Simbolo do Zoroastrismo. A chama sagrada (Avarkhvarsh, o fogo radiante).
Sobre
o Autor: Paul
Du Breuil é hoje o maior especialista do zoroastrismo, da filosofia masdaica e
da religião dos parses.
OBSERVAÇÃO: Os
reis aquemênidas foram “reis justos”, segundo as Gâthâs, tendo introduzido uma
forma de governo humanizado, suscetível de servir de exemplo a toda a nação
humana. É preciso compreender que entre os grandes reis Ciro, Dario e Xerxes, a
noção de raça, procedia de uma ordem superior e espiritual. Atualmente só os
ossetas do Cáucaso representariam a última ilhota dos antigos arianos. Os
proto-arianos vindos provavelmente da bacia do Volga, ao norte do
Cáspio, como seus predecessores do fim do terceiro milênio. Ora, originados de
tribos arianas, isto é, indo-européias, da Rússia meridional, essas
faces aquemênidas, persas e medas ofereceram
uma morfologia muito diferente daquela da europeia nórdica, dolicocéfala e
loira de olhos azuis, como Tácito se divertiu em descrever no seu
Germânia, ou como os poetas gregos, de Homero a Eurípides, construíam a imagem
dos heróis mitológicos. Isso mostra até que ponto a reinvindicação
do termo ariano pelo pangermanismo podia é abusiva. Os arianos, ou primeiros habitantes indo-europeus do
Irã interior e exterior, país que tira seu nome desses povos, persas e medas,
cimérios e citas, e, a leste, os da Índia bramânica, não
teriam mais que um longínquo parentesco étnico com os indo-europeus que
fundaram os povos da Europa ocidental.
Zoroastro, segundo ilustração de fieis.
§ A moral do Estado sassânida
protegia o casamento, a família, condenava o aborto, encorajava a adoção. O
zoroastrismo tradicionalmente monogâmico. As mulheres possuíam uma liberdade
até então desconhecida no mundo antigo.
§ Primeiros crentes na ressurreição
da alma, os parses estimam que dar o seu corpo aos abutres, após a morte é uma
ato de generosidade última de sua vida para com a natureza criada por Ahura
Mazda.
§ Somente consideravam fieis
masdeianos os filhos de pais parses, não aceitavam casamentos mistos.
§ Ainda bebê a criança parse terá
sido previamente apresentada ao templo e marcada com cinza do fogo sagrado na
testa.
§ O fogo sagrado do fiel masdeiano
deve ser alimentado com madeira de sândalo (Machi).
§ Para os parses o casamento é o ato
primordial da vida, os noivos recebem arroz sobre seus corpos em sinal de
prosperidade.
§ O masdeismo ignora a reencarnação,
crendo em uma única vida terrena e uma única vida eterna no pós-morte.
§ As façanhas da cavalaria persa,
que antecipou em um milênio o nascimento da cavalaria europeia. A perenidade
desse fenômeno moral na tradição zoroástrica confirma bem que ela foi a fonte
da ética cavalheiresca, tal qual se elaborou na cavalaria dos partas e dos
sassânidas, muito tempo antes de nossos orgulhosos paladinos da Idade Média
saírem formando cruzadas. De resto, Eugene d’Ors não se enganara quando
reconheceu a ética de um código de cavalaria na moral zoroástrica.
§ Os parses demonstram também a mais
perfeita tolerância para com as outras religiões.
§ O aborto permanece sendo, no
parsismo, um crime contra a vida, tão grave como fazer uma colheita antes do
tempo, revestindo-se, praticamente, do caráter de um assassinato metafísico.
§ Zoroastro
condena as matanças de bois em rituais de sacrifícios, bem como serão
severamente rejeitadas também, e vivamente, o êxtase artificial das drogas
alucinógenas (haoma, cânhamo).
A carência que se constata no campo do conhecimento do
parsismo é agravada pelo fato de que esta etnia está em diminuição demográfica
alarmante e que muitos dos seus representantes estão em vias de perder sua
identidade cultural.
*Parse:
Povo persa do antigo Irã (palavra que tem origem nos povos Indo-arianos) que
também era chamado de Pérsia.
Ahura Mazda
A obra de Zoroastro nos é dada a conhecer pelas Gâthâs,
textos arcaicos que lhe são formalmente atribuídos por textos contemporâneos
(Yashts). E pelos textos do Avesta tardio, que reagruparam o conjunto das
tradições nas épocas parta, sassânida e pós-sassânida. O termo Zend-Avesta,
retomado por Anquetil du Perron e Darmesteter, é impróprio para designar o
Avesta, palavra derivada do pálavi apastâk, de onde a forma persa avasta:
prescrição, fundamento. Zend significa “conhecimento” no dialeto médio-parta e
designava não um livro mas a glosa do texto sagrado. Apastak-u-Zand “Avesta e
Zend” foi durante muito tempo e abusivamente atribuído ao conjunto da literatura
avéstica e do seu comentário original (Haug). A língua das Gatas originais é do
velho iraniano oriental, parente vago do sânscrito dos vedas e de certos velhos
dialetos afegãos.
O que resta do Avesta limita-se apenas a um quarto do
Avesta primitivo, que contava com 21 livros (nasks). O conjunto do Avesta
compõe-se dos principais textos seguintes, que simplificamos para maior
clareza:
GÂTHÂS:
composto por 72 hinos.
YAST: 22
hinos de adoração.
VIDEVDÁT: código religioso,
dogmas, regras e informações médicas da época parta.
VISPERED:
textos litúrgicos.
NIRANGANSTAN:
código ritual, liturgia dos mortos.
Agora seguem os
textos mais tardios, redigidos na época sassânida (212/642) ou pós sassânida no
século IX sob o Islã.
BAHMAN
YASHT: apocalipse pálavi do mundo e de suas idades, que
remontam igualmente a tratados avésticos perdidos.
ARTA
VIRAF NAMAK: livro da descida de Arta Viraf ao inferno,
viagem mítica de um fiel, antigo precursor de Dante.
MAINYO
I-KHARD: livro que responde 72 questões doutrinárias
zoroástricas.
BUNDAHISN:
manual de cosmologia religiosa.
VICITAKIHA
I ZATSPRAM: seleções de Zatspram, de tendências
zervanita acentuada.
DENKART:
análise do Avesta, compreendendo também nasks perdidos do antigo Avesta, que
data do século IX.
DASDISTAN
I DENIK: relata a respostas de um eminente estudioso,
Mihr Xvarset, sobre 92 questões de liturgia e de dogmática.
SRAND
GUMANIK VICAR: obra de apologética zoroástrica de
Martanfarrux, e de polêmica doutrinária contra as religiões estrangeiras
(maniqueísmo, cristianismo, judaísmo e islamismo) e as heresias.
SAYAST
NE SAYAST: é um tratado de casuística no tocante às
questões de ritual e de orações.
SADDAR:
espécie de manual do crente masdiano perfeito.
RIVAYATS:
coleção de correspondência em persa entre os parses da Índia e os zartoshtis do
Irã, mantida do século XV ao século XVIII, sob a forma de perguntas e reposta
sobre o ritual, os costumes, as prescrições, cerimônias, usos, cultos etc.
Fiel orando diante do Fogo Sagrado (Avarkhvarsh).
Idiomas
falados pelos fieis masdeianos desde a origem dos escritos com Zoroastro.
AVESTICO
à PÁLAVI à PERSIANO à GUJARATI
Origem
do Sábio do antigo Irã.
Hermódoro, Plutarco, Plínio o Velho, fazem remontar a
fundação do zoroastrismo e citam Eudóxico, que o faz viver 6.000 anos antes da
morte de Platão, e Hermipo diz que Zoroastro compôs dois milhões de versos e
que Agonaces, que foi o mestre de Zoroastro, viveu 5.000 anos antes da guerra
de Tróia. Plutarco repete que Zoroastro, o Mago, viveu 5.000 anos antes da
guerra de Tróia. Heraclito o vê sobrevivente da Atlântida. Da mesma forma, uma
cronologia mítica de um ciclo cósmico de seis milênios justifica a datação
fabulosa emprestada àquele de quem eles forma o profeta. Esta datação audaciosa
teve seus partidários, cujas hipóteses se fundamentaram na tradição hiperbórea,
de onde reputava-se vir o povo ARYA (ariano) depois da última época glacial.
Pela história, contra a lenda, Zoroastro teria lançado sua pregação pouco antes
da seca, que, mais ou menos em -800, começou a desertificar a Ásia central, e
ele seria, pois, um contemporâneo dos últimos assírios e dos primeiros
aquemênidas, ancestrais de Ciro e Dario.
Bakdhi:
a criação de Ormasd (o mito zoroastrico da criação)
“Um
príncipe semita de nome Azhi Dahak (forma arabeizada em Zohak) destronou Yima,
o primeiro rei dos árias, que acabara de perder sua proteção divina simbolizada
pela glória luminosa de Xvarnah. Mas Atar, o Fogo Celeste, salva esta luz
divina das mãos tenebrosas do dragão Zohar “de três goelas”. Então o astucioso
bandido turaniano Afrasiab também procura apoderar-se da Glória dos povos
arianos e, não conseguindo, lança este desafio demoníaco : ‘Pois seja! Eu não
consegui apoderar-me da Glória que pertence aos povos arianos e não
conseguindo, lança este desafio demoníaco: ‘Pois seja! Mas eu corromperei tudo,
grãos e licores, todas as coisas de grandeza, de bondade, de beleza que
Ahura-Masda cansa-se de produzir, sempre ardente por criar’ (Yt. 19, 57, 58).
Procissão de Parsis com o Avarkhvarsh, o fogo radiante.
Zohak, demônio das
tempestades, dragão de três cabeças que deseja devastar o mundo preso por mil
anos pelas forças da luz, no monte Demavant, onde fica até o fim dos tempos.
Libertado por Ahriman para devastar o mundo, o dragão será, então, morto a
cacetadas por Karsasp, um dos reis imortais da gesta ariana. O Avesta, por seu
lado, enunciará uma diferença radical entre arianos e não-arianos: a religião e
a realeza são as melhores que existem, a Boa Religião sendo a dos descendentes
de Yima (o primeiro rei dos Árias), e a má a dos povos árabes descendentes de
Dahak/Zohak.
As duas etnias proto-arianas que, sedentarizadas, vão
formar as colunas do antigo Irã de onde sairá o império Aquemênida, formam os persas
elamizados desde Aquemenes (-700), e Teispes (-675/-640), e os medas,
Madaia (Daiku, -715).
Os proto-arianos vindos provavelmente da bacia do Volga,
ao norte do Cáspio, como seus predecessores do fim do terceiro milênio. Ora,
originados de tribos arianas, isto é, indo-européias, da Rússia meridional,
essas faces aquemênidas, persas e medas ofereceram uma morfologia muito
diferente daquela da europeia nórdica, dolicocéfala e loira de olhos azuis,
como Tácito se divertiu em descrever no seu Germânia, ou como os poetas gregos,
de Homero a Eurípides, construíam a imagem dos heróis mitológicos. Isso mostra
até que ponto a reinvindicação do termo ariano pelo pangermanismo podia ser abusiva.
Várias celebrações diante do Fogo Sagrado (Avarkhvarsh, o fogo radiante).
Os arianos, ou
primeiros habitantes indo-europeus do Irã interior e exterior, país que tira
seu nome desses povos, persas e medas, cimérios e citas, e, a leste, os da Índia
bramânica, não teriam mais que um longínquo parentesco étnico com os
indo-europeus que fundaram os povos da Europa ocidental. Atualmente só os
ossetas do Cáucaso representariam a última ilhota dos antigos arianos.
Zoroastro
condena as matanças de bois em rituais de sacrifícios, bem como serão
severamente rejeitadas também, e vivamente, o êxtase artificial das drogas
alucinógenas (haoma, cânhamo).
Segundo os Gâthâs, a biografia se relata assim: Zoroastro
nasceu de uma rica família de criadores, os Spitama, de casta sacerdotal e
herdeira de uma tradição de poetas inspirados. O profeta foi o terceiro filho
de Dugdova, que irradiou luz durante sua concepção, e de Purushaspa, nome cuja
terminação indica ainda a etimologia de cavalo, que se encontra também no
Vishtaspa, sinais de uma antroponímia bem característica do meio de criadores
de cavalo do primeiros clãs sedentarizados nos confins das estepes e das
regiões irrigadas.
Vida
e vocação de Zoroastro
Plinio afirma, com a lenda masdaica, que Zoroastro veio
ao mundo rindo e que ele ria em cada um
de seus aniversários, mas acrescenta que as vibrações do cérebro da criança
eram tão fortes que dificilmente se podia pousar a mão em sua cabeça. Desde sua
tenra idade Zoroastro foi atacado por mágicos que, enciumados de sua santidade,
o arrebataram de seu pai. Dpois, tendo acendido uma enorme chama no deserto,
eles ali jogaram o menino, que não sofrerá nenhum mal. Este foi seu terceiro
milagre, depois do riso no seu nascimento e depois de ter escapado do gládio do
cavi Durasrab. Antes do sétimo e último milagre no qual ele sairá vencedor do
veneno, ele foi precipitado, sem danos, nos cascos dos touros e abandonado
entre os lobos. Desde a idade dos 7 anos seu pai o confiara a um mestre
eminente, Burzin-Curus, com o qual ele fez progressos admiráveis. Aos 15 anos
ele já fazia muito de bom e mergulhava em longas meditações. Sua reputação se
espalhou tanto entre os humildes como entre os grandes, embora ele denunciasse as
crueldades dos carapans e dos cavis, uns por sua magia e suas imolações de
bois, outros por sua injustiça e pela proteção que davam aos primeiros.
Zoroastro já tinha o hábito de se isolar nas montanhas e ali viver de frutas e
de um queijo incorruptível, abstendo-se de toda alimentação animal. Quando completou
20 deixou seus pais e se retirou para meditar numa gruta. Seu pai quis oferecer-lhe
bens, mas o Sábio só conservou, em memória dele, o seu custi, o cordão sagrado
indo-iraniano. Com a idade de 30 anos impossibilitado de difundir sua doutrina
ele foge da Meda, onde nasceu até Seistão e Bactriana, onde Zoroastro se
refugia numa montanha vizinha, elevado sítio da Ariana Vaeja, onde seu sucesso
na Bactriana, juntoa Vishtaspa.
“Pela sua pregação Zoroastro
aparece como um adversário apaixonado da religião ariana tradicional.”
Durante muitos anos Zoroastro e seu primo Maidiomaha
viajaram de aldeia em aldeia para converter chefes de tribos em favor de sua
causa. Começou então, para o Sábio, um longo retiro de uma dezena de anos,
vinte anos segundo Plínio o Velho, tendo como único discípulo consigo seu
querido primo Maiodiomaha.
“Ele via, então, o
sobrevoo da humanidade por poderosos anjos dirigidos por prodigiosas entidades,
cada uma delas respondendo por um domínio, que governavam segundo o Reino de
Ahura Masda. Zoroastro as definirá em sete expressões divinas:”
1- SABEDORIA (Masda).
2-
BOM PENSAMENTO (Vohu Manah).
3-
ORDEM JUSTA (Asha Vahista).
4-
REINO DIVINO (Khshatra).
5-
DEVOÇÃO (Armaiti).
6-
SAÚDE (Haurvatat).
7-
IMORTALIDADE (Ameretat).
*Tão
intimamente ligados como as sete cores do arco-íris, esses seres sagrados identificados mais tarde como os “arcanjos” do
zoroastrismo antes dos da
tradição bíblica são unicamente os atributos personificados de Masda e seus
principais modos de atividade entre os homens e na natureza.
“Arquétipos
supremos do Deus único Ahura Masda, foi ele que, antes de tudo, pensou o mundo,
ele que pôs a felicidade na luz celeste... Tu fizeste aparecer divinamente o
Soberano universal.”
(Y.31.7).
Zoroastro
casou com a filha de Frashaoshtra (membro da corte do rei Vishtaspa, que
recorreu a seu irmão Jamaspa para introduzir Zoroastro na corte), que lhe deu
três filhos: Isatvastar, Urvatatnar e Quirshid-Chichar, e três filhas: Freni,
Trithi e Puruchista.
Na corte de Vishtaspa, Zoroastro percorreu, sem cessar,
as regiões vizinhas a pé, a cavalo, camelo ou iaque, para difundir a fé
masdaica, durante 30 anos. Zoroastro e seu benfeitor erigiram altares de fogo
por toda parte e os templos do fogo.
Para Zoroastro, Deus não é somente a fonte da luz física do sol e dos astros cintilantes.
Ele é o apelo secreto que desperta na consciência toda luz moral e espiritual.
Com a divisão do povo ária em Índia e em Irã no segundo
milênio, ergue-se também uma oposição dos deuses e dos demônios. Os deuses hindus,
tornam-se demônios no mazdeismo como daevas da corte Ahrimaniana.
ATAR: fogo
primordial, o Polo da Luz essencial que precede e engendra os fogos estelares
do cosmos. Que no principio do mazdeismo fora criado pelo próprio Ahura-Mazda,
mas depois de interpretações teológicas distintas de Zoroastro, que colocaram
Ahura-Mazda além do universo e somente o veste. O que permanece é a ‘luz’ do
grande deus masdeano torna-se, para o Autor de Gâthâs, sinônimo de ‘pensamento
puro’.
O deus único de Zoroastro torna-se o menos objetivado e o
menos formal de todos os deuses, situando Ahura Masda isento de todas as trevas
e de toda implicação direta no conflito cósmico. Ahura Masda (Ormasd em pálavi) domina o duelo dos dois
Espíritos: SPENTA MAINYU (Espírito Santo) e AHRA MAINYU (Espírito do Mau;
Ahriman – Y. 45.2), seu irmão gêmeo YEMA, combate do qual Ahura Masda não
participa diretamente no espaço-tempo desdobrado por ele com parapeito e
armadilha contra o Espírito Mau, Ahriman, nome pelo qual é mais conhecido. A
criação ideal, portanto permanece puro de todo o mal de toda a eternidade, pois
é por livre-arbítrio que um dos dois Espíritos primitivos, o antigo Ahriman, mergulhou
numa via tenebrosa (Y.30.3). Ahura Masda/Ormasd só aparece como criatura
espiritual pela virtual existência da matéria erigida em suporte do Reino
divino, KHSHATRA. Ahura Masda não podia manter Ahrima no Reino que por
definição, não pode conter a mínima parcela tenebrosa. Conserva-lo seria o
risco de eternizar a ameaça ahrimaniana. Aprisioná-lo no espaço-tempo limitaria
a atividade deletéria. Eis por que a criação material GETE tornada necessária
pela má escolha e a obstinação do Mau Espírito, o espaço-tempo se tornou um
gigantesco campo de batalha no qual os elementos puros devem lutar contra os
elementos impuros.
“Ormazd criou
antes o universo espiritual, depois fez o universo material e misturou o
espiritual ao material.”
Uma
grande confusão, em virtude do sincretismo operado pelos magos, entre o
zoroastrismo e o zervanismo, acabou atribuindo a Zoroastro a paternidade do
dualismo. No zervanismo, Ormazd, ele próprio e não o Espírito Santo, fica
diretamente oposto a Ahriman. Ormazd e Ahriman se veem engendrados pelo deus
Zervan, o tempo divinizado e ilimitado AKARANA, deus de origem caldéia,
ignorado por Zoroastro mas importante na teologia dos magos. Dualismo radical
que, a partir de agora, vai marcar abusivamente o zoroastrismo legalitário dos
magos, ao passo que os verdadeiros zoroastrianos permanecerão essencialmente monoteístas
até os nossos dias.
“Ahura
Masda/Ormazd revela-se o único Mestre do mundo, pois foi ele quem criou o
espaço-tempo para que o Espírito Mau nele se aprisione e diante dele se proste
até o fim dos tempos.”
Zoroastro era iconoclasta, ele derruba todos os ídolos
antropomórficos e zoomórficos, substituindo-os por uma ética universal na qual
os ritos anteriores são estigmatizados, como tantos outros erros.
O problema do bem
e do mal não está exposto de maneira simplista, senão à primeira vista. No
espírito avéstico é o bem que aumenta a vida, é o mal que lhe cria obstáculos e
que faz crescer a entropia do mundo. O bem, virtude suprema de Masda, corresponde,
no plano físico, á luz das estrelas e do Sol, que permite e faz crescer a vida.
As trevas se identificam com o mal, não somente no que respeita à ausência, mas
no que respeita à recusa de luz. Este ato negador leva ao CONGELAMENTO ESPIRITUAL. O bem se desenvolve pela foça centrífuga dos pensamentos, das palavras
e das boas ações, Humata, Hukhta, Huvarshta, isto é, dos pensamentos que se
pretendem elevados e generosos. O mal se manifesta em todo egocentrismo e na
vontade de dividir maus pensamentos, más palavras, más ações, Dushmata,
Duzukukta, Duzvarshta.
Spenta Mainyu (O Espírito Santo de Ahura Mazda lutando com Ahrima, o espírito do mal.
Para Zoroastro os
homens são seres dotados de livre-arbítrio que podem escolher livremente entre
a luz e a mentira e Ahriman é a mentira viva, o mais temível dos pecados do
antigo Irã. Assim, a busca da verdadeira felicidade depende da única liberdade
real de uma vida transfigurada pela fé e pela vontade, que libertam o homem da
mentira cósmica. Segundo a sabedoria avesteana, a própria origem da doença e da
morte deriva da intrusão, na criação do Ormazd, de 99.999 doenças lançadas por
Ahriman, “O Portador da Morte”. O papel do Espírito Santo e da humanidade
consiste, pois, em curar o mundo da moléstia ahrimaniana.
Depois da morte os Justos (Ashavantes) vão para a GARO-DEMANA, a Casa dos Cânticos
extáticos, enquanto os servidores de Ahriman vão para a DRUJO-DEMANA, a casa da Mentira, na qual eles habituaram suas almas.
Existe ainda o HAMESTAGAN
(Púrgatorio), destinado as almas iguais em boas e más ações. SRAOSHA, anjo
psico-esplendor, acompanha a alma do morto durante os três dias que precedem
sua passagem pela PONTE CHINVAT.
Os reis aquemênidas foram “reis justos”, segundo as
Gâthâs, tendo introduzido uma foram de governo humanizado, suscetível de servir
de exemplo a toda a nação humana, suscetível de servir de exemplo a toda a
nação humana. É preciso compreender que entre os grandes reis Ciro, Dario e
Xerxes, a noção de RAÇA, procedia de uma ordem superior e espiritual.
Quando Alexandre,
o Grande, invadiu a Pérsia ele queimou os livros da Lei. Ele matou os sábios
homens e os eruditos do país. Ele semeou o ódio entre os grandes. Alexandre
também violou o túmulo de Ciro, acreditando poder encontrar ouro. Diferente dos
gregos as tradições orientais não separavam a teologia das ciências, fé da
razão. Em Persépolis os gregos pilharam a biblioteca real, cuja riqueza só era
ultrapassada pela de Alexandria. Os livros persas e notadamente os do primeiro
Avesta, contendo toda a ciência persa da astronomia e da medicina, serviram por
sal vez à ciência helênica. O incêndio de Persépolis teria sido acidental ou
ateado pela vingança grega e seu ciúme pela antiguidade da cidade Santa dos
grandes reis sobre o Partenon?
Zoroastro.
Não se sabe se foi em
Persépolis ou em Marakanda (Samaracanda), que foi queimado o primeiro Avesta
que continha, originalmente, vinte e um nasks (livros).
Os dois grandes símbolos do mazdeismo são Hvarekshaeta, o sol glorioso, e Avarkhvarsh, o fogo radioso.
A partir de 641d.C, a Síria, o Egito e a Pérsia acabaram,
praticamente, nas mãos dos árabes. Yazdagird
III (632-642 d.C) é derrotado pelos árabes, com a queda do último rei
sassânida masdaíco do Irã, os treze séculos de uma glória que os gregos não
puderam ofuscar viram o primeiro império do mundo desmoronar.
“Quando
é incerto se uma ação é justa ou injusta, abstém-te” (Saddar dos Guebros
masdaícos/Os Guebros ou a tolerância, escrito por Voltaire, louvando as regras
morais desse povo).
A fé zoroástrica repousa na esperança do milagre profundo
de transfiguração do mundo pelo esforço e pela metamorfose interior do homem. A
pretensão deriva de que o orgulho humano procede, precisamente, de uma origem
metafísica. Zoroastro espera dos humanos que se conduzam como adultos
espirituais e que trabalhem para sua própria salvação, graças a esta faculdade
de consciência colocada em nossa alma. Uma má escolha, como a original de
Ahriman, que se perpetua na obstinação e na burrice, conduz necessariamente a
consequências nefastas. Contudo, a boa escolha, o bom pensamento, a boa
palavra, a boa ação (Yt.31).
A humanidade cresce
como uma planta selvagem. Ela não conhece mais nada e lança seus ideais ao
sabor dos ventos, despida de toda verdadeira inspiração. Tendo minado os
valores autênticos, ela naufraga na neobarbárie, por falta de redescobrir uma
sabedoria, na readaptada, mas provada pelo tempo.
Assim não será demais repetir – torna-se necessário
conhecer o passado para ultrapassá-lo. Desprezar as lições da História é ficar
incapaz de evitar que se caia de novo nas malhas da natureza das sociedades
humanas. A sociedade ignorante se parece com a criança que rejeita a
experiência dos adultos. Cada geração refaz os mesmos erros sem nada ter aprendido
das precedentes.
Paul
Du Breuil: é
hoje o maior especialista do zoroastrismo, da filosofia masdaica e da religião dos
parses.
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BREUIL,
Paul Du. Zoroastro: religião e filosofia. São Paulo: IBRASA, 1987.
TERRA,
João Evangelista Martins. O deus dos Indo-europeus: Zeus, e a proto-religião
dos Indo-europeus. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
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