Ogdoáda egípcia. Durante o Médio
Império, o número oito era retratado na Ogdóada – oito babuínos com
Hórus,
o falcão representando o deus Ra-Harakhty. que formam outra variação da
mitologia egípcia da criação. Imagem: Egito Além da Eternidade.
A
história mítica de Hórus e Seth caracteriza as estruturas rítmicas da
dualidade.
Das menores parcelas da realidade – o próton e o elétron – à vida orgânica e a nós,
humanos, homens
e mulheres – há um ritmo constante de dualidade na vida natural. É
assim que o mundo funciona, tanto o animado quanto o inanimado. O próton atrai o
elétron para criar uma realidade física. O macho e a fêmea, de toda a vida animal, são
atraídos um pelo outro para assegurar a continuidade da vida. A
dualidade está contida dentro da unidade absoluta. Eis o significado do número dois.
Todo o ser humano experimenta essa dualidade já que o mundo natural reflete
isso com a divisão em macho e fêmea de toda vida orgânica. Contudo, essa
divisão deve encontrar conciliação,
como fizeram Hórus e Seth. Essa conciliação é representada no número três.
O número três
representa a relação e a conciliação entre a causa absoluta (um)
e a dualidade (dois) que ela cria de si mesma. Existe meramente em um plano espiritual. Com
esse decreto filosófico existe uma inegável associação entre causa e dualidade.
Podemos entender isso como o que poderíamos chamar de “efeito”. Esforçamo-nos a valer para afetar
pessoas e acontecimentos, muitos de nós por meio de preces ou pensamentos
positivos quando as ações diretas não são ou não podem ser bem-sucedidas. Os
antigos egípcios comportavam-se do mesmo modo. Em vez de chamar de prece ou
pensamento positivo, eles chamavam a isso de magia.
O número quatro,
representando a ideia do mundo material, era recorrente no simbolismo egípcio – as quatro
regiões do céu, os quatro filhos homens de Hórus, o quatro filhos de Geb, os
quatro canopos nos quase os órgãos dos mortos eram depositados no funeral.
Segundo o mito egípcio, Geb se casou com sua irmã Nut, a deusa do céu, sem a
permissão do poderoso deus sol, Rá. Rá ficou zangado com Nut e Geb que forçou o
pai deles, Shu, o neter do ar, a separá-los: por isso a terra é separada do
céu. Além disso, Rá proibiu que Nut tivesse filhos em qualquer mês do ano.
Felizmente, Toth, o divino escriba, decidiu ajudar e induziu a Lua a jogar
damas com ele, sendo que o prêmio era a luz da Lua. Toth ganhou tanta luz que a
lua foi obrigada a acrescentar cinco novos dias ao calendário oficial. E Nut e
Geb tiveram quatro filhos: Osíris, deus dos mortos, Seth, deus do caos, Ísis, deusa mãe e feiticeira, Néftis, deusa do lar.
O entendimento do número
cinco, ou vida, pelos egípcios, pode ser visto no conceito do
homem consciente, unido com o Absoluto e alcançando unidade com a Causa (deus).
Ele se tornaria uma estrela, e “se tornaria um na companhia de Rá”. Nos
hieróglifos, o símbolo para estrela era desenhado com cinco pontas. Visto como sagrado em diversas culturas, o pentagrama e o pentágono também refletem o
valor místico do cinco.
O número sete,
significando a união entre o espírito e a matéria, é
expresso na pirâmide, que é uma combinação da base quadrada – simbolizando os
quatro elementos – e os lados triangulares – simbolizando os três modos de
espírito (4 lados na base + 3 lados
triangulares = 7). Não é apenas simbólica, mas também é prevalecente em
outras culturas do antigo Oriente.
O
Xamã da Ásia central acreditava que a “árvore
cósmica” tinha sete ramos e que também havia sete céus
planetários. Era um conceito em que o Xamã, em sua busca
ritualista, subiria ao céu ao longo do eixo do mundo. Segundo Mircea Eliade, em
Shamanism: Archaic Technique of Ectasy, a árvore cósmica é uma ideia arcaica e
universa. O mito do arco-íris, com suas sete cores sendo a estrada dos
deuses e a ponte entre o céu e a terra, existia tanto nas crenças religiosas da
Mesopotâmia
quanto na tradição japonesa. As sete cores do arco-íris também foram
incorporadas na ideia e no simbolismo dos sete céus. Tradições como essas são
encontradas na Índia e na Mesopotâmia, e também no judaísmo.
Durante o Médio
Império, o número oito era retratado na Ogdóada – oito entidades que formam outra variação da
mitologia egípcia da criação. Embora esses seres fossem adorados
principalmente em Heliópolis,
aspectos da criação eram combinados com alguns mitos. Cada entidade ou aspecto
é um membro de um par masculino/feminino (ou marido/ mulher), e cada par representa um aspecto do caos
primordial do qual o mundo físico foi criado.
Nun e Naunet
representam as águas primordiais; Kuk e Kauket, a escuridão infinita; Hu e Hauhet,
o espaço vazio; e Amum e Amaunet, os poderes secretos da
criação. Os deuses eram normalmente representados
com homens com cabeças de cobras, e as deusas como mulheres com cabeças de rãs.
Eles construíram uma ilha no vasto vazio em que o ovo “cósmico” foi colocado. Desse
ovo veio Atum, o
deus sol, que iniciou o
processo de criação do mundo, que corresponde ao mundo físico como a
humanidade o experimenta. Às vezes, a Ogdóada
era representada como babuínos
anunciando o primeiro nascer do sol, mostrando sete dos deuses da Ogdóada e
Hórus,
o falcão representando o deus Ra-Harakhty.
O lugar referido como “ilha da chama” viu o nascimento do deus Sol e também era
chamado de Khemenu,
ou Cidade dos
Oito. Os gregos a chamavam de Hermópolis.
Continua...
Leandro Claudir
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MALKOWSKI,
Edward F. O Egito Antes dos Faraós: e suas misteriosas origens Pré-históricas.
São Paulo: Cultrix, 2010.
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