Novamente as emissoras de
televisão irão fazer as mesmas pesquisas perguntando ao brasileiro comum das
grandes cidades se ele sabe o que está se comemorando neste feriado de 15 de
novembro. E, mais um ano seguido, teremos milhares de pessoas sem saber o
motivo deste feriado. Mas, se antes eu criticava, agora dou total razão a estas
pessoas.
Por que temos que lembrar e
comemorar esta data? O que tanto temos a festejar no 15 de novembro, feriado em
comemoração à “Proclamação da República”?
Acredito que os atuais dias
da nossa prematura República não são os mais promissores e muito menos os mais
admirados pelos brasileiros. Escândalos de corrupção assolam todos os níveis
políticos e todos os três poderes da República brasileira. Novos velhos
políticos, que antes andaram pela direita, hoje caminham de braços dados com
pseudo-comunistas da disfarçada esquerda. Velhos apoiadores da ditadura militar
defendem a irrestrita democracia e total liberdade de expressão, enquanto os
perseguidos pelo regime totalitário, que colocaram em risco a própria vida em
prol da liberdade individual, de imprensa e política são os primeiros a colocar
“a liberdade de expressão como o maior problema do Brasil”. Quanta ironia!
Mas esta “ironia”
republicana se arrastou nos seus 124 anos de história. Na escola, com certeza
você aprendeu que Marechal Deodoro acordou um belo dia e resolveu “dar liberdade
ao povo”, proclamando a República. Mas ninguém lhe contou que o ocorrido não
foi uma proclamação e sim um golpe de Estado. Deodoro, era amigo do Imperador,
tanto que nem teve a coragem de entregar-lhe a carta de deposição, e confessou
anos mais tarde que ter instalado o sistema republicano foi um grande erro. Mas
o erro de Deodoro foi repetido por diversas vezes.
Se perguntarem qual a
característica mais marcante desses anos de República, poderíamos responder
acertadamente que foi o período com maior número de golpes e contragolpes da
história do país. Nunca tantos Presidentes foram depostos por grupos políticos
que não concordavam com sua linha de atuação. A marca de nossa história
republicana foi a instabilidade, tanto política, quanto econômica. Começou com
Deodoro, passou por Getúlio em 1930, outro golpe dele próprio em 1938 quando
instaurou o Estado Novo, a sua deposição em 1945 e, por fim, o golpe militar em
1964 do qual ficamos 20 anos sob um regime ditatorial militar.
Aliás, está aí mais um ponto
que aprendemos na escola: a de que a República implantada em 1889 nos trouxe
liberdade e democracia. Pois, vale então recorrer à história novamente. Durante
os quase 50 anos em que D. Pedro II esteve no poder, nenhum jornal foi
censurado, nenhum jornalista foi preso ou torturado por escrever contra o
governo e contra o Imperador. Ao assumir, uma das primeiras medidas de Deodoro
foi estabelecer um órgão de censura aos veículos de comunicação, exercendo uma
repressão ferrenha aos jornais e jornalistas que fossem contrários às medidas
do governo. Floriano Peixoto, nosso 2º presidente utilizou de práticas nada
ortodoxas para “colocar na linha” os opositores de sua forma de governar.
Esta repressão e censura
seguiu por toda a história. Getúlio, que subiu no poder “nos braços do povo”,
como gostava de dizer, foi o primeiro a decretar uma ditadura no país, fechar
jornais, rádios, prender escritores, jornalistas, políticos e extirpar os
partidos de oposição. E tudo se repetiu alguns anos mais tarde com o regime militar,
onde sofremos o mais duro golpe à liberdade individual e ao direito de
expressão. Foram os famosos “anos de chumbo”. O que mais me espanta é ver
alguns dos maiores opositores da ditadura militar defendendo a criação de
órgãos que regulamentam o trabalho da imprensa e colocando a liberdade de
expressão como “problema” do Brasil. O que essas pessoas aprenderam com o
passado? O que elas têm tanto a temer?
Realmente, quando olho para
trás e vejo tudo o que foi feito nesses 124 anos, desde aquele 15 de novembro,
quando Deodoro resolveu derrubar a Monarquia e mudar o regime do país, sou
obrigado a refletir quanto tempo perdemos com a mesquinharia de governantes que
estavam mais preocupados com a manutenção do seu poder político do que com os
interesses do país.
Quantas oportunidades
perdemos de nos transformar em um país de primeiro mundo, respeitado
verdadeiramente no exterior, com uma população bem assistida pelo Estado,
minimamente instruída e capaz de fazer esta mesma reflexão? Mas, o que mais me
preocupa é pensar no futuro e questionar quantos anos e oportunidades teremos
que perder para repensarmos o caminho que estamos trilhando.
Para efeito de comparação,
há alguns outros números interessantes. Se considerarmos o valor per-capita, ou
seja, quanto cada cidadão deveria pagar para manter o “luxo” de seus
governantes, teremos os britânicos gastando cerca de US$ 1,21, enquanto os
brasileiros dispondo nada menos de US$ 1,65. Vale ressaltar que o Reino Unido é
composto por 60,6 milhões de pessoas e o Brasil por mais de 184 milhões, ou
seja, três vezes mais contribuintes.
Aonde está o luxo que muita
gente enxerga nos sistemas monárquicos? Onde está aquele rei que esbanja o
dinheiro do povo, sem compromisso algum com as contas públicas? Com certeza
está no sistema republicano presidencialista do Brasil.