados. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.

BITAR, Ibrahim. A Questão Palestina: Raízes e Perspectivas. São Paulo: Editora Moderna, 2013.

O governo do presidente Jair Bolsonaro

O governo de Jair Bolsonaro (2019-2022) foi marcado por uma agenda política e econômica que atraiu o apoio de diversos setores conservadores e parte significativa da população brasileira, mas também por desafios que geraram críticas substanciais. Durante seu mandato, Bolsonaro defendeu uma agenda de segurança pública rigorosa, com ênfase na ampliação do porte de armas e no enfrentamento ao crime, o que agradou sua base de eleitores. Além disso, a reforma da Previdência foi um passo importante para o ajuste fiscal, buscando garantir a sustentabilidade do sistema previdenciário no longo prazo.

Porém, o governo também enfrentou críticas, especialmente pela condução da pandemia de COVID-19, onde o presidente minimizou os riscos do vírus e promoveu tratamentos sem comprovação científica, o que gerou uma crise sanitária grave no Brasil. No campo ambiental, o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia gerou repercussões internacionais negativas, com a gestão enfraquecendo políticas de proteção ambiental e de fiscalização.

No aspecto econômico, o governo implementou reformas liberais, como a da Previdência e o avanço das privatizações, mas não conseguiu evitar a alta inflação, o desemprego e o agravamento da desigualdade social. Politicamente, Bolsonaro manteve uma base fiel, composta por militares, evangélicos e a classe média, mas também gerou polarização e enfrentou dificuldades para dialogar com o Congresso, o que afetou a estabilidade política.

Ao final de seu mandato, Bolsonaro deixou um legado de transformações econômicas, mas com desafios em áreas como saúde, meio ambiente e a coesão social.

Você quer saber mais?

FONSECA, Renato. A Era Bolsonaro: História e Legado de um Governo Polêmico. Rio de Janeiro: Editora Record, 2022.

CAMPOS, Rogério. O Brasil de Bolsonaro: Política, Economia e Sociedade. São Paulo: Editora 34, 2021.

MOURA, Júlio. Bolsonaro e o Futuro do Brasil: Desafios e Contradições. Brasília: Editora UnB, 2020.

O governo da presidente Dilma Rousseff

 O governo de Dilma Rousseff (2011-2016) foi marcado por contradições que deixaram legados significativos e profundas críticas. Seu primeiro mandato focou na ampliação de programas sociais, como o Minha Casa Minha Vida, e no incentivo à economia por meio de medidas intervencionistas, como o controle de preços de combustíveis pela Petrobras e a desoneração fiscal para diversos setores. No entanto, essas políticas levaram a distorções econômicas, com a Petrobras acumulando prejuízos e os benefícios fiscais não revertendo em investimentos ou geração de empregos sólidos.

A crise econômica se agravou em seu segundo mandato, quando o país enfrentou recessão, alta inflação e crescente desemprego. A política de austeridade fiscal anunciada em 2015, contradizendo o discurso de campanha, gerou descontentamento tanto entre sua base de apoio quanto na oposição, minando sua governabilidade. O escândalo da Lava Jato expôs casos de corrupção envolvendo aliados e a Petrobras, aprofundando a crise política.

Dilma também enfrentou críticas pela falta de habilidade política para negociar com o Congresso, o que culminou em seu processo de impeachment em 2016. Embora ela tenha argumentado que o impeachment foi um golpe político, sua gestão foi amplamente vista como incapaz de lidar com as pressões econômicas e políticas, deixando o país em uma situação de instabilidade que afetou diretamente a trajetória de desenvolvimento social e econômico iniciada nos governos anteriores.

Você quer saber mais?

SINGER, André. O lulismo em crise: um quebra-cabeça do período Dilma (2011-2016). São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

SAFATLE, Vladimir. Cinquenta Tons de Verde-Amarelo: o impeachment e a crise brasileira. São Paulo: Boitempo, 2017.

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem sido objeto de intensos debates, tanto pelos avanços alcançados quanto pelas suas contradições e limitações. Nos dois primeiros mandatos (2003-2010), embora programas sociais como o Bolsa Família tenham reduzido significativamente a pobreza extrema, o governo pecou por depender de um modelo econômico ancorado na exportação de commodities. Essa opção trouxe crescimento a curto prazo, mas deixou a economia vulnerável às oscilações do mercado internacional, sem avanços estruturais significativos na industrialização ou na diversificação produtiva.

No campo ético, o governo foi abalado por escândalos como o Mensalão, que expôs práticas de corrupção em larga escala e enfraqueceu a promessa de ruptura com as velhas práticas políticas. A governabilidade foi construída com base em alianças com partidos fisiológicos, o que, para muitos críticos, comprometeu a autonomia e os princípios ideológicos do Partido dos Trabalhadores. Além disso, os investimentos em obras como a usina de Belo Monte demonstraram pouco diálogo com comunidades indígenas e grupos ambientalistas, resultando em danos sociais e ecológicos.

Em seu terceiro mandato, iniciado em 2023, Lula enfrenta um Brasil mais polarizado e desafios econômicos complexos, como o desemprego e a alta inflação. Apesar do compromisso com a retomada de programas sociais e da defesa da democracia, há críticas sobre a lentidão das ações e a falta de clareza em políticas de reindustrialização e preservação ambiental. Enquanto Lula busca se firmar como um líder capaz de pacificar o país, seu governo precisa demonstrar maior eficácia na execução de políticas públicas e mais firmeza na construção de um modelo econômico sustentável e inovador.

Você quer saber mais?

DELGADO, Lucília de Almeida Neves; FONTE, Adriano de Azevedo. História do Brasil: do período colonial aos dias atuais. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2020.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo, 2018.

NAPOLITANO, Marcos. Brasil em Projeto: História e Perspectivas. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.

SINGER, André. Os Sentidos do Lulismo: reforma gradual e pacto conservador. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

WEFFORT, Francisco. Democracia e Política no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Governo do presidente Fernando Henrique Cardoso

O governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) representou um período de transformações significativas no Brasil, tanto no campo econômico quanto no social. Ele assumiu a presidência em 1º de janeiro de 1995, após ter sido ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco (1992-1994), onde liderou a criação do Plano Real, implementado em julho de 1994. Durante seus dois mandatos, o principal objetivo foi consolidar a estabilidade econômica, um desafio que envolveu o controle da inflação e a modernização das estruturas econômicas do país.

Entre as principais iniciativas de FHC, destacam-se as privatizações, com destaque para empresas como a Companhia Vale do Rio Doce (1997) e o sistema de telecomunicações, dividido e vendido em 1998. Essas ações tinham como objetivo reduzir o papel do Estado na economia e atrair investimentos privados, embora tenham gerado controvérsias sobre sua eficácia e impacto social. Paralelamente, Fernando Henrique também promoveu a Lei de Responsabilidade Fiscal (2000), buscando disciplinar os gastos públicos de estados e municípios.

Na área social, houve a expansão de programas de transferência de renda, como o Bolsa Escola, e esforços para ampliar o acesso à educação básica, culminando no aumento das taxas de matrícula. Em 1996, foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que reformulou o sistema educacional brasileiro. No entanto, questões como a desigualdade social e altos índices de desemprego permaneceram desafios significativos.

A política externa no período foi marcada pelo fortalecimento do Mercosul, criado em 1991, e pela busca de uma maior integração do Brasil ao mercado global. Fernando Henrique também foi reconhecido por sua postura diplomática, consolidando alianças estratégicas com países da América Latina e dos Estados Unidos.

Apesar dos avanços, seu governo enfrentou crises econômicas globais, como a crise asiática (1997) e a crise da Rússia (1998), que impactaram diretamente o Brasil, levando à desvalorização do real em 1999. Além disso, críticas sobre corrupção, como o escândalo da compra de votos para a reeleição (1997), e o aumento da dívida pública geraram controvérsias sobre seu legado. FHC deixou o cargo em 31 de dezembro de 2002, encerrando um período que, apesar de suas contradições, é considerado fundamental na modernização do país.

Você quer saber mais?

CARDOSO, Fernando Henrique. A Arte da Política: A História Que Vivi. São Paulo: Civilização Brasileira, 2006.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A Era FHC: Um Balanço. São Paulo: Editora 34, 2002.

BIONDI, Aloysio. Os Bastidores da Privataria. São Paulo: Editora Perseu Abramo, 1999.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Barão de Mauá e a industrialização no Brasil Império

Irineu Evangelista de Sousa, conhecido como Barão e, posteriormente, Visconde de Mauá, foi uma das figuras centrais no processo de industrialização do Brasil durante o Segundo Reinado (1840-1889). Nascido em 28 de dezembro de 1813, em Arroio Grande, na então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Mauá destacou-se como um empreendedor visionário em um período marcado pela dependência econômica do Brasil em relação ao modelo agroexportador, especialmente baseado no café e no açúcar.

No contexto do governo de D. Pedro II, Mauá foi responsável por iniciativas pioneiras na industrialização e modernização do país. Em 1846, fundou a Companhia Ponta da Areia, em Niterói, um estaleiro que construiu os primeiros navios a vapor no Brasil. Esse empreendimento foi um marco importante na tentativa de romper com a dependência da navegação internacional. Além disso, em 1851, fundou a primeira grande fundição de ferro no país, a Companhia de Estabelecimento Industrial, no Rio de Janeiro.

Outro destaque foi sua atuação no setor financeiro. Mauá reabriu o Banco do Brasil em 1851 (ele foi fundado em 1808 por D. João VI e fechado em 1829), revitalizando uma instituição que já havia sido extinta anteriormente, e também estabeleceu o Banco Mauá em Montevidéu, promovendo a integração econômica com outros países da região. Em 1854, inaugurou a primeira estrada de ferro do Brasil, a Estrada de Ferro Mauá, que ligava o Porto de Mauá, na Baía de Guanabara, à Raiz da Serra, em Petrópolis.

Entretanto, as iniciativas de Mauá enfrentaram fortes resistências, tanto da elite agrária quanto da burocracia imperial. A concorrência desigual com produtos importados, agravada pela Tarifa Alves Branco de 1844, que inicialmente favoreceu a indústria nacional, mas foi enfraquecida posteriormente, e a ausência de políticas públicas robustas, contribuíram para o declínio de seus empreendimentos. Mauá, apesar de seus esforços, declarou falência em 1875, marcando o fim de uma era de tentativas de modernização do Brasil por vias privadas.

Em 1879, Mauá conseguiu a concessão para instalar iluminação elétrica em algumas áreas do Rio de Janeiro. Embora ele já estivesse enfrentando dificuldades financeiras nessa época, demonstrou interesse em modernizar o país e trazer as inovações tecnológicas que despontavam no cenário internacional. No entanto, as dificuldades econômicas e políticas enfrentadas por Mauá limitaram seu envolvimento direto no desenvolvimento do setor elétrico. A instalação efetiva de sistemas elétricos no Brasil se consolidou mais tarde, no início do século XX, com empresas estrangeiras e investimentos públicos. Apesar disso, a visão e os esforços de Mauá evidenciam seu compromisso com a modernização do Brasil em diversas frentes, incluindo a eletricidade.

O legado do Barão de Mauá, no entanto, transcende seus insucessos financeiros. Ele é lembrado como o precursor da industrialização no Brasil, um visionário que desafiou o modelo econômico vigente, antecipando a necessidade de diversificação e modernização econômica em um país essencialmente agrário. Sua trajetória ilustra as dificuldades enfrentadas por iniciativas industriais em um ambiente político e econômico ainda pouco propício à inovação.

Principais avanços na industrialização do Segundo Reinado:

1- Fundação de indústrias: Criação de estaleiros, fundições e fábricas, como o Estabelecimento Ponta da Areia (1846), de Mauá, que produzia navios e equipamentos industriais.

2- Primeira estrada de ferro: Inauguração da Estrada de Ferro Mauá (1854), ligando o Porto de Mauá à Raiz da Serra, em Petrópolis, um marco na infraestrutura de transporte.

3- Incentivos fiscais iniciais: A Tarifa Alves Branco (1844) aumentou as taxas de importação, favorecendo a produção nacional e estimulando a indústria local.

4- Produção têxtil: Expansão de fábricas têxteis, especialmente em estados como Rio de Janeiro e São Paulo, impulsionadas pela crescente demanda de tecidos.

5- Criação de bancos: Estabelecimento do Banco do Brasil (1851) e do Banco Mauá, fomentando o crédito e financiando empreendimentos industriais.

6- Navegação a vapor: Expansão da navegação fluvial e marítima com embarcações a vapor, reduzindo custos e integrando mercados internos.

7- Mineração e siderurgia: Avanços na produção de ferro, com a fundação de fundições, como a Companhia de Estabelecimento Industrial (1851).

8- Iluminação pública: Primeiras iniciativas para introdução da iluminação elétrica, lideradas por Mauá na década de 1870.

9- Modernização urbana: Construção de infraestrutura, como portos e estradas, que facilitou o transporte de mercadorias.

10- Aumento do mercado interno: Crescimento demográfico e desenvolvimento de áreas urbanas, que ampliaram a demanda por produtos industriais.

Você quer saber mais? 

CALDEIRA, Jorge. Mauá: empresário do Império. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

sábado, 16 de novembro de 2024

A cultura medieval

    A cultura medieval, desenvolvida entre os séculos V e XV, foi profundamente influenciada pela Igreja Católica, que desempenhou um papel central na formação da arte, da literatura, da educação e da vida intelectual. A arquitetura da época reflete esse protagonismo, com estilos como o românico, que floresceu no século XI e se destacou por igrejas de paredes espessas, arcos redondos e decoração austera, como a Abadia de Cluny, construída em 910. No século XII, o estilo gótico começou a transformar as cidades europeias, caracterizando-se pelos arcos ogivais, abóbadas cruzadas e vitrais elaborados que filtravam a luz, como visto na Catedral de Notre-Dame de Paris (iniciada em 1163) e na Catedral de Chartres (concluída em 1250).

   A literatura medieval foi também marcada pela forte influência religiosa. Desde o século VIII, monges copistas preservaram manuscritos antigos, garantindo a sobrevivência do saber clássico. Ao mesmo tempo, textos religiosos e teológicos dominavam a produção literária, como as hagiografias de santos e os tratados filosóficos. Obras de cunho mais artístico, como A Divina Comédia de Dante Alighieri (escrita entre 1308 e 1320), misturavam teologia e poesia, refletindo a visão cristã do mundo e da vida após a morte.

   Na educação, o renascimento carolíngio, liderado por Carlos Magno (742–814), no século IX, promoveu a criação de escolas monásticas e catedrais, bem como a padronização do latim como língua de ensino. No século XII, surgiram as primeiras universidades europeias, como as de Bolonha (1088) e Paris (cerca de 1150), que impulsionaram a escolástica, um método que conciliava fé e razão. Filósofos como Santo Tomás de Aquino e São Boaventura foram expoentes dessa corrente, cujas obras moldaram a visão intelectual da época.

    As artes visuais foram amplamente utilizadas para transmitir mensagens espirituais. Desde o século IX, as iluminuras de manuscritos, como as do Livro de Kells, ilustravam passagens bíblicas e decoravam textos sagrados. Os afrescos e esculturas das igrejas românicas e góticas buscavam educar e inspirar os fiéis. Na música, o canto gregoriano, predominante entre os séculos IX e XII, refletia a harmonia celestial e a devoção espiritual.

    Assim, ao longo de mil anos, a Igreja Católica moldou profundamente a cultura medieval, sendo responsável por grande parte da preservação e transmissão do conhecimento, além de inspirar as expressões artísticas e intelectuais que definiram a Idade Média. Sua influência foi determinante na construção do legado cultural do Ocidente.

Você quer saber mais?

LE GOFF, Jacques. O Imaginário Medieval. Lisboa: Edições 70, 1985.

HUIZINGA, Johan. O Declínio da Idade Média. São Paulo: Cosac Naify, 2010.

DUBY, Georges. Guia da Idade Média: Do Ano Mil ao Século XV. São Paulo: Editora UNESP, 1996.

Os Códigos de honra da cavalaria medieval

     Os códigos de honra da cavalaria medieval, frequentemente associados ao ideal cavaleiresco, combinavam normas éticas e morais que orientavam o comportamento dos cavaleiros. Esses códigos eram fortemente influenciados pelo cristianismo e pelas necessidades da sociedade feudal. Embora não existisse um código único e formal, as práticas e valores cavaleirescos eram amplamente reconhecidos e incluíam:

1. Fidelidade e lealdade

        Ser fiel ao seu senhor feudal e cumprir os deveres como vassalo. Proteger os interesses da Igreja e da fé cristã.

2. Defesa dos fracos e oprimidos

        Proteger os indefesos, como mulheres, crianças e idosos. Agir em favor de quem necessitasse, muitas vezes representado no ideal de servir à "dama" ou ao senhor.

3. Honra e honestidade

        Manter a palavra dada e respeitar acordos, mesmo em situações adversas. Evitar traição e desonra pessoal ou à ordem cavaleiresca.

4. Coragem e bravura

        Enfrentar batalhas e desafios com coragem, mesmo diante de grande perigo. Lutar contra o mal, representado por inimigos da fé ou ameaças ao seu feudo.

5. Justiça

        Agir de forma justa, garantindo que os inocentes não fossem prejudicados. Combater a injustiça, seja contra sua terra ou contra a cristandade.

6. Piedade e caridade

        Demonstrar devoção religiosa e respeito à Igreja. Auxiliar os pobres e necessitados, promovendo atos de bondade e generosidade.

7. Respeito às mulheres

        Enaltecer a mulher idealizada, muitas vezes representada na figura da "dama". Evitar ações que pudessem desrespeitar sua honra.

Influências Culturais e Literárias

        Os romances de cavalaria, como os ciclos arturianos (ligados ao Rei Arthur e aos Cavaleiros da Távola Redonda), ajudaram a consolidar esses valores, difundindo a ideia do cavaleiro como defensor da justiça e do bem.

        Os códigos de honra da cavalaria medieval representam um dos marcos éticos da Idade Média, refletindo tanto as aspirações quanto os desafios de uma época profundamente marcada por valores religiosos e hierárquicos.

Você quer saber mais?

BARBER, Richard. A Cavalaria: Uma História do Ideal Cavaleiresco no Ocidente Medieval. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.

FLORI, Jean. Cavaleiros e Cavaleiros: Do Ideal à Realidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

O estabelecimento das fronteiras portuguesas na América

 A formação territorial da América Portuguesa foi um processo complexo e dinâmico, que começou com a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral. Inicialmente, o território foi dividido em capitanias hereditárias, estabelecidas em 1534 por Dom João III, com o objetivo de estimular a colonização e a exploração econômica. As capitanias eram grandes porções de terra concedidas a donatários, que eram responsáveis pela administração e defesa. No entanto, a ineficácia de muitas dessas capitanias levou à centralização da administração em 1549, com a criação do Governo-Geral, sob o comando de Tomé de Souza. Nesse período, o Brasil começou a se expandir para o interior, principalmente com a produção de açúcar e a exploração de outros recursos naturais.

O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre Portugal e Espanha, delimitava as terras coloniais das duas nações através de uma linha imaginária a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Esse tratado determinava que as terras a leste da linha pertenciam a Portugal, enquanto as áreas a oeste seriam da Espanha. Contudo, a imprecisão na definição dos limites gerou conflitos, especialmente à medida que os portugueses começaram a explorar áreas além dessa linha, o que levou a tensões com os espanhóis.

A resolução desses conflitos aconteceu ao longo dos séculos por meio de diversos tratados. O mais importante deles foi o Tratado de Madrid, de 1750, que redefiniu os limites territoriais entre Portugal e Espanha, estabelecendo as fronteiras atuais de grande parte do Brasil, reconhecendo, por exemplo, a posse portuguesa das regiões das Missões Jesuíticas. No entanto, os confrontos e disputas territoriais continuaram.

Em 1777, um novo tratado foi assinado, o Tratado de São Ildefonso, que tratou da questão das fronteiras entre os dois impérios coloniais na América. Esse tratado foi um marco, pois resolveu as disputas na região da Guiana, onde tanto Portugal quanto Espanha possuíam interesses. Pela convenção, Portugal cedeu à Espanha a região de Sacramento, na margem esquerda do Rio da Prata, enquanto a Espanha reconheceu a posse portuguesa de diversas áreas, incluindo a região do atual Mato Grosso. O Tratado de São Ildefonso foi crucial para a consolidação do território brasileiro, pois fortaleceu as fronteiras do Brasil com as possessões espanholas.

No século XVII, a presença de outras potências europeias, como os franceses e holandeses, também aumentou as tensões. Os franceses tentaram estabelecer colônias no Rio de Janeiro e no Maranhão, enquanto os holandeses ocuparam a região nordeste, especialmente Pernambuco, entre 1624 e 1654, o que gerou uma série de confrontos militares com os portugueses e culminou na expulsão dos holandeses em 1654.

A descoberta de ouro e pedras preciosas no século XVIII, especialmente nas regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, levou à expansão do território e ao aumento da população, consolidando as fronteiras brasileiras. A luta pela definição do território foi também intensificada por conflitos com os espanhóis, especialmente nas regiões do atual Paraguai e Argentina. O Tratado de El Pardo, de 1761, ajustou novamente as fronteiras entre as duas potências.

Portanto, a formação territorial da América Portuguesa foi marcada por uma série de acordos diplomáticos, como os Tratados de Tordesilhas, Madrid, São Ildefonso e El Pardo, além de confrontos militares. Esse processo moldou o Brasil territorialmente até sua independência, em 1822.

Você quer saber mais?

COSTA, Sérgio. História do Brasil Colonial. São Paulo: Editora Contexto, 2008.

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O Trato dos Viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

VARGAS, José Roberto Martins. A Expansão Portuguesa na América: Conflitos e Fronteiras. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.2/2

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A Servidão Medieval e a Escravidão Moderna: Distinções e Implicações Sociais e Econômicas

 A servidão medieval e a escravidão moderna representam formas distintas de exploração da mão de obra, refletindo as características econômicas, sociais e culturais de seus respectivos contextos históricos.

Na servidão medieval, predominante na Europa feudal, o servo era ligado à terra e ao senhor feudal. Os servos, embora tivessem sua liberdade limitada, não eram propriedade do senhor; em vez disso, estavam vinculados à terra onde nasciam e não podiam ser vendidos separadamente. Eles tinham algumas garantias, como a posse de um pedaço de terra para seu sustento e a proteção do senhor em caso de invasões ou guerras. Em troca, o servo devia obrigações, como trabalhos agrícolas e pagamentos de tributos. A relação era, portanto, de dependência mútua: o senhor provia segurança, e o servo, trabalho.

Já a escravidão moderna, especialmente aquela praticada nos continentes americano e africano entre os séculos XVI e XIX, assumiu um caráter mais cruel e desumanizador. Diferente dos servos, os escravos eram vistos como propriedades dos seus donos, que podiam comprá-los, vendê-los e até separá-los de suas famílias. Eles eram privados de sua identidade, sendo tratados como mercadorias. Além disso, a escravidão moderna estava ligada ao sistema econômico capitalista emergente, sendo uma peça central na acumulação de riquezas para as metrópoles europeias através do trabalho forçado nas plantações e minas das colônias.

Essas diferenças demonstram como a servidão medieval estava associada a um sistema agrário, em que o vínculo com a terra era a base da economia, enquanto a escravidão moderna foi um componente chave para a expansão capitalista, transformando pessoas em instrumentos de lucro, sem qualquer tipo de vínculo social ou proteção jurídica.

Você quer saber mais?

Bloch, Marc. A Sociedade Feudal. São Paulo: Martins Fontes, 2017

Williams, Eric. Capitalismo e Escravidão. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2002.

Davis, David Brion. O Problema da Escravidão na Cultura Ocidental. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988.

O Império Luso-brasileiro

 O Império Luso-Brasileiro foi uma das mais poderosas forças políticas e culturais do mundo moderno. Formado a partir da expansão ultramarina portuguesa, que teve seu auge nos séculos XVI e XVII, o império permitiu a Portugal controlar vastas regiões do planeta, desde partes da África, Índia e do Sudeste Asiático, até o vasto território brasileiro na América do Sul. Graças à bravura de navegadores e à habilidade diplomática da monarquia portuguesa, os lusos consolidaram um dos maiores impérios marítimos e comerciais da história, contribuindo significativamente para a globalização e para a troca de saberes entre povos de continentes distantes.

O Brasil, como a maior e mais rica colônia, era um dos pilares dessa grandiosa estrutura imperial, desempenhando papel central na economia do império com a produção de açúcar, ouro, tabaco e, mais tarde, café. As riquezas brasileiras sustentaram o Reino de Portugal e ajudaram a moldar uma civilização rica em diversidade e singularidade. Além disso, o Império Luso-Brasileiro soube enfrentar ameaças e resistir a investidas de outras potências europeias, como a Espanha, a França e os Países Baixos, firmando-se como um império resiliente e determinado.

Um dos grandes marcos da glória luso-brasileira foi a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, que, ao transformar o Brasil em sede do governo monárquico, elevou a colônia ao status de Reino Unido a Portugal e Algarves. Esse movimento pioneiro consolidou o país como centro do poder português e lançou as bases para a futura independência. As conquistas culturais e políticas do Império Luso-Brasileiro deixaram um legado duradouro na língua, nos costumes e nas instituições que até hoje unem Portugal e Brasil. Assim, o império permanece uma memória de força, superação e realização.

Você quer saber mais?

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). 5. ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

DIAS, Maria Odila Leite da Silva. A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda, 2005.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; GOMES, Laurentino. O Império Luso-Brasileiro: da colonização à independência. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Estados Unidos e América latina no século XIX

    No século XIX, as relações entre os Estados Unidos e a América Latina foram moldadas por uma série de eventos e políticas que refletiam a expansão territorial americana, o imperialismo e a intervenção direta na região. Este período foi marcado pela Doutrina Monroe, anunciada em 1823 pelo presidente James Monroe, que estabelecia o continente americano como uma esfera de influência exclusiva dos EUA, visando impedir a recolonização europeia após as independências latino-americanas. A doutrina também refletia a visão expansionista americana, conhecida como "Destino Manifesto", que justificava a expansão territorial dos Estados Unidos como um direito divino e natural.

    A expansão para o oeste foi uma das maiores realizações da política territorial dos EUA no século XIX. Com a compra da Louisiana em 1803, a anexação do Texas em 1845, e a Guerra Mexicano-Americana (1846-1848), os EUA dobraram seu território, chegando até o Oceano Pacífico. A Guerra Mexicano-Americana, em particular, resultou na perda de mais de um terço do território mexicano, incluindo os atuais estados da Califórnia, Arizona e Novo México, e consolidou o poder dos EUA na América do Norte. Este avanço intensificou o interesse econômico e militar na América Latina, especialmente em áreas estratégicas como o Caribe e a América Central.

   Outro fator importante foi a Guerra Civil Americana (1861-1865), que teve efeitos indiretos na América Latina. A vitória do Norte, industrial e antiescravagista, consolidou o poder federal e influenciou a política externa dos EUA, que passou a intensificar a sua presença na América Latina após o fim do conflito. A guerra também interrompeu temporariamente a expansão territorial dos EUA e levou o país a buscar novas formas de projeção de poder, como o imperialismo econômico.

    No final do século XIX, os Estados Unidos adotaram uma postura mais agressiva e intervencionista em relação à América Latina. Em 1898, a Guerra Hispano-Americana marcou o início do imperialismo norte-americano no Caribe, resultando na anexação de Porto Rico e na ocupação de Cuba. Ao mesmo tempo, os EUA buscaram expandir seu controle sobre a América Central, principalmente em relação à construção de um canal que ligasse os oceanos Atlântico e Pacífico, o que culminaria mais tarde com a construção do Canal do Panamá.

    Essas intervenções consolidaram a hegemonia dos EUA sobre a América Latina e criaram uma base para o "Big Stick" e a Doutrina do Corolário Roosevelt, políticas do início do século XX que formalizariam a intervenção americana na região sempre que necessário. No século XIX, os EUA moldaram sua política externa com base no interesse econômico e estratégico, estabelecendo-se como potência regional e lançando as bases para o imperialismo no continente.

Você quer saber mais?

BETHELL, Leslie. História da América Latina: da independência a 1870. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1999.

LYNCH, John. As revoluções hispano-americanas 1808-1826. 2. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.

HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções: 1789-1848. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

SKIDMORE, Thomas E.; SMITH, Peter H. História contemporânea da América Latina. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

3T- Das unificações italiana e alemã até à abolição da escravidão

 Unificação italiana e alemã

Embalada pelo Primavera dos Povos de 1848, o reino de Piemonte-Sardenha, mais industrializado da península itálica, deu início a um processo de unificação. Em 1859, o primeiro ministro conde de Cavour, apoiado por Napoleão III, da França, derrotou as forças austríacas e incorporou diversos territórios ao norte da península. No sul, o republicano Giuseppe Garibaldi, organizou os camponeses no exército dos camisas vermelhas, tomam o Reino das Duas Sicílias. Com essa vitória, em 1861, a unificação da Itália foi concretizada por Vitor Emanuel II, rei do Piemonte-Sardenha, foi proclamado rei da Itália. Em 1866, Veneza é incorporada e em 1870 a cidade de Roma é anexada e a unificação concluída. Desde o Congresso de Viena de 1815, a Alemanha estava dividida em vários Estados, reunidos na Confederação Germânica. Liderados pelo Império Austríaco e pela Prússia. Em 1862, por escolha de Guilherme I, rei da Prússia, Otto von Bismarck assumiu o cargo de chanceler. Ele foi um dos principais líderes da Restauração e se transformou na figura mais importante da unificação alemã. Bismarck para despertar  sentimento nacional dos alemães, escolheu a guerra. Dominou regiões ao norte ocupadas pela Dinamarca, depois declarou guerra a Áustria e vitorioso reunião todos os Estados do Norte na Confederação Germânica do Norte, liderada pela Prússia. Mais tarde na Guerra Franco-Prussiana anexou a Alsácia-Lorena, rica em carvão. Em 1871, Guilherme I foi coroado imperador da Alemanha, e Bismarck tornou-se chefe militar do país.

Consequências da Guerra do Paraguai

As causas da Guerra do Paraguai estão centradas no processo de formação das nações platinas no contexto da segunda metade do século XIX. Cada nação possuía seus interesses econômicos e políticos, e a defesa desses interesses causou o choque entre o Paraguai e Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra deixou grandes prejuízos tanto no Brasil como no Paraguai, que foi arrasado. Aproximadamente 70% da população masculina foi dizimada e o que restou eram velhos, crianças e mutilados de guerra. Com relação ao Brasil, a contenda custou milhares de vidas e afetou bastante a economia, sendo necessário tomar vários empréstimos para manter o equilíbrio financeiro. A Inglaterra não participou diretamente do conflito, porém foi o único  país a lucrar com ela.

Características do Segundo Reinado no Brasil

O Segundo Reinado é o momento em que o Brasil se consolida como nação. O regime político do país era a monarquia parlamentarista, onde o Imperador escolhia o Presidente do Conselho (equivalente ao cargo de primeiro-ministro) através de uma lista com três nomes. No plano econômico, o café adquire importância fundamental, sendo o produto mais exportado pelo Brasil. Chegam as primeiras ferrovias e barcos a vapor com o objetivo de melhorar a circulação do chamado "ouro negro". Em meio à prosperidade cafeeira, o Brasil se encontra num dilema, pois quem trabalhava nas plantações de café eram pessoas escravizadas. Desde o governo de Dom João VI, o país havia se comprometido a abolir a escravidão. No entanto, a elite cafeeira se opunha, pois isso acarretaria perdas econômicas. A solução é terminar com o trabalho servil de forma gradual. Será no Segundo Reinado que o Brasil se vê às voltas com o maior conflito armado da América do Sul: a Guerra do Paraguai. Por fim, sem apoio das elites rurais e do exército, a monarquia é derrubada através de um golpe militar. A Família Imperial é obrigada a deixar o país e se instala a república.

Marcos da Segunda Revolução Industrial

    Da mesma forma que o uso do carvão  e do ferro marcou a industrialização inglesa do século XVIII, o aço, o petróleo e a eletricidade se transformaram em símbolos da Segunda Revolução Industrial, que, ao contrário da primeira, se espalhou por vários países. Algumas das principais descobertas desse período foram: O Processo Bessemer, descoberto em 1856 por Henry Bessemer, a injeção de um jato de ar frio no minério de ferro em fusão permitia retirar as impurezas do minério e obter o aço. Em 1870, o motor de combustão interna, que transforma a energia térmica em mecânica por meio da queima de combustíveis. A invenção do dínamo, em 1870 que transforma energia mecânica em energia elétrica.

Capitalismo financeiro e sua influência no imperialismo na África, Índia e na China

    Nas últimas décadas do século XIX, a economia capitalista se expandiu enormemente. As indústrias passaram a ser controladas por bancos e instituições financeiras. Com isso, elas se capitalizaram e puderam ampliar ainda mais seus negócios. Tomava forma o capitalismo financeiro. A necessidade  de novos mercados e de novas fontes de matérias-primas tornou-se mais urgente. Os países mais industrializados da Europa passaram então a buscar mercados consumidores para seus produtos em outras regiões do planeta, como África, China e Índia. Ao dominar novos territórios e transformá-los em colônias as nações industrializadas formaram impérios.

Rebelião Ashanti

    Uma das revoltas mais significativas contra o domínio britânico na África, ocorreu entre os anos de 1890-1900. 

Ópio

    Em 1836, apesar de não exercer o domínio político na China, a Companhia das Índias Orientais Britânicas comercializavam com o território chinês. E o ópio era o principal produto comercializado.

Revoltas do Período Regencial

    Durante o Período Regencial no Brasil, houve diversas revoltas provinciais, que ameaçaram dividir o jovem Estado brasileiro em diferentes repúblicas. As principais revoltas foram: Sabinada (Bahia, 1837), Revolta dos Malês (Salvador, 1835), Balaiada (Maranhão, 1838-1841), Cabanagem (Grão-Pará, 1835-1840), As Rusgas Cuiabanas (Mato Grosso, 1834) e Guerra dos Farrapos (Rio Grande do Sul, 1835-1845).

Partido Conservador e Partido Liberal no Segundo Reinado

   Durante o Segundo Reinado no Brasil existiam duas forças políticas principais, o Partido Conservador e o Partido Liberal. Respectivamente suas principais características eram: Em essência eram semelhantes, pois ambos representavam os interesses da aristocracia rural. Mas, enquanto o Partido Liberal tinha uma base urbana e de fendiam mais autonomia nas províncias, o Partido Conservador representava os setores agrários favoráveis à centralização.

Abolição da escravidão

    A abolição da escravidão no Brasil foi lenta e gradual, e seus principais momentos foram: 1850-Lei Eusébio de Queiroz proíbe o tráfico de escravos; 1871-Lei do Ventre Livre declara livres os filhos nascidos a partir dessa data; 1885-Lei dos Sexagenários liberta os escravos com mais de 60 anos; 1888-Lei Áurea assinada pela princesa Isabel abole a escravidão definitivamente do Brasil.

Mapa

Império do Brasil, China, Índia e continente africano.

3T- Da Guerra Fria ao período de redemocratização no Brasil

Guerra Fria

A Guerra Fria foi um conflito ideológico, econômico e político entre os Estados Unidos e União Soviética por zonas de influência no mundo. Os E.U.A representavam os interesses capitalistas e a U.R.S.S os  interesses socialistas/comunistas. Iniciou-se em 1947 com a Doutrina Truman, onde os E.U.A oferecia ajuda a qualquer país que quisesse conter o avanço comunista. Foi seguido pelo Plano Marshall que concedia empréstimos a juros baixos aos governos europeus ocidentais para auxiliá-los a reconstruir suas economias. Em 1949 é criada a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, uma aliança militar de países capitalistas. Temendo as políticas do E.U.A a U.R.S.S cria em 1947 o Cominform para controlar as ideologias dos Partidos Comunistas da Europa Oriental e em 1949 surge o Comecon, Conselho de Assistência Econômica Mútua para integrar as economias comunistas  do bloco europeu. Por fiim em 1955 é criado o Pacto de Varsóvia, a aliança militar do bloco soviético. A partir daí os conflitos de fato se manterão nas periferias como a Guerra do Vietnã, Coréia, Cuba e Afeganistão, enquato Estados Unidos e União Soviética nunca entrarão em guerra de fato, devido ao perigo nuclear, daí a designação de Guerra Fria, que perdurará até 1991.

Revolução socialista na China

    Em 1911, um movimento nacionalista depôs o imperador da China e proclamou a república. Ao mesmo tempo, vários grupos iniciaram uma guerra civil pelo poder; entre eles, um movimento revolucionário de inspiração socialista, liderado por Mao Tsé-tung. Esse movimento revolucionário derrotou o governo capitalista e chegou ao poder, apoiado pelos camponeses, estabelecendo a República Popular da China, em 1949.

Crise dos Mísseis de 1962

    Em 1961, Cuba se proclamou um país socialistas. Em abril do mesmo ano os Estados Unidos tenta derrubar o governo de Fidel Castro, invadindo Cuba peal Baía dos Porcos. No entanto, a ação fracassou aumentando as tensões entre os dois países. A tentativa de invasão levou Cuba a estabelecer, em 1962, uma aliança com a União Soviética, que se concretizou com a instalação de mísseis soviéticos na ilha. O governo dos Estados Unidos reagiu decretando um bloqueio naval a Cuba e exigindo a retirada imediata dos mísseis do país. Criou um enorme clima de tensão internacional. Durante treze dias, o mundo acreditou estar à beira  de uma nova guerra mundial, dessa vez de proporções nucleares. Sob a supervisão da ONU, os soviéticos concordaram em retirar os mísseis de Cuba, com a condição de os Estados Unidos removerem seus mísseis da Turquia.

Formação do Estado de Israel

    Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo inteiro tomou conhecimento do massacre de milhões de judeus organizado pelo Estado nazista de Adolf Hitler. Além disso, a população judaica que havia sobrevivido ao Holocausto, em geral sem recursos para garantir sua sobrevivência, era vista como um encargo que os governos europeus não estavam dispostos a assumir. Assim, o movimento sionista se fortaleceu, e, entre 1945-1948, aproximadamente 85 mil judeus foram viver na Palestina. Porém a região não era desabitada, era ocupada por palestinos de origem árabe o que gerou conflitos. Quando a situação se tornou insustentável, a ONU aprovou, em 1947,a divisão da Palestina em dois Estados um árabe e outro judeu.

Fatores que levaram a independência africana

    A crise do colonialismo  causada pela Primeira e Segunda Guerra Mundial que colocou em xeque os discurso da ideologia da superioridade branca. Ficou evidente que a origem do soldado não influenciava sua capacidade de atuação. Os africanos também puderam comparar suas condições de vida com as dos europeus. Também não houve reconhecimento por seus esforços de guerra ao lado colonizadores. Devido as guerras muitos oficiais de administradores brancos tiveram que ser enviados para Europa, permitindo que nativos ocupassem cargos importantes  na administração colonial. Com a Guerra Fria e a busca por zonas de influência criou-se um contexto internacional favorável a independência. O Pan-africanismo, surgiu em consequência  da constituição de uma elite intelectual nativa  com as bases ideológicas dos movimentos pela independência. 

Política de segregação racial sul-africana

    Apartheid, uma legislação que classificou os sul-africanos em brancos, mestiços, negros e indianos e segregou as etnias nativas. Estabeleceu acessos separados para negros nas escolas, praias, clubes, ônibus, universidades e outros espaços de convivência; proibiu os casamentos inter-raciais.

Processos de independência no Oriente Médio

   Tiveram início ao final da Primeira Guerra Mundial com a derrota e a desagregação do Império Turco-Otomano. 

Governo de Juscelino Kubitschek

    Durante os anos de 1956-1961, durante o governo de Juscelino Kubitschek, com seu slogan de “fazer o Brasil progredir cinquenta anos em cinco”. O Brasil teve uma grande euforia em razão do crescimento econômico, resultado, em grande parte dos incentivos ao desenvolvimento industrial, e da construção de uma nova capital.

Intervenção civil-militar no Brasil

    Após a renúncia do presidente Jânio Quadros e a nomeação de seu vice, Jango (João Goulart) como presidente em 1961, o Brasil passou por uma instabilidade política devido ao apoio de Jango aos movimentos sociais. O que foi vista pelos conservadores como o primeiro passo para adoção do comunismo no Brasil. A consequência desses eventos foram a organização da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, uma manifestação contra Jango, que culminou na mobilização de tropas militares de Minas Gerais para o Rio de Janeiro onde estava Jango. Na madrugada do dia 2 de abril de 1964, o Congresso Nacional declarou vaga a presidência da república, empossando o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, no lugar de Jango. Iniciava-se a ditadura civil-militar no Brasil.

Fim da intervenção civil-militar no Brasil

    O fim da ditadura civil-militar no Brasil, ocorreu em 1985 com a eleição de um presidente civil pelo Colégio Eleitoral. O nome desse presidente eleito era Tancredo Neves do PSD, partido da oposição ao regime militar.

Mapa 

    Estados Unidos, União Soviética, Brasil, China, Israel e Cuba.

Os governos dos presidentes José Sarney e Fernando Collor de Mello

    José Sarney e Fernando Collor de Mello governaram o Brasil em um período de intensa transformação política e econômica, marcado pelo fim da ditadura militar e a consolidação da democracia. Sarney (1985-1990) enfrentou desafios econômicos e participou da criação da Constituição de 1988, garantindo avanços democráticos. Já Collor (1990-1992), eleito pelo voto direto, adotou políticas de combate à inflação e abertura econômica, mas seu governo foi interrompido pelo primeiro impeachment da história do país, em meio a denúncias de corrupção.     

Governo José Sarney (1985-1990)

    O governo de José Sarney marcou uma fase de transição importante na história do Brasil, após o fim da ditadura militar e a retomada do processo democrático. Sarney assumiu a presidência em 1985, após a morte de Tancredo Neves, que havia sido eleito indiretamente. Enfrentou desafios como a hiperinflação e a necessidade de estabilização econômica. Para tentar conter a inflação, instituiu o Plano Cruzado em 1986, congelando preços e salários, mas a medida teve efeitos temporários e foi seguida por uma volta da inflação. Em 1988, durante seu mandato, foi promulgada a nova Constituição, um marco importante na garantia dos direitos civis e sociais, assegurando avanços na democracia brasileira. Contudo, a economia instável e as dificuldades de governabilidade geraram críticas ao seu governo. Mesmo com suas limitações, Sarney abriu caminho para a continuidade da redemocratização do país e contribuiu para a construção de uma base política mais democrática.

Governo Fernando Collor de Mello (1990-1992)

   Fernando Collor de Mello assumiu a presidência em 1990 com um discurso de modernização e combate à corrupção, sendo o primeiro presidente eleito por voto direto após o período militar. Em seu governo, implementou o Plano Collor, que promoveu o congelamento dos ativos financeiros da população e cortes nos gastos públicos, buscando conter a inflação, mas gerou descontentamento social pela perda de poupanças e impacto econômico. Collor também iniciou políticas de abertura econômica, incentivando a competição com produtos importados e privatizando empresas estatais. No entanto, denúncias de corrupção envolvendo Collor e seu tesoureiro Paulo César Farias desgastaram rapidamente sua popularidade. Em 1992, após investigações e pressões populares, Collor sofreu impeachment, tornando-se o primeiro presidente brasileiro a perder o cargo por um processo de impedimento, encerrando seu mandato de forma turbulenta e marcando a história política do Brasil.

Você quer saber mais?

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 13. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

GASPARI, Elio. A Ditadura Derrotada. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 14. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013.

MEDEIROS, André de Carvalho. Os governos José Sarney e Fernando Collor de Mello: uma análise da política econômica. Brasília: Editora da UnB, 2004.

domingo, 27 de outubro de 2024

Imperialismo e neocolonialismo

    O neocolonialismo, ocorrido entre o final do século XIX e início do século XX, foi um período em que potências europeias ampliaram sua influência e dominação sobre territórios na África, Ásia e Oceania, motivadas pela necessidade de matérias-primas e novos mercados. Esse processo, impulsionado pela Revolução Industrial, visava suprir a demanda crescente por recursos naturais como ouro, diamante, petróleo e borracha, ao mesmo tempo em que oferecia às metrópoles uma base de consumo e investimento para os produtos manufaturados. No entanto, ao expandirem suas influências, esses países também levaram elementos culturais, tecnológicos e infraestruturas para as colônias, alterando de forma complexa as dinâmicas locais.

    A Conferência de Berlim (1884-1885) oficializou a divisão do continente africano entre as potências europeias, marcando o auge do neocolonialismo. Regiões como o Congo Belga, sob domínio da Bélgica, passaram por profundas mudanças econômicas e sociais. O Congo tornou-se um grande fornecedor de borracha, recurso estratégico para o desenvolvimento industrial europeu, mas enfrentou também desafios relacionados ao modelo de exploração intensa. Na Ásia, a Índia foi transformada em uma colônia britânica com infraestrutura moderna, como ferrovias e redes de comunicação, embora o país fosse igualmente utilizado para exportar matéria-prima e consumir produtos britânicos. A China, por sua vez, foi alvo de interesses comerciais de diversas potências ocidentais e do Japão, que buscavam abrir o mercado chinês e controlar importantes portos, resultando em concessões comerciais e zonas de influência que moldaram a economia chinesa por décadas.

    Embora o neocolonialismo tenha causado impactos complexos e, em alguns casos, conflitos, ele também incentivou intercâmbios culturais e tecnológicos. Estruturas de transporte, como ferrovias, sistemas de comunicação e redes de ensino, foram implementadas, contribuindo para a modernização dessas regiões. Assim, o neocolonialismo, além de ter sido uma fase de dominação e exploração, trouxe transformações que influenciam a história e a economia dos países até hoje, deixando um legado que ainda desperta reflexões sobre suas consequências e interações.

Você quer saber mais?

HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios: 1875-1914. São Paulo: Paz e Terra, 2015.

SAID, Edward. Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001.

domingo, 20 de outubro de 2024

Invasões francesas na América portuguesa

    As invasões francesas no Brasil ocorreram durante o período colonial, no século XVI, quando a França buscava expandir seu império e explorar as riquezas do Novo Mundo. Ao longo desse período, ocorreram duas tentativas principais de colonização francesa em território brasileiro, uma no Rio de Janeiro e outra no Maranhão, ambas com forte impacto nas disputas territoriais e comerciais da época.

França Antártica (1555-1567)

    A primeira invasão francesa aconteceu em 1555, quando Nicolas Durand de Villegaignon, vice-almirante francês, liderou a expedição que resultou na fundação da colônia chamada França Antártica, na Baía de Guanabara, onde hoje está o Rio de Janeiro. Villegaignon construiu um forte na ilha de Serigipe, conhecida hoje como Ilha de Villegaignon, com o objetivo de estabelecer uma colônia permanente e criar uma base de operações na América do Sul. A França Antártica foi composta por uma população mista de católicos e protestantes, incluindo calvinistas que buscavam fugir das perseguições religiosas na Europa.

   Entretanto, conflitos internos, especialmente entre católicos e calvinistas, e dificuldades de sobrevivência fragilizaram a colônia. Preocupados com a presença francesa, os portugueses organizaram uma expedição para retomar o controle da região. Em 1560, o governador-geral Mem de Sá enviou uma frota que destruiu o forte francês. No entanto, os franceses resistiram em áreas próximas até que, em 1567, Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, lançou uma nova ofensiva militar que resultou na expulsão definitiva dos franceses e na fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, garantindo o domínio português.

França Equinocial (1612-1615)

    A segunda tentativa de invasão francesa aconteceu em 1612, desta vez no Maranhão. Daniel de la Touche, senhor de La Ravardière, comandou uma expedição que resultou na fundação da França Equinocial. Os franceses estabeleceram a cidade de São Luís, nomeada em homenagem ao rei Luís XIII da França, com o objetivo de controlar o comércio na região norte do Brasil e expandir sua influência na América equatorial.

    Inicialmente, a França Equinocial contou com o apoio de tribos indígenas locais, o que facilitou sua instalação. No entanto, a presença francesa no Maranhão incomodou os portugueses, que logo organizaram uma expedição para retomar o controle da área. Em 1615, Jerônimo de Albuquerque liderou uma ofensiva que derrotou os franceses, incorporando definitivamente a região ao domínio português.

    Essas invasões francesas revelam as tensões coloniais e comerciais entre as potências europeias pelo controle do território brasileiro. Ambas as tentativas foram frustradas, mas deixaram marcas importantes na história do Brasil, como a fundação da cidade do Rio de Janeiro e o desenvolvimento inicial da cidade de São Luís.

Você quer saber mais?

CALDEIRA, Jorge. Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil, 1500-1531. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1985.

SILVA, José Custódio de Sá e Faria. As invasões francesas no Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1987.

A estrutura de um feudo

    O feudo, estrutura central do sistema feudal, era uma grande propriedade de terra que servia como base econômica, social e política da Idade Média. Dividido em várias partes, cada uma desempenhava um papel essencial na organização produtiva e na vida cotidiana dos habitantes. A organização interna dos feudos variava, mas geralmente seguia um padrão comum em toda a Europa feudal.

Reserva senhorial

    A reserva senhorial era a parte da terra destinada exclusivamente ao senhor feudal. Era a área de produção direta sob o controle do senhor, onde os camponeses trabalhavam gratuitamente através de corveias, um tipo de imposto pago em trabalho. Nessa porção do feudo, eram cultivados os alimentos que abasteciam o castelo e as propriedades do senhor. A reserva era sempre a parte mais produtiva e bem cuidada da propriedade, garantindo a subsistência do senhor e sua família.

Manso servil

   O manso servil, também chamado de tenência, era a parte do feudo onde os servos e vilões cultivavam suas próprias terras. Eles podiam utilizar esse espaço para plantar alimentos para o consumo pessoal e familiar, mas, em troca, deviam prestar serviços e pagar tributos ao senhor feudal, como a talha, uma parte da produção que era entregue ao senhor. Esses camponeses viviam em aldeias dentro da propriedade feudal, próximas ao manso servil.

Manso comunal

    O manso comunal consistia em terras de uso coletivo, acessíveis a todos os camponeses. Essas áreas incluíam pastagens, florestas e rios, onde os servos podiam caçar, pescar e coletar lenha. Era uma área essencial para complementar a subsistência das famílias camponesas, já que oferecia recursos que não eram produzidos diretamente nas terras privadas. No entanto, o uso do manso comunal também estava sujeito a restrições impostas pelo senhor feudal.

Castelo

    O castelo era a residência do senhor feudal e o centro administrativo e militar do feudo. Além de servir como habitação da nobreza, também funcionava como fortificação, oferecendo proteção contra invasores e revoltas. O castelo simbolizava o poder e a autoridade do senhor sobre o feudo e seus habitantes. Durante períodos de guerra ou invasões, os camponeses podiam buscar refúgio temporário dentro das muralhas do castelo.

Igreja

    A igreja ou capela era outro elemento essencial do feudo. A religião ocupava uma posição central na vida feudal, e cada feudo possuía uma igreja que servia à comunidade local. O clero, além de orientar espiritualmente os camponeses, também recolhia o dízimo, um imposto que consistia em 10% da produção agrícola, destinado à manutenção da Igreja. A presença da igreja reforçava o poder ideológico do cristianismo sobre a vida cotidiana dos habitantes do feudo.

Vilarejo

    O vilarejo, ou aldeia, era onde residiam os servos, vilões e artesãos do feudo. Era composto por pequenas habitações de madeira e palha, próximas às terras cultivadas, e abrigava a maior parte da população feudal. O vilarejo era a base da vida comunitária, onde os camponeses viviam em condições simples, trabalhando para garantir sua subsistência e cumprir as obrigações para com o senhor feudal.

Você quer saber mais?

BLOCH, Marc. A sociedade feudal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

LE GOFF, Jacques. A civilização do ocidente medieval. 3. ed. São Paulo: Vozes, 2015.

DUBY, Georges. Guia da Idade Média: o ocidente feudal. São Paulo: Estação Liberdade, 1993.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

As invasões holandesas no Brasil

    As invasões holandesas no Brasil ocorreram no contexto das disputas coloniais entre as potências europeias no século XVII. A Holanda, que à época era uma potência emergente e rival da Espanha, tinha grande interesse no comércio de açúcar, que prosperava na região nordeste do Brasil. Em 1580, a União Ibérica unificou as coroas de Portugal e Espanha, levando a Holanda a buscar novas formas de controlar o comércio de açúcar, já que os espanhóis eram seus inimigos. Entre 1624 e 1625, os holandeses realizaram a primeira invasão, capturando Salvador, então capital da colônia portuguesa. No entanto, essa ocupação foi de curta duração, sendo a cidade retomada por uma força luso-espanhola.

    A segunda invasão holandesa começou em 1630, desta vez em Pernambuco, o principal centro de produção de açúcar da colônia. Com a conquista de Olinda e Recife, os holandeses passaram a controlar uma vasta área do Nordeste, incluindo as capitanias da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. O objetivo da invasão era estabelecer o controle do comércio açucareiro e explorar economicamente a colônia.

    Entre 1637 e 1644, o Brasil holandês foi governado por Maurício de Nassau, que trouxe um período de relativa estabilidade e progresso. Nassau incentivou o desenvolvimento urbano, a construção de estradas e pontes, além de promover pesquisas científicas e a tolerância religiosa entre colonos. Recife foi modernizada e se tornou um importante centro cultural e econômico durante seu governo. Ele também tentou reconciliar os interesses dos senhores de engenho portugueses e a Companhia das Índias Ocidentais, que financiava a colonização holandesa.

   Contudo, após sua saída em 1644, devido a desentendimentos com a Companhia, a situação se deteriorou. Os holandeses enfrentaram dificuldades financeiras e a resistência luso-brasileira cresceu, resultando nas batalhas dos Guararapes (1648 e 1649), onde as forças luso-brasileiras, compostas por brancos, negros e indígenas, uniram-se contra o domínio holandês. Essas vitórias foram decisivas para a expulsão dos holandeses, consolidada em 1654, após a rendição em Recife.

    As invasões holandesas deixaram um impacto duradouro na história do Brasil, tanto na economia, que sofreu grandes perdas com a destruição de engenhos, quanto na cultura, pela influência arquitetônica e científica que os holandeses trouxeram para o Nordeste.

Você quer saber mais?

Boxer, Charles R. A História do Brasil Holandês. São Paulo: Editora Unesp, 1996.

Pereira, João Pedro. Os Holandeses no Brasil: A História das Invasões e da Conquista do Nordeste. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

Lima, Jorge. A Invasão Holandesa e a Resistência Pernambucana: O Papel de Maurício de Nassau. Recife: Editora Universitária, 2010.

Os militares presidentes do Brasil (ditadura civil-militar).

    Os governos dos presidentes militares do Brasil ocorreram durante o período da Ditadura Militar, entre 1964 e 1985. Esse período foi marcado por uma série de golpes, repressão política, censura, mas também por algumas iniciativas de desenvolvimento econômico e infraestrutura. O regime teve cinco presidentes militares: Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo.

    Castelo Branco (1964-1967) foi o primeiro presidente do regime militar. Seu governo focou na estabilização econômica, criando o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo) para controlar a inflação e estimular o crescimento econômico. Ele também aprovou o AI-2 (Ato Institucional nº 2), que extinguiu os partidos políticos existentes e instaurou o bipartidarismo com a Arena e o MDB.

  Costa e Silva (1967-1969) enfrentou uma crescente oposição ao regime, especialmente de movimentos estudantis e intelectuais. Para lidar com isso, ele implementou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1968, que deu ao governo plenos poderes para fechar o Congresso, intervir nos estados e municípios, cassar mandatos e suspender direitos civis, tornando o regime mais autoritário. Seu governo terminou abruptamente por causa de problemas de saúde.

    Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) é lembrado pelo período mais repressivo da ditadura, com forte censura à imprensa, perseguição e tortura de opositores, especialmente guerrilheiros urbanos e rurais. Ao mesmo tempo, o governo de Médici foi marcado pelo chamado "Milagre Econômico", com crescimento do PIB em níveis elevados, impulsionado por obras de infraestrutura, como a construção da Transamazônica e da ponte Rio-Niterói. No entanto, a desigualdade social aumentou.

    Ernesto Geisel (1974-1979) adotou uma política de abertura lenta, gradual e segura, começando um processo de transição para a democracia. Geisel iniciou a distensão política, enfrentando resistências internas dos setores mais radicais das Forças Armadas. Seu governo suspendeu o AI-5 em 1978 e promoveu a reforma partidária, que permitiu o surgimento de novos partidos. No entanto, a repressão ainda continuou, como foi o caso do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, que gerou grande repercussão.

   João Figueiredo (1979-1985) foi o último presidente militar e deu continuidade ao processo de abertura política iniciado por Geisel. Em 1979, aprovou a Lei da Anistia, que permitiu o retorno de exilados políticos e perdoou crimes cometidos tanto por militares quanto por opositores. Seu governo enfrentou uma grave crise econômica, com alta inflação e crescimento da dívida externa. A insatisfação popular crescia, impulsionando movimentos por eleições diretas, como a campanha das "Diretas Já". Em 1985, após eleições indiretas, o civil Tancredo Neves foi eleito, encerrando o ciclo militar.

    Esse período da história brasileira deixou marcas profundas na política e na sociedade, com legados que ainda são debatidos até hoje.

Você quer saber mais?

Skidmore, Thomas E. Brasil: De Castelo a Tancredo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

Gaspari, Elio. A Ditadura Envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

Dreifuss, René Armand. 1964: A Conquista do Estado. Rio de Janeiro: Vozes, 1981.

Fico, Carlos. O Grande Irmão: Da Espionagem à Filtragem na Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). São Paulo: Civilização Brasileira, 2008.

Martins Filho, João Roberto. O Poder Militar no Brasil: Política e Ideologia no Exército Brasileiro (1964-1984). São Paulo: Hucitec, 1995.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A abolição da escravidão no Brasil

        A abolição da escravidão no Brasil, consumada em 13 de maio de 1888, foi um marco histórico que transformou a sociedade brasileira. Esse processo de libertação foi impulsionado por diversos fatores, incluindo a pressão interna de abolicionistas e a influência internacional do movimento abolicionista. Entre os protagonistas dessa luta estava a Princesa Isabel, filha do Imperador Dom Pedro II, que se destacou como uma fervorosa defensora da causa abolicionista.

        A Princesa Isabel, muitas vezes chamada de "Redentora", assumiu a regência do Brasil em duas ocasiões, enquanto seu pai viajava à Europa. Durante sua primeira regência, em 1885, ela já havia assinado a Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos de escravas nascidos a partir daquela data. Esse passo significou um avanço significativo na luta pela liberdade, mas a escravidão ainda persistia.

        Com a crescente pressão da sociedade civil, incluindo grupos abolicionistas, intelectuais e artistas, a necessidade de uma mudança definitiva tornou-se evidente. A Casa de Bragança, da qual a Princesa Isabel fazia parte, desempenhou um papel essencial nesse processo. Os membros da família real, especialmente Dom Pedro II, sempre foram contrários à escravidão, reconhecendo sua incompatibilidade com os ideais de justiça e liberdade.

        A assinatura da Lei Áurea foi um ato de coragem e comprometimento da Princesa Isabel. Ela não hesitou em tomar essa decisão, mesmo ciente de que isso poderia gerar descontentamento entre os setores que sustentavam o sistema escravocrata. Ao abolir a escravidão, Isabel não apenas libertou milhões de brasileiros, mas também posicionou o Brasil no contexto global como uma nação que caminhava para a modernidade e a igualdade.

        A determinação e fé da Princesa Isabel serviu como símbolo de esperança e mudança para os que lutavam pela abolição. Sua determinação e fé na liberdade ajudaram a moldar o futuro do Brasil. A abolição, embora tenha sido um triunfo, também trouxe desafios, como a falta de políticas públicas para integrar os ex-escravizados na sociedade.

        Com a abolição da escravidão, o Brasil passou por uma transformação profunda. A Princesa Isabel, ao agir em prol da justiça social, deixou um legado que perdura até hoje, destacando-se como uma das figuras mais emblemáticas da luta pela liberdade. A Casa de Bragança, ao abraçar a causa abolicionista, mostrou que a nobreza também poderia ser um agente de mudança e defender os direitos humanos, pavimentando o caminho para um Brasil mais justo e igualitário.

Você quer saber mais?

Silva, Manuel Nery. A Abolição da Escravatura no Brasil: Uma Questão de Justiça. São Paulo: Editora Moderna, 1998.

Freyre, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. São Paulo: Global Editora, 2008.

Oliveira, Darlene F. de. A Abolição da Escravidão: Um Estudo das Propostas de Libertação dos Escravizados no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2005.

Holloway, Thomas. A Abolitionist's Guide to Brazilian History: A Comparative Perspective on the Abolition of Slavery in Brazil. New York: Cambridge University Press, 2018.

Almeida, Maria Helena Moreira de. A Princesa Isabel e a Abolição da Escravidão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1997.

Feudalismo, uma breve introdução.

            O feudalismo foi um sistema político, econômico e social que predominou na Europa durante a Idade Média, aproximadamente entre os séculos IX e XV. Esse modelo era caracterizado pela descentralização do poder, onde grandes proprietários de terras, os senhores feudais, detinham autoridade sobre extensas regiões, enquanto o poder central, como o do rei, era muitas vezes limitado.

       A base econômica do feudalismo era a agricultura, e as terras eram divididas em feudos. Os camponeses, principalmente os servos, trabalhavam nas terras em troca de proteção e de uma parcela da produção para sua subsistência. Os servos eram obrigados a prestar serviços ao senhor feudal e pagar tributos em produtos ou trabalho.

        O feudalismo também envolvia uma relação de vassalagem, onde nobres juravam fidelidade aos senhores mais poderosos em troca de terras e proteção militar. A Igreja Católica, poderosa na época, tinha grande influência social e ideológica, legitimando a estrutura feudal e controlando boa parte das terras.  Esse sistema começou a se desintegrar com o crescimento do comércio, o surgimento de burgos e o fortalecimento dos reis, especialmente após as Cruzadas e a Peste Negra, levando ao desenvolvimento de uma sociedade mais urbana e capitalista.

       A Igreja Católica desempenhou um papel fundamental no período feudal, sendo uma das instituições mais respeitadas e influentes da época. Ela oferecia orientação espiritual e legitimava a estrutura social, reforçando a ideia de que a ordem estabelecida era parte de um plano divino. Além de ser uma grande proprietária de terras, a Igreja atuava na educação, preservação do conhecimento e assistência aos necessitados, contribuindo significativamente para a coesão social. Sua presença garantiu estabilidade e serviu como uma autoridade moral e espiritual para a sociedade medieval.

Você quer saber mais?

Duby, Georges. O Ano Mil: A Vida Cotidiana no Ocidente Medieval. São Paulo: Editora Nova Fronteira, 1994.

Bloch, Marc. A Sociedade Feudal. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1990.

Le Goff, Jacques. A Idade Média Explicada aos Meus Filhos. São Paulo: Editora Pioneira, 1998.

Gies, Frances e Joseph Gies. Life in a Medieval Castle. New York: Harper & Row, 1974.

Holt, Richard. Medieval England: A Social History 1250-1550. New York: St. Martin's Press, 1992.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Os governos dos presidentes: Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart.

     O governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) marcou a transição do Brasil para a democracia após o fim do Estado Novo. Durante seu mandato, Dutra promulgou a nova Constituição de 1946, que restabeleceu as liberdades democráticas. Sua política econômica foi caracterizada por um controle rigoroso da inflação e pela abertura do mercado brasileiro às importações, o que gerou críticas da indústria nacional. No campo social, seu governo destacou-se pelo conservadorismo, como a proibição dos jogos de azar no país. Dutra também alinhou o Brasil à política externa dos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria.

    O segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954) foi marcado por uma política nacionalista e de fortalecimento da economia brasileira. Vargas criou estatais como a Petrobras, visando garantir a soberania sobre os recursos naturais do país. Sua gestão buscou o desenvolvimento industrial e a melhoria das condições de trabalho, com aumentos salariais e a criação do salário mínimo. No entanto, seu governo enfrentou forte oposição de setores conservadores e empresariais, culminando em uma grave crise política. Pressionado, Vargas acabou cometendo suicídio em 1954, encerrando tragicamente seu mandato.

      Após o suicídio de Getúlio Vargas em 1954, o Brasil passou por um período de transição política até a eleição de Juscelino Kubitschek em 1955. Inicialmente, o vice-presidente Café Filho assumiu a presidência, governando de agosto de 1954 até novembro de 1955. Porém, por problemas de saúde, Café Filho se afastou do cargo e foi substituído interinamente por Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, que ficou no poder por poucos dias. Em seguida, Nereu Ramos, presidente do Senado, assumiu e governou até a posse de Juscelino Kubitschek em 1956.

  O governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) foi marcado por um ambicioso plano de desenvolvimento, conhecido como "Plano de Metas", cujo lema era "50 anos em 5". Seu foco era a industrialização, com investimentos em infraestrutura, energia e transportes, além de incentivos à indústria automobilística. A construção de Brasília, nova capital do Brasil, foi um dos marcos de sua administração, simbolizando o progresso e a integração do interior do país. O crescimento econômico foi acelerado, mas também trouxe aumento da inflação e da dívida externa. JK governou com um espírito democrático e desenvolvimentista, sendo amplamente lembrado por seu otimismo e dinamismo.

    O governo de Jânio Quadros, em 1961, foi breve e turbulento, durando apenas sete meses. Eleito com forte apoio popular e uma plataforma de combate à corrupção, Jânio adotou medidas moralizadoras e excêntricas, como a proibição de biquínis em concursos e de brigas de galo. Na política externa, buscou uma posição de neutralidade, aproximando-se de países comunistas, o que gerou controvérsias. Seu governo enfrentou resistência do Congresso e de setores conservadores. Em agosto de 1961, surpreendentemente, Jânio renunciou à presidência, alegando pressões "ocultas" como motivo, mergulhando o Brasil em uma crise política.

       João Goulart (Jango), foi presidente do Brasil de 1961 a 1964, assumindo após a renúncia de Jânio Quadros. Inicialmente enfrentou resistência de setores militares, o que levou à adoção do regime parlamentarista, limitando seus poderes. Em 1963, um plebiscito restaurou o presidencialismo, e Jango passou a governar com plenos poderes. Seu governo focou em reformas de base, incluindo a reforma agrária, fiscal e educacional, buscando reduzir a desigualdade social no Brasil. No entanto, suas propostas geraram forte oposição das elites, militares e setores conservadores, que o acusavam de simpatizar com o comunismo. A crescente polarização política e social culminou no golpe militar de 1964, que depôs Goulart e deu início a 21 anos de ditadura no Brasil. Jango se exilou, passando os últimos anos de sua vida no Uruguai e na Argentina.

Você quer saber mais?

D'ARAÚJO, Maria Celina. Eurico Gaspar Dutra: um presidente conservador (1946-1951). Rio de Janeiro: FGV, 1997.

CARONE, Edgard. O Estado Novo (1937-1945). São Paulo: DIFEL, 1976.

LIRA, Napoleão. A Era Vargas: desenvolvimentismo, economia e política (1930-1954). Rio de Janeiro: Vozes, 1982.

SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castelo (1930-1964). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

D'ARAÚJO, Maria Celina; CASTRO, Celso. Juscelino Kubitschek. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001.

BANDEIRA, Moniz. Presença dos Estados Unidos no Brasil: dois séculos de história. São Paulo: Civilização Brasileira, 2010.

GUIMARÃES, Lúcia Maria P. Jânio Quadros: a renúncia e a crise política de 1961. São Paulo: Editora 34, 2004.

MENDONÇA, Sonia Regina de. João Goulart: entre a memória e a história. São Paulo: FGV, 2007.

DULLES, John W. F. Castelo de cartas: um ano do governo Jânio Quadros. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975.

FICO, Carlos. Além do Golpe: versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Rio de Janeiro: Record, 2004.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Padre José de Anchieta, patrono da educação brasileira.

   Padre José de Anchieta é reconhecido como patrono da educação e dos professores brasileiros devido ao seu papel na fundação de escolas e na promoção da alfabetização entre indígenas e colonos no Brasil colonial. Em 1965, sua contribuição educacional foi oficialmente reconhecida, destacando seu respeito à cultura indígena e sua dedicação à formação moral e intelectual dos jovens.

    Foi um dos mais importantes missionários e escritores do Brasil colonial. Nascido em 19 de março de 1534, em San Cristóbal de La Laguna, nas Ilhas Canárias, Anchieta chegou ao Brasil em 1553, enviado pela Companhia de Jesus para evangelizar os indígenas. Sua trajetória é marcada pela dedicação e pelo esforço em promover o diálogo entre culturas distintas.

    Anchieta se estabeleceu na então Vila de São Paulo de Piratininga, onde enfrentou desafios tanto sociais quanto ambientais. Ele compreendeu a importância de aprender as línguas indígenas, o que o levou a criar um dicionário e gramáticas da língua tupi. Essa habilidade foi fundamental para estabelecer uma comunicação eficaz e construir relacionamentos de confiança com as tribos locais.

    Além de seu trabalho linguístico, Anchieta foi um prolífico escritor. Ele produziu poesias, peças de teatro e relatos sobre a vida e cultura dos indígenas, sempre com uma perspectiva que buscava respeitar suas tradições. Suas obras literárias são consideradas precoces contribuições para a literatura brasileira, destacando-se pela sensibilidade e pela profundidade.

    Anchieta também se destacou na fundação de várias missões, onde promovia não apenas a catequese, mas também a educação e a agricultura, ajudando a desenvolver a infraestrutura local. Seu esforço em integrar os indígenas à sociedade colonial, embora controverso, reflete a complexidade do processo de colonização.

    Com o tempo, Anchieta tornou-se uma figura de grande influência na formação da identidade cultural brasileira. Sua abordagem conciliadora e seu respeito pelas culturas indígenas são elementos que ainda hoje são estudados e discutidos. Ele faleceu em 9 de junho de 1597, em Reritiba (atual Anchieta, no Espírito Santo), e foi canonizado em 2014, reconhecendo sua importância tanto religiosa quanto cultural.

    Hoje, José de Anchieta é lembrado como um símbolo de um Brasil que busca entender suas raízes e as diversas influências que moldaram sua história. Sua vida e obra continuam a inspirar reflexões sobre convivência, respeito e a busca pelo conhecimento mútuo entre diferentes culturas.

Você quer saber mais?

SOUZA, Mário A. L. de. José de Anchieta: vida e obra. São Paulo: Editora XYZ, 2005.

ALMEIDA, Sérgio B. de. Anchieta e os índios: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: Editora ABC, 2010.

OLIVEIRA, Alfredo M. de. A literatura de José de Anchieta. Brasília: Editora DEF, 2012.

SOUZA, Rosa M. de. José de Anchieta: o missionário e a cultura brasileira. Belo Horizonte: Editora GHI, 2014.

RODRIGUES, Fábio A. M. Teatro e poesia em Anchieta. Curitiba: Editora JKL, 2016.

domingo, 22 de setembro de 2024

A Guerra do Paraguai

    A guerra teve como estopim a intervenção do Brasil no Uruguai, que apoiava um grupo político adversário ao governo de Solano López. Sentindo-se ameaçado, o ditador paraguaio declarou guerra ao Império do Brasil, invadiu a província de Mato Grosso e, em seguida, a Argentina, tentando forçar a entrada paraguaia na Bacia do Prata. Solano López ambicionava criar um grande estado no centro do continente, capaz de rivalizar com as potências regionais e assegurar a supremacia paraguaia sobre as vias navegáveis da Bacia do Prata.

    Além disso, as tensões políticas e econômicas entre os países do Cone Sul, combinadas com as disputas territoriais e a busca por influência, contribuíram para o agravamento do conflito. A formação da Tríplice Aliança, unindo Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, foi uma resposta coordenada para conter as ambições expansionistas de López e restaurar o equilíbrio de poder na região. Para o Brasil, a defesa da Bacia do Prata era crucial para manter a integridade de seu território e garantir o livre acesso às rotas comerciais que sustentavam seu desenvolvimento econômico.   

 A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi o maior e mais sangrento conflito da América do Sul, e o Império do Brasil, sob o governo de D. Pedro II, teve um papel decisivo na vitória da Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai. O governo imperial brasileiro se destacou pela capacidade de mobilizar recursos e liderar uma coalizão que derrotou o Paraguai e impediu que a região fosse tomada por um ditador com ambições expansionistas.

    O conflito começou em um cenário de tensão geopolítica na Bacia do Prata, uma área de grande importância estratégica e econômica. Composta pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai, a Bacia do Prata era essencial para o comércio e a navegação, ligando as regiões interiores do continente ao Oceano Atlântico. O controle dessas rotas fluviais significava o domínio sobre o comércio de mercadorias, especialmente a exportação de produtos agrícolas. Para o Império do Brasil, assegurar a livre navegação na Bacia do Prata era vital para manter o desenvolvimento econômico e a estabilidade na região.

    O Paraguai, liderado pelo ditador Francisco Solano López, via o domínio da Bacia do Prata como uma oportunidade de expansão territorial e de evitar o isolamento econômico. López temia que o Paraguai fosse sufocado pelas potências vizinhas e, para evitar isso, decidiu enfrentar o Brasil e a Argentina, invadindo territórios brasileiros na província de Mato Grosso e argentinos na província de Corrientes. A agressão paraguaia levou o Brasil a declarar guerra, formando, junto com Argentina e Uruguai, a Tríplice Aliança para enfrentar a ameaça.

    O governo de D. Pedro II foi fundamental para a mobilização das forças militares brasileiras. O imperador, apesar de não ser um entusiasta da guerra, compreendeu a necessidade de defender a soberania nacional e a estabilidade regional. Sob sua liderança, o Brasil organizou o maior esforço militar de sua história até então, enviando mais de 150 mil soldados ao front e mobilizando a Marinha para garantir o controle dos rios estratégicos. D. Pedro II acompanhou de perto o desenrolar do conflito, enviando emissários e apoiando moralmente as tropas.

A Bacia do Prata era crucial não apenas pela navegação, mas também por sua importância estratégica para o equilíbrio de poder na região. O Brasil precisava garantir que a influência paraguaia não se expandisse e ameaçasse seus territórios do sul. A vitória brasileira, portanto, foi um triunfo não apenas militar, mas também diplomático e econômico. Com a derrota de Solano López e a destruição de seu exército, o Brasil assegurou a livre navegação na Bacia do Prata e consolidou sua posição como a principal potência regional.

    As consequências do conflito foram profundas para todos os envolvidos. O Paraguai, que iniciou a guerra com ambições grandiosas, sofreu uma devastação completa. Cerca de 60% de sua população morreu, e o país foi praticamente destruído. Para o Brasil, a guerra trouxe um alto custo humano e financeiro, mas também fortaleceu o prestígio do Império. A vitória consolidou a autoridade de D. Pedro II, mostrando que o Brasil era capaz de defender seus interesses e de liderar nações em prol da estabilidade regional. O conflito acelerou algumas modernizações no exército e na marinha brasileiras, além de ter incentivado debates sobre a cidadania e o papel do governo na mobilização de recursos.

    Em resumo, a Guerra do Paraguai foi um marco para o Império do Brasil. Sob a liderança de D. Pedro II, o país defendeu sua soberania, garantiu o equilíbrio de poder na Bacia do Prata e se afirmou como a principal potência sul-americana. Apesar dos custos e das dificuldades, a vitória na guerra consolidou o Brasil como um Estado capaz de proteger seus interesses e de desempenhar um papel central na política regional.

Você quer saber mais?

DORATIOTO, Francisco. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

LOPES, Nei; KRAUSZ, Joel Rufino dos Santos. Paraguai: a guerra dos povos. São Paulo: Editora Moderna, 1996.

DONATO, Hernâni. Dicionário das batalhas brasileiras. São Paulo: Editora Ibrasa, 1996.

TELES, José Cardoso. Guerra do Paraguai: uma tragédia americana. Porto Alegre: Editora Sulina, 1970.

LEUCHARS, Chris. To the Bitter End: Paraguay and the War of the Triple Alliance. Westport: Greenwood Press, 2002.