Teşkilat-i
Mahsusa (Organização Especial)
O Comitê de União e Progresso fundou uma
“organização especial” que participou na destruição da comunidade Armênia
Otomana. A organização adotou esse nome em 1913 e funcionou com uma roupagem de
forças especiais, ou o mais tarde Einsatzgruppen (grupos que tinham como
principal objetivo a aniquilação de judeus, egípcios e comissários políticos
soviéticos). Mais tarde em 1914, o governo otomano influenciou a direção que
seria tomada pela organização especial libertando criminosos das prisões
centrais para serem elementos chave nessa nova organização especial recém
formada. Pouco a pouco do fim de 1914 ao começo de1915 milhares de prisioneiros
foram libertados para fazerem parte dessa organização. Mais tarde, eles foram
encarregados de escoltar os comboios com armênios deportados. Vehib Pasha,
comandante do Terceiro Exército Otomano, chamou os integrantes da organização
especial de “carniceiros da espécie humana”.
Em 1918 é proposto um Tratado pelos turcos. Os
turcos queriam as terras que antes ocupavam os armênios no Império Otomano além
do direito de passagem livre pelas principais ferrovias. O exército armênio se
recusa a aceitar o tratado, acontecem as batalhas de Sardarapat, Aparan e
Karaquilissa.
Intervenções de exércitos ingleses e francesas
ocorrem durante esse período, que serviam de momentânea proteção aos armênios. O plano de extermínio do povo armênio era perfeito,
mas o que impediu sua consumação efetiva foram as forças rebeldes armênias
formadas por homens e mulheres voluntários que com grande valentia impediram,
ao menos por vários meses, a invasão dos turcos em alguns povos e aldeias,
possibilitando a sobrevivência de alguns ao Genocídio. Outros sobreviveram
porque foram confundidos com cadáveres, ou porque conseguiram se esconder
durante a deportação ou foram comprados pelos árabes. Muitos sobreviveram
graças a algum vizinho turco ou curdo que não aceitava a política de seu
Império. Porém, eram condenados à pena de morte os turcos que transgrediram ou
deram abrigo a algum armênio.
“Ficamos sabendo que os filhos
pequenos das referidas pessoas deportadas das províncias de Sívas, Mamouret
ul-Asis, Diarbekir e Erzerum foram adotados ou aceitos como criados por
famílias muçulmanas, uma vez que ficaram órfãos e desamparados em função da morte
de seus pais. Pedimos encarecidamente para procurar todas estas crianças
e enviá-las ao seu local de exílio; e, além disso, esclarecer a população a
esse respeito utilizando os meios que acharem apropriados.”
5 de novembro de 1915
Ministro do Interior Talaat
Telegrama de Tallat ao Distrito de Alepo apresentado
ao tribunal do julgamento de Salomon Teiliran. Retirado de Um Genocídio em
Julgamento, p.245.
Multidão de órfãos.
O Império Otomano, após uma vergonhosa derrota na
guerra, chega ao seu fim. Enquanto isso, muitos armênios se repatriavam
novamente aos seus lares de origem, sem suspeitar que, com o ressurgimento de
Turquia, continuaria o plano genocida. Embora os Jovens Turcos tenham sido
condenados à pena de morte por um tribunal turco, acusados de organizar e executar
o Genocídio contra o povo armênio, o massacre prometia um sucessor. Talaat,
Enver, Djemal e Dr. Nazim, os autores principais do massacre, foram
sentenciados à morte pelo Conselho de Guerra de 05 de Julho de1919, porém
nenhuma sentença foi aplicada, já que todos os condenados estavam fugidos do
país de origem. Enquanto os Jovens Turcos desfrutavam de seu exílio e falsa
condenação, o governo turco é tomado pela força e fica nas mãos de Mustafá
Kemal "Atatürk", que irá meticulosamente até o fim com o plano genocida
contra o povo armênio até o ano de 1923.
Mustafá
Kemal (1919-1923)
Até então capitão do estado maior, Mustafá Kemal
Atatürk atuava em missão militar na Primeira Guerra Mundial, tendo suas tropas
derrotadas e assumidamente contra a realização da causa armênia, apoiado assim,
o Genocídio Armênio, embora nunca tivesse se dado bem com Talaat.
Morre o Sultão Mehmet V e ocupa seu lugar o último
Sultão herdeiro da raiz otomana: Mehmet VI Vahdettín, que havia viajado meses
antes com Atatürk a Alemanha. Prontamente abririam-se congressos de vertente
nacional-militar para planejar o futuro do atual desastre.
Enquanto isso, o povo armênio resiste heroicamente
na batalha de Sardarabad; isso não impede que uma pequena parte do exército
turco chegue a Baku e encontre-se com as idéias de esquerda que haviam chegado
ao governo dali.
Mais adiante, Mustafá Kemal não hesitaria em flertar
com a incipiente União Soviética. Congressos e Assembléias se dissolvem
enquanto as forças francesas se garantiam na Cilícia, as forças inglesas mantêm
seu comando no norte de Iraque, especificamente na cidade de Mossul; tanto
Itália como Grécia preparam-se para desembarcar nos Dardanelos (estreito no
noroeste da Turquia que separa a Europa da Ásia). Todos se preparam para pegar
sua fatia do ex-império. Milhares de armênios exilados da zona da Cicília se
repatriam novamente crendo que as nobres potências estariam lá para protegê-los
para sempre.
Kemal se fez notar e salienta sua idéia de decretar
uma ditadura militar para proteger o que restava do império. Já havia perdido a
Europa, perdeu toda a Síria, estava pra perder quase toda a Anatólia e os
Dardanelos. A espada tinha que voltar à ação. É elaborado e aprovado o Pacto
Nacional, com finalidades e fronteiras definidas.
As provas do genocídio. Milhares de ossos insepulcro.
As forças aliadas ocupam Istambul e os gregos tomam
Adrianópolis (Edirne). O Império é reduzido à Anatólia Central e à concentração
de poder que vem de Ancara. Começaram as conversas do histórico e protetor da
justiça contratual dessa época: O Tratado de Sevres, firmado em Agosto de 1920.
O presidente norte-americano Woodrow Wilson projetou uma Armênia Independente
que conteria sete de suas províncias históricas, enquanto que outorgava à
Grécia a cidade de Istambul e grande parte dos Dardanelos e à Itália parte da
Trácia. Além disso, se proclamava as ânsias de liberdade de um povo que nunca
havia baixado os braços; os curdos e o Curdistão Livre se consagravam junto a
este Tratado. Delegados turcos firmam o Tratado. Enquanto firmavam o tratado
com a mão direita, preparavam as baionetas com sua mão esquerda.
Os aliados não se encarregariam, palavras explícitas
do britânico Lloyd George, de seguir una guerra especialmente para o caso
turco, sendo que os armênios que teriam que se encarregar de entrar nessas
terras novamente. Paralelamente o exército turco se rearmava e dava início à
sua última grande ofensiva. A expedição foi chamada de “Batalha à Armênia”.
Seria o golpe final da questão de “limpar os armênios da região”. Os armênios,
que haviam depositado toda sua confiança nas forças aliadas, se viam
desprotegidos e imersos na indiferença política que as grandes potências lhes
outorgavam.
Batalha
na Armênia
Kemal e seu exército recomeçaram sua ofensiva.
Retomaram Marash, Hadjin, e Urfa, entre outros povoados. As epopeias desses
honestos povoados foram impressionantes. Lutaram até o último sopro. Em Aintab,
também se realizou uma disputa com aqueles armênios que não estavam dispostos a
retirar-se novamente de suas terras. Os armênios ingenuamente tinham um lema:
"Mère des Armeniens France notre espérance" (Mãe dos Armênios, a França
é nossa esperança), ignorando os vários acordos que posteriormente os franceses
firmariam com Ancara outorgando os protetorados de Musa Dagh e arredores.
Atatürk se empossou de Aintab, à qual rebatizaram GazyAntep, pela
"brilhante" (Gazy) tomada do povo. Kemal foi batizado com as honras
de "Gazy".
O exército turco devastou toda a Armênia histórica;
vingava-se em Sarí Kamish e se encarregava de prender ou executar em massa como
criminoso de guerra qualquer pessoa de origem armênia. Implementava-se a lei de
Ditadura Militar, Kemal acentua suas forças agora ao oeste de Ancara. Combate
as forças gregas de Eleftherios Venizelos (revolucionário grego). Não triunfa,
mas aposta tudo batendo em retirada para o rio Sakaria de onde espera os gregos
para o ataque final. Kemal Atatürk resulta vencedor. Quando vence, limpa o
lugar, deixando milhares de mortos massacrados na região.
As forças aliadas só protegiam interesses do que
seria a nova e moderna República da Turquia, a ponte que uniria as potências
com o petróleo de Baku. É firmado em 1923, o Tratado de Lausana que autentica
as fronteiras da atual Turquia graças à perseverança de dirigentes, como o
amigo íntimo de Kemal, Ismet Pashá, encarregado das relações internacionais na
época.
Havia abundância de viveres, mas há alguns era negado por simplesmente pertencerem à uma etnia com cultura e religião diferentes.
Ironicamente nos Princípios e Propósitos de Atatürk,
seu artigo primeiro, inc. 3 diz "…o respeito aos direitos humanos e à
liberdade fundamental de todos, sem fazer distinção por motivo de raça, sexo,
idioma ou religião". Os armênios foram mortos e perseguidos constantemente
pelo exército, os gregos dos Dardanelos e Mar Negro também; os curdos, no
governo de Atatürk, foram perpetuamente perseguidos inclusive não sendo
reconhecidos como curdos, mas como "turcos das montanhas"; os
assírios condenados ao esquecimento. Kemal Atatürk, depois de suas obras de
destruição, começou a tecer uma cortina para tapar o desastre que cometeu com
todos os povos que interferiam com seu lema "Turquia para os turcos".