Chegamos
a quinta e última parte de nossa análise da mente de Adolf Hitler, espero que o
trabalho possa ter sido de ajuda aos amigos curiosos e pesquisadores da
história. Apenas arranhamos a superfície de uma infindável pesquisa, mas mesmo
assim fico feliz em saber que posso ter acrescentado uma parte em futuras
pesquisas de meus pares.
Propaganda
O
rádio foi um meio de comunicação usado em grande escala pelos nazistas para
difundirem suas ideias e espalharem a propaganda de que Hitler era o salvador
da nação alemã e da “raça ariana”. O rádio por transmitir apenas sons, liberta
o imaginário do ouvinte, transformando-o num condutor das imagens que “vestem”
os sons. Instigando-o a ser um engenheiro de ideias e não um repetidor delas.
Goebbels, o “gênio” do marketing político, tinha um plano. Tal plano previa a
utilização mais mapla possível do rádio, uma massificação “que nossos
adversários não têm sabido explorar...”, escrevia o chefe da Propaganda. Ele
queria que Hitler fizesse seus discursos em todas as cidades dotadas de
emissoras de rádio para atingir o maior número possível de alemães. Mas os
discursos deveriam romper o cárcere do tecnicismo político e ganhar ares de um
artista plástico.
São
de Goebbels estas palavras:
“Nós
transmitiremos as mensagens radiofônicas para o meio do povo e daremos assim ao
ouvinte uma imagem plástica do que acontece durante nossas manifestações. Eu mesmo
farei uma introdução para cada discurso do Führer, na qual tentarei transmitir
aos ouvintes o fascínio e o clima geral de nossas manifestações coletivas.”
Albert Speer, o arquiteto e amigo de Hitler, confirma em
suas memórias:
“Por
meio de recursos técnicos como o rádio e o megafone 80 milhões de pessoas foram
privadas da sua liberdade de opinião. Por conseguinte, foi possível submetê-las
à vontade de um único homem.”
Uns tem habilidade para adestrar animais, outros, mentes
humanas, Adolf Hitler tinha habilidade para adestrar homens que antes eram
mentes independentes.
Características
do marketing político e dos discursos eletrizantes de Hitler, que alicerçava
seu magnetismo social:
1) Tonalidade imponente e
teatral a voz.
2) Utilização de frases de
efeito.
3) Supervalorização da crise
social.
4) Propaganda contínua da
ameaça comunista, o que causava pânico nos empresários e causava uma adesão
histérica ao Führer.
5) Lembrança constante da humilhação sofrida na Primeira Guerra
Mundial.
6) Excitação até o ódio aos
inimigos da Alemanha, em especial marxistas e judeus.
7) Promoção exaustiva da
raça ariana e da autoestima do povo alemão.
8) Exaltação do nacionalismo
e de sua postura como o alemão dos alemães.
9) Utilização exagerada das
suas origens humildes.
10) Verborreia – necessidade
neurótica de falar, expressa por monólogos intermináveis.
Antes de devorar os judeus, Hitler canibalizou a emoção
dos alemães.
O ponto alto das exibições do regime eram as Honras
Fúnebres, quando Hitler atravessava fileiras gigantescas de milhares de
soldados rigorosamente organizados. A portentosa homenagem aos que tombaram
excitava o cérebro de quem os comtempla, gerando uma comoção fortíssima,
provocando o instinto de lutar. A debilitada Alemanha despertava para o seu
gigantismo. Os shows militares tornaram-se grandes peças de marketing. Feitos ao
ar livre, em horários tais que combinavam um jogo de luz e sombra, objetivavam
dar contornos messiânicos à imagem do Führer.
O melhor desempenho de Hitler era como ator, pois, como
ser humano, era ególatra, radical, instável, parcial, agressivo, explosivo, exclusivista,
amante de bajuladores, avesso a críticas e ao diálogo. Queria inscrever seu
nome no concerto das nações e gravar com chamas seu nome na história.
O
homem do fogo
Segundo Albert Speer,
amigo e arquiteto pessoal de Hitler, o fogo era o elemento adequado para o
Führer, ele apreciava seu aspecto destruidor. Dizer que ele incendiou o mundo e
fez o continente sentir o poder do fogo e da espada talvez seja uma figura
forte demais. Mas no sentido mais literal do termo, o fogo sempre o afetou
profundamente. Speer relata que Hitler mandava passa na Chancelaria filmes
mostrando Londres me chamas, o incêndios gigantesco que consumia Varsóvia,
comboios explodindo, e o seu verdadeiro êxtase ao assistir tais cenas. Jamais o
vi tão excitado como na ocasião em que, já no fim da guerra e quase num
delírio, ele pintou verbalmente para si mesmo e para nós o quadro de Nova
Iorque em chamas. Descreveu os arranha-céus se transformando em tochas
monumentais, tombando uns sobre os outros, e as chamas gigantescas a iluminar o
céu escuro.
Em breve trarei aos amigos do Construindo História Hoje
um trabalho voltando para as informações que Albert Speer nos passa em suas
memórias sobre Adolf Hitler, Speer foi arquiteto no Terceiro Reich e ministro
do armamento durante da guerra.
Você quer saber mais?
CURY, Augusto. O colecionador de lágrimas. São Paulo:
Editora Planeta, 2012.
SPEER, Albert. Spandau: o diário secreto. Rio de Janeiro:
Arte Nova, 1977.