Autor: Sérgio de Vasconcellos
Como pôde o Integralismo, um Movimento político de
tão intenso nacionalismo, de tão arraigado nativismo, adotar como seu símbolo
uma letra estrangeira, o Sigma, que é grego?(1)
Contam-nos o Chefe Nacional Plínio Salgado(2) e
Olbiano de Mello, que a sugestão do Sigma partiu do escritor Dr. Arthur Mota.
Deixemos falar Olbiano de Mello:
“Uma tarde o Chefe avisa-nos que no Clube Português
a AIB realizaria uma nova reunião.
“Se não nos enganamos, a segunda franqueada ao
público depois de sua instalação. Marcada a noite, Paranhos toma-nos na
residência do Dr. Arnaldo Amado Ferreira, ali pelas imediações da Avenida
Paulista, onde nos achávamos hospedados. Ao entrar para o automóvel, nele se
achava um outro passageiro. Tratava-se do Dr. Arthur Motta, historiador
residente na Capital. Ia também, a convite de Paranhos, assistir a reunião.
“No Clube, depois que fizemos a leitura de um
trabalho nosso – Paranhos saúda, na pessoa de Arthur Motta, o sociólogo e o
matemático. E este, agradecendo, num improviso feliz, afirma: “que, ele
matematicamente, bem compreendeu que somente seria num sigma político, formado
por todos os valores diferenciais da Nação, que o Brasil acharia salvamento.
“Terminada a sessão, espalhamo-nos, aos grupos,
pelas redondezas da sede daquele Clube. E mais tarde, quase à uma hora da manhã
com Leães num café da rua Líbero Badaró – depararam-se-nos Casali, Reale e
Igáyara de lápis em punho, a desempenhar, numa folha de papel a atual letra
simbólica do Integralismo.
“Discricionariamente já haviam abandonado o modelo
de distintivo que estávamos estudando em nossas reuniões na Rua Brigadeiro Luiz
Antonio e, inspirados na frase de Arthur Motta, fixaram esta letra grega como a
expressão integral de nosso pensamento doutrinário. Nasceu assim, noite alta,
modesta e simplesmente numa mesa e no meio barulhento de um café paulistano – o
Sigma Brasileiro”.(3)
Seu uso, no Distintivo e Bandeira, foi estabelecido
nos três Estatutos da antiga e gloriosa Acção Integralista Brasileira.(4) Mas,
é nos “Protocollos e Rituaes da A.I.B” –Capítulo III – Dos Symbolos – O Sigma
-, que achamos uma exposição mais minuciosa:
Art. 12º - O sigma é o sinal simbólico do Movimento
Integralista (Veja-se desenho com dimensões proporcionais no “Monitor”
nº9).
“ – É uma letra grega que corresponde ao nosso “S”
e indica soma;
“ – Leibnitz escolheu-a para indicar a soma dos
infinitamente pequenos;
“ – É a letra com a qual os primeiros cristão da
Grécia indicaram a palavra “Deus”;
“ – É o nome da Estrela Polar do hemisfério sul.
“ – Ela lembra que o nosso Movimento é no sentido
de integrar todas as Forças Sociais do País na suprema expressão da
Nacionalidade.
“O Sigma maiúsculo foi preferido ao minúsculo por
uma questão estética”.(5)
Gustavo Barroso nos diz quase o mesmo:
“O Sigma.
“É também a letra com que os primeiros Cristãos na
Grécia indicavam Deus e servia de sinal de reconhecimento, porque a palavra
Sóteros o Salvador, começa por um Sigma e termina por um Sigma.
“É, enfim, a letra que designa a Estrela Polar no
hemisfério sul, onde fica situado o nosso País.
“Assim, o Sigma, símbolo da nossa Idéia Integral
está na ciência, está na tradição religiosa de nossa civilização cristã – e
está nas próprias estrelas do nosso firmamento”.(6)
Contudo, contradizendo a opinião geral, afirmamos
que o Sigma não é de origem grega, mas puramente brasileiro. Mesmo que
Wenceslau Júnior, Olbiano de Mello, Gustavo Barroso e outros teóricos do
Movimento tenham acreditado que fosse uma letra grega, desconhecendo sua
verdadeira procedência, isto não altera o fato do Sigma ser um símbolo
genuinamente nacional.
Já se foi o tempo em que era inquestionável a
opinião de que as nossas populações indígenas teriam emigrado de outras terras
– Europa, Ásia, África e Oceania -, das quais seriam originárias, e povoado o
continente americano.
O Brasil foi o primeiro continente a emergir do
oceano primevo que cobria todo o planeta. Aqui foi criado o Homem e surgiram as
mais antigas Civilizações. Nossos índios não são seres primitivos, no início da
evolução, como querem alguns, mas descendentes de vetustas civilizações, que
após magnífico apogeu, entraram em irremediável decadência. Os vestígios e as
provas da existência destas civilizações são inúmeros e, creio, irrespondíveis.
Logicamente, a escrita também teve aqui o seu
surgimento. Não iremos discorrer sobre as várias etapas da evolução –
mnemônica, figurada ou pictográfica, ideográfica, silábica e alfabética –
porque passou esta Escrita-Mãe.
Na verdade, o Sigma é o desenvolvimento de um
antiquíssimo símbolo, usado por nossos ancestrais desde tempos remotíssimos,
como o atestam milhares de inscrições rupestres (itacoatiáras) existentes no
Brasil, onde aparece, e daqui levado por nossos antepassados, quando foram
conquistar e povoar os outros continentes.
Também não trataremos das fases evolutivas do
Sigma. Ressaltamos que na origem desta evolução encontramos o signo
representativo do relâmpago, do raio, do trovão e, por extensão, de senhorio,
força, poder; e o signo da cobra, símbolo do poder criador, da criação, da
força, do domínio, do poderio, da grandeza, e, ainda de chefe, rei.
Como e quando se fundiram os símbolos do Trovão
(Tupan) e da Cobra (Mbóia)? Na noite dos tempos, nossos maiores observaram a
analogia entre o caminho percorrido no céu pelo relâmpago e os coleios da cobra
em terra, fundindo os dois mitos.
É conhecida a importância e a
sacralidade do Trovão e da Cobra, como símbolos mágicos e religiosos, em todo o
mundo. O estilizado Sigma, reunindo-os, superou-os em significado místico.
Assim, além daquele correto e evidente sentido
assinalado por Barroso e pelos “Protocolos”, o Sigma, no simbolismo dos Tupis,
representa a Divindade Suprema, a Criação, a Transformação, o Poder, a Realeza,
a Força Universal e, surpreendentemente, o próprio Brasil.
Curioso que, no Esoterismo Judaico, a letra Shin
guarda quase o mesmo significado do nosso Sigma, do qual é derivado, apesar dos
milênios que separam a Cabala de sua Matriz, o Esoterismo Tupi.
É provável que os primeiros Integralistas
ignorassem o significado profundo do Sigma, mas as forças ocultas da Raça, que
jazem no nosso inconsciente, o impuseram. Este sagrado símbolo nos acompanha
desde o início de nossa marcha revolucionária e estará presente na hora de
nossa vitória que, conhecendo as poderosas forças cósmicas e psíquicas que
estão em jogo e são representadas pelo Sigma, está mais próxima do que
imaginamos.
Anauê!
NOTAS:
1)
Publicado originalmente em “Renovação Nacional” – Rio de Janeiro - Ano XXI – Nº
72 – Out./Dez. de 1988 – pág. 6.
2) Plínio
Salgado – “Um Homem Sincero” (artigo).
3)
Olbiano de Mello – “Razões do Integralismo” – 1ª ed. – Schimidt, Editor – Rio
de Janeiro – 1935 – págs. 79 e 80.
4)
“Estatutos da Acção Integralista Brasileira” (1933) – Título III – Do
Patrimônio, do Distinctivo e da Imprensa – art. 18º;
“Estructuração
do Movimento Integralista – Estatutos da Acção Integralista Brasileira”(1934) –
Capítulo XI – Da Bandeira e do Distinctivo – arts. 53, 54 e 55; e,
“Estatutos
da Acção Integralista Brasileira” (1935) – Capítulo XI – Da Bandeira e do
Distinctivo – arts. 53, 54 e 55.
5) “Protocollos
e Rituaes da A.I.B.” – Art.12º, em Monitor Integralista – Nº 18, de 10-4-1937,
pág. 3.
6)
Gustavo Barroso – “O que o Integralista deve saber” – Civilização Brasileira –
Rio de Janeiro – 1935 – pág. 147.
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