1.° - Definição. – A revolução é aquela passagem definitiva de um certo equilíbrio social, que não mais poderá ser mantido, para um novo equilíbrio. Como na chimica há reacções que por sua própria natureza terão que ser violentas – com perda ás vezes de calor (exógenas), com ganho ás vezes de calor (endógenas) – a revolução, guardando uma certa semelhança com o phenomeno chimico, se apresenta ao mesmo tempo participando de uma caracterização exógena e logo em seguida endógena – quando não mais se tratar como na chimica do agente caloria – tomarmos a somma de energia vital, econômica, financeira e moral que uma revolução exige de despender para se processar, como exige de compensação quando attingido o novo equilíbrio social collimado. D’onde sermos obrigados a encarar a revolução como se desenvolvendo por três etapas conseqüentes uma das outras e sempre na mesma direcção.
2.° - Suas phases. – São estas etapas períodos de opinsurreição, de insurreição e de reconstrucção. A primeira realiza-se lentamente no seio da sociedade. Começa imperceptivelmente. Surge no sub-consciente da massa e marcha em ordem crescente. Vimos no capitulo I que na sociedade estão sempre em acção três ordens de forças: as políticas ( fundo intellectual), as econômicas, as Moraes. Todas as vezes que estas forças se conflictarem origina-se um brechamento da sociedade. Surgem oppressores e opprimidos. Explode a luta de classes. Inicia-se a revolução. Começam a trabalhar as idéas. As que deram causa ao desequilíbrio reagindo contra as que se focalizam como contra-peso á hypertrophia do poder d’aquellas. Desaggregam-se pouco os liames que vinham mantendo o equilíbrio social. Presentem-se surdos rumores no sub-consciente das massas. Sobem para o palco político nacional apóstolos de novas idéas. Gritam-se novas doutrinas. E’ o presente, e, ás vezes, o próprio futuro, reagindo contra o passado. Revolucionarismo e reaccionarismo. E’ o período da agitação dos espíritos. Da caça ao proselytismo. De apostolado e de evangelização. Estamos, então, diante da insurreição dos espíritos.
E’ a opinsurreição.
A sociedade até aqui, mesmo trabalhando pelo choque de idéas antagônicas, mantinha-se em equilíbrio. Conseguindo o tônus revolucionário preciso, a revolução que até somente vinha agindo como phenomeno subjectivo projecta-se no espaço. Explode a insurreição da massa que, em desordem marcha rumo a um novo equilíbrio social. A distancia entre o termino do período de opinsurreição e a conquista do novo equilíbrio social é o que se denomina propriamente a insurreição. Empós, virá a situação de calma e de socego para a massa. Conquistou a insurreição uma nova cultura, novos direitos, novos códigos para a sociedade. A massa encaminha-se para a terceira e ultima phase da revolução: a de reconstrução.
Marcha Integralista pela Rua do Príncipe, em Joinville (1935).A sociedade, - quando no entrechoque das idéas que possibilizam a passagem violenta de uma estação social á nova – perde, pelo conjuncto de toda a população irrequieta ou em armas, energias de todos os matizes, como parte dos fructos do seu trabalho e das suas próprias reservas culturaes. São pertubações de ordem econômica e de ordem financeira, como de ordem sanitária ou espiritual cujas conseqüências ás vezes são bem imprevisíveis. Em seguida o terceiro e ultimo estagio – o de reconstrucção – será francamente de compensação. Compensação, com superabit, sobre todo o esforço de natureza material, econômica e moral despendido durante as duas phases precedentes. Aqui a reacção social é caracteristicamente endógena. Assim os dois primeiros estágios são objetiva e subjetivamente negativos. Porque, a revolução em marcha, em plano ascendente, a cata de um novo equilíbrio para a sociedade, nada mais fez que negar. Que destruir. Assim já no terceiro plano – cessa a insurreição, se inicia uma outra reacção em que a sociedade adquirirá tudo quanto perdeu anteriormente. Estará a sociedade, face a face, com um novel clima político que se lhe abre como um período de sua restauração econômica, política e moral. Essa marcha, francamente positiva, deve superar em benefícios para a collectividade, - a situação de equilíbrio anterior. Si não consegue isso, si não opera a reforma política e social do status precedente, do que deu causa á opinsurreição e á insurreição, não houve revolução . Houve um movimento revulsivo de todos os quadros sociaes, mas sem affectar a estructura intima da sociedade naquelles apparelhos que são de ordem normativa da Nação e cujo conjuncto forma o Estado, isto é, a super-estructura que regula o governo da sociedade. Houve uma simples insurreição de quadros. Uma troca violenta de governantes. Um cambio de homens no poder. Uns o abandonando pela força, outros o assaltando e esposando os mesmos princípios e as mesmas doutrinas sociaes d’aquelles. Ludibriou-se a massa. O povo foi enganado pela demagogia de políticos sequiosos de posições officiaes. Fallecem, então, apparentemente, as revoluções.
Do exposto logicamente havemos de concluir:
1.° - Onde não houve transformações do Estado, não houve revolução.
2.° - Para que um movimento de idéas se desenvolvendo a principio no espírito da massa, como phenomeno opinsurrecional, possa attingir á phase insurrecional e desta passar a uma phase de realizações uteis á sociedade – torna-se necessário que este movimento – que deve ser banhado por princípios philosophicos seguros, possibilitando ser catalogado pela historia como uma verdadeira revolução social – torna-se necessário, repetimos, que, d’antemão, tracem, os seus organizadores, os seus realizadores – uma programmação político-social para , galgando o Poder – ser esta programação transformada, immediatamente em medidas normativas do desenvolvimento das actividades nacionaes em todos os seus múltiplos desdobramentos de ordem econômica, educacional e cultura.
3.° - Uma philosophia espiritualista só legitimará um revolvimento da sociedade, si esse revolvimento de facto for uma revolução social, mesmo na hypothese que a transformação do Estado se der para pior sob o ponto de vista espiritual, como no caso da revolução russa, porque, então, errada de bôa fé a solução – o futuro se ecarregará de corrigir os defeitos e falhas que apresentar um regime político que tal.
Chegamos assim á parte final deste ensaio que é como concepcionar, - na hora que passa, dentro da necessidade premente em que nos encontramos, - a melhor maneira das Nações pôrem ordem nas sociedades, em cada caso, todas agitadas e com a vida perturbada neste agonizar de terço do século em que vivemos.
Você quer saber mais?
MELLO, Olbiano de. Concepção do Estado Integralista, Rio de Janeiro: Shmidt-editor, 1935, pp.23-27, 30-31.
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