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domingo, 19 de setembro de 2010

UM BRASILEIRO CHAMADO.....

MIGUEL REALE.

DATA DE NASCIMENTO: 6 de Novembro de 1910.

NATURALIDADE: São Bento da Sapucaí, SP.



Miguel Reale, advogado, jurista, professor, filósofo, ensaísta, poeta e memorialista, nasceu em São Bento da Sapucaí, SP, em 6 de novembro de 1910. Eleito para a Cadeira n. 14 em 16 de janeiro de 1975, na sucessão de Fernando de Azevedo, foi recebido em 21 de maio de 1975, pelo acadêmico Cândido Mota Filho.

Filho do dr. Braz Reale e de d. Felicidade Chiarardia Reale. Formou-se em Direito pela Universidade de São Paulo em 1934. Dedicou-se desde cedo a intensa atividade no jornalismo, na política e no ensino. Começou sua carreira no magistério quando ainda estudante, lecionando Latim e Psicologia em um curso pré-jurídico de 1933 a 1935, ao lado de Hermes Lima e Alfredo Ellis Júnior. Em 1936, tornou-se um dos sócios e diretores do Ateneu Graça Aranha, onde lecionou por algum tempo, dando aulas de português e literatura brasileira em outros colégios da Capital.

A bibliografia fundamental de Miguel Reale compreende obras de Filosofia, Filosofia Jurídica, Teoria Geral do Direito, Teoria Geral do Estado, além de monografias e estudos em quase todos os ramos do Direito Público e Privado.

Entre os livros de sua mocidade, merecem destaque O Estado moderno e Formação da política burguesa (1934), que analisam as principais doutrinas políticas a partir do Renascimento, com o estudo do fascismo e do comunismo; O capitalismo internacional (1935), que constitui uma introdução histórica à economia contemporânea, e Atualidades de um mundo antigo sobre o pensamento filosófico e político na Grécia e em Roma. (1936),Nessa época, participou da Ação Integralista Brasileira, exercendo as funções de Secretário Nacional de Doutrina.

Conquistou, por concurso, a cátedra de Filosofia do Direito na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 1941, apresentando a tese Os fundamentos do Direito, onde já estabelece as bases de sua Teoria Tridimensional do Direito, com a qual tem início nova fase na doutrina jurídica nacional. Seu livro Teoria do Direito e do Estado (1940), de concepção geminada, é considerado uma das obras básicas nesse campo do conhecimento jurídico-político.
Fez parte do Conselho Administrativo do Estado de São Paulo, de 1942 a 1945, tendo sido autor de várias reformas fundamentais na legislação paulista, principalmente no plano da educação e da cultura. Em 1947 foi Secretário da Justiça do Estado de São Paulo, instituindo o Departamento Jurídico do Estado e criando a primeira "Assessoria Técnico-Legislativa" do País, que serviu de modelo para outros Estados e ao próprio Governo Federal.

Entre 1949 e 1950 foi Reitor da Universidade de São Paulo, e, nessa década, foi convidado a ministrar cursos e conferências sobre Filosofia do Direito em vários países da América Latina e da Europa. Sem prejuízo de suas atividades docentes, manteve sempre escritório de advocacia elaborando trabalhos forenses e pareceres, diversos deles publicados em livros e opúsculos.
Em 1962, após intensa atividade no Partido Social Progressista, do qual foi Vice-Presidente, foi novamente Secretário da Justiça de São Paulo em 1964, notabilizando-se pela corajosa defesa da autonomia do Estado contra ilícitas interferências do Governo Federal; pela criação de importantes órgãos na área da Justiça, como as primeiras Varas Distritais da Capital, e por um plano original de reforma agrária mediante a utilização das terras devolutas estaduais, que infelizmente não foi executado pelo governo Adhemar de Barros, com quem ele se desentendeu logo após a eclosão do movimento militar de 1964.

Eleito reitor da Universidade de São Paulo, de 1969 a 1973, implantou a ampla reforma universitária, com a substituição das cátedras pelos Departamentos. Para a definitiva implementação e urbanização do campus da USP em São Paulo, construiu cerca de 250.000 m2 de edifícios destinados ao ensino, à pesquisa e ao esporte, dando, também, amplo desenvolvimento aos campi do Interior, aos quais conferiu grande autonomia. Entre essas edificações destacam-se a sede da nova Reitoria, o Anfiteatro, a Torre Universitária e os prédios destinados aos Institutos e Faculdades resultantes da reforma.


Miguel Reale fundou as revistas Panorama, em 1936, e a Revista Brasileira de Filosofia, em 1951 - a mais antiga revista filosófica da América Latina, já com quase meio século de contínua publicação trimestral. Dirigiu a coleção "Direito e Cultura", da Editora Saraiva, especializada em Filosofia do Direito, Teoria Geral e Sociologia Jurídica, assim como a "Estante do Pensamento Brasileiro", publicada pela USP - Grijalbo, com a reedição de obras essenciais à história das idéias no País.

É presidente do Instituto Brasileiro de Filosofia, tendo presidido por duas vezes a Sociedade Interamericana de Filosofia, por ele criada. Pela projeção de seu pensamento filosófico-jurídico, tornou-se Doutor honoris causa das Universidades de Gênova, Coimbra e Lisboa e das mais importantes Universidades latino-americanas e brasileiras, sendo Presidente Honorário da Internationale Vereinigung Für Rechts - Und Sozialphilosophie - IRV, entidade que congrega todos os filósofos do Direito no mundo.
Organizador de cinco Congressos Nacionais de Filosofia e de quatro de Filosofia do Direito, no Brasil, além de um Latino-Americano em Brasília, foi, no Congresso Internacional de Filosofia de 1954, em São Paulo, declarado "benemérito da cultura brasileira". Por outro lado, chefiou várias delegações a certames filosóficos internacionais, tendo sido um dos cinco convidados especiais para redigir as comunicações introdutórias ao Congresso Internacional realizado em Veneza, em 1958.

Tendo publicado cerca de 60 livros e centenas de artigos em jornais e revistas do País e do estrangeiro, nos últimos anos firmou seu nome também como poeta e memorialista, sendo membro efetivo das Academias Brasileira e Paulista de Letras, bem como da Academia Brasileira de Letras Jurídicas e de várias entidades culturais internacionais, merecendo realce a Academia delle Scienze dell’Istituto di Bologna; a Società Italiana de Filosofia del Diritto; a Académie Internationale de Droit Comparé; a Sociedad Mexicana de Filosofia; a Sociedad Hispánica de Filosofia Social y Juridica; a Associación Argentina de Filosofia; a Academia Nacional de Ciências de Buenos Aires; a Academia de Ciências de Lisboa e o Instituto Argentino de Filosofia Jurídica y Social.

Entre os títulos honoríficos possui a Grã Cruz da Ordem do Rio Branco; a de Grande Oficial da República da Itália; a Ordem do Sol Nascente do Japão; a Comenda da Ordem do Mérito da França, do Condor dos Andes (Bolívia); o "Colar do Mérito Judiciário", conferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo; "Colar do Mérito da Justiça", conferido pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo; as medalhas Rui Barbosa, Teixeira de Freitas, Sílvio Romero, Pedro II, e outras. Em 1980, recebeu o título de Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Foi membro do Conselho Federal de Cultura, de 1974 a 1989.

Costuma-se dizer que Miguel Reale, em toda a sua vida, tem sabido manter-se fiel ao lema escrito no primeiro livro de sua juventude: Teorizar a vida e viver a teoria na unidade indissolúvel do pensamento e da ação.

Obras:

Fundamentos do Direito (1ª ed., 1940; 2ª ed., 1973);

Teoria do Direito e do Estado (1ª ed., 1940; 4ª ed., 1984);

Filosofia do Direito (1ª ed., 1953; 17ª ed., 1996);

Horizontes do Direito e da História (1ª ed., 1946; 2ª ed., 1977);

Poemas da noite (1960);

Pluralismo e liberdade (1963);

Poemas do amor e do tempo (1965);

O Direito como experiência (1ª ed., 1968; 2ª ed., 1992);

Teoria Tridimensional do Direito (1ª ed., 1968; 5ª ed., 1994);

Lições preliminares do Direito (1ª ed., 1973; 23ª ed., 1996, com 2 edições em Portugal, estando a tradução espanhola em sua 10ª edição);

Experiência e cultura (1977, com tradução francesa de 1990);

O homem e seus horizontes (1ª ed., 1980; com 2ª ed. no prelo);

A filosofia na obra de Machado de Assis (1982);

Verdade e conjetura (1983);

Sonetos da verdade (1984);

Memórias - Vol. I (Destinos cruzados) (1986);

Memórias - Vol. II (A Balança e a Espada) (1987);

Figuras da inteligência brasileira (1ª ed., 1984; 2ª ed., 1994);

O belo e outros valores (1989);

Aplicações da Constituição de 1988 (1990);

Na fase do Direito moderno (1990); De Tancredo a Collor (1992);

Face oculta de Euclides de Cunha (1993);

Fontes e modelos do Direito (1994) e Paradigmas da cultura contemporânea (1996).

Tem várias obras e artigos vertidos para o italiano, espanhol, francês, inglês e alemão.

VOCÊ QUER SABER MAIS?

http://www.biblio.com.br/

http://www.integralismo.org.br/

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

UMA BREVE HISTÓRIA NO TEMPO. PARTE IV. O GRANDE FINAL.

ARMAS NUCLEARES. PARTE IV. O GRANDE FINAL.
DAS MULTIPLAS OGIVAS AO INVERNO NUCLEAR.



Minuteman III.MIRV.

Ogiva nuclear é uma forma de arma nuclear encapsulada em uma ogiva, que a torna menor e mais versátil. Determinados mísseis balísticos intercontinentais podem levar até várias ogivas nucleares de uma só vez, aumentando a área de ataque e a chance de que as ogivas passem por um possível sistema de defesa anti-míssil.
Os sistemas de armas capazes de lançar várias ogivas nucleares simultaneamente são chamados de MIRV, do inglês, Multiple Independently Targetable Reentry Vehicle. Este sistema permite lançar várias ogivas nucleares de um único míssil, aumentando as chances de que estas passem pelos sistemas de defesa do adversário e, ao mesmo tempo, aumentando a área total a ser atacada.



O Tu-160 é um avião supersônico que voa a 2.200 km/h, pode carregar 12 mísseis de cruzeiro com ogivas nucleares ou convencionais,e ainda impressionantes 40 toneladas de bombas.



Ogivas nucleares do tipo Mk-21 em um míssil Peacekeeper.



Míssil Peacekeeper W87, com capacidade MIRV, ogivas destacadas em vermelho.



Minuteman III, um míssil balístico intercontinental com capacidade de lançamento de múltiplas ogivas, ou sistema MIRV.

Holocausto nuclear



Um Holocausto nuclear refere-se a possibilidade da aniquilação quase completa da civilização humana por uma guerra nuclear.
Uma definição comum da palavra “holocausto”: “grande destruição tendo por resultado extensas vítimas mortais, especialmente pela ação do fogo.” A palavra é derivada do grego “holokaustos", que significa ”queimado completamente.” Primeiramente o termo foi utilizado em 1926 por Reginald Glossop para descrever uma destruição nuclear imaginária em Moscou, (embora a primeira bomba atômica tenha sido criada em 1945, o seu conceito já existia desde os anos 20) Desde os anos 70 o termo “holocausto” foi associado com a chacina em massa dos judeus pelos Nazistas (ver Holocausto) e o “holocausto” em seu sentido de destruição nuclear é sucedido quase sempre por “atômico” ou por “nuclear”.
Os físicos e os autores nucleares especularam que o holocausto nuclear poderia conduzir à vida humana a extremos, especulam que devido aos pulsos eletromagnéticos da precipitação nuclear à civilização moderna perderia muita tecnologia, ou senão, que haveria extinções em massa devido ao inverno nuclear.

VOCÊ QUER SABER MAIS?

www.ecodebate.com.br/.../livros-recem-lancados-no-brasil-ressuscitam-o-pesadelo-do-holocausto-nuclear/

www.dfn.if.usp.br/

www.agencia.fapesp.br/.../pioneiros-da-fisica-nuclear-no-brasil.htm -

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

UMA BREVE HISTÓRIA NO TEMPO. PARTE III.

AS ARMAS NUCLEARES. PARTE III.

História das armas nucleares

História das armas nucleares narra o desenvolvimento delas, da descoberta da fissão ao mísseis balísticos intercontinentais. Existem supostamente pelo menos nove países armados com essas armas.

1898-1939


Diagrama representativo da fissão nuclear do átomo de urânio: o nêutron se colide com o núcleo que fica instável e se divide em dois novos menores e mais leves (bário e criptônio), que por sua vez se desintegram em energia, radiação gama e alguns nêutrons.



PIERRE CURIE E MARIE CURIE

• Em 1898 o físico francês Pierre Curie e sua esposa encontraram em um minério do urânio, uma substancia que era emitida a altas quantidades que eles denominaram de radio, a descoberta levantou as esperanças de cientistas e leigos de que os átomos tem uma enorme quantidade de energia, esperando para ser explorada.
• Em 1911 experimentos feitos por Ernest Rutherford demonstraram que o núcleo dos átomos são compostos por partículas que foram nominadas de prótons, e eles eram rodeados por elétrons.
• Em 1932 James Chadawick descobriu os nêutrons, no mesmo ano John Cockcroft e Ernest Walton conseguiram dividir um átomo pela primeira vez usando meios artificiais.
• Em 1934, Leó Szilárd, descobriu a reação em cadeia através de nêutron, e também patenteou a idéia da bomba atômica, sendo apelidado então de pai da bomba atômica.
• Em 1936 a patente da bomba foi entregue em segredo a Marinha Britânica.
• Em 1938 cientistas alemães informaram a detecção de bário após bombardear urânio com nêutrons, mais tarde se mostrou que era produto da fissão.
• Em 1939, com o inicio inevitável da Segunda Guerra Mundial o cientistas pararam de enviar informações aos governos, para que a bomba atômica não fosse usada na guerra (fato que não ocorreu, elas foram usadas na guerra).

De Los Alamos para o Japão

Em 1942 o Projeto Manhattan ficou encarregado de construir as bombas. Foram escolhidos dois projetos que seriam realmente fabricados: Thim Man e o Fat Man. O grande desafio foi como separar o U-235 do U-238, como que os isótopos do urânio tinham pesos diferentes, a saída foi a criação de uma máquina que seleciona os átomos pelo peso. O U-238 começou a ser usado para produzir plutônio.

Foram desenvolvidos na época dois projetos básicos: implosão e balístico. Em 16 de julho de 1945 foi detonada a primeira bomba, de codinome Trinity, logo depois foram montadas duas bombas: Little Boy e Fat Man, detonadas em 6 e 9 de agosto de 1945. Após os bombardeios o presidente da época Harry Truman, disse que eliminaria as cidades japonesas uma a uma(era um blefe, já que os E.U.A ficaram sem armas depois dos bombardeios). Em 15 de agosto de 1945 o Japão se rendeu.

Bomba H


Ivy Mike explode em Enewetak. 1/11/1952

Em 1942 foi pensado em usar hidrogênio nas bombas: as reações que ocorreriam maximizaria o poder de ambas. Os cientistas de Los Alamos se rebelaram ao receberem ordens para fazerem uma bomba muito mais poderosa que a atômica, pensando na destruição que causaria. Em 1949 ao saber do primeiro teste atômico soviético a bomba H virou objeto emergencial: os físicos Edward Teller e Ullan desenvoveram o desenho de Teler-Ullan. A primeira bomba H foi detonada durante a Operação Ivy, nomeado de Ivy Mike, que rendeu cerca de 10.4 megatons.

Mísseis balísticos intercontinentais


São mísseis hipersônicos, capazes de entregar bombas nucleares no alvo em pouco tempo como por exemplos:LGM-118 Peacekeeper,LGM-30 Minuteman e JL-2.


Efeitos de uma arma nuclear



A energia liberada por uma bomba nuclear pode ser categorizada em quatro grupos:

• Blast: 40-50% da energia liberada.

• Radiação térmica: 30-50% da energia liberada.

• Radiação ionizantes: 5% da energia liberada.

• Radiação residual: 5-10% da energia liberada.

No entanto dependendo do local, altura, ambiente e design da arma as categorias aqui apresentadas podem ter seus efeitos maximizados ou minimizado.

Radiação térmica

As armas nucleares emitem grandes quantidades de radiação térmica, essas radiações podem ser tão fortes que podem causar queimaduras, o que pode simultaneamente incendiar escombros, o que mata os sobreviventes da explosão, por carbonização.

Radiação Ionizantes

Corresponde as radiações e partículas alfa, beta e gama, a radiação ionizante geralmente causa morte a longo prazo por câncer, ou causa mutações genéticas, que são hereditárias causando deformações aos filhos dos sobreviventes.

Radiação residual

São as cinzas nucleares que se espalham pela atmosfera.

Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki



Mapa mostrando a localização de Hiroshima e Nagasaki no Japão, onde as duas armas atômicas foram usadas.

A escolha dos "Alvos" foi feita a partir de interesses militares, mas sobretudo de cunho político-econômico, pois Hiroshima e Nagasaki eram as regiões mais desenvolvidas industrialmente do Japão na época, e com a chegada do fim da Segunda guerra, o Japão seria a única potência que poderia desequilibrar o fluxo de capitais e mercadorias, por isso se escolheu estes como alvo.
O Conselho de Alvos (em inglês: Target Committee) de Los Alamos recomendou, a 10 e 11 de Maio de 1945, as cidades de Kyoto, Hiroshima, Yokohama e o arsenal em Kokura como possíveis alvos. O Conselho rejeitou o uso da arma contra um alvo estritamente militar devido à hipótese de falhar um pequeno alvo que não fosse rodeado por uma grande área urbana.
Os efeitos psicológicos no Japão eram de enorme importância para os membros do Conselho. Também concordaram entre si que o uso inicial da arma deveria ser suficientemente espectacular e importante por forma a ser reconhecido internacionalmente. O Conselho sentiu que Kyoto, sendo um dos centros intelectuais e religioso do Japão, tinha uma população "melhor preparada para compreender o significado da arma". Hiroshima foi escolhida devido à sua grande dimensão e ao potencial de destruição que poderia demonstrar após ser atingida.
O Secretário da Guerra Henry Stimson excluiu Kyoto da lista devido à sua importância cultural e religiosa, enfrentando objecções do General Leslie Groves, administrador do Projecto Manhattan. De acordo com o professor Edwin Reischauer, Stimson "tinha conhecido e admirado Kyoto desde a altura em que aí tinha passado a sua lua-de-mel, várias décadas antes". O comandante da Força Aérea,Carl Spaatz, elegeu Hiroshima, Kokura, Niigata e Nagasaki como alvos, pela ordem indicada.



ENOLA GAY E TRIPULAÇÃO



LITTLE BOY. A BOMBA LANÇADA SOBRE HIROSHIMA PELO ENOLA GAY.



A NUVEM DE COGUMELO SOBRE HIROSHIMA APÓS A QUEDA DA LITTLE BOY.



BOCKS E TRIPULAÇÃO



FAT MAN. A BOMBA LANÇADA SOBRE NAGASAKI PELO BOCKS.



A nuvem de cogumelo resultante da explosão nuclear da Fat Man sobre Nagasaki, 18 km acima do solo, a partir do hipocentro.

Os Bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki foram ataques nucleares ocorridos no final da Segunda Guerra Mundial contra o Império do Japão realizados pela Força Aérea dos Estados Unidos da América na ordem do presidente americano Harry S. Truman nos dias 6 de agosto e 9 de agosto de 1945. Após seis meses de intenso bombardeio em 67 outras cidades japonesas, a bomba atômica "Little Boy" caiu sobre Hiroshima numa segunda-feira. Três dias depois, no dia 9, a "Fat Man" caiu sobre Nagasaki. Historicamente, estes são até agora os únicos ataques onde se utilizaram armas nucleares. As estimativas do número total de mortos variam entre 140 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagazaki, sendo algumas estimativas consideravelmente mais elevadas quando são contabilizadas as mortes posteriores devido à exposição à radiação. A maioria dos mortos eram civis.
As explosões nucleares, a destruição das duas cidades e as centenas de milhares de mortos em poucos segundos levaram o Império do Japão à rendição incondicional em 15 de agosto de 1945, com a subsequente assinatura oficial do armistício em 2 de setembro na baía de Tóquio e o fim da II Guerra Mundial.
O papel dos bombardeios atômicos na rendição do Japão, assim como seus efeitos e justificações, foram submetidos a muito debate. Nos EUA, o ponto de vista que prevalece é que os bombardeios terminaram a guerra meses mais cedo do que haveria acontecido, salvando muitas vidas que seriam perdidas em ambos os lados se a invasão planejada do Japão tivesse ocorrido. No Japão, o público geral tende a crer que os bombardeios foram desnecessários, uma vez que a preparação para a rendição já estava em progresso em Tóquio.

O Projeto Manhattan

Os Estados Unidos, com auxílio do Reino Unido e Canadá, projetaram e construíram as bombas sob o nome de código Projeto Manhattan inicialmente para o uso contra a Alemanha Nazista. O primeiro dispositivo nuclear, chamado Gadget, foi testado em Los Alamos, no Novo México, a 16 de Julho de 1945. As bombas de Hiroshima e Nagasaki foram a segunda e terceira a serem detonadas e as únicas que já foram empregadas como armas de destruição em massa.
Hiroshima e Nagasaki não foram as primeiras cidades do Eixo a serem bombardeadas pelas forças Aliadas, nem foi a primeira vez que tais bombardeamentos causaram um grande número de mortes civis e foram (ou, antes, viriam a ser) considerados controversos.
O bombardeamento de Tóquio em março de 1945 poderá ter matado até 100 mil pessoas. Cerca de sessenta cidades japonesas tinham, a essa altura, sido destruídas por uma campanha aérea massiva, incluindo grandes ataques aéreos na capital e em Kobe. Na Alemanha, o bombardeio Aliado de Dresden teve como resultado quase 30 mil mortes.
Ao longo de três anos e meio de envolvimento directo dos E.U.A. na II Guerra Mundial, aproximadamente duzentas mil vidas estado-unidenses tinham sido perdidas, cerca de metade das quais na guerra contra o Japão. Nos meses anteriores aos bombardeios, da Batalha de Okinawa resultaram as mortes de 50-150 mil civis, 100-110 mil militares japoneses e cerca de 16 mil soldados dos EUA. Esperava-se que uma invasão do Japão traria um número de baixas muitas vezes superior àquele de Okinawa.
A decisão de jogar as bombas sobre o Japão foi tomada pelo então Presidente Harry Truman, que havia substituído havia poucos meses no cargo o falecido Franklin Delano Roosevelt. A sua intenção pública de ordenar os bombardeamentos foi de trazer um fim célere à guerra por inflicção de destruição e terror de subsequente destruição, obrigando o Japão a apresentar a sua rendição. Em 26 de Julho, Truman e outros líderes aliados redigiram a Declaração de Potsdam, a qual delineava os termos da rendição do Japão:

O poder que agora converge sobre o Japão é incomensuravelmente superior ao que, quando aplicado ao Nazis resistentes, semeou de forma necessária a destruição pelas terras, pela indústria e forma de vida de todo o povo alemão. A plena aplicação do nosso poder militar, apoiado pela nossa determinação, significará a inevitável e completa destruição das forças armadas japonesas e a igualmente inevitável e completa devastação da pátria japonesa…

Apelamos ao Governo do Japão que proclame agora a rendição incondicional de todas as suas forças armadas e o fornecimento de garantias próprias e adequadas da sua boa fé em tal acção. A alternativa para o Japão é a rápida e total destruição."
No dia seguinte, jornais japoneses noticiavam que a declaração, cujo texto tinha sido radiodifundido e largado em papéis sobre o Japão, tinha sido rejeitada. A bomba atómica era ainda um segredo fortemente guardado e não mencionado na declaração.

VOCÊ QUER SABER MAIS?

www.fas.org/nuke/guide/usa/icbm/index.html

www.acronymfinder.com/Intercontinental-Ballistic-Missile-System-(ICBMS).html

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

UMA BREVE HISTÓRIA NO TEMPO. PARTE II

AS ARMAS NUCLEARES. PARTE II.
HÁ MUITOS CAMINHOS QUE AOS OLHOS DOS HOMENS PARECE BOM, MAS SEU FINAL É A MORTE.

No dia 2 de agosto de 1939, Albert Einstein (um dos cientistas mais respeitados na época), atendendo a pedidos de outros cientistas, escreveu uma carta ao Presidente Franklin Roosevelt. Na carta, Einstein dizia que os EUA deveriam priorizar o desenvolvimento de uma bomba baseada em energia nuclear, antes que os alemães o fizessem.
Como resultado, nasceu o Manhattan Project, com o propósito de desenvolver a bomba atômica. O sucesso não tardou: no dia 16 de julho de 1945, no estado de Novo Mexico, a primeira bomba nuclear foi detonada.

Os EUA, então, iniciaram uma longa série de exaustivos testes com bombas nucleares, com várias explosões. Até mesmo seus soldados foram deliberadamente expostos à radiação, marchando para o "ground zero" logo após uma explosão. Nos dias 6 e 9 de agosto do mesmo ano, duas bombas foram detonadas sobre as cidades de Hyroshima e Nagasaki, no Japão: foram os dois únicos artefatos nucleares já utiliados em guerra, e causou a rendição do governo japonês e o consequente fim da 2a. guerra mundial.



Fotografias de Hiroshima antes e depois da bomba atômica.

Estas bombas nucleares eram dispositivos que se aproveitavam da energia de fissão do urânio. O poder de devastação de uma bomba nuclear é enorme. Apenas um grama de Urânio-235 é capaz de fornecer, em um evento de fissão, 200 MeV, energia equivalente a 80 milhões de kJ; só para comparação, 1g de TNT fornece apenas 16 kJ!Isto significa que um processo de fissão nuclear libera uma quantidade de energia 5.000.000 maior do que uma reação química. Como correlação, o poder de uma bomba é expressa em megatons, isto é, o equivalente em milhões de toneladas de dinamite. Uma bomba de 10 megatons, por exemplo, tem poder de devastação equivalente 10 milhões de toneladas de TNT.



Processo e fissão nuclear

Na média, cada átomo de U-235 produz 2,5 nêutrons numa fissão; quando um nêutron colide com outro átomo de U-235, ele provoca a fissão deste também, gerando uma reação em cadeia ( simples e mortal). Se a amostra do material é pequena, a maior parte dos nêutrons escapam do sistema antes de provocarem a fissão em outro átomo; neste caso, a massa do material radioativo é chamada de subcrítica, isto é, abaixo da necessária para gerar a reação em cadeia.
A quantidade exata para se iniciar a reação em cadeia é chamada de massa crítica. Nos modelos de bombas utilizadas na 2a. guerra mundial,haviam duas porções subcríticas de urânio, separadas, no compartimento interno da bomba. Ao acionar o detonador, uma explosão química fazia as duas porções colidirem, gerando uma massa supercrítica, isto é, contendo material necessário para iniciar a reação em cadeia, mas onde cada evento de fissão promove mais de dois ou mais eventos: é bomba!
A bomba-H (bomba de hidrogênio) opera por um processo diferente: a energia provém da fusão de átomos de hidrogênio em hélio ou deutério.A bomba utiliza a detonação de uma pequena carga de fissão nuclear para atingir a temperatura necessária ao início da reação de fusão.

O CLUBE DO BOLINHA

PAÍSES COM ARMAMENTO NUCLEAR

Clique para ampliar

Nações que comprovada ou supostamente possuem armas nucleares são por vezes referidas como clube nuclear. Existem atualmente nove Estados que conseguiram detonar armas nucleares. Cinco são considerados "estados com armas nucleares" (EAN), um estatuto reconhecido internacionalmente pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Em ordem de aquisição de armas nucleares, estes países são: os Estados Unidos, Rússia (Estado sucessor da União Soviética), o Reino Unido, França e China.
Desde que o TNP entrou em vigor em 1970, três estados que não faziam parte do Tratado têm realizado testes nucleares, nomeadamente Índia, Paquistão e Coréia do Norte. A Coréia do Norte assinou o TNP, mas retirou-se do tratado em 2003. Israel também é amplamente acreditado como um país dotado de armamento nuclear, mas se recusa a confirmar ou negar essa condição. O estatuto dessas nações não é formalmente reconhecido por organismos internacionais, já que nenhum deles faz parte do TNP. A África do Sul chegou a desenvolver armas nucleares, mas desmontou seu arsenal antes de aderir ao TNP.



O raio de ação de uma explosão nuclear

Em 2005, o Conselho de Governadores da AIEA classificou o Irã como um país em não conformidade com o TNP em uma rara decisão sem consenso.
Por três vezes o Conselho de Segurança da ONU impôs sanções contra o Irã quando este se recusou a suspender seu enriquecimento não declarado. O Irã alegou que as sanções são ilegais e o obrigavam a abandonar seus direitos dentro do TNP de desenvolver tecnologia nuclear pacífica.



O caminho da ignorância. Um SS-24 da Rússia ICBM (Missíl Balistico Intercontinental), montado para o lançamento de seu carro em estrada de ferro móvel.( Sozinho esse missíl repleto de ogivas pode apagar do mapa em minutos uma cidade como Porto Alegre). Fonte. MDA

VOCÊ QUER SABER MAIS?

Na próxima postagem daremos continuidade a este trabalho....

www.qmc.ufsc.br/qmcweb/.../nuclear/bomba.html

www.fisica.net/nuclear/

www.eyewitnesstohistory.com/atomictest.htm

www.atomicarchive.com › Media › Photographs

www.animatedsoftware.com/.../no.../nuke_war.htm

terça-feira, 14 de setembro de 2010

UMA BREVE HISTÓRIA NO TEMPO.

AS ARMAS NUCLEARES PARTE I
INTRODUÇÃO

Armas cujo efeito destruidor é baseado na radioatividade, propriedade de certos elementos químicos de emitir partículas ou radiação eletromagnética como resultado da instabilidade de seus núcleos. O que torna essas armas especiais é a enorme concentração de energia em pequenos volumes, que pode ser liberada com efeitos devastadores. Para medir a capacidade de uma arma nuclear são usados os termos "quiloton" e "megaton". Um quiloton equivale à explosão de 1.000 t de TNT (nitroglicerina); 1 megaton equivale a 1.000.000 t.



EXPLOSÃO DE UMA BOMBA DE HIDROGÊNIO

As armas nucleares são de dois tipos básicos: a bomba atômica ou a bomba de hidrogênio (bomba H). A bomba atômica baseia-se na fissão de núcleos atômicos, processo que consiste em "quebrar" núcleos de átomos pesados e instáveis, como o urânio-235, lançando contra eles partículas atômicas chamadas de nêutrons. Já a bomba H se fundamenta na fusão de núcleos de átomos leves, como o hidrogênio. Para obter a fusão, ou seja, a união dos núcleos dos átomos, é necessária uma quantidade muito grande de energia, que é obtida pela explosão de uma bomba atômica. O resultado é uma bomba mais poderosa.

Variação da bomba de hidrogênio, a bomba de nêutrons, também baseada na fusão de átomos, privilegia a emissão de radiação por meio de nêutrons rápidos e letais.

As bombas nucleares - ou ogivas nucleares - são arremessadas do ar por aviões tripulados, na forma de bombas de queda livre, mísseis de curto alcance ou mísseis de cruzeiro. Em caso de lançamentos a partir da terra usam-se mísseis balísticos ICBM, IRBM e MRBM e a partir de submarinos, mísseis balísticos SLBM.

Projeto Manhattan



OS CIENTISTAS DO PROJETO MANHATTAN, CRIADORES DA BOMBA ATÔMICA. DE CHAPÉU OPPENHEIMER, BOHR O PRIMEIRO DA DIREITA PARA A ESQUERDA.

A primeira bomba atômica é testada em 16 de julho de 1945 com uma explosão no deserto de Sonora, no estado do Novo México, EUA. Para construir a nova arma antes dos alemães, durante a II Guerra Mundial, o governo norte-americano monta um programa altamente secreto, o Projeto Manhattan. Muitos dos principais físicos dos países aliados envolvidos no projeto passaram a morar e a trabalhar, isolados do resto do mundo, em Los Alamos, Novo México, chefiados pelo físico norte-americano Julius Robert Oppenheimer (1904-1967).

Hiroshima e Nagasaki



MULHER COM QUEIMADURAS DE TERCEIRO GRAU CAUSADAS PELA EXPLOSÃO DA BOMBA ATÔMICA QUE DESTRUIU A CIDADE DE NAGASAKI.

As duas únicas armas nucleares usadas em guerra até hoje foram lançadas contra o Japão pela Força Aérea Norte-Americana. Em 6 de agosto de 1945, durante a II Guerra Mundial, uma bomba explodiu em Hiroshima: numa área de 12 km² houve 150 mil vítimas, entre as quais 80 mil mortos. Em 9 de agosto, em Nagasaki, explodiu a segunda bomba. Elas fizeram dezenas de milhares de mortos imediatamente e ao longo dos anos seguintes. Em poucos segundos, 36.000 quilotons destruíram duas cidades japonesas.

Arsenais nucleares atuais



É OQUE ELES NOS DIZEM É CLARO! VOCÊ ACREDITA?

Existem no mundo cinco potências nucleares declaradas - EUA, Federação Russa, Reino Unido, França e China. Os maiores arsenais - tanto de ogivas, como de mísseis e de submarinos nucleares armados com mísseis balísticos - pertencem aos EUA e à Federação Russa, uma herança do longo período de Guerra Fria. Esses países também lideram em número de testes nucleares já realizados.

Desarmamento nuclear



O Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (NPT) é criado em 1968, com o objetivo de deter a propagação de armas nucleares pelo mundo. Em vigor desde 1970, o NPT proíbe as cinco potências declaradas de transferir armas nucleares a países não detentores desses artefatos. Essas nações, por sua vez, se comprometem a não adquirir armas nucleares nem fabricá-las. Atualmente o tratado conta com a adesão de mais de 180 países, incluindo o Brasil, que ratifica o tratado em julho de 1998. Alguns países-membros do NPT são suspeitos de prosseguir desenvolvendo armas nucleares: Irã, Líbia e Coréia do Norte.

Entre os países que não aderiram ao NPT se destacam Israel e os rivais Índia e Paquistão. O governo indiano justifica sua posição afirmando que o NPT é "discriminatório", uma vez que legitima os arsenais nucleares já existentes - sem exigir seu desarmamento - ao mesmo tempo que nega aos demais países o direito de possuir armas nucleares. Índia e Paquistão realizam uma série de testes nucleares subterrâneos em maio de 1998, reprovados com veemência pela comunidade internacional. Com as explosões - cinco da Índia e seis do Paquistão -, as duas nações passam a integrar o grupo das potências nucleares declaradas do mundo.

Corrida Armamentista



A corrida armamentista entre as duas superpotências de Guerra Fria termina de fato com a assinatura dos Tratados de Redução de Armas Estratégicas (Start), na década de 90. Eles preveem a extinção gradual dos arsenais dos EUA e de países integrantes da ex- URSS que detinham essas armas em seu território (Federação Russa, Ucrânia, Belarus e Cazaquistão). Outro tratado relacionado às armas nucleares, o Tratado para a Proibição Completa dos Testes Nucleares (CTBT), é criado em 1996. Para entrar em vigor, precisa da ratificação de todos os 44 países com capacidade conhecida de produzir armas nucleares.

VOCÊ QUER SABER MAIS?


Aguarde nas próximas postagens a continuação desse trabalho.

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domingo, 12 de setembro de 2010

CHARRUAS. UMA CULTURA AO SEU ENCONTRO.

CHARRUAS, ÍNDIOS DOS PAMPAS.

Autor: Luciano Pfeifer

Momento histórico

Os índios charruas habitaram em uma região que se estendia pelo: Rio Grande do Sul (Brasil), Entre Rios e parte de Corrientes (Argentina) e quase todo o Uruguai. Pesquisas arqueológicas revelam que essa população indígena assim como outras, de caçadores-coletores, deixaram vestígios da sua ocupação há mais de quatro mil anos. Os primeiros relatos documentados sobre essas tribos iniciam apenas com a chegada dos colonizadores europeus.



MONUMENTO AOS ÚLTIMOS CHARRUAS EM PRADO DE MONTEVIDEO (1938).

Segundo Kern (1997) os charruas pertenciam à raça pampeana; tinham estatura média variável entre 1,76m para os homens e 1,68m a 1,66m para as mulheres. Eram de constituição física normal que tinham membros bem conformados com pés e mãos relativamente pequenos. Dolicomorfos, de olhos amendoados pretos e olhar penetrante; o nariz variava entre aquilino e levemente achatado. Eram de cor morena acentuada; cabelos lisos, pretos, não muito abundantes assim como a barba, que era bastante rala. Os homens usavam o cabelo solto ou preso ao redor da testa por uma tira de couro; as mulheres usavam-no em trança ou raramente soltos.
Com o avanço da ocupação branca a população charrua realizou vários deslocamentos. Estima-se que os charruas, nessa época, seriam aproximadamente 1.100 indivíduos. Diferente de outros povos indígenas, eles não se deixaram conquistar pelas formas mais usuais de dominação dos colonizadores, como: os aldeamentos, a servidão por endividamento e a escravidão, apesar de já estarem fazendo parte do processo de colonização luso-espanhola nos três primeiros séculos até mais ou menos século XIX quando são um grupo indígena praticamente extinto.
Kern (1997) aponta que desde o século XVI os charruas foram atingidos pelos colonizadores com a introdução do gado eqüino e no século seguinte pelo bovino, que se tornaram os elementos de mudança da cultura. Por sua vez, a atuação missionária, segunda forma de penetração, instala-se no século XVII; são os mercedários, franciscanos e dominicanos, que não têm grandes resultados em termos de duração, talvez porque as áreas ocupadas pelos índios fossem impróprias para desenvolver um sistema colonizador de base agrícola..



OS CHARRUAS ERAM HABEÍS NA MONTARIA.

Com o tempo, os charruas passaram a ser cada vez mais solicitados pelos conquistadores para diferentes formas de trabalho, com destaque para o manejo de gado. Pouco a pouco os produtos dessa colonização vão se somando à cultura charrua e, ainda que continuassem caçadores, os índios passaram a ver nesse contato novas possibilidades a serem agregadas ao seu modo de vida e gradativamente vão se incorporando à economia da colônia.
Criada a dependência com o colonizador vários conflitos têm inicio, na maioria das vezes, motivados pelo roubo de gado que era usado pelos índios como caça e também comercializado nas estâncias portuguesas e espanholas. O que ocorre a seguir é a diminuição do seu território, cada vez mais ocupado pelo homem branco, e que terá como conseqüência o esfacelamento cultural e demográfico da população charrua.
No final do século XVIII e primeiras décadas do século XIX, diz Kern (1997), os espanhóis e portugueses ocuparam em definitivo o território indígena; proliferaram as estâncias de criação de gado, as cidades se fixaram e cresceram em número. Com isso a população indígena é empurrada para o interior, em espaço bastante reduzido. Não tendo desenvolvido nenhum sistema econômico produtivo e não estando disposta a aceitar o modo de vida dos colonizadores; pouco lhe sobrou a não ser se empregar com o branco no mercado clandestino de couros, nos conflitos de fronteira e também como peões de estâncias, fato que não agradava os caciques.



MEMBROS DE UMA FAMÍLIA CHARRUA.

O final da história pode ser resumido em dois combates de extermínio em 1831 e 1832 praticados por forças governamentais Uruguaias contra índios pampeanos. Os homens presos, maiores de doze anos, ou foram sacrificados ou levados até Montevidéu e postos à disposição de compainhas nacionais de navegação mercante. As mulheres, crianças e velhos, todos os prisioneiros foram levados e distribuídos em público entre os moradores da capital e de outras cidades.
Conforme conta a informação oral é provável que em algumas cidades do Rio Grande do Sul e do Uruguai ainda existam descendentes de um pequeno número de charruas que conseguiram escapar dos combates mas, incapazes de reconstituir seu modo de vida indígena.

Língua

Em seu livro Línguas Brasileiras, Rodrigues (1986) diz que os índios do Brasil não são um povo: são muitos povos, diferentes de nós e diferentes entre si. Cada qual tem usos e costumes próprios, com habilidades tecnológicas, atitudes estéticas, crenças religiosas, organização social e filosofia peculiares e por falarem línguas diferentes, resultantes de experiências de vida acumuladas e desenvolvidas em milhares de anos.
Como todas as demais, as línguas dos povos indígenas do Brasil são inteiramente adequadas à plena expressão individual e social em que tradicionalmente têm vivido esses povos. Embora diferentes, elas compartilham do que todas as quase seis mil línguas do mundo têm em comum: são manifestações da mesma capacidade de comunicar-se pela linguagem.
Em Nuevos elementos acerca de la lengua charrua, Rona (1964) demonstra o resultado de uma pesquisa feita a partir de documentos da antiga redução jesuítica de San Francisco de Borja, um dos sete povos das Missões Orientais, que situava-se onde é hoje a cidade brasileira de São Borja, no Rio Grande do Sul. Segundo alguns pesquisadores essa era a única redução formada por índios charrua enquanto as outras seis eram formadas por guaranis.
É por meio de uma análise de nomes próprios de um livro de óbitos da redução indígena que os indícios dessa língua são estudados. Esses nomes a seguir, possivelmente não guaranis são, supostamente charrua.

Apaguari, Ariuona, Ayare, Ayuare
Bará, Baré, Boroiu, Bropotari
Catire, Cacé, Cayuare, Curianá
Guayucari, Guapani, Guari, Guĭnaqué, Gŭrayú
Iuire
Mandaio, Morocanga
Odaitu
Romana
Vabaña, Vaboyaí, Yaycha


Ao iniciar a análise verifica-se que o nome Boroiu não pode ser guarani, primeiro porque a inicial deveria ser Mb__y não B__y logo porque em guarani não existe /i/ consoante nem semiconsoante intervocálica. Existe ainda a terminação iu como um segundo elemento. Essa partícula coincide com a palavra charrua iu (um) que figura no Códice Vilardebó onde a palavra Laiu (boleadeiras) também está registrada. Alguns nomes próprios guaranis contêm um elemento yú que significa amarelo, porém sua pronúncia é [žu] ou [džu]. Nesta mesma lista é encontrado o nome Mandaio, que também contém um /i/ consoante ou semiconsoante que, como dito, não existe no guarani.
Odaitu contém um fonema /d/ que tão pouco existe em guarani e o nome Bropotari, com seu grupo fonético /br/, inexistente não só em guarani como em todas as línguas indígenas sul-americanas, exceto nas línguas do tronco charrua que compreende diversas populações indígenas pampenas como: a minuano, a guenoa, a yaro, a chaná, bohane, mocoretá, timbú, mbegué entre outras. Todas essas línguas apresentam um grupo de consoante + /r/.

A seguir, são observados alguns nomes cujas terminações são __ari, __are ou __ani, __ane.
__ari: Apaguari, Bropotari, Cayuari, Guayucari, Guari;
__are: Ayare, Ayuare;
__ani: Guapani.

A freqüência com que este grupo de terminações ocorre indica que as mesmas ou são um sufixo ou um elemento fixo da língua charrua. Em sendo um sufixo, se trataria provavelmente de um sufixo gentílico. Estas circunstâncias dizem duas coisas. Primeiro, que essa língua teria um só fonema sonântico dento-alveolar /n/, do qual os sons [n], [r] e presumidamente [l] não são mais que alofones sem muito valor fonológico. Em segundo, este sufixo gentílico coincide exatamente com o encontrado nas denominações das tribos que formavam o complexo charrua. A mesma alternância de: __ane com __are, também encontrada nos documentos da Redução de San Francisco de Borja.
Um outro nome, Adapari, não só mostra a terminação __ari, além de conter o fonema /d/, que por si só bastaria para mostrar que não se trata de um nome guarani e por último dos nomes Bará e Baré, que mostram uma curiosa alternância entre um __á e um __é finais, acentuadas.
Serrano (1936) diz que o chaná, uma das línguas do tronco charrua era um idioma essencialmente nasal e gutural. Não possuía /f/, /ll/, /ñ/ nem /z/. Ela aponta que /j/ e /k/ são guturais. Sendo este último poderia não sê-lo quando está no princípio e no meio da palavra.
O /h/ antes de vogal se pronuncia aspirado como no inglês. Por exemplo nas palavras hek (boca) e nohan (cervo).
A numeração, parece não ter chegado além de oito. Os charrua contavam os dedos de ambas as mãos com os polegares recolhidos. Porém, com a influência colonizadora, se viram com a necessidade de contar até dez.

1- Iú um;
2- Sam dois;
3- Deti três;
4- Betúm quatro;
5- Betum-iú quatro e um (em outra mão);
6- Betúm-sam quatro e dois (em outra mão);
7- Betúm-deti quatro e três (em outra mão);
8- Betúm-artasam quatro duas vezes.


Investigações lingüísticas indicavam que o idioma dos charruas era uma língua isolada nos seus primórdios, mas não se pode dizer que com o passar do tempo os charruas não tenham feito empréstimos lingüísticos. Com o advento da colonização, o contato com o homem branco e com outras populações indígenas próximas, como os guaranis, foi cada vez maior. Ao longo dos três primeiros séculos de colonização, a mudança social e cultural no meio de vida das populações indígenas pampeanas se fez acompanhar também, de uma mudança lingüística.



NO PRIMEIRO CONTATO COM CAVALOS OS CHARRUAS DEMONSTRARAM SEU POTÊNCIAL

Sapir (1949) escreve que as línguas, raramente se bastam a si mesmas. As necessidades de intercâmbio põem os indivíduos que falam uma dada língua em contato direto ou indireto com os de línguas vizinhas ou culturalmente dominantes. O intercâmbio pode ser de relações amistosas ou hostis. Pode processar-se no plano corriqueiro dos negócios e do comércio ou consistir em empréstimos ou troca de bens espirituais - arte ciência ou religião. Seja qual for o grau de natureza do contato entre povos vizinhos, é uma regra suficiente para conduzir a uma espécie qualquer de influência lingüística.

Cultura e sociedade.

A cultura charrua revelou uma sociedade que, mesmo sofrendo com as transformações do mundo a seu redor, nunca perdeu a sua fama de invencíveis guerreiros que procuram conservar o seu estilo de vida contrário à submissão total, sendo este um dos fatores responsáveis pelo extermínio dessa população indígena enquanto grupo, ainda no início do século XIX.
Segundo Kern (1997) a organização social dos charrua tinha como base a família, possivelmente de linha paterna, sendo a poligamia bastante acentuada. Nesses grupos indígenas essa organização familiar era bastante frouxa, quer em termos de estabilidade, quer em relação à educação dos filhos dirigidas pelas inclinações individuais. O casamento absorvia a todos os homens em idade madura e as mulheres casavam tão logo tivessem alcançado a idade núbil. O autor diz ainda que essa mesma organização familiar servia como base para a organização política das aldeias. Os chefes de família formavam um Conselho de Aldeia que posteriormente evoluiu para o cacicado. Os caciques por sua vez tiveram muita representatividade e influência pelo número de índios à sua disposição e pelas negociações que realizavam com os colonos, pelos acordos e tratados de paz feitos com autoridades governamentais e de outras tribos.
As famílias moravam em pequenas cabanas conhecidas como choças que eram construídas pelas mulheres, sobre quem caiam todos os encargos domésticos. Essas choças com espaço suficiente para a família tinham a cozinha do lado de fora e o fogo na mesma ou nas proximidades era uma presença constante. Eram utilizadas basicamente para descanso e para a proteção contra os rigores do pampa.
As choças concentravam-se em forma de aldeia e estavam sujeitas as ordens dos seus caciques, ficando separadas por uma distância regular para que não faltasse o pasto necessário ao gado e à cavalhada. Cada uma dessas aldeias tinha um cemitério nas suas proximidades, que se transferia de acordo com a mobilização dos grupos.
Os charrua tinham um temperamento bastante retraído e sua vaidade se expressava basicamente nas pinturas faciais que diferenciavam uma tribo da outra e nos homens, pelas cicatrizes feitas intencionalmente nos próprios corpos para dar a conhecer o número de inimigos mortos.
Gennep (1984) diz que as mutilações são um meio de diferenciação definitiva, assim como outras: vestuário, máscaras, pinturas corporais que marcam ema diferenciação temporárias. São essas que vêm desempenhar considerável papel nos ritos de passagem porque se repetem a cada mudança na vida do indivíduo.
O autor comenta que num e noutro sexo a puberdade física é um momento muito difícil de datar, e esta dificuldade explica o fato de tão poucos etnógrafos e exploradores terem feito pesquisas a este respeito. Isto torna mais imperdoável ainda aceitar-se a expressão para designar o conjunto dos ritos , cerimônias, práticas de toda espécie que marcam nos diversos povos a passagem da infância à adolescência. Convém, portanto, distinguir a puberdade social da puberdade física, assim como se distingue o parentesco físico (consangüinidade) e o parentesco social, a maturidade física e a maturidade social (maioridade), etc.
Na organização social charrua as diferenças entre os sexos é bastante clara. Começavam com o nascimento e iam até a morte. Passado um tempo do nascimento o menino charrua recebia a insígnia viril o barbote ou tembetá, introduzido por sua mãe no lábio inferior. O tembetá somente era retirado para ser substituído por outro maior, de acordo com o próprio crescimento. A passagem para a idade adulta era marcada por uma grande cerimonia, os rostos eram pintados com traços e disposições diferentes para os dois sexos e grupos.
Kenr (1997) aponta que vários outros aspectos diferenciavam o sexo no dia-a-dia dos charrua. Até mesmo na maneira de montar o cavalo, em pêlo, entre os homens, enquanto as mulheres montavam sobre arreios bem simples. Na guerra quando o homem só possuía um cavalo, era ele quem montava, e sua mulher seguia-o a pé, carregando filhos e pertences.
O autor diz que a cultura espiritual dos charrua parece estar mais ligada ao curandeirismo. Os feiticeiros, geralmente em estado de transe pela absorção de ervas, de modo especial da erva-mate, atuavam nos mais variados momentos; diziam que sua força dominaria mesmo os elementos da natureza. Há poucas notícias a respeito de suas idéias religiosas. Em cerimônias, invocavam um ser superior que às vezes se lhes mostrava visível. Acreditavam igualmente, em um ser maléfico, de onde lhes vinham todas as desgraças. Parece que acreditavam na ressurreição da alma e, por dedução, na imortalidade da mesma.
A morte parece ter sido encarada como um fato natural. É certo porém, que não deixavam seu mortos insepultos, mesmo em situações de guerra. Todos, indistintamente, eram enterrados em covas rasa, coberta com pedras ou ramas. Sobre esses pequeno acúmulo eram colocadas as boleadeiras; a lança ficava plantada no lado oposto ao qual deixavam o cavalo.
O luto se destacou como a expressão mais representativa neste aspecto da vida dos charrua; sua importância era proporcional ao status do morto e implicavam obrigações diferenciadoras de sexo e parentesco. Se o morto era o pai, o marido, ou irmão que houvesse desempenhado chefia familiar, os filhos, viúva e irmãs casadas cortavam uma falange da mão, começando pelo dedo mínimo. Além disso faziam com a lança do morto vários cortes espalhados pelo corpo, ficando, depois, durante duas luas tristes, ocultos em casa, se alimentando apenas com determinados alimentos. Os maridos não faziam luto por suas mulheres, nem os pais por seus filhos.
Gennep (1984) fala que a primeira vista parece que nas cerimonias funerárias são os ritos de separação que devem ter o lugar mais importantes, sendo os ritos de margens e de agregação, ao contrário, pouco desenvolvidos.. Entretanto o estudo dos fatos mostra que as coisas são diferentes e que, ao contrário, os ritos de separação são pouco numerosos e muito simples, e que os ritos de margens têm uma duração e complexidade que chega às vezes a lhe dar uma espécie de autonomia. Finalmente, de todos os ritos funerários aqueles que agregam o morto ao mundo dos mortos são os mais elaborados e a eles é que se atribui a maior importância.
Todos esses aspectos da cultura charrua, somados ao seu caráter explicam os empecilhos para adaptarem-se à nova realidade dos colonizadores e por conseqüência as dificuldades de se manterem como um grupo.

VOCÊ QUER SABER MAIS?

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RODRIGUES, Ayron Dall’Igna. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Ed. Loyola, 1986.

SAPIR, Edward. A Linguagem: introdução ao estudo da fala. Tradução de J. Mattoso Camara Jr. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1980.

KERN, Arno A. Arqueologia Pré-Histórica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. Mercado Aberto 2º Edição, 1997.

RONA, José Pedro. Nuevos elementos de la lengua charrua. Montevidéu: Universidad de la Republica, 1964.

SERRANO, Antonio. Etnografia de la Antiga Provincia del Uruguai. Montevidéu: Parana, 1936.

GENNEP, Arnold Van. Os ritos de Passagem. Petrópolis, 1984.